Caro leitor, cara leitora, o presente item da página www.feth.ggf.br pretende ser uma avaliação política do que vem ocorrendo com nosso país, Brasil, desde junho de 2005.
De forma surpreendente, a partir daquele mês, nos vimos numa verdadeira temporada de escândalos o que nos deixa um tanto perplexo pois fica difícil atinar o porquê de toda a situação.
Neste sentido, exponho alguns artigos que muito me auxiliaram na compreensão do que ocorreu e ocorre em nosso país.
Helio de Araujo Evangelista
( 28 de setembro de 2005 )
As opiniões que se seguem apresentam estão distribuídas segundo temas, a saber:
O GOLPE
UM DESABAFO
O PRECONCEITO
COMENTÁRIOS SOBRE OS ESCÂNDALOS
PARA CONCLUIR A CONVERSA
O GOLPE
Segue abaixo uma entrevista com Wanderley Guilherme dos Santos (cientista político e Pró-Reitor da Universidade Candido Mendes ( RJ ) ) ao repórter Cezar Faccioli e que foi publicada no Jornal do Comércio, edição de domingo e segunda-feira ( respectivamente 10 e 11 de julho de 2005 à p. A – 14 b ).
O Governo Lula vem dando certo, tem sólido apoio nas classes populares e sequer enfrenta a temida contestação por parte do patronato. Propor que o presidente Lula desista da reeleição, do direito de concorrer assegurado pela Constituição, nada mais é que um golpe. Esta é a convicção do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, que identifica uma crescente e preocupante tendência em setores do Congresso de punir antes de apurar, de condenar antes de obter provas cabais. Na origem deste clima, está a falta de candidaturas viáveis no PSDB e do PFL, focos das manifestações mais agressivas.
- Esses partidos, no momento, não mostram fôlego sequer para derrotar o Garotinho, que dirá o Lula – argumenta.
A comparação de desempenho dos dois primeiros anos do mandato de Lula com idênticos períodos das duas gestões de Fernando Henrique Cardoso contraria o senso comum, e ajuda a explicar a resistência do presidente nas pesquisas de preferência de voto. Num exame exaustivo de 100 indicadores em três categorias ( economia, produção e social ), a revista Inteligência, editada por Wanderley, constatou a vitória do petista em todas as categorias pesquisadas. Do preço do pão francês ao consumo das famílias, das reservas internacionais líquidas ao investimento real, do PIB per capta às operações de crédito, a vantagem se mantém. No cômputo geral, são 64 a 36 para o primeiro biênio de Lula, na comparação com os indicadores de FHC. Nos dados que traduzem o acesso a bens de consumo e as oportunidades de melhoria de vida, do total de beneficiários da Previdência ao número de automóveis produzidos anualmente, Lula revela-se um presidente difícil de ser batido.
“Fernando Henrique Cardoso, em janeiro, cobrou da oposição “um gosto de sangue na boca”. Imagine-se uma frase saindo da boca do João Pedro Stédile, do MST” |
Essa força, para Wanderley, está na origem do esforço para, a priori, dar PT como culpado e tentar contaminar Lula com a crise, forçando seu isolamento. Qualquer semelhança com o comportamento da UDN de Carlos Lacerda, sempre empenhada em reverter pela pressão as derrotas sucessivas nas urnas, está para ele longe da mera coincidência.
- Quem viveu a época a época em que cercaram Getúlio Vargas com base num suposto mar de lama que jamais se confirmou, não tem como notar a repetição das cenas de histeria, do empenho em superdimensionar episódios banais para transformá-los em pretexto para o golpismo – ataca.
A principal diferença entre os dois cenários, para ele, é a margem de manobra com que conta Lula, apesar do cerco que está sendo montado.
- O Governo consegue negociar a atração de setores do PMDB e retomar um mínimo de iniciativa política, mesmo debaixo de fogo cerrado. Ninguém se iluda: a meta da oposição é emparedar o presidente, transformá-lo num refém da crise, daí a revolta quando saiu a nomeação de novos ministros, atestando o fracasso momentâneo da ofensiva oposicionista – explica.
E o comportamento da economia, em que os recordes de produção se acumulam e a inflação começa a ceder, ilustra o quanto o Governo ainda guarda de trunfos. Sem medo de andar na contramão da maioria de seus pares, que identificam um agravamento da crise, Wanderley acredita que o tempo trará a solução, se os ritos democráticos forem preservados.
- Se as culpas ficarem provadas, haverá punição, seja quem for o culpado. Caso se constate que as denúncias eram vazias, a motivação autoritária de quem as levantou ficará explícita – prevê.
PINTURA DE GUERRA
Nunca é demais lembrar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em janeiro, cobrou da oposição “um gosto de sangue na boca”. Imagine-se uma frase saindo da boca do João Pedro Stédile, do MST. É claro que ele seria chamado às falas, teria que explicar-se. Não por acaso, a radicalização acentuou-se desde então, o Congresso passou a enredar-se em pautas até ali de consenso. Óbvio que possam existir irregularidades, da qual uma investigação séria e equilibrada poderá atestar a extensão e a gravidade maior ou menor. Mas seria ingenuidade acreditar que os chamados ao confronto não tenham seu peso.
UDENISMO TARDIO
Representantes do PSDB na CPI dos Correios, como o deputado Eduardo Paes, tem recorrido com freqüência a insinuações e ironias, com base em rumores, inclusive contra a família do presidente. Chega a lembrar o Amaral Neto. O exemplo não é isolado, nem gratuito. Como a UDN do passado, o PSDB e o PFL começam a ressentir-se de uma viabilidade eleitoral maior, de candidatura fortes, e tendem a apelar para o clima de instabilidade.
ELEITORALISMO EXPLÍCITO
O PFL jamais priorizou a moralização da coisa pública, seus líderes até condenavam o moralismo como prática. Julgar previamente já é errado, toda punição exige apuração prévia consistente. Que dirá quando a sentença parte de quem possa ser questionado em sua longa permanência no poder. Não se pode ler os fatos atuais apenas sob a ótica da moralidade, a disputa política está subjacente a eles, antecipando o confronto eleitoral do ano que vem.
APOIO POPULAR
A chave para as duas vitórias de FHC sobre Lula, ao contrário do que possa aparecer à primeira vista, foi a superioridade dele junto às classes subalternas. Nas faixas de maiores rendas e escolaridade, o petista se aproximava do tucano. O quadro somente inverteu-se no pleito de 2002, e a popularidade de Lula tem sobrevivido à alegada crise sem maiores perdas. Caso esse quadro persista até a decolagem de programas importantes, como a transposição das águas do Rio São Francisco, a licitação das Parcerias Público-Privadas e a retomada das obras em saneamento e transporte previstas para o segundo semestre, fica muito difícil derrotar o presidente. Daí a histeria tucana.
TRÉGUA PATRONAL
Não há oposição ostensiva e militante contra Lula no empresariado. Nem Febraban, nem CNI, nem Fiesp apostando na crise. A indústria não fornece gravetos para alimentar a fogueira, não, joga lenha. Até porque o desempenho da economia tem permitido que todos eles ganhem muito dinheiro. O investimento medido pela formação bruta de capital fixo, a compra de máquinas e equipamentos, ampliou-se. E isso foi feito com recursos privados, já que o Estado ainda está longe de poder arcar com esses gastos.
MATERIALISMO VULGAR
Por causa desse apoio empresarial a Lula, não falta quem tente ridicularizar as denúncias contra o golpismo. Se o governo favorece as elites, como poderia haver uma conspiração para derrubá-lo ou sitiá-lo? Esse argumento é de um materialismo vulgar, rasteiro mesmo. É de quem não entende que o interesse nu e cru pelo poder, sem vinculação a compromissos de classe mais profundos necessariamente, pode sim alimentar a agitação golpista. A luta pelo poder é uma motivação em si mesma, em certos, e o PSDB está sentindo suas possibilidades se esvaindo.
SEM SAÍDA
O PSDB vivia uma situação difícil, em que mesmo o colapso no qual estavam suas fichas como destino do Governo do PT não vinha como desdobramento mais provável seu fortalecimento. Limitado a nomes como Geraldo Alckmin e Aécio Neves, o partido terá problemas em superar Anthony Garotinho, se apoiado na máquina do PMDB. Vamos lembrar que na eleição passada, com o modestíssimo aparato do PSB e não mais que uma parcela da bancada evangélica em legendas menores, Garotinho bateu o José Serra em seis estados da Federação. Na hipótese da crise amainar e Lula atrair a maior parcela do PMDB, aí mesmo é que os tucanos ficam a ver navios. Insisto: a falta de perspectiva de vitória eleitoral está na raiz de proposições como a do senador Tasso Jereissati, que Lula anuncie a desistência de disputar a reeleição. Ora, esse é um direito do presidente, incluído na Constituição por iniciativa do próprio PSDB e usufruído por um dos seus próceres, FHC. Agora que eles estão fora do Planalto, deixa de valer, com base em suposições?
ALMA DO NEGÓCIO
Como, então, é possível criar tanta borbulha, por vezes com fatos isolados ou de importância secundária? Para isso, é fundamental o concurso da mídia. Não por uma fantasiosa e improvável articulação centralizada, não se imagine um complô entre donos de jornal, o mais das vezes concorrentes. Mas por mecanismos inerentes à própria lógica do negócio da comunicação, pelo menos na América Latina. A capacidade de alimentar uma crise é a chave para obter a aquiescência e o conformismo dos Governos para os pontos de vista defendidos pela maioria dos jornais. O tom dos editoriais, imperativo quanto ao que o presidente possa ou não fazer, é muito diferente do ano passado, quando procuravam evitar o confronto direto, por sentirem a força dele junto á maioria do público. Não há como identificar um interesse contrariado específico, ligado à distribuição da publicidade oficial ou algo do gênero, então é mais razoável apostar numa convergência natural de interesses, nas afinidades com um certo segmento político, saudoso do poder que tinha.
PERDA DE PARÂMETROS
O ambiente tumultuado da CPI ceva equívocos perigosos, que não podem passar sem reparo. O senador Pedro Simon ( PMDB-RS ) chegou a propor ao deputado Roberto Jefferson uma absolvição prévia, desde que ele delatasse os supostos beneficiários do mensalão. Faltaria tinta para os críticos na mídia, caso a oferta partisse de alguém do PT em outras ocasiões. A deputada Denise Frossard ( PPS-RJ ) chegou a sugerir a abertura do sigilo bancário e fiscal dos 513 integrantes da Câmara. Ora, quebra de sigilo é um instrumento de investigação extremo, adotado em caso de suspeita. Não é para ser aplicado a torto e a direito, facilitando a exploração de episódios menores, de impostos em atraso a multas de trânsito. Só se pode atribuir esses exageros à onipresença das câmaras de televisão.
GEOCENTRISMO PAULISTA
No primeiro ano do mandato de Lula, o Congresso aprovou uma agenda difícil, votando reformas que se arrastavam por anos a fio. A ambição desmedida do senhor João Paulo Cunha, tentando mudar uma tradição para reeleger-se presidente da Câmara, gerou um impasse que praticamente paralisou a Câmara e resultou na eleição de Severino Cavalcanti, a maior derrota do Governo até então. Não se pode atribuir problemas como esses à heterogeneidade da base parlamentar do Governo, pois FHC lidou com o mesmo quadro e o próprio Lula superou esse desafio no primeiro ano. O problema não era a composição da base, mas a sua operação. E essa foi prejudicada pela ótica paulista da maioria da cúpula do PT, obcecada pela disputa eleitoral no estado. Os estrategistas do Governo, reconheça-se, não primam pelo brilhantismo. Esse diagnóstico, entretanto, não deve fazer perder de vista o principal. Lula tem direito a concorrer à reeleição, mostra desempenho que o credencia à reeleição, mostra desempenho que o credencia para tal e só uma apuração isenta, com provas cabais, pode condenar quem quer que seja. Antes delas, ninguém é culpado. Qualquer lógica diferente dessa, conscientemente ou não, é golpista.
A tese fundamental acima é detalhada por uma série de artigos que o cientista político fez publicar no jornal Valor Econômico, alguns publicados antes mesmo dos escândalos estourarem, sinal de que ele já farejava algo podre. Caso queira conhecê-lo, veja anexo.
Texto publicado no jornal O Globo, edição de 13 de julho de 2005, pág. 7 .
Título: Há um fino golpe no ar
Autor: Elio Gaspari ( jornalista )
É golpista a articulação de uma renúncia de Lula à reeleição. Embrulhada numa Sacola da Daslu ( a Bolsa Família dos tucanos ), ela funcionaria assim:
1 – Lula vai à televisão e anuncia que não disputará a reeleição.
2- O Congresso aprova uma emenda constitucional que acaba com a reeleição e aumenta de quatro para cinco anos o mandato dos próximos presidentes da República.
3 – Desmoralizado, o companheiro vai para a casa, o PT definha, e o PSDB volta ao Planalto.
A idéia é golpista porque coloca a Constituição a reboque de um arranjo. As leis da terra dizem que o mandato de Lula vai até o dia 1º de janeiro de 2007, quando será substituído na Presidência pelo cidadão escolhido em 2006. Essas mesmas leis garantem ao companheiro o direito de disputar a reeleição.
O arranjo embute a cassação dos cidadãos encarregados de eleger o presidente da República. Cassa-lhes o direito de julgar Lula. Se ele quiser disputar a reeleição, duas coisas podem acontecer: ganha ou perde. Nos dois resultados, seu destino será decidido pela patuléia soberana que o pôs no Planalto em 2002. Os hierarcas de Brasília não têm mandato para fazer um cambalacho que tira aos leitores o direito de decidir a questão. Tem gente disposta a mostrar que continua confiando no presidente, assim como tem gente que venderia a cueca para ter o gosto de mandá-lo de volta para São Bernardo.
O interesse pela renúncia de Lula reflete dois tipos de receios. A desistência seria conveniente para preservá-lo. Uma espécie de trégua no andar de cima. Esse é o receio bem-intencionado. Maligno é o medo de que, uma vez candidato, Lula se reeleja. Afinal, se esse medo não existisse, a desistência seria desnecessária, por irrelevante.
Medo de voto é coisa perigosa. Não custa lembrar uma brilhante construção do jornalista Carlos Lacerda em 1950: “O Sr. Getúlio Vargas ( ... ) não dever ser candidato à Presidência. Candidato, não dever ser eleito.” Até aí, tudo bem, mas Lacerda continua: “Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.” As desgraças da política nacional na segunda metade do século passado vinham das duas primeiras negativas: “não deve ser candidato ( ... )”, “não deve ser eleito”. Era o medo da volta de Vargas, que virou medo da chegada de João Goulart e, mais tarde, tornou-se o medo (absolutamente despropositado ) da vitória de Lula.
Trata-se de um golpezinho esperto, porque seria ratificado pela vítima. Como na mágica de 1961, quando João Goulart se conformou com o parlamentarismo de mentirinha que salvou a face de uma revolta de generais derrotados nas ruas. É também um golpe bem-educado, pois assenta-se exclusivamente num conchavo parlamentar. Não rosna a força das armas, nem a da rua.
Em 1840, com o Golpe da Maioridade, os mandarins do Império colocaram um garoto de 14 anos no trono do Brasil. Na República, sucederam-se os Golpes da Menoridade, todos destinados a substituir a vontade de um povo considerado incapaz. A idéia é sempre a mesma: em nome de uma conciliação destinada a aplacar as tensões da Guerra Fria ( no século XX ) ou dos mercados financeiros ( no XXI ) aceita-se qualquer acordo, desde que a escumalha fique de fora.
Se Lula achar que deve disputar a reeleição, não se pode tirar ao povo brasileiro o direito de decidir onde o companheiro vai morar.
COLUNA ELIO GASPARI
Publicado no jornal O Globo, edição de 14 de agosto de 2005, página 14.
Título : O tucano quer o golpe do andar de cima
Basta que Lula tire a gravata e o andar de cima acusa de imitar o presidente venezuelano Hugo Chávez. Fica combinado assim: Lula não pode brincar de Chávez, mas o tucanato também não pode brincar de Carmona. Pedro Carmona é aquele empresário vitorioso que em 2002 liderou o golpe que prendeu Chávez, dissolveu o Congresso e fechou o Supremo Tribunal. Teve dois dias de fama. Abandonado pelos militares, acabou preso e escafedeu-se para Miami.
Na terça-feira o grão-tucano Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Ciência e da Administração de FFHH, escreveu o seguinte:
“Parece-me cada vez mais claro que Lula não tem mais condições de permanecer no Planalto e que o impeachment é inevitável”.
Direito dele achar isso. Bresser acredita que a “variável fundamental” para que se deflagre o impedimento será “a posição da sociedade civil”. Ele explica:
“Nas democracias, embora o poder seja formalmente do povo, na prática, está com a sociedade civil, que dele se diferencia porque, no povo, cada cidadão tem um voto, na sociedade civil o peso de cada cidadão depende de seu conhecimento, de seu dinheiro e de sua capacidade de comunicação e organização.”
Traduzindo:
Embora o andar de baixo vote, quem manda na prática é o de cima, porque a patuléia é ignorante, não tem dinheiro, nem conhece jornalistas. Caberá ao andar de cima decidir o impedimento de Lula.
Poucas vezes o golpismo nacional expressou-se com tamanha clareza social. Bresser dá à tal de sociedade civil a condição de árbitro do alcance do sufrágio universal.
Segundo o doutor Bresser, o defenestramento de Lula justifica-se porque “estamos ante a maior crise moral da História brasileira”.
Estamos “ante” ou estamos “na”? Tudo depende de onde o doutor se coloca. Registre-se que ele está na praça desde os anos 70, sempre militando na causa democrática. Como os golpistas dos anos 50 e 60 estiveram na frente democrática dos 40, não há nada de novo debaixo do céu de anil deste grande Brasil.
Bresser fala de bruxas que existem. Há as malfeitorias do governo e do aparelho do Lula, com cuecas, contas do Duda, mensalões e mesadinhas. Há a corrupção da base parlamentar e os caixas dois de campanhas eleitorais passadas, presentes e futuras. Mas há mais.
O tucanato faz de conta que nunca ouviu falar na caixa da campanha mineira de seu presidente, doutor Eduardo Azeredo, em 1988. Segundo o seu tesoureiro, ela custou R $ 20 milhões, com R $ 11,5 milhões rolando pelo caixa dois, no qual Marcos Valério pingou R $ 9 milhões.
Há algo de escárnio na construção de Bresser. Aos fatos:
Em 1998, a agência SMP&B de Marcos Valério deu R $ 50 mil para a campanha de FFHH à reeleição. Cadê? O mimo não consta da prestação de contas enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral pela tesouraria tucana.
O caixa dois da campanha presidencial do PSDB em 1998 foi de pelo menos R $ 10 milhões. Sabe-se disso há cinco anos, desde que os repórteres Andréa Michel e Wladimir Gramacho estouraram a contabilidade do PSDB. À época, o tesoureiro do FFHH informou que tivera em seu computador algumas planilhas com listas de doações, mas jogara-as fora. Não lembrava do conteúdo.
A tesouraria tucana disse à Viúva que arrecadou R$ 77 milhões nas campanhas de 1994 e 1998, mas as planilhas indicavam a entrada de pelo menos R $ 94 milhões. Uma diferença de R $ 17 milhões.
O tesoureiro tucano, dono do laptop, era Luiz Carlos Bresser Pereira.
O comissariado petista usa as contas tucanas de 1998 como queijo na sua própria pizza. Coisa assim: você pára de falar no Eduardo Azeredo e eu desisto de chamar o filho do Lula para contar na CPI como conseguiu que a Telemar se associasse a sua empresa de informática. Os privatas pagaram R $ 2,5 milhões por 35% do negócio de Fábio Lula. Esse é o jogo do andar de cima.
Para a patuléia, o melhor é que se fale de Eduardo Azeredo e que se conheça a história do filho de Lula. Ele pode ensinar a garotada a fazer novos empreendimentos.
Não é o estilo de Hugo Chávez que ameaça a República. Faz mais de um século que ela só é infelicitada pelas contas e pompas dos Pedro Carmona da vida.
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UM DESABAFO !
O FESTIVAL DE HIPOCRISIA QUE ASSOLA O PAÍS
Hidegard Angel ( colunista social ) [1]
Acontece que qualquer um razoavelmente informado, que acompanha regularmente o noticiário político e não é leitor/espectador de ocasião ( de apenas quando o noticiário se transforma em espetáculo ), fica chocado com o festival de cinismo e hipocrisia que vemos alguns parlamentares protagonizarem. São eles, aqueles mais “notórios”, os que se arvoram de paladinos da honestidade, os que apontam em riste seus dedos rumo aos supostos corruptos da vez, sem receio de que o dedo entorte e se volta, numa crise de consciência ( do dedo ! ), em sua própria direção ...
Diante da onda de “probidade” que acomete o Parlamento Brasileiro, a coluna aproveita o embalo e propõe o desafio: que todos os deputados e senadores com mandato coloquem na internet uma declaração de renda de antes de seu ingresso na vida pública e as declarações do período de vida pública. Considerando todos os gastos que tiveram ao longo do exercício de seus mandatos – despesas de campanha, o custo alto de manutenção de duas residências, em Brasília e em seus Estados, os translados regulares para Brasília etecetera e tal -, será muito simples saber quem são os honestos e desonestos ...
Aí saberemos onde estão os homens públicos que entraram pobres na vida pública e hoje são banqueiros e empresários de sucesso, concessionários de televisões e rádios, sem jamais terem trabalhado. Temos que fazer uma blindagem, mas não é da economia, é da honra do Brasil. Vamos começar esse processo e passar a limpo a corrupção no Brasil, pois não há prescrição no roubo ...
Onde está a CPI das Privatizações ? A CPI do Banestado, onde está ? O Proer ? E as operações interrompidas de que ninguém lembra mais? A Operação Patrícia ? Quem comprou o Terminal Rodoviário do Rio de Janeiro ? As dívidas dos usineiros ? Os precatórios ? Como fica o Brasil ? Se for para atingir presidentes, que atinja. O atual e os anteriores. Querem que haja revolução popular para que se blinde a honra nacional ? É isso que a hipocrisia quer ? ...
Por que não começar a blindar a honra da Nação já ? Menos botox no rosto e mais vergonha na cara, é o que o povo espera de seus políticos.
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O PRECONCEITO
Texto publicado no jornal O Globo, edição de 8 de fevereiro de 2005, pág. 7 .
Título: Lula e o ‘classismo’
Autor: Ali Kamel ( jornalista )
A face mais feia da sociedade brasileira, mas que freqüentemente se manifesta de maneira inconsciente, é o que chamo de “classismo”: o preconceito contra os pobres. Estou cada vez mais seguro de que o racismo decorre essencialmente do “classismo”. O negro que dirige um carro de luxo e é confundido com um motorista, e, por isso, maltratado, é mais vítima de “classismo” do que de racismo. Uma vez desfeito o mal-entendido, um tapete vermelho se estende para a vítima. Em outros países, o negro, mesmo rico, continuaria a ser discriminado, dirigindo um fusca ou um Mercedes. Isso não torna o “classismo” menos odioso que o racismo. São sentimentos igualmente repulsivos, como toda forma de preconceito.
O fenômeno do “classismo” faz vítimas independentemente da cor ou mesmo da posição que o sujeito ocupa. Se tiver deixado de ser pobre, ele será aceito em todos os salões, mas correrá sempre o risco de ouvir risadas por detrás. Uma vítima recorrente do “classismo”, eu não tenho dúvida, é o presidente Lula.
A compra do avião presidencial, a reforma no Alvorada, a verba de manutenção do Planalto, a compra de roupões de algodão egípcio e até a aquisição de duas ambulâncias para acompanhar as comitivas presidenciais se prestaram a toda sorte de impropérios. “Lula está deslumbrado com o poder” foi o mínimo que andei tendo. A falta de cerimônia foi tanta que escreveram em mais de um lugar que o projeto de Lula não é político, mas de ascensão social. Coisa mais brutalmente ofensiva não existe.
E injusta. Num país com as nossas dimensões, um avião é absolutamente necessário. Em janeiro de 2003, na primeira viagem ao exterior, Lula usou um avião de carreira, com imensos transtornos para os passageiros e com inconvenientes que não devem ser vividos por um presidente.
Lula chegou a Davos sem dormir direito, com os cabelos desalinhados, com a cara amassada, mas tendo de se encontrar, ainda no aeroporto, com autoridades e jornalistas. Um presidente da República, aqui e em qualquer lugar, não é um cidadão comum: ele deve chegar a seus encontros pronto para trabalhar no melhor estado físico, mental e de espírito possível. Não para o bem dele, mas para o bem do país. Desde JK, presidentes brasileiros dispõem de avião. O último deles durou 40 anos.
Da mesma maneira, a reforma do Palácio da Alvorada não estão sendo feita para agradar ao presidente Lula ou em seu benefício pessoal. Trata-se de um patrimônio da União e mantê-lo em bom estado é uma obrigação. O presidente incorreria em crime se deixasse que o palácio se deteriorasse: e, com 45 anos de uso, o estado dele clamava por uma reforma. Temendo gastar recursos do orçamento, Lula teve a idéia de pedir a ajuda de empresários – e foi criticado por isso. Difícil entender: se gasta dinheiro do orçamento, como no caso do avião, Lula é criticado; se não gasta, como no caso da reforma, é criticado igualmente.
No Palácio do Planalto, as instalações, sóbrias, precisam de reforma, sempre adiada. Na portaria, a traquitana de detectores de metal está instalada de maneira precária e o guarda-volumes é uma estante improvisada de madeira compensada. Nas pilastras que dão sustentação ao prédio, uma tomada elétrica é usada por muitos aparelhos, ligados a benjamins. A cadeira de pelo menos um secretário com status de ministro está puída e muitas das que servem aos funcionários também. Portas estão com o revestimento danificado. E, no entanto, a simples troca da empresa que faz a manutenção de rotina por outra, ao fim do contrato e de acordo com licitação pública, provocou críticas.
Igualmente injusta é a crítica quanto aos roupões de algodão egípcio e a aquisição de novas ambulâncias. O tipo de roupão não é definido pessoalmente pelo Lula, mas por quem cuida disso na presidência. Os roupões devem servir ao presidente e aos seus convidados muitos deles chefes de Estado e de governo. Trata-se de um padrão, adotado pelo Palácio muito antes de Lula chegar lá. O mesmo em relação às ambulâncias: é uma regra de segurança dar ao presidente da República o melhor atendimento médico. De novo, não em benefício dele, mas do país.
Imagine o leitor que Lula decidisse comprar roupões de chita, deixasse o Alvorada com goteiras, o Planalto sem manutenção, e vetasse a compra das ambulâncias. Aqueles que o criticam agora, acusando-o de deslumbramento, seriam os mesmos a ridicularizá-lo, dizendo, talvez, que só mesmo um presidente operário para fazer demagogia com roupões, descuidar de prédios públicos e ser imprevidente com a própria saúde, desconsiderando o fato de que é presidente. Essa é a lógica do preconceito. É como se acusassem Lula de ter concordado com todas aquelas iniciativas não por se submeter às regras do Estado, mas porque, tendo sido muito pobre, pretende agora usufruir das benesses de uma temporária vida de rico. Nada na história de Lula e no seu comportamento na Presidência permite uma crítica assim. É um xingamento.
Lula e seu governo devem ser criticados ou elogiados pelo que de substantivo fazem. Querer desmerecer a sua figura com acusações que só fazem sentido se a sua condição de classe é levada em conta é exercitar um preconceito que, mesmo inconsciente, é inaceitável.
PS: Fenômeno curioso, o “classismo” não acomete apenas ricos, mas pobres também.
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COMENTÁRIOS SOBRE OS ESCÂNDALOS
Segue abaixo alguns comentários sobre recentes episódios políticos elaborados por diferentes motivos, mas retratam minhas reflexões sobre a situação .
Helio ( www.feth.ggf.br )
COMENTÁRIO 1 –
O que incomoda na crise é o caráter hipócrita das lideranças políticas (particularmente do PSDB paulista ) que se comportam sem lembrar fatos recentes que eles mesmos promoveram neste país, por exemplo: quanto custou a emenda da reeleição presidencial ? ; e o crasso erro administrativo que nos levou a uma crise energética, quanto não custou ao Brasil? Por último, para onde foram os bilhões de dólares da privatização?
Vivemos uma situação única onde uma liderança popular estabelece uma ponte entre dois brasis, o Brasil dos doutores e o Brasil dos desvalidos. Pelo jeito, esta oportunidade está sendo intencionalmente jogada fora !
Se o pau começar a quebrar não se surpreendam com o processo. Aqueles que mais podiam nada fizeram para minorar a miséria brasileira. Ou então, como o Brasil tem passado por decisivos momentos sem mergulhar numa guerra civil, é possível que a saída seja através de um apelo místico, populista.
COMENTÁRIO 2 –
Caiu a máscara! A entrevista com o senador Artur Virgílio (AM ) publicada pelo O Globo em 3/7/05, pág. 8, mostra o que se quer não é apurar mas evitar a reeleição do Lula. Ora, o fundamental é a apuração dos fatos e deixar Lula tentar a reeleição. Quem tem o poder de tirar Lula da presidência é a população que lá o colocou. Este processo de intimidação que vem ocorrendo junto ao governo e ao PT em nome de cifras monetárias relativamente modestas em relação a escândalos passados, por exemplo, Paulo Maluf, Processo de Privatização, etc. é que tenta cassar a candidatura de Lula em favor de um nome que no momento é inelegível, a saber, Geraldo Alckmin ou José Serra ( FHC nem pensar ). Este processo de viabilização do PSDB de São Paulo para presidência está sendo tão sujo quanto foi o 2º turno promovido por José Serra em 2002. [2]
COMENTÁRIO 3 -
É no mínimo curiosa a observação do atual prefeito da cidade de São Paulo de que Lula teria feito retroceder a política brasileira a um passado remoto e que o governo FHC teria empreendido notórias transformações, conforme matéria do jornal Valor Econômico na edição de 18 de julho de 2005, pág. A6. Ora, numa antiga edição deste mesmo jornal, em 17 de fevereiro de 2005, pág. A 6 , consta que o próprio FHC foi o responsável pelo desmonte de um acordo entre o governo e a oposição e isto possibilitou a vitória de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara Federal. Isto é exemplo de ação de um renovador institucional? Veja!
COMENTÁRIO 4 –
Na carta ao leitor, a revista Veja na edição de 27 de julho de 2005 observa que são necessárias mudanças nas relações dos políticos com o erário.
Errado, revista Veja ! A mudança necessária é a que diz respeito à ação das empresas sobre o erário. São as empresas que diante das disputas eleitorais barganham apoio para obter vantagens; mas quando elas são merecedoras de atenção o processo não anda. Foi assim no passado na CPI sobre a ação corruptora das empreiteiras, na CPI do Banestado, que atingia o sistema financeiro e respectiva evasão de divisa, etc.
Sobre a matéria da revista referente à chantagem de Marco Valério ao governo federal, impressiona-me a desproporção entre a gravidade do que é afirmado e a ausência de prova que sustente a versão. Afinal, a notícia é mesmo verdadeira? Como a revista obteve a informação? Houve quebra de sigilo telefônico? Alguém contou? Quem? Se a intenção da revista é informar convém explicitar suas fontes, caso contrário vira revista de fuxico. E pensar que meu pai tem a assinatura desta revista há mais de vinte anos.
COMENTÁRIO 5 –
O golpe contra o governo Lula não visa propriamente atingir o atual mandato, mas sobretudo, anular suas chances de disputar um novo mandato com razoável chance de vitória.
Nesta estratégia golpista encontra-se o estratagema de ampliar o máximo do que se possa acusar os membros do governo.
Um dos elementos mais frágeis desta fase acusatória é a não verificação de enriquecimento por parte daqueles membros do governo diretamente envolvidos com grandes somas de dinheiro. O máximo que até o momento foi apurado foi o beneficiamento do Silvio Pereira com uma Land Rover. Ora, o maior estardalhaço por causa de um carro.
Quando nos damos conta do quantitativo monetário encaminhado aos parlamentares ou respectivos assessores, temos cifras relativamente modestas frente a acusações elaboradas em outros momentos da história recente do Brasil, ou seja, nos últimos trinta anos.
Enfim, se é para moralizar, ÓTIMO! Se é para prender, EXCELENTE ! Se é para derrubar presidente, VAMOS LÁ! Agora, que este rigor, em igual proporção, recaia sobre o que o PSDB e o PFL fizeram na história recente deste país.
É insuportável a ética tucana de que diante de acusações que assolam seus representantes surge a argumentação de que é perseguição política. Ora, dinheiro na cueca, alegria geral, agora quando pegam o caixa 2 do atual presidente do PSDB em sua campanha de 1998, aí é perseguição. Ou, pior, quando o ex-presidente FHC afirma que o que ocorreu no seu governo pertence à história; ora, um governo ( processo de privatização, emenda da re-eleição, apagão da energia ) que não tem nem dez anos e não vale a pena de ser investigado e também condenado os responsáveis por ilegalidades ?
COMENTÁRIO 6
O presente comentário ocorre na semana do roubo do Banco Central em Fortaleza ( CE ) . Roubo constatado em 8 de agosto de 2005. Ora, puxam o que pode e não pode das contas alheias, se escandalizam por um depósito de 50 mil, 100 mil ... No entanto, na surdina, uns larápios roubam 166 milhões de reais num único final de semana ! E aí, como ficamos ? Se há tanto amor pelo dinheiro público por que não , por parte dos deputados e senadores, igual atenção ao episódio. Até onde percebi, o caso não foi objeto de reação alguma de quem quer que fosse do Congresso Nacional. Curioso, não ! A lógica do comportamento destes pares não está norteada por um arroubo moralista em nome do bem comum; a lógica é essencialmente política, e uma política golpista, que visa castrar as chances de um candidato para chegar novamente à presidência.
COMENTÁRIO 7
Um aspecto constante nos pronunciamentos do atual governador paulista é a sucessiva crítica à arrecadação tributária promovida pelo governo federal. Ora, se ele, e o grupo que gira em seu entorno empregasse a mesma energia e virulência combatendo os ganhos financeiros dos bancos brasileiros e estrangeiros, fatalmente teríamos chances de termos uma relação menos desequilibrada entre o setor rentista e o setor produtivo deste país.
Um exemplo deste embate ocorre na Comissão de Valor Mobiliários ( CVM ) que chegou a almejar no ano passado ( 2004 ) a disponibilização por parte dos bancos de cerca de 12 bilhões de reais destinados à construção de moradias tendo em conta os recursos da poupança. Os bancos, após tratativas, ao início deste ano ( 2005 ) abaixou o plano para 3 bilhões. Eles preferiam dispor do dinheiro barato representado pela poupança para apostar em investimentos mais rentáveis.
Pois bem, após muito gritaria, particularmente do setor de construção civil que deseja ver o mercado mobiliário reaquecido, obteve-se que no primeiro semestre de 2005 os bancos viessem a oferecer 2 bilhões. Para o segundo semestre está previsto o aumento para mais 2,5 bilhões ...os bancos não gostaram; afirmam que não foram ouvidos.
Senhores, senhoras, o que vejo no governo Lula é que seu programa na prática vem tornando menos desequilibrado este jogo de forças entre setor financeiro e setor produtivo. E é por isto que a economia vem mostrando fortes sinais de crescimento. Lula não tem na destruição do estado brasileiro, tal como ocorreu no governo do Fernando Henrique Cardoso, uma “estratégia” para alavancar o crescimento brasileiro. Geraldo Alckmin, no meu entender, significa o retorno à política neo-liberal de esquartejamento do estado brasileiro.
COMENTÁRIO 8
Se há alguma dúvida quanto às características golpistas dos episódios que cercam a república brasileira, esta se desfez neste último fim de semana ( 19 a 21 de agosto de 2005 ).
Numa cena literalmente inusitada tivemos um procurador do estado de São Paulo se dispondo, no meio de um interrogatório, a divulgar pela imprensa televisa o teor do mesmo sem que tenha sido previamente confirmada a veracidade do depoimento. Em seguida, como se não fosse bastante, à noite do mesmo dia, 19 de agosto, o então secretário de segurança pública de São Paulo, passou pessoalmente à imprensa ( segundo coluna da jornalista Tereza Cruvinel, edição de O Globo em 20/8 à pág. 2 )[3] uma fita gravada com o depoimento, dando oportunidade ao Jornal Nacional da Tv Globo divulgar algumas partes do depoimento do advogado Buratti . Para completar, a revista Veja faz uma ampla explanação atacando diretamente o ministro da Fazenda tendo por base o acesso as investigações sobre o advogado Buratti que já contam com mais de oitos meses de pesquisa.
Comentário: é difícil entender este episódio sem suspeitar de uma direta ação do governo paulista no mesmo.
COMENTÁRIO 9
Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, está sendo acusado de receber propina por um dono de restaurante. Que coisa! No entanto, o que é curioso deste episódio é que este assunto vem a baila justamente no momento que o mesmo procura abafar o processo de cassação que atinge os deputados do Congresso Nacional.
A mídia brasileira quer sangue, cabeças rolando, e com isto leva a opinião pública. O problema deste ambiente inflamado é que ataca a parte corrupta, mas não atinge, e nem se quer atingir, a parte que corrompe!
Não é demais lembrar que tivemos um brasileiro, Fernando Collor de Mello, perdendo a presidência da República mas sendo absolvido pela justiça brasileira. Teria ocorrido erro no processo do impeachment ? Se não houve erro por que então foi absolvido?
Vivemos numa época, semelhante a de Fernando Collor, no qual o fundamental não é a prova, é a versão. Atualmente, qualquer cidadão com uma certa proximidade ao poder e que se disponha a falar contra adquire papel de estrela pela mídia brasileira. Foi assim com Roberto Jefferson (que até hoje não se dispôs a depor na Polícia Federal ), a secretária Karina ( que inicialmente, na polícia federal, negou qualquer acusação à Marcos Valério ) , o funcionário Marinho do Correio ( que se negou inicialmente a depor na Polícia Federal, só assim se dispondo em falar em juízo ), o publicitário Duda Mendonça que afirmou em público, pela televisão, que foi levado a ter uma conta no exterior para receber dinheiro do Partido dos Trabalhadores, etc. Este último, aliás, não deixou de ocorrer um fato curioso, a sua disposição de depor, sem ter sido chamado, acabou virando contra ele.
Inclusive, na entrevista com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, este foi muito claro como a imprensa, no caso revista Veja, foi marcadamente tendenciosa na maneira como cobriu as declarações do advogado Buratti.
Hoje, o negócio é botar lama ! E por que? Porque estamos a assistir um golpe, um golpe à moda do século XXI. Um golpe que não tem tanque militar na rua, um golpe que não precisa de movimento na rua, mas que mina o imaginário do povo brasileiro. Este processo passa uma mensagem subliminar, a saber: ESTE PAÍS É UMA MERDA! Um dos efeitos desta crise já brotou, qual seja, procura-se promover uma campanha eleitoral das mais insípidas como nunca o Brasil viu em tempo de abertura política. Tudo indica, a vigorar o que já foi aprovado pelo Senado Federal, em nome de diminuição de gastos com campanha, que teremos uma deliberação morna, uma eleição quase imperceptível.
Tivesse o Brasil ausência de problemas em termos sociais, e em termos de sua soberania (econômica e territorial ), uma campanha eleitoral morna até seria conveniente !
COMENTÁRIO 10
Severino está para ser cassado não pelo que fez, mas pelo que disse, a saber: ser favorável a uma pena branda quem tenha manipulado dinheiro em nome da campanha política.
A intenção de se atacar Severino não decorre da intenção de atingir os deputados. Querem mais. O objetivo maior é o impeachment do presidente ou, que, ao menos, este fique em tal agonia que se inviabilize a sua candidatura em 2006.
Tivesse o Severino adotado um papel de guarda de trânsito, hoje não estaria comendo o pão que o Buani amassou! Um presidente da Câmara que não se dispõe a cassar seus companheiros de casa, muito menos estaria disposto a encaminhar qualquer tratativa para cassar o presidente. Mas o seu vice, do PFL ....
Mas, afinal, quem colocou o Severino na presidência ? Segue em anexo uma interessante matéria sobre a vitória do deputado pernambucano que cabe ser relembrada. Veja
PARA CONCLUIR A CONVERSA
Numa entre tantas análise lúcidas promovidas pela jornalista Tereza Cruvinel para o jornal O Globo, ela faz uma observação que no meu entender toca no nervo da ferida que estamos assistindo e juntos sofrendo, a saber :
Texto publicado no jornal O Globo, edição de 28 de agosto de 2005, pág. 2 .
Título: Plutônio no ar ( texto parcialmente reproduzido )
Autor: Tereza Cruvinel ( jornalista )
( ............ )
A danação do PT é obra dos petistas e de seu ambicioso projeto de poder. Mas ela começa quando o partido ingressa no mundo dos grandes negócios cruzados com o financiamento de campanhas. Até 1998, os empresários davam ao PT cerca de 15% do que davam aos partidões. Em 2002, com Lula favorito, o que o PT arrecada de empresas é 1.300 % superior ao recebido em 1998 ( dados da revista “Teoria e Debate” com base no TSE ) . Tudo aponta para um esquema anterior a 2002 nas prefeituras, e isso só confirma que a rendição do partido que prometia ser diferente começa no financiamento de campanhas. O sistema nada desculpa mas se não for mudado, nenhuma lição terá ficado desta crise.
Esta mesma jornalista em sua coluna do dia 18 de setembro à pág. 2, observava que o governo Lula em 2003 apresentou gastos com juros de dívida na ordem de R $ 65 bilhões ( sessenta e cinco bilhões de reais ! ). Para 2006, os gastos do novo orçamento com o mesmo item estão estimados em R$ 179 bilhões ( cento e setenta e nove bilhões de reais ! ), enquanto que o item para investimentos no mesmo ano estará contemplado com R $ 12 bilhões ( doze bilhões de reais ! ). Assim, o gasto com os juros no Brasil em relação ao PIB, passou de 4,2% para 8,4 %, entre o primeiro e o quarto ano de mandato.
Observo eu, mesmo após tantos esforços com o superávit primário ( relação entre receita e despesa sem ter em conta os gasto com os juros ), o Brasil continua aumentando sua dívida em termos absolutos, embora tenha tido uma queda em termos percentuais. .
Cabe lembrar que quando o presidente anterior assumiu, a dívida interna equivalia a 30% do PIB, ao deixar o governo esta mesma dívida passava 54% do PIB! Hoje, ela está calculada em menos de 52% do PIB.
E o pior, o que os bancos fazem com este caminhão de dinheiro ? Muito pouco ! Afinal, quantos negócios podem oferecer a eles uma rentabilidade média de 20% ao ano sem grandes aborrecimentos? Eles preferem esperar por novos papéis ( títulos ), que adquiridos ensejam mais lucros...ou realizar empréstimos baseados em taxas exorbitantes.
E o pior, o que os bancos fazem com este caminhão de dinheiro ? Muito pouco ! Afinal, quantos negócios podem oferecer a eles uma rentabilidade média de 20% ao ano sem grandes aborrecimentos? Eles preferem esperar por novos papéis ( títulos ), que adquiridos ensejam mais lucros...ou realizar empréstimos baseados em taxas exorbitantes.
Enquanto isto ficamos atrás do dinheiro na cueca, da propina do Severino, caixa 2 deste ou daquele partido, do publicitário Duda que fez a muitos chorar ...
Já passaram pelos nossos olhos o deputado Jefferson, a secretária Karina, o funcionário dos Correios, o publicitário Marcos Valério e esposa, Buratti, Buani, Pizzolato, Guschiken, Dirceu, e tantos outros ... Desculpe, mas parece um circo, mas a sangria continua, não a do Lula, mas a do próprio país!
[1] A matéria foi publicada no Jornal do Brasil, edição de 3 de agosto de 2005 à pág. A 18.
[2] Acredito ser este a opção tucana para 2006. Na referida entrevista o então senador cita o nome do atual governador de São Paulo
[3] Dias depois, na mesma coluna, a jornalista relata que o governo paulista nega que a fita teria sido distribuída por ele. A jornalista registrou a afirmação mas ela própria não reconsiderou o que tinha escrito! Aproveito a oportunidade e gostaria de destacar o trabalho desta jornalista. Sua serenidade, senso de oportunidade e, sobretudo, eqüidistância da paixão que o tema naturalmente desperta, tem proporcionado, de longe, a coluna que mais assiduamente leio; não tem uma postura de FORA LULA, ou de defesa, simplesmente, atua como uma jornalista.