O novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti ( PP – PE ), telefonou ontem à tarde para o escritório político do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso ( PSDB ), em São Paulo. A ligação foi relatada pelo governador de Goiás, Marconi Perillo ( PSDB ), que estava na sala durante o telefonema, e também aproveitou sua visita à cidade para encontros com outros dois presidenciáveis em 2006: Geraldo Alckmin e José Serra. O teor da conversa não foi divulgado, mas Perillo disse que o PSDB terá um candidato “competitivo” nas eleições de 2006.
Liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique, a oposição foi decisiva para a derrota sofrida pelo PT na disputa pela presidência da Câmara. A avaliação foi feita pela cúpula do partido e também durante reunião, no Palácio do Planalto, poucas horas depois da eleição concluída na madrugada de terça-feira.
Na opinião dos petistas, o malogro do candidato Luiz Eduardo Greenhalgh começou a ser construído no sábado passado. No dia anterior, os principais dirigentes do PT estavam prestes a fechar dois acordos com a oposição, para sacramentar o apoio ao candidato oficial do governo.
Ao PSDB, o PT fez duas ofertas. A primeira era que, uma vez eleito, Greenhalgh daria ao deputado Custódio Mattos ( MG ), líder dos tucanos na Câmara durante o último ano legislativo, o cargo de ouvidor-geral. Além disso, o PT se comprometeu a apoiar formalmente a eleição do candidato de Alckmin à presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo, o deputado Edson Aparecido ( PSDB ), definido ontem pela bancada.
Para assegurar que o acordo, em São Paulo, seria cumprido, a cúpula do PT costurou o apoio a Alckmin na bancada petista e informou aos tucanos que o líder do partido na Assembléia, Cândido Vaccarezza, viria a Brasília confirmar o acerto. Em São Paulo, dois tucanos importantes – o prefeito José Serra e seu secretário de governo, Aloysio Nunes Ferreira – viam com bons olhos esse acordo.
Na manhã de sábado, tudo caminhava para uma definição em favor de Greehalgh. O problema é que, numa conversa com o presidente do PT, José Genoino, o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo ( MG ), disse que o governador Alckmin pediu que a eleição na Assembléia ficasse de fora do acordo.
Aquele foi o sinal de que não haveria acordo algum. Para os petistas, a posição de Alckmin foi acertada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou o fim de semana costurando apoios à candidatura do pefelista José Carlos Aleluia ( BA ).
O movimento do PSDB prejudicou, por sua vez, o acordo que a cúpula petista estava negociando com o PFL . Com os pefelistas, a possibilidade de um acerto cresceu depois que Virgílio Guimarães ( PT – MG ), o petista dissidente, decidiu buscar apoio à sua candidatura junto ao ex-governador Anthony Garotinho ( PMDB ), desafeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e principal adversário do prefeito César Maia ( PFL ) no Rio de Janeiro.
Na última semana antes da eleição, César Maia fez gestões para que José Carlos Aleluia desistisse de sua candidatura, em favor de Greenhalgh. O temor do prefeito carioca era que a vitória de Virgílio ajudasse a fortalecer Garotinho, num momento em que ele vem de um fracasso – a gestão à frente da Segurança Pública no Estado do Rio, no governo de sua mulher, Rosinha Matheus.
O entendimento do PT com o PFL previa o compromisso de Greenhalgh em dar prioridade a três questões: a realização da reforma política, a mudança do regimento para alterar a forma de elaboração do orçamento e a instituição do rodízio para os integrantes da Comissão do Orçamento. A reforma política interessa aos pefelistas justamente pela mesma razão que sempre interessou ao PT: a adoção da fidelidade partidária.
Na avaliação do PFL, quando Lula chegou ao poder, o PT ao estimular a migração de deputados dos partidos de oposição para os de sua base aliada, ajudou a enfraquecer as siglas, principalmente o PFL e o PSDB. O PFL, por exemplo, elegeu 84 deputados federais em 2002, mas hoje conta com apenas 62. Se adotada legalmente, a fidelidade partidária poderia impedir isso.
No sábado, um possível acordo começou a ruir. Novamente, Fernando Henrique e o presidente licenciado do PFL, senador Jorge Bornhausen ( SC ), teriam atuado nos bastidores para impedir que Aleluia abrisse mão de sua candidatura. Na noite de domingo, durante jantar em Brasília, a cúpula do PFL selou o destino de Aleluia, mantendo-o na disputa. “O núcleo duro do PSDB e do PFL atuou contra um acordo institucional que preservaria a proporcionalidade na Mesa da Câmara”, queixa-se um dirigente do PT.
No fim de semana e na segunda-feira, um tucano paulista, supostamente a serviço do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, telefonou tanto para Virgílio quanto para o então candidato Severino Cavalcanti ( PP ), informando-os de que os votos do PSDB iriam para as suas candidaturas.
Quando a eleição foi para o segundo turno, na madrugada de terça-feira, o PT ainda almejou obter o apoio do PFL. Greenhalgh procurou o deputado ACM Neto ( PFL – BA ), seu amigo pessoal, e depois o líder do partido, Rodrigo Maia (RJ ). Reunido com seus colegas de partido, Maia preferiu ir ao encontro do candidato petista, em vez de recebê-lo com a bancada. Aquele foi, para os petistas, o sinal definitivo de que Greenhalgh não receberia o apoio do PFL.
( Esta matéria foi publicada no jornal Valor Econômico, edição de 17 de fevereiro de 2005 à p. A 6. Assinaram a matéria os jornalistas Cristiano Romero e Jamil Nakad Junior )
Na página do referido jornal consta uma foto do ex-presidente, com olhar de vitorioso, e um comentário embaixo desta, a saber: FHC: acordo petista com Azeredo e Aleluia foi por água abaixo depois da intervenção do ex-presidente.