Revista geo-paisagem (on line)

Ano  5, nº 9, 2006

Janeiro/Junho de 2006

ISSN Nº 1677-650 X

Revista indexada pelo  Latindex , Dursi Capes

 

 

 

 

Geografia crítica

 

Helio de Araujo Evangelista[1]

 

 

 

Resumo

 

O artigo analisa alguns aspectos da geografia crítica. Apresenta diferentes perspectivas, marxistas e não marxistas, para promover o debate.

 

Palavras-chave: Geografia, marxismo, história do pensamento.

 

Abstract

 

This paper argues on the running somes teoricals aspects about criticals geography. It shows differents points of views, marxists and not marxists, to promote one discussion.

 

Keywords: Geography, marxism, thinking’s history .

 

 

Apresentação

 

            Iniciei a graduação em geografia a partir de março de 1977 na Universidade Federal do Rio de Janeiro e a terminei em dezembro de 1980, obtendo o diploma de bacharel. Ainda estudei mais dois anos para concluir o curso de licenciatura, e já em 1983 ingressava no curso de pós-graduação da mesma universidade ao nível de mestrado. Conclui o mestrado em 1989. Em 1995 retornei para iniciar o doutorado, conclui o mesmo em março de 1998, defendendo minha tese.

            Foram vários anos de geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no mais importante curso de geografia no Brasil, junto ao curso encontrado na Universidade de São Paulo; pelo menos ao tempo acima mencionado.

            Quantas mudanças!

            No campo propriamente acadêmico tive o privilégio de “assistir” ao ingresso da geografia crítica naquela universidade. E este é o tema do presente artigo. Naturalmente que não vou abordá-lo como já realizado[2], no qual destaquei a geografia crítica brasileira numa perspectiva histórica. Desta vez abordo o assunto no sentido mais teórico. Assim, com este texto, inauguro uma nova fase na Revista geo-paisagem ( on line ) que é o de continuar tratando da geografia mas, agora, numa perspectiva teórica.

            A escolha desta corrente para iniciar a série não decorre de uma identificação com a mesma. Há, no entanto, um tributo a uma história. Formei-me mergulhado na geografia crítica sem ser um crítico; embora, às vezes, tenha caído em tentação!

 

            Mas, como descrever aquela época que daqui a pouco fará trinta anos?

            Estávamos na ditadura, e pela primeira vez, naquele ano, 1977, ocorreu um forte movimento estudantil na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O ministro da educação, Nei Braga, num pronunciamento em cadeia nacional, concitou os alunos a não perturbar a ordem e manter a serenidade. Inclusive, uma professora de graduação, em sala, alertou a nós calouros o risco de balbúrdias na universidade. Era uma época de plena vigília em todos sentidos. [3]

            Nossa turma, foi a primeira a promover uma Semana de Geografia, logo no primeiro ano de graduação, 1977. Havia uma ansiedade em falar, pensar, gritar, discutir, argüir, enfim, de se mexer.

            Surge a geografia crítica !

            Arrisco a dizer que a adoção da geografia crítica foi mais rápida em termos afetivos do que intelectivos, explico-me, havia uma revolta latente que ensejava uma demanda por um pensamento correspondente. Assim, vários, mal liam este ou aquele texto, e afirmavam: é este o caminho !

            Redescobrem Marx, mas o redescobrem de um modo quase litúrgico, cheio de reverências, se servem de Marx, Marx é instrumento. O fundamental é o ato de pensar uma revolta. Paulatinamente, no meio universitário, vivia-se uma embriaguez de democracia, ao menos, em nossas mentes. Lia-se com temor, reverência, procurava-se decorar, partia para luta! REVOLUÇÃO !

            Por último, cabe observar que o texto abaixo visa relacionar uma série de leituras, de diferentes correntes, incluindo não marxistas, para que você leitor(a) venha a ter um posicionamento.

 

Matriz teórica segundo duas perspectivas [4]

 

Primeira perspectiva: o  ato de conhecer

 

            Intentaremos, a seguir, analisar o ato de conhecer numa perspectiva marxista, pois isto nos auxilia a compreender melhor o teor da Geografia Crítica. [5] Além disto, traço um contraste com o pensamento de Max Weber.

            Karl Marx foi um homem da tradição revolucionária, herdeiro de uma tradição francesa que buscou a “... a retomada do movimento que foi interrompido, e depois invertido, pela instituição “burguesa” da república ... pela ditadura napoleônica, e enfim pela Restauração e a Contra-Revolução.” [6] Não se tratava de uma busca por uma situação ideal, mas sim de um movimento social cujos herdeiros dos anteriores revolucionários eram os operários , os trabalhadores . [7]

            Karl Marx ao fixar-se na Inglaterra, em 1850, portanto com trinta e dois anos, já tinha passado por uma série de movimentos sociais, tendo sido expulso da França e Prússia, e perseguido na Bélgica [8]. Enfim, a constituição de seu pensamento encontrava-se intimamente vinculada a uma atividade política, revolucionária, que por sua vez esteve alicerçada a uma determinada concepção filosófica cujas raízes podemos encontrar em Hegel .[9]

            Sobre Marx, que não chegou a sistematizar o seu método de trabalho [10], convém frisar, há fragmentos de reflexões metodológicas pelas quais Jürgen Kocka chamou atenção para o seguinte: Marx não opera uma separação entre sujeito e objeto, ele entende a realidade como atividade sensorial-humana, como prática, deste modo, a realidade histórica é ...“um processo no qual se objetiva de forma permanente, e em medida crescente, o trabalho humano e, através deste, a consciência humana; e isto, por sua vez, constitui condição para influir reflexivamente sobre o sujeito que pensa e age...a realidade não precisa, por princípio, ser estranha e externa ao entendimento racional do homem, uma vez que ela é crescentemente mediada pelo trabalho e pelo fato de que a consciência tornada prática ajuda na sua constituição”. ( 1994, p. 41-42 ).

            A consciência, segundo Marx, não se aproximava... “da realidade com categorias estranhas às coisas; ...valores e perspectivas devem ser vistos como momentos do processo social e histórico global, e não contrapostos à coisa de forma descompromissada”. ( Ibidem, p. 48 )

            Esta forma de conceber a realidade é interpretado por Jürgen Kocka como a tomada da concepção de Hegel segundo o qual foi localizada uma unidade estruturada em toda a multiplicidade, há um cerne em todos os fenômenos, e isto levou a Marx a reivindicar...“para a ciência a apreensão da essência das condições históricas, isto é, conhecimento da substância ou apreensão da totalidade”. ( Ibidem, p. 46 )

            O pensamento de Marx surgiu como uma visão geral da história humana, detendo-se com maior profundidade nas características da sociedade capitalista, e visualizou, a partir das contradições inerentes a esta sociedade, uma profunda transformação social.

            Num contraponto a Marx, destacaremos, a seguir, a contribuição de Max Weber.

            Max Weber evitou reflexões epistemológico-filosóficas sobre o sentido da realidade, a sua atenção, quando dizia respeito à teoria do conhecimento, era com a metodologia do conhecimento científico, deste modo, Jürgen Kocka encontra uma dificuldade para compreendê-lo, ele observa que em Weber a realidade vem a ser concebida como um caudal infinito de relações causais, diante o qual a ciência abrange uma determinada parcela segundo as idéias de valor do pesquisador; no entanto, Kocka observa ainda várias passagens de Weber entendendo a realidade como plural.

            Em seguida Kocka [11] utiliza um termo muito feliz, tomado de outro autor, que bem define a nossa forma de entender a realidade em Weber, a saber: a realidade do “continuum heterogêneo”, segundo este conceito, a realidade seria tanto estruturada e determinada por relações causais, como, a compreensão da mesma pelo cientista, seria forjada por relações de valor, isto é, as estruturas do “continuum” poderiam existir, porém poderiam ser irrelevante dado a um determinado tipo de trabalho científico.[12]

            A partir desta noção de “continuum heterogêneo”, segundo o qual a realidade é entendida como complexa e múltipla, o conhecimento científico é essencialmente parcial  e este conhecimento parcial, por sua vez, assim o é duas vezes: primeiro por não haver possibilidade de açambarcar tudo, e segundo porque a produção deste conhecimento está enviesado por óticas valorativas dos pesquisadores que destacam um ponto e não outro.

            No entanto, a parcialidade, embora sendo a grande marca do conhecimento humano, não significa limitada por muros inexpugnáveis, o que há no conhecimento é um fluir do raciocínio que também tende ao infinito. Por exemplo, ao término do seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Max Weber estabelece uma espécie de roteiro para compreender o ...“significado cultural do protestantismo ascético em relação a outros elementos componentes da cultura contemporânea”, [13]e reconhece que este trabalho, acima referido, foi apenas um tratamento da relação do protestantismo com o advento do capitalismo, faltando, no entanto, outros aspectos para compreender este fenômeno religioso. [14]

            Nota-se em Weber um esforço em operar uma separação entre ...“o mundo dos objetos como factualidade isenta de valores e o mundo dos valores e das perspectivas ligadas a ele ...”[15], sendo que a objetividade não é aquilatada pelo conteúdo, mas pelo método.

            Deste modo, quando Max Weber constitui seus tipos-ideais, e a própria noção de classe social é um exemplo, assim o faz norteado por uma noção de que o acesso da realidade há de ser mediado por conceitos que longe de serem encontrados absolutamente nesta mesma realidade, apenas servem como “orientação” de como melhor estudar os fenômenos.

             

Segunda  perspectiva: Karl Marx e a luta de classe

 

            Não deixa de ser irônico ao constatarmos que Karl Marx após viver 64 anos, e ter toda a sua vida política marcada pela concepção de luta de classe, tenha escrito especificamente sobre este assunto, em termos teóricos, o equivalente a duas páginas, exatamente o que encontramos no final de sua obra incompleta – O Capital [16].

            Obviamente há trabalhos de Marx que tratam das classes sociais a partir de episódios históricos como destacado in El Dieciocho Brumario de Luis Bonaparte, Luta de Classe na França ou ainda em Revolução e Contra-Revolução na Alemanha. No entanto, estas leituras não facilitam em muito a análise sobre as classes sociais, e por conseqüência a classe dominante [17].

            Acreditamos que uma forma para compreendermos o conceito de classe social em Marx, embora pouco explorada, é a partir do modo como o mesmo concebia a natureza humana; não se quer aqui expressar que Marx tivesse a notória atitude de estabelecer formas ideais do pensamento para então chegar, através de uma elaboração intelectiva intensa, a uma conclusão, a um achado, enfim a um conceito de classe social. No entanto, pensamos que na percepção do modo como ele trata a questão da natureza humana há uma pista da forma de pensar de Marx sobre a sociedade, e mais especificamente sobre as classes sociais.

            Este caminho foi adotado a partir de uma passagem do livro A Filosofia de Marx de Étienne Balibar que observa : “...o que é esboçado pela Ideologia Alemã é uma teoria da constituição do poder, enquanto o que é descrito pelo Capital, por meio de sua definição do fetichismo, é um mecanismo de sujeição.” ( p. 94 ) [18]

            A obra Ideologia Alemã , realizada em conjunto com Friedrich Engels, é do mesmo período das Teses sobre Feuerbach, ou seja, 1845-1846 ( quando ele tinha de vinte e sete anos para vinte oito anos) .[19] Estas obras perfazem um conjunto, nelas os dois pensadores, Karl Marx e Friedrich Engels dão por definidas suas posições antagônicas com os chamados hegelianos de esquerda ( Feuerbach, Bruno Bauer e Stirner ).[20]

            Na sexta tese em Teses sobre Feuerbach, Marx entende que: “ a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo singular. Em sua realidade efetiva, ela é o conjunto das relações sociais.”[21] Logo, a questão da essência do homem é encontrada nas próprias coisas, na produção dos meios de existência que leva o homem a travar relação com a natureza e seus pares.

            A natureza humana está subsumida às exigências concretas da luta pela sobrevivência, à forma como a mesma impinge na consciência humana uma estratégia de sobrevivência e todo um corolário sobre as concepções ideais das pessoas, por isso que na crítica de Marx a Feuerbach, ele chama atenção na sétima tese em Teses sobre Feuerbach para o fato de que: “...o “sentimento religioso” é ele próprio um produto social e que o indivíduo abstrato que ele analisa pertence à mesma forma social determinada”. [22]

            Segundo Étienne Balibar [23] Marx a partir de sua forma de entender a essência humana procura deslocar o eixo da discussão em torno do tema, que até então se realizava; não se tratava de diagnosticar a essência a partir de uma idéia ou uma abstração que por sua vez estaria “alojada” nos indivíduos, muito menos, de entender a essência como que advinda de indivíduos reais que passariam a formular abstrações sobre o mundo. O que é novo em Marx, segundo Étienne [24], é que as relações sociais são as que definem o “gênero” humano....“Elas o definem porque elas o constituem a cada instante, sob formas múltiplas, fornecendo portanto o único conteúdo “efetivo” da noção de essência, aplicada ao homem ( isto é, aos homens )” [25] É a produção que forma o ser do homem, mais exatamente, é a “...produção de seus próprios meios de existência, atividade simultaneamente pessoal e coletiva ( transindividual [26] ), que o transforma, ao mesmo tempo que transforma irreversivelmente a natureza, e que assim constitui “a história”. [27]

            No entanto, paralelo à formação de seu conceito da práxis, Marx vai endereçar sua atenção à ideologia; não basta contemplar os fatos, a produção social, o desenrolar da história, pois qualquer ideação sobre o processo social, qualquer concepção sobre a história, pode vir a incorrer num processo apontado por Max Stirner in O único e sua propriedade, como o de uma opressão, deste modo Marx, que ocupa mais da metade de sua obra A Ideologia Alemã discutindo Stirner, entende que a “...a crítica da ideologia é o pré-requisito necessário para um conhecimento do ser social como desenvolvimento da produção: desde suas formas imediatas, ligadas à subsistência dos indivíduos, até suas formas mais mediatas, que desempenham um papel apenas indireto na reprodução da vida humana. ”[28]

            A Ideologia Alemã apresenta-se como uma gênese das formas sociais, sendo o fio condutor dado pela divisão do trabalho . [29] Por divisão do trabalho havemos de ter uma concepção muito larga pois a mesma está assentada na separação entre trabalho industrial e comercial e o trabalho agrícola, e, como corolário, na própria divisão entre cidade e o campo. [30]

            A divisão do trabalho gestada na divisão natural do trabalho na família apresenta na evolução do tempo uma grande complexidade, a ponto de dividir o trabalho em intelectual (isto é o pensamento sem atividade ) e manual ( que vem a ser a atividade sem pensamento ); a distribuição desigual dos bens originados no trabalho enseja o aparecimento da propriedade, como forma de garantia para a distribuição estabelecida.[31]

            A sucessiva contradição entre o interesse particular e o interesse coletivo são gestadas por relações de poder; o processo de dominação e controle social passam a ter aspectos específicos e tendentes a ter uma elaboração maior com a evolução da história. A constituição das classes sociais, neste sentido, assentadas em interesses próprios, e condicionadas pela própria divisão do trabalho, ensejará uma série de conflitos, que poderão até ter formas ilusórias de expressão, encobrindo as efetivas lutas entre elas, tais como a luta pelo direito de voto, a luta pela democracia, etc.[32]

            A classe dominante é constituída ao acessar o poder político e tornar o seu interesse próprio como sendo interesse universal, de modo que uma classe antagônica a esta, deve, sobretudo, conquistar o poder.[33]

            Na época de Marx, quando vigorava a fase concorrencial do capitalismo, ele vai identificar no Estado um instrumento de acesso por parte da classe dominante em gerir as relações de dominação...“esse Estado não é mais do que a forma de organização que os burgueses constituem pela necessidade de garantirem mutuamente a sua propriedade e os seus interesses, tanto no exterior como no interior.”[34]

            No entanto, a classe dominante burguesa não controla o tempo da história, assim outras já dominaram e sucumbiram[35], ela também conhecerá o seu fim, e tal dinâmica não decorre exclusivamente de uma periódica e intermitente sublevação social que altera a ordem constituída, subjacente a este processo revolucionário há uma dinâmica material que afeta crucialmente a relação entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de propriedade.

            O desenvolvimento das forças produtivas[36] emula um novo patamar de exigência para continuar o seu crescimento o que vêm a desafiar o caráter privado das relações sociais de produção da sociedade burguesa. Há uma contradição entre força produtiva e a relação social de produção numa sociedade burguesa, a força produtiva, em si, tem um caráter técnico de geração de riqueza, porém a relação social de produção da sociedade burguesa, caracterizada pelo caráter privado, submete este caráter social da geração de recursos proporcionada em nome de interesses próprios. Deste modo surge uma classe “ ...que suporta todo o peso da sociedade sem desfrutar das suas vantagens, que é expulsa do seu seio e se encontra numa oposição mais radical do que todas as outras classes, uma classe que inclui a maioria dos membros da sociedade e da qual surge a consciência da necessidade de uma revolução, consciência essa que é a consciência comunista e que, bem entendido, se pode também formas nas outras classes quando se compreende a situação desta classe particular”.[37]

            Semelhante ao realizado na primeira perspectiva, quando lançamos mão do pensamento de Max Weber, utilizaremos em seguida diferentes autores nesta segunda perspectiva.

 

11ª tese sobre Feuebach “Até agora os filósofos se limitaram a interpretar o mundo. Cabe-lhe agora transformá-lo.”

 

 

Autor 1 [38]

 

As concepções econômico-sociais marxistas não podem compreender-se senão em função das concepções filosóficas que as determinam.

O marxismo apresenta uma concepção totalitária do homem e de seu destino, um guia completo de ação para a humanidade. Ele concebe as idéias como produto da  evolução das formações materiais no cérebro humano; do modo que são as forças  materiais o verdadeiro agente curador da história. A história só interessa desde que seja movimento incessante de forças materiais. É o materialismo histórico. Há ainda o  materialismo dialético, pelo qual a evolução histórica decorre das oposições geradoras de mudanças: escalonada em tese, antítese e síntese, segundo preconizava Hegel. Para Marx nenhuma verdade merece um sim ou não que dê sentido à afirmação feita; afirmar ou negar integram-se na própria contradição. Sem verdade estável, a evolução justificará amanhã a negação do que hoje ficou certo.

Para Marx, não há realidades materiais que perdurem, não há apenas forças materiais cuja ação, necessariamente transformadora, nada deixa existir. O certo de sua filosofia não é matéria, é o choque das forças materiais. O espírito não tem maior viabilidade do que a própria matéria – ele é produto de forças materiais.

 

Como o homem se insere numa concepção como esta? Basta apenas atuar, realizar-se na luta e no conflito, exercer ação transformadora que esculpirá a evolução perpétua da História: só assim se existe. O homem, para Marx, não é mais do que a ação material que exerce, não tem outra realidade além da ação que produz. A ação humana é acima de tudo revolucionária: tanto mais o homem existirá como homem quanto souber mais profundamente transformar o que existe.

 

Os comunistas sujeitam-se aos mais puros ditames do marxismo quando varia cada passo e faz hoje o contrário do que fizeram ontem: não é por hipocrisia, nem por conversão, mas por ser normal que assim procedam. Assim, a apresentação de um ideal (patriotismo, justiça social, etc.) visa tão somente adquirir maior eficácia na luta por transformação social.

            Enfim, o marxismo caracteriza-se por um pronunciamento teórico radical. Pretende ser uma cosmovisão e uma revolução completa. Esta corrente não pode ser caracterizada por uma ética! O ponto de partida do marxismo é o de ter uma concepção da sociedade e história humana que explicita os grandes movimentos destas mesmas sociedade e história e, com isso, acredita ter condições de visualizar o cenário futuro. Não há o êmulo da moral em Marx para lutar a favor do proletariado; a perspectiva é operacional, ou seja, pela concepção construída, o proletariado corresponde a nova vanguarda da sociedade, tal como foi a burguesia no passado [39] !

 

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Autor 2 [40]

 

 

Marx ao destacar a transformação vincula o poder do pensamento não à compreensão mas à transformação. Ao abolir a distância entre reflexão e ação ele suprime a diferença entre o possível e o efetivo. Não há conceito de verdade objetiva , há submissão da atividade cognitiva às metas e critérios da práxis revolucionária. Mesmo que a ação produza efeitos diferentes da teoria não há distanciamento para julgar.

No entanto, o grau de transformação passa pela transformação do grau de percepção. Há uma alteração da esfera do imaginário, uma mudança no quadro perceptivo. Assim, em relação a um não marxista, o marxista pensa diferente, como também, percebe o mundo com categorias diferentes.

Pior, não se vincula responsabilidade entre os episódios do regime totalitário soviético com as próprias características do pensamento de Marx. Há o combate da idéia de essência mas pressupõe uma concepção pura de socialismo que a história humana não logrou ainda reconquistar.

Pela tese 11, é proposta uma mudança básica na atividade do filósofo enquanto tal. Não se trata de uma nova práxis, mas de uma nova teoria. Na filosofia grega theoria significava revelação da verdade oculta. A contemplação, a reflexão, a escolha das melhores palavras significavam um exercício de desenterramento do que estava oculto.

Dito de outro modo, as  coisas, os fenômenos, eram para os filósofos signos, que eles decifravam em busca do significado ou essência. Entre o signo e o significado, a chave interpretativa era a razão e o logus. Pela razão, o homem filósofo saltava de um plano para o outro: do plano da fenomeralidade instável, movediço, enganoso, para o plano das essências, do ser verdadeiro. Este plano era considerado superior, por abranger e ultrapassar o mundo dos fenômenos ( ele conta todos os fenômenos manifestos, e mais um sem-números de essências não manifestadas ou possibilidades ) , e também por ser estável, imutável, eterno. Para o filósofo, portanto, o fenômeno, a aparência sensível imediata é sobretudo um signo ou símbolo de um ser . Para o homem da práxis, a aparência, é sempre matéria-prima das transformações desejadas. A investigação teórica insere o ser no corpo de possibilidade que o contém, e o explica e integra no sentido total da realidade. A praxis, ao contrário, limita suas possibilidades, realizando uma delas, sem via de retorno. Para a theoria, o ente é sobretudo a sua forma, no sentido aristotélico, isto é , aquilo que faz com que ele seja o que é ; para a praxis, o ente é sobretudo matéria, isto é, aquilo que faz com que ele possa tornar-se outra coisa que não aquilo que é. Não se deve confundir esta oposição com a do “estático” e a do “dinâmico”, porque o dinamismo interno faz parte da forma ( por exemplo, a forma da semente é a planta completa em que ela tem o dom de se transformar ). Mais certo é dizer que a theoria se interessa pelo que um ente é em si e por si, e a praxis se interessa pelo que ela não é, pelo ser secundário,

Se a praxis requer alguma teoria, esta teoria já não versará sobre a natureza do ser, não tentará investigar o que o ser é no corpo da realidade total, mas apenas aquilo em que ele pode se transformar no instante seguinte, não por seu dinamismo próprio e interno, mas por força da intervenção humana. Já não será uma teoria do objeto, mas uma teoria da ação que ele pode sofrer.

Há, portanto, aspectos da realidade que só podem ser checados pela praxis, outros que só o podem pela theoria. Mas a praxis procede necessariamente pela negação do objeto, pela sua redução a meio e instrumento, e a theoria pela afirmação da sua plenitude e do seu valor como fim ....

De tudo isso, conclui-se que estruturar a prática como fundamento e valor supremo do conhecimento é instaurar o reinado dos meios, desprezando os fins, é inverter o sentido de toda ação humana e negar a consistência ontológica da realidade.

A filosofia da praxis contém em seu bojo, oculta mas nem por isto menos potente, a negação do sentido da realidade.

 

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Autor 3 [41]

( sobre a natureza humana )

 

            O homem nada pensa senão na e pela experiência sensível. Mesmo depois de adquiridas as idéias, é-lhe impossível formá-las sem recorrer a uma atividade sensível que lhe possibilita uma volta ao singular. Por mais que o pensamento humano seja espiritual e alcance em seus objetos o que neles é independente da matéria, só os alcança na representação sensível e, a partir dela, pela abstração, por uma espécie de desinvestimento que não pode dispensar seu ponto de partida. No homem, tudo o que é espiritual nasce a partir da matéria e continua, de alguma forma, encarnado. ...

            A partir do momento em que temos o espírito unido à matéria viva, e vivendo nela e por ela, temos o homem, quer se trate do primitivo em busca das primeiras ferramentas ou do sábio dominando o universo ou do santo unido a Deus. O que mostra como a idéia de natureza é, a um só tempo, plástica e dinâmica. Está-se falando, é claro, dessa espécie de natureza humana historicamente existente na terra. Uma vez admitido que essa natureza, pelo lado em que é espiritual, está aberta ao “todo” do universo, embora seja uma tabula rasa, ela pode desenvolver-se em todos os sentidos com base no dado múltiplo e variável  que lhe dá a experiência. Inclusive, só pode desenvolver-se inteiramente se for em todos os sentidos: ...

            Sempre se reconhecera no homem, quaisquer que sejam a raça, o tempo e o meio, o que é propriamente humano: um pensamento, uma razão, que só atua mediante os sentidos, mediante um enraizamento biológico: um espírito encarnado. A partir daí, quanta diversidade em sua maneira de ser e estar no mundo, de acordo com o que conhece, com sua maneira de conhecê-la e, conseqüentemente, segundo a maneira de sentir e de reagir! Diversidade manifesta entre dois homens da mesma época, mas muito mais profunda de uma época para outra, de uma civilização para outra. Pois o homem está aberto para o “mundo humano” mais que para o mundo cósmico. O pensamento de cada um está em estreita dependência com o dos outros.... O pensamento de cada um, sua maneira de sentir, sua consciência, dependem dos outros”. O pensamento de cada um, sua maneira de sentir, sua consciência, dependem dos outros”. Segundo esta linha de pensamento, pode-se dizer que cada época tem um espírito que lhe é próprio, certa maneira de ser homem. A natureza humana só se realiza diferenciando-se pela cultura, pelos instrumentos que se outorga e que transformam seu relacionamento com o mundo.

 

 

Conclusão

 

            Ao tratar da geografia crítica e respectiva base de pensamento me vêm uma estranha sensação de estar abordando um tema que progressivamente é coberto pela poeira do tempo. Curioso, não? No meu tempo de mais jovem, a geografia crítica era tão viva! Agora ...

            O que pode explicar isto?

            A rigor, vivemos num tempo no qual não é mais permitido a fé. Vivemos um tempo onde não é mais permitido a esperança! E esta era a grande força do marxismo, o de inocular esperança. 

            O que importa hoje é o aqui e agora. Não há mais missões, metas históricas, o que importa é agora. Não há mais ética, moral. Vivemos num tempo no qual avançamos na luta contra o tabagismo, porém, cresce a defesa da maconha; vivemos no tempo no qual há uma gritaria contra a pedofilia, mas procura-se defender o aborto; vivemos ... não, não, não ... a rigor, estamos!

            Vivemos a época das dores.

            Uma época de dissenso que é tida como a mais democrática, uma época de grande manipulação. Ninguém mais fica imune ao poder que a mídia tem na economia, na política, na cultura, etc.

            Cada vez mais cresce a ciência de como induzir as vontades, os desejos, os quereres. Cada vez mais somos nômades no pensamento. Não temos mais discernimentos, somos guiados, guindados feito gado ou sonâmbulos.

            O que vale é que tudo vale. É o império do relativo, tudo é permitido, tudo é necessário, tudo é para ficar. Tudo é ... e tudo deixa de ser.

            O tempo ensina.

            Quantos geógrafos críticos encontram-se, hoje, bem instalados!

            O avanço do relógio da história nos avizinha de novas questões.

            Está a exigir novas formas de se apreender o real.

            Este é o nosso desafio, sem tanta casca do passado, vislumbrarmos o parto dos novos acontecimentos. 

 


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Notas



[1] Prof. do Departamento de Geografia da UFF ( www.feth.ggf.br ) .

[2] A Geografia Crítica no Brasil  - trabalho publicado na Revista da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias ( RJ ), setembro de 2000, ano II, nº 2, pp. 18-34.

[3] Aprendemos feito patos, estes aprendem fazendo. Assim foi. Uma de nossas colegas, Geni, veio a ser convidada pelo DOI-CODI a prestar esclarecimentos sobre sua ação no movimento estudantil.

[4] O que se segue sobre a geografia crítica é um apanhado de diferentes trabalhos por mim elaborados durante o curso de doutoramento na UFRJ, 1995-1998, a saber, Geografias moderna e pós-moderna: os debates recentes, Geografia Humana: uma ciência ?, e, por último,  “A classe social dominante segundo Max Weber e Karl Marx”.

[5] A obra de Karl Marx é ampla, e a apreensão de sua concepção do ato de conhecer encontra-se disseminada em seus escritos. As obras como Teses sobre Feuerbach, Manifesto Comunista, A miséria da filosofia, O capital e seus estudos históricos pontificam uma forma de abordar a sociedade. Porém, não há um trabalho de sua autoria que sistematize sua gnosiologia. Por esta razão, nos pautaremos em autores que tiveram preocupação semelhante a nossa.

[6] In A filosofia de Marx de Étienne Balibar, pp. 30-31, ( 1995 ).

[7] Ibidem, p. 31.

[8] Vide Karl Marx - Pequena biografia de Evguénia Stepánova ( 1979 ).

[9]  Jürgen Kocka ( 1994, p. 46 ), destaca este aspecto mencionando diferentes pensadores contemporâneos concordes com este ponto.

[10] Como destaca Henri Lefebvre in a Sociologia de Karl Marx ( 1979 ) .

[11] In “Objeto, Conceito e Interesse”de Jürgen Kocka p. 46.

[12] Por exemplo, aquilo que designamos como força da gravidade, esta força física ( cognominada de gravidade ), já existia antes de Isaac Newton, no entanto, os seus predecessores mesmo procurando entender o equilíbrio da matéria procurava outras formas de análise ( p. ex: vontade de Deus, etc.).

[13] A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, p. 132 ( 1981 ).

[14] O conhecimento é evolutivo, agregativo, de tal modo que o que sabemos hoje é um acúmulo do que outros souberam; mas desde que este conhecimento ocorra em condições sociais normais; quando, pelo contrário, há rupturas sociais violentas, quando enfim uma nova ordem social é estipulada, um novo saber é estimulado. Por exemplo, para esclarecer a nossa posição, durante a Idade Média, os estudos teológicos adquiriam uma projeção que atingiam a ordem pública; hoje um revolucionário software na área computacional trás maiores perspectivas e desafios nas relações sociais do que os embates que possam surgir por discordâncias teológicas. Sobre este aspecto da temporalidade do ato de conhecer caberia destacar a contribuição de Thomas Khun em A Estrutura das Revoluções Científicas.

[15]In “Objeto, Conceito e Interesse”de Jürgen Kocka, p. 40. ( pois não há um limite, muito embora a realidade do cosmos venha a ser muito maior que nossa capacidade de raciocínio ),

[16] Vide Livro 3, volume 6, parte sétima, capítulo LII, pp. 1012-1013 in O Capital de Karl Marx ( 1980 ) .

[17] Marta Hannacker in Os conceitos elementares do materialismo histórico destaca este aspecto nas páginas 159-160 ( 1973 ), Henri Lefebvre in Sociologia de Marx, na página 88, frisa que Marx vincula o conceito de classe tanto ao campo da sociologia quanto ao da economia, mas ao não ter completado a sua teoria sócio-econômica abriu espaço para uma série de equívocos no tratamento das classes segundo uma perspectiva marxista. Já Georges Gurvitch in As Classes Sociais, ao tratar especificamente de Marx, se prende à forma como o próprio via a burguesia e o proletariado ( o que não deixa de ser uma perspectiva restritiva pois, segundo Lefebvre ( op. cit. ), in “Revolução e Contra-Revolução” Marx enumera oito classes, em “A Luta de Classes na França” ele detecta oito ).

[18] “Do lado da ideologia, a ênfase é aplicada sobre a denegação ou sobre o esquecimento das condições materiais de produção, e dos limites que elas impõem. No campo ideológico, toda produção é negada, ou sublimada; torna-se uma “criação” livre. É por isso que a reflexão sobre a divisão do trabalho manual e intelectual, ou sobre a diferença intelectual, é central. Vimos que ela permitia a Marx explicar o mecanismo graças ao qual uma dominação ideológica de classe se reproduz e se legitima. Do lado da teoria do fetichismo, ao contrário, a ênfase é aplicada sobre a maneira pela qual toda produção é subordinada à reprodução do valor de troca. ” ( ibidem, p. 94 ).

[19] Embora a obra tenha sido escrita quando era jovem, esta veio a ser revista por Marx anos mais tarde na intenção de editá-la, no entanto, ela só veio a ter uma publicação em 1932 pelo Instituto de Marxismo-Leninismo de Moscou. Não é uma obra que deva ser considerada como de uma fase imatura de Marx, pelo contrário, nela está registrada a concepção materialista de história, que veio a ser exposta de uma forma panfletária, com caráter propagandístico, em O Manifesto Comunista.

[20] O posicionamento de Marx, e de Engels, frente aos filósofos socialistas e materialistas de sua época é trabalhado a partir da obra A Sagrada Família .

[21] In “As Teses sobre Feuerbach” de Karl Marx de Georges Labica, p. 31 ( 1990 ).

[22] Ibidem, p. 34.

[23] Vide “Transformar o Mundo: Da Práxis à Produção” in Filosofia de Marx, p. 40-48 ( 1995 ).

[24] Embora ela não saiba afirma ser este ponto de vista absolutamente original de Marx in “Transformar o Mundo: Da Práxis à Produção” in Filosofia de Marx, p. 42 ( 1995 ).

[25] Ibidem

[26] O que significa que a importância não está em torno do que há no indivíduo, mas sim no que há entre indivíduos in  “Transformar o Mundo: Da Práxis à Produção” in Filosofia de Marx, p. 43 ( 1995 ).

[27]“Transformar o Mundo: Da Práxis à Produção” in Filosofia de Marx, p. 47 ( 1995 ).

[28]  Ibidem

[29] Ibidem, p. 48

[30] In Ideologia Alemã, p. 20 ( 1980 )

[31] Ibidem, p. 38.

[32] Ibidem, p. 39

[33] Ibidem, p. 40

[34] Ibidem, p. 95.

[35] Caberia aqui nos reportarmos ao início do Manifesto Comunista e destacarmos uma famosa frase: “ A História de todas as sociedades que existiram até nossa época é a História da luta de classes...homens livres e escravos, nobres e plebeus, opressores e oprimidos se enfrentaram sempre, mantiveram uma luta constante, velada umas vezes...” , p. 11, ( 1979 )

[36] Força produtiva é um conceito que tem o sentido largo de apreender as formas variadas e diversas do homem em controlar, manipular e manufaturar não só os recursos provindos da natureza, mas também aqueles produzidos socialmente; neste sentido a força produtiva envolve a tecnologia de ter acesso e explotar a natureza, assim como a ciência de melhor administrar os recursos humanos disponíveis. Enfim, força produtiva vem a ser todo aquele elemento válido para expandir a produção material de uma determinada sociedade. Dificilmente, por exemplo, podemos conceber a fase cubista de Pablo Picasso como uma peça de uma força produtiva, mas contemporânea àquela época, o desenvolvimento do motor à combustão foi um dado decisivo na aceleração das forças produtivas da época ( ao propiciar a diminuição das distâncias a partir da evolução tecnológica do automóvel ).

[37]  In Ideologia Alemã, p. 47.

[38] DAUJAT, Jean - Que é o comunismo ? Trad. Leonor A. de Campos. Porto:Livraria Tavares , 1962.

 

[39] Naturalmente que na mobilização política a questão ética ( a luta pelos mais pobres ), ou até mesmo o nacionalismo ( defesa dos interesses nacionais ) podem ser utilizados como formas de galvanizar a opinião pública, porém, estas “bandeiras” decorrem de movimentos táticos que podem ser substituídos assim que ocorram mudanças nas circunstâncias então vigentes.

[40] CARVALHO, Olavo de - O jardim das aflições. São  Paulo:Ed.É   Realizações,2000.

 

[41] NICOLAS, Marie-Joseph . “Introdução à Suma Teológica”. In 1º vol. Parte I – Questões 1-43. AQUINO, St. Tomás de São Paulo: Ed. Loyola, 2001, pp. 47-48.