Ano 6, nº 11, 2007 Janeiro/Junho de 2007 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi Revista classificada pela CAPES |
ESPAÇO
E CULTURA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. A QUESTÃO RELIGIOSA: EXPANSÃO DE IGREJAS
E SEITAS (NEO)PENTECOSTAIS.
Marcus Vinicius Castro Faria [1]
Resumo: O presente trabalho versa sobre religião e geografia
no Estado do Rio de Janeiro. Nós verificamos que a religião pentecostal
apresentou um grande crescimento nos últimos anos no município de Volta Redonda
( RJ ) após durante
décadas representar o paradigma industrial brasileira com a usina
siderúrgica – CSN. Assim, o objetivo deste texto é o de entender porque isto
ocorreu.
Abstract:
This work is about religion and geography in
Palavras-chaves: Geografia, religião, Estado do Rio de
Janeiro, tendências
Work-keys:
Geography, religion,
Introdução
A
falência do modernismo, a crise econômica, o desconforto social, provocam uma
espécie de desencantamento do mundo e favorecem um fascínio pelo mágico e pelo
maravilhoso que vem sendo capitalizado pelas religiões de tipo pentecostais.
Diante da complexidade da crise econômica e tecnológica, e mergulhados em
dívidas, frustrações e no desemprego, assistimos a uma regressão do indivíduo;
empobrecidos e desorientados as pessoas abandonam sua confiança nos
procedimentos racionais em prol de práticas irracionais e infundadas; uma
atração pelo irracional, pelo sobrenatural, e pelo maravilhoso. ”As massas
começam a pensar que as principais calamidades que os atingem não encontrariam
remédio em raciocínios lógicos sobre a realidade, mas em meios que, viessem a
afastá-los como a magia, e tanto é assim que é mais cômodo e menos penoso
sonhar do que pensar” (RAMONET, 2001, p. 83). Cecilia
Mariz aponta “que para todos quantos são portadores
de uma visão encantada do mundo o gasto com o sagrado e o sobrenatural resulta
lógico e legitimo” (MARIZ, apud ORO, 2001, p. 201).
Atrelado
a este fato, constatamos uma total incompetência e incapacidade dos dirigentes
políticos para enfrentar os dilemas políticos e econômicos, criando certo
ceticismo, uma descrença e um descrédito em relação à classe política,
que utiliza medidas paliativas, assistencialistas, e populistas, baseados na
doutrina do “pão e circo” - vide o exemplo do Rio de Janeiro atual.
Tuan lembra que a construção de um “reino mítico”
norteia a satisfação das necessidades intelectuais e psicológicas, salvando as
aparências e dando uma explicação dos acontecimentos. Este “espaço mítico é
também uma resposta do sentimento e da imaginação às necessidades humanas
fundamentais”.
Nesta
pesquisa procuraremos ver a dimensão desses processos, analisando o caso
particular do município de Volta redonda – RJ. Como amostra
para o presente estudo vamos analisar as igrejas Universal do Reino de
Deus - IURD e a Assembléia de Deus - AD, pois estas são as mais representativas
e de maior projeção numa escala local, regional e nacional. Assim como, podemos
aprofundar melhor nas análises concentrando-nos em duas vertentes do pentecostalismo; pois quando tratamos da AD, esta se insere
no grupo dos pentecostais tradicionais por seguir uma conduta própria das
igrejas que se intitulam com esta denominação, fruto da fragmentação da igreja
batista; ao observarmos a IURD, no entanto, notamos um distanciamento do pentecostalismo usual e o surgimento de uma nova prática,
onde estão presentes as idéias de “teologia da prosperidade” e “fé de
resultados”; o que alguns autores denominam neo-pentecostalismo.
Então, o emprego do neo deixa em aberto a utilização de determinada
nomenclatura às diferentes práticas e condutas das duas igrejas em questão.
O pentecostalismo
O
principal aspecto religioso que diferencia o pentecostalismo
protestante dos ramos evangélicos tradicionais e católicos assenta-se,
basicamente, na ênfase dada à crença no Espírito Santo. Esta se coloca como a
crença maior, em torno da qual gravitam todas as demais crenças e práticas
religiosas. A manifestação do Espírito Santo é, assim, a crença comum que
integra os crentes ao conjunto pentecostal.(MACHADO, 1994 e 1997)
O
movimento pentecostal assenta-se sobre algumas doutrinas básicas como: “da
salvação pessoal, de santidade, de cura divina, do batismo com o Espírito Santo
como autoridade para o ministério, e pela expectativa do iminente retorno de
Jesus Cristo” (BURGESS, apud GUIMARÃES, 2005, p. 36). Machado sintetiza que “o
fundamento das práticas e crenças pentecostais, portanto, reside em acreditar
que o Espírito Santo derrama sobre os fiéis uma variedade de dons,
repetindo-se, hoje, episódios do cristianismo primitivo. A base de
credibilidade do Espírito Santo é retirada da Bíblia, sendo seus textos tomados
ao pé da letra”.
No
tocante ao conteúdo ético da mensagem religiosa pentecostal, Marion Aubrée (
apud MACHADO, 1994, . 137 ) designa como três os importantes eixos em
que se estruturam: “Louvar a Deus” apesar de todos os obstáculos, louvá-lo em
qualquer circunstância, visto que só a ele pertence o conhecimento do que é bom
ou mau para a salvação da alma e para a vida eterna; “submeter-se à
autoridade”, pois toda autoridade provém de Deus. Este princípio implica a
submissão, basicamente, ao pastor, ao patrão, ao governo e ao marido; e
“respeitar as proibições: em geral, estas relacionam-se
a numerosos detalhes da vida cotidiana. Percebemos nestes conteúdos, uma
orientação de conduta social que vão propiciar/ condicionar e auxiliar a
difusão desta religião em todo território nacional.” Uma apropriação material e
simbólica; efetiva e afetiva.
Tal
conduta está impregnada daquilo que Foucault ( 2005 b
), quando estudou a dinâmica e os meandros do poder chamou de Controle,
Normalização e Disciplina; chegando inclusive a utilizar o termo
“adestramento”. Não carregando em seu cerne qualquer potencial revolucionário,
observamos que a intenção das doutrinas pentecostais é tornar os fieis dóceis,
manipuláveis, rentáveis, submissos, obedientes e amedrontados; “controle das
mínimas parcelas da vida e do corpo. [...] uma obediência pronta e cega” .
Ainda, o que o filósofo francês vai denominar de principio
”suavidade-produção-lucro” na esfera do poder no domínio e controle social, se
encaixa com perfeição na abordagem da conduta ético-religiosa pentecostal, sua
manutenção e expansão. Com isto temos a base de uma “mentalidade pentecostal”
(GUIMARÃES, 2005), entendendo por mentalidade o substantivo que agrupa as
noções de grupo de crenças, de práticas, de sistemas, de valores, de
comportamento, de atitudes, de idéias, de costumes, de pensares, de
sentimentos. Uma conduta ética que reflete como um poderoso instrumento de
controle da multidão.
“Os
movimentos religiosos do tipo pentecostal possuem uma linguagem de louvor, de
entusiasmo e de descontração contrária á linguagem de sacrifício, de obrigação
e de seriedade freqüentes na concepção tradicional do cristianismo. A reza é um
lazer e não uma tarefa. A adoração é um prazer antes de ser um dever. Nesta
linguagem, podemos observar uma sintaxe diferente da sintaxe do trabalho e do
“fazer” do “espírito capitalista”.[...] A máquina narrativa do milagre consiste
em transferir o discurso do plano do “fazer” ao do louvor.” (CORTEN, 2001, p.
153)
A
importância dos cultos se coloca como fundamental na reprodução pentecostal,
principalmente se analisa sob a ótica local, pois funcionam como alternativas
de lazer. Além do mais, oferecem a comunidade uma certa
dose de segurança material e emocional. Se por um lado a igreja impõe a seus
membros determinadas atribuições financeiras e linhas de conduta, por outro ela
oferece, através dos cultos, um espaço de lazer seguro, onde é permitido
dançar, gritar, chorar, conversar sobre angústias e problemas. Dessa forma, vai
sendo estabelecida e configurada uma teia de relações sociais que se sustenta
através da comunidade religiosa, algo eminentemente coletiva.
Como
um dos principais agentes responsáveis pela expansão do pentecostalismo
são os próprios membros da igreja, crentes e pastores, como também os
principais instrumentos vetores da expansão do pentecostalismo
localmente.
Neste
estudo tomamos como exemplo desta conduta as igrejas Assembléia de Deus e
Universal do Reino de Deus, embora esta última se encaixa em uma outra corrente
do pentecostalismo denominada neo-pentecostalismo.
Chamamos
aqui de neo-pentecostalismo aquela parcela do pentecostalismo surgido no Brasil a partir da década de
1960 e que vem sendo motivo de diversas discussões. Além de seguir as
principais crenças e doutrinas do pentecostalismo
tradicional acrescenta: a “ênfase na realização de milagres mediatizados
pelas igrejas com testemunhos públicos dos mesmos; ênfase em rituais emocionais
e, sobretudo, em rituais de cura, associados a uma representação demoníaca dos
males; uso intensivo dos meios de comunicação de massa: impressos,
radiofônicos, televisivos e informatizados; combinação de religião com
marketing, dinheiro e, em alguns casos, política; sensibilidade para captar os
desejos dos fieis não somente das baixas camadas sociais; projeto de constante
expansão, em alguns casos para além das fronteiras nacionais”.(ORO, 2001, p.
205).
Observa-se
um importante espaço reservado às práticas mágicas e financeiras. Como exemplos
de igrejas que seguem esse tipo de conduta temos a Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça de Deus, a Deus é Amor
e a Renascer em Cristo, como as mais representativas deste novo pentecostalismo brasileiro.
Esta
adaptação do pentecostalimo é denominada “teologia da
prosperidade”; prometem um paraíso mundano rompendo com a idéia do ascetismo
protestante centrado no trabalho, ressaltada por Weber em seu clássico A ética protestante e o espírito do capitalismo. O que interessa é o aqui e o agora. Atribui-se
a culpa de todos os males ao Diabo e os homens não são responsáveis pelos atos
de maldade que cometem, pois o Diabo os levam a pecar. Torna-se escancarada a
ambição materialista e imediata na relação com Deus. Somente o dinheiro traz
felicidade e enriquecer tornou-se o único objetivo digno de uma vida (RAMONET,
2001). A Universal do Reino de Deus tem um “espaço para os empresários”, os
clipes com carros, casas e toda aquela promessa de sucesso, relacionando Deus e
dinheiro diretamente; prometem fórmulas sobrenaturais na resolução de todos os
males da sociedade contemporânea como a frustração, dividas e o desemprego. O
pastor representa “o profeta de Deus nesta terra, que estará desafiando a todas
as enfermidades: câncer, diabete, AIDS, paralisa, macumba, bruxaria, angustia,
desespero”, segundo cartazes anexados em postes e muros convocando para uma
“Confraternização da Igreja Deus é Amor”.
“Teologia da prosperidade não é
uma reedição da ética protestante calvinista e de sua moral sobre o trabalho.
Trata-se, ao contrário, de uma concepção da prosperidade que não tem nada a ver
com o ”fazer”. Se o campo tortuoso da inveja é transformado em um campo
iluminado da benção, isto acontece não através do trabalho mas através do
louvor da força do Espírito Santo. Escapamos dos maus espíritos, que a inveja
dos vizinhos lançam sobre nós, fazendo apelo a um
espírito mais forte.” (CORTEN, 2001, p. 154)
Ari Pedro Oro nos chama a atenção para o êxito
econômico encontrado nas empresas religiosas neo-pentecostais
legitimando-se ideologicamente na Teologia da Prosperidade, visto que esta
também incentiva o progresso econômico/ financeiro dos seus fiéis. Esta
teologia, ao invés de valorizar temas bíblicos tradicionais de martírio,
auto-sacrifício, arrependimento, etc. valoriza a fé em Deus como meio de obter
felicidade, saúde física, riqueza e poder terrenos. Em vez de glorificar o
sofrimento, enaltece o bem-estar do cristão neste mundo; numa demasiada
exacerbação da vida mundana, hedonista.
Notamos
que para aqueles que entendem “magia” como uma pseudo-religião, caminho desviante
de religião, destituída de ciência e de outros meios mais racionais, as
múltiplas mediações no contato com o sobrenatural (ORO, 2001), denotam uma fé
interesseira, utilitarista e instrumental. Enquanto outrora a magia tinha uma
utilização na proteção (contra o “olho grande”, bruxaria, e situações incertas
e perigosas), atualmente ela vem sendo atualizada pelas igrejas neo-pentecostais para sanar os problemas da sociedade
moderna, sobretudo de ordem econômica, psicológica e terapêutica.
“Vimos
que esse segmento religioso efetua um deslocamento do signo dinheiro no campo
religioso. Se historicamente ele foi percebido, sobretudo como algo impuro, até
certo ponto enquanto cristalização do mal e dos vícios, hoje, no neo-pentecostalismo, assume um sentido positivo, enquanto
símbolo que realiza a mediação privilegiada com o sagrado em espaços de troca
ritual. Além disso, o dinheiro não é somente percebido como um símbolo em si;
trata-se de um símbolo que recebe uma graduação de acordo com uma lógica econômica;
em outras palavras, não é questão do fiel simplesmente ofertar, dar dinheiro
para receber os benefícios esperados, mas, antes, de ofertar segundo parâmetros
quantitativos onde prevalece a crença de que dando mais, mais chances desfruta
de alcançar a graça, cuja grandeza depende, inclusive, do valor ofertado.”
(ORO, 2001, p. 212 )
Pode-se
averiguar que uma pessoa, ao procurar uma igreja pentecostal, via de regra,
busca uma segurança emocional capaz de lhe dar condições para continuar enfrentando
todos os problemas materiais. Assim, não dispondo de nenhum tipo de
atendimento, nem por parte do estado, nem por parte da iniciativa privada, se
torna alvo facilmente atingível por instituições que atuam na escala local,
como é o caso da igreja pentecostal.
Baseado
De
um modo geral, Sack define territorialidade como uma
intenção de indivíduos ou grupos de produzir, influenciar ou controlar pessoas,
fenômenos e relações, através da delimitação e defesa de uma determinada área
geográfica. Essa área é entendida como território; ainda segundo o autor, o
território é uma área demarcada como área de influencia e controle; a
territorialidade se coloca como a principal forma espacial de tomada de poder.
Neste sentido, tanto território quanto territorialidade são construídos
socialmente.
“Esta
forma peculiar de expansão, nitidamente relacionada à estrutura organizacional
pentecostal, passa a se materializar através de uma enfática atuação dos fiéis
principalmente na esfera do cotidiano. Nesse sentido, a estratégia de expansão
se reproduz por uma rede de ação estabelecida pelos crentes que pode ser identificada
pela apropriação espacial que este movimento religioso realiza. Essa
apropriação espacial nada mais é que sua territorialidade”. (MACHADO,
O pentecostalismo brasileiro e fluminense
Nestes
últimos anos temos assistido a uma verdadeira avalanche evangélica pentecostal
que vem inundando o país. Esta tendência tem a visibilidade aumentada pela
natureza do proselitismo religioso dos pentecostais e pelo tipo de publicidade
feita por essas igrejas. O número de pessoas que declaram pertencer a uma das
religiões do grupo pentecostal encontra-se em constante aumento no Brasil: 3,9
milhões em 1980, 8,8 milhões em 1991 e 18 milhões em 2000. Como se vê, a
população pentecostal mais do que dobra a cada década. A taxa de variação media
anual dos pentecostais observada em
O perfil demográfico e
socioeconômico dos pentecostais apresenta grandes desvios em relação à média
brasileira. Do ponto de vista demográfico, os pentecostais habitam mais as
zonas urbanas do que as rurais congregam mais mulheres do que homens, mais
crianças e adolescentes do que adultos, e mais negros, pardos e indígenas do
que brancos; de acordo com o Censo de 2000.
Em
relação aos aspectos sociais, em matéria de educação, se caracterizam por um
nível muito elementar, uma vez que os seus fiéis possuem, sobretudo, cursos de
alfabetização de adultos, antigo primário e primeiro grau. No que diz respeito
às atividades econômicas, os pentecostais apresentam um nível de remuneração
muito baixo, uma vez que eles recebem basicamente até três salários mínimos.
Todos
esses desvios do perfil demográfico e socioeconômico, em relação a média brasileira, revelam que o pentecostalismo
se mostra particularmente bem implantado nas camadas mais populares que vivem
nas cidades.
Na região metropolitana do Rio de
Janeiro, por sua vez, os pentecostais cercam a capital fluminense por todos os
lados; assim, eles representam mais de 21% da população em municípios como Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Itaboraí.
Observa-se ainda a presença de pentecostais na própria cidade do Rio de
Janeiro, nos distritos da Zona Oeste, sobretudo
A
Assembléia de Deus (AD), com 8,4 milhões de fieis, situa-se claramente em
primeiro lugar entre as igrejas pentecostais do país, com 47% dos adeptos desse
grupo religioso. Ela se encontra implantada na maior parte das grandes cidades
brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro, onde reúne 760.000 fieis, e
A
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), por sua vez, é de origem mais
recente, uma vez que ela foi criada em 1977, no bairro da Abolição, na cidade
do Rio de Janeiro. Esta igreja tem recorrido amplamente aos meios de
comunicação de massa para se desenvolver, principalmente pela televisão. Ao que
tudo indica, esta estratégia foi bem sucedida, uma vez que ela passou de
269.000 fieis, em 1991, para 2,1 milhões, em 2000, o que representa 12% dos
pentecostais.
Os
maiores contingentes de adeptos da IURD estão localizados nas capitais dos
estados. O Rio de Janeiro situa-se em primeiro lugar, com cerca de 350.000
pessoas, seguido de São Paulo, com 240.000. Observa-se que no estado do Rio de
Janeiro, a Universal do Reino de Deus é particularmente bem instalada nos
municípios que integram a regia metropolitana, principalmente.
Sem
dúvida, a capacidade da IURD de se estabelecer a longo do território nacional
está ligada à mídia que ela soube utilizar, principalmente o radio e a
televisão. Como se sabe, a Rede Record pertence a essa Igreja e o mapa da localização das suas afiliadas mostram bem a
estratégia adotada de implantação diferenciada pelo país. Pode –se distinguir,
então, três modalidades desta implantação: em primeiro lugar, se procura
conquistar as capitais dos estados, de onde é possível atingir a maior parte da
sua população; todas as capitais estão incluídas na Rede Record, menos Aracaju.
Em seguida, conquistam-se os principais centros de segundo nível; este segundo
tipo de implantação diz respeito apenas a uma parte do Brasil, pois, sobretudo
a Região Nordeste e o estado de Minas Gerais não participam desse movimento, em
razão de uma má receptividade das populações do interior ás mensagens da IURD.
Finalmente, pode-se notar que nos espaços particularmente favoráveis à Igreja
Universal, a Rede Record apresenta uma malha densa no território,
principalmente no Mato Grosso, Rondônia e Maranhão.
Caracterização
do município em estudo – Volta Redonda ( RJ )
Para
falarmos de Volta Redondas temos obrigatoriamente que falar da Companhia
Siderúrgica Nacional - CSN que foi um fator condicionante da história do
município. Ou seja, quando falamos da história de Volta Redonda esbarramos,
necessária e rigorosamente, na historia da usina; de certa forma, as duas
partes se confundem. “Cidade e fábrica se integram e se completam, crescem
juntas, como uma unidade única no espaço”; “a cidade que nasceu a serviço da
indústria e se expandiu crescendo a seus pés. As casas, os serviços, as áreas
publicas e privadas da cidade são o desdobramento externo da fabrica”.(MOREIRA,
2003, p. 139).
Volta
Redonda representa a cidade com a economia mais importante da região do Medio Vale do Paraíba e do Sul Fluminense; com uma
população estimada, em julho de 2006, de 258.145 habitantes e uma área de
182,317 Km², configura-se como uma cidade de médio porte.
Nos anos 1970 e
Toda
essa prosperidade, os anos de ouro da cidade, começou a declinar a partir de
1993 quando a CSN foi privatizada. Ainda em abril de
Partindo
da consideração que o município depende dos gastos da “família siderúrgica”,
calculada em 1993 em 110.000 pessoas entre empregados, aposentados e familiares,
pode-se inferir o efeito das demissões no comércio e na estabilidade social da
cidade de Volta Redonda.
Nos anos seguintes assistimos a uma abrupta
redução contínua no quadro de funcionários da empresa; tal como uma queda considerável
dos salários dos trabalhadores. Atualmente o Escritório Central da CSN se
encontra desativado, já recebendo oferta de compradores como a Universidade
Estácio de Sá e a própria Igreja Universal do Reino de Deus. Mas nenhuma das negociações caminharam. Hoje a usina conta com
cerca de
Com
o passar dos anos a cidade passou a conhecer do que é de fato o desemprego e a periferização do município; uma queda drástica no poder de
compra da população, visível quando analisamos o elevado número de escolas
particulares que fecharam as portas e a crescente procura por vagas nas escolas
públicas.
Os efeitos diretos e indiretos do desemprego na
cidade são expressos além do cotejamento do volume de emprego da CSN e sua
queda. No tempo, dá uma dimensão clara do problema social decorrente; a
privatização levou a dispensa de 12.700 trabalhadores no espaço de menos de uma
década: de 23.200 em 1989, cai para 15.750 em 1993 e 11.500 em 1997. Como resultado percebemos um efeito assimétrico para a cidade e a
empresa: na ponta social da cidade, temos: “515% de crescimento de
inadimplências em 1997, contra 161% em 1992/1993; 13 mil registros de
ocorrências policiais em 1997, contra 7 mil em
Foi
justamente neste período de declínio e falência da cidade que começamos a
presenciar a proliferação das mais variadas igrejas evangélicas pentecostais se
espalhando pelo território de Volta Redonda. Um marco deste período foi quando
em
No
caso particular do município de Volta Redonda, foi possível obter a trajetória
da IURD desde a criação do seu primeiro templo na cidade, até o ano de 2006.
Com esses números podemos fazer uma análise mais embasada.
Em
Em
1991 abrem um templo no bairro Nove de Abril, também um bairro marcado pela
violência, pela pobreza e pelo tráfico de drogas, tal como acontece nos bairros
Pinheiral, Retiro, Ponte Alta e Água Limpa; todos são grandes bairros populares
e justamente onde a IURD irá se instalar nos anos de 1992, 1993, 1995, 1996,
respectivamente.
No
ano 2000 ela compra sua sede, mencionada anteriormente, onde cabem 600 pessoas
sentadas e situa-se no centro comercial mais movimentado da cidade. Neste centro
os serviços são mais sofisticados, direcionados para classes A e B ( os mais abonados ); situa-se no bairro Vila Santa Cecília,
onde localizam-se os dois maiores shoppings centers
da cidade além de ser o local onde está localizado os únicos teatros e cinemas
no município. Em 2001, 2002, 2003 e
Em
suma, podemos definir que dos 13 templos representados pela IURD na cidade, 11
se localizam em bairros da periferia marcados pelo desconforto social e pela
inclusão precária, mas sempre alojados em ruas movimentadas, sempre buscando a
visibilidade; e os outros dois templos localizam-se nos principais centros
comerciais do município: um atendendo as classes A e B e, o outro, às classes
C, D e E. Fica evidente a expressão do pentecostalismo (em particular o caso da Universal do Reino
de Deus) junto às parcelas mais desprivilegiadas social e economicamente da
população.
Dessa
forma, pode-se inferir que a difusão pentecostal “guarda uma estreita relação
com o local de moradia dos pobres urbanos. Tais locais, quanto mais carentes
economicamente forem, melhor se constituirão como áreas estratégicas de
materialização da mensagem pentecostal”. (MACHADO, 1994, p. 149)
Percebemos
uma estratégia de seletividade locacional e geoestratégica peculiar a Universal que difere de todas as
demais igrejas dos grupos pentecostal, católico e protestante – a sua
territorialidade. Seus templos são estrategicamente localizados em lugares
extremamente movimentados, avenidas e ruas de comércio intenso e que tem um
alto valor imobiliário relativo, dada a privilegiada localização. Além disso 13 templos não é um número tão alto para uma igreja
que possuía
A própria
sede da igreja apresenta um particular
tipo de mármore vermelho escuro, com um grande estacionamento e vidros escuros,
enfim, um prédio imponente. Os cultos ficam lotados com até 800 pessoas. Vem
pessoas dos mais distantes bairros assistir aos cultos nesta nova igreja, e
ainda pessoas de outros municípios vizinhos. Percebemos que a arquitetura
do prédio-igreja agia no imaginário das pessoas, no sentido daquele templo
enorme e bonito fascinava as pessoas que antes freqüentavam igrejas no fundo de
garagens, em balcões alugados, em qualquer espaço improvisado ou em igrejas
modestas e humildes. Talvez a própria beleza, incomum a uma igreja da região,
tal como sua arquitetura nada sacra, atraia um elevado número de pessoas.
“A
igreja pentecostal desenvolve uma estratégia espacial que vem apontar um novo
tipo de território e de territorialidade, essencialmente informal e
transitório; que são elementos fundamentais dessa crença religiosa, que
determinam não só seu sucesso em termos de expansão, como também uma especifica
configuração espacial, sem limites e sem fronteiras”.(MACHADO, 1994, p. 161)
Percebemos a estratégia espacial desempenhada
pela IURD posicionada numa ordem comercial, dentro de uma esfera mercadológica
de localização; se busca, a todo custo, a visibilidade e a publicidade
assumindo uma postura “comercial”. Onde busca-se
ocupar um espaço imobiliário valorizado no território. Em nenhum momento sacralizam os lugares, mas sim, as pessoas; esse argumento
esta em consonância com Tuan (1983), quando afirma
que o estabelecimento de lugar tende a ser desencorajado nas religiões de
esperança transcendental.
Conclusão
As
características acima destacadas permitem analisar o pentecostalismo
segundo a capacidade de adaptação às transformações inerentes e imanentes à
sociedade contemporânea.
Este movimento religioso possui e desenvolve uma
específica forma espacial de controle social essencialmente dinâmica. O
território e a territorialidade pentecostal são estabelecidos momentaneamente
com mobilidade e transitoriedade que permitem acompanhar o movimento
estabelecido pela sociedade contemporânea; uma especifica forma de apropriação
espacial hodierna.
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[1] Formado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense. O presente trabalho foi desenvolvido por Marcus Vinicius Castro Faria enquanto teve uma Bolsa de Iniciação Científica pelo programa PIBIC/UFF. A pesquisa foi orientada pelo Prof. Dr. Helio de Araújo Evangelista.