Revista geo-paisagem ( on line )

Ano  3, nº 6,

Julho/dezembro de 2004

ISSN Nº 1677-650 X

Revista indexada ao Latindex

 

 

 

 

 

 

AS MÚLTIPLAS IDENTIDADES DO CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMA[1]

 

Fernando da Costa Ferreira [2]

 

RESUMO :

 

            O presente trabalho visa analisar as várias facetas que o club de futebol Vasco da Gama apresentou ao longo de sua história a ponto que influenciar na formação de um bairro de igual nome.

 

Palavras-chave : identidade, bairro, Vasco da Gama

 

ABSTRACT

 

            This work sights to analyse the Vasco da Gama’s differents aspects along its history. The past of the club is so important that one district was created with its name.

 

Key-words: identity, district , Vasco da Gama

 

INTRODUÇÃO

 

Neste artigo, não nos preocuparemos em relatar, nos mínimos detalhes, a história do Club de Regatas Vasco da Gama desde a sua fundação até os dias atuais, mas sim, destacar alguns dos fatos mais importantes que marcaram os mais de cem anos de vida da instituição e que trouxeram desdobramentos na organização espacial do entorno do seu estádio. Para tal, mostraremos como o clube modificou a sua identidade esportiva, num primeiro momento, ligada ao remo e, atualmente, vinculada ao futebol; como moldou uma identidade própria a partir de uma identidade portuguesa original; e a sua importância na história recente do Brasil, com destaque para a construção do Estádio de São Januário e a Era Vargas.

Em relação ao papel social desempenhado pela agremiação, vale ressaltar a sua briga em favor da aceitação de atletas não brancos – mesmo que por interesse –, além daqueles pertencentes às camadas sociais menos favorecidas. Entretanto, apesar de reconhecermos o mérito do Vasco da Gama nessa luta, torna-se necessário um reparo sobre o papel pioneiro equivocadamente atribuído ao clube em relação à aceitação desses futebolistas, honra que cabe ao Bangu Atlético Clube, pioneiro na introdução do negro no futebol brasileiro, além da figura do “operário-jogador”, que serviu como ponte entre o atleta amador e o profissional.

 

 

OS PRIMEIROS PASSOS: IDENTIDADE PORTUGUESA E CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA

 

No dia 21 de abril de 1898, um grupo de 62 cidadãos, formado por portugueses e luso-descendentes, assinou a ata de fundação do Club de Regatas Vasco da Gama. A princípio, parecia apenas mais um dentre tantos clubes dedicados à prática do remo, esporte mais popular daquela época, a surgir no Rio de Janeiro, na virada do século XIX para o século XX. Porém, nem o mais otimista daqueles homens reunidos no Clube Dramáticos Filhos de Talma, situado à Rua da Saúde, 293 (www.crvascodagama.com) poderia imaginar que a instituição por eles criada como uma forma de lazer para as horas vagas, ultrapassasse a marca dos cem anos, vindo a se tornar internacionalmente conhecida graças a uma modalidade esportiva da qual provavelmente nenhum deles ouvira falar anteriormente: o futebol.[3]

De início, muitos foram os símbolos escolhidos para representar a recém-criada agremiação. Todos eles com o intuito de reforçar ainda mais o seu vínculo com Portugal e com o remo, suas principais referências identitárias.

O nome Vasco da Gama foi escolhido como uma forma de homenagear o quarto centenário da viagem de descoberta do caminho marítimo às Índias empreendida pelo famoso navegador lusitano, comemorado em 1898, ano de fundação do clube. Essa designação, sem dúvida, parecia ser a mais apropriada para simbolizar uma instituição ligada à colônia portuguesa, cujo interesse esportivo inicial ligava-se às regatas disputadas nas outrora limpíssimas águas da Enseada de Botafogo, na Baía de Guanabara.

Não somente a denominação da agremiação unia-a a colônia portuguesa. A adoção de outros símbolos, alguns deles de modo equivocado, reforçou ainda mais essa identidade portuguesa herdada pelo clube desde a época de sua fundação.

Talvez o símbolo vascaíno mais conhecido por parte do grande público seja a “Cruz de Malta”. Tal designação, na verdade, é fruto de um erro histórico. O  verdadeiro nome da cruz presente no escudo, bandeira e uniforme vascaínos é Cruz Patée, ou Pátea[4]. Entretanto, os fundadores do clube cometeram um segundo equívoco ao escolhê-la para simbolizar a façanha do navegador Vasco da Gama, pois, desde o século XIV, por ordem do rei D. Dinis, a cruz que as naus portuguesas portavam era a Cruz de Cristo[5].

 

 

NAVEGANDO EM MEIO ÀS TORMENTAS

 

Em relação à sua origem, não foi apenas o fato de ter sido desde o início um clube ligado à colônia portuguesa que distinguiu o Vasco da Gama dos seus atuais rivais. De acordo com Mattos (1997), o Vasco da Gama, diferentemente de clubes como Flamengo, Fluminense e Botafogo, não contou com a participação de membros pertencentes à elite residente na zona sul carioca, sendo composto principalmente por “comerciantes ou  assalariados portugueses que viviam na zona norte ou nos subúrbios” (p.83).

Entretanto, não tardou para que surgissem os primeiros obstáculos a serem enfrentados pela recém-criada agremiação. Em pouco tempo, disputas internas levaram o clube a sofrer uma cisão em 1899, quando houve a renúncia do primeiro presidente do clube, Francisco Gonçalves do Couto Júnior, que, descontente com alguns entraves na mudança do barracão onde eram guardadas as embarcações, se no Passeio Público ou na Praia de Botafogo, fundou o Clube de Regatas Guanabara, levando consigo boa parte dos associados do Vasco da Gama.

O forte vínculo inicial com Portugal pode ser percebido ao analisarmos o caso do naufrágio, em 1902, da baleeira de 12 remos Vascaína, que resultou na morte de três remadores. Os outros nove, foram salvos por dois pescadores e um menino que receberam o título de sócios do clube, além de uma condecoração por bravura, de um representante do rei de Portugal, D. Carlos (PLACAR, s/d. p.p.25-27).

Em 1904, o clube viria a dar uma amostra do seu caráter social pioneiro ao eleger como presidente Candido José de Araújo, o primeiro negro a exercer tal cargo em uma agremiação esportiva carioca (MALHANO, 2002, p.60).

A conquista do primeiro campeonato carioca de remo viria somente em 1905. Nessa mesma época, começava a ganhar corpo na capital federal, ainda com ares de novidade, um esporte trazido da Europa, que, já há algum tempo, fazia sucesso em São Paulo. Não tardou para que o foot-ball tomasse de assalto o Rio de Janeiro, e a colônia portuguesa não poderia ficar de fora deste baile.

 

 

A VEZ DO FUTEBOL: A NOVA IDENTIDADE

 

Como mostramos anteriormente, a primeira identidade esportiva do Vasco da Gama não se forjou à base do futebol e sim do remo, modalidade que, naquela época, alcançara uma organização invejável, sendo inclusive, desde 1897, possuidora de uma federação própria[6].

Entretanto, já na década de 1910, as regatas passaram a dividir a atenção do público com o futebol, esporte oficialmente trazido ao Brasil em 1894, pelas mãos de um paulistano, filho de britânicos, chamado Charles Miller, considerado por muitos como o introdutor dessa modalidade no Brasil[7]. O foot-ball, como era chamado na época, não tardou a estender os seus tentáculos em direção à então capital federal e o fez pela figura de Oscar Cox, que, em 1897, recém-chegado da Suíça, onde estudara durante alguns anos, não se esqueceu de trazer na bagagem de volta ao nosso país, uma bola para a prática da nova modalidade desportiva[8].

O gosto pelo novo esporte, a princípio, ficou restrito aos círculos mais altos da nossa sociedade, ou então, aos clubes freqüentados pela colônia britânica, como era o caso do Paysandu Cricket Club (Rio de Janeiro) e do Rio Cricket and Athletic Association (Niterói). De acordo com Pereira (2000), naquele tempo “o futebol aparecia como uma espécie de celebração da identidade bretã” (p.27).

Não tardou para que a paixão pelo futebol deixasse os salões da alta sociedade e passasse a chamar a atenção das camadas menos favorecidas da nossa população, conquistando, rapidamente, uma legião de novos e entusiasmados adeptos, que passaram a disputar partidas em campos improvisados em praças, parques e terrenos baldios espalhados pela cidade.

Podemos afirmar que os agentes responsáveis pela disseminação e popularização do futebol sintetizam bem a famosa capacidade de improvisação do povo brasileiro. Nas tradicionais “peladas”, a bola pode ser substituída por diversos outros objetos (meias, laranjas, papel enrolado com fita adesiva etc.), o campo de jogo pode assumir os mais diversos tamanhos e formatos, moldando-se ao terreno no qual a peleja é disputada. A própria superfície tanto pode ser de grama, terra, areia ou cimento. O uso de chuteiras, caneleiras, meiões ou até mesmo do uniforme é perfeitamente dispensável, a largura do gol pode muito bem ser delimitada por árvores, cocos, pedras, pedaços de pau (isso sem contar a altura do travessão que, na maioria das vezes, assume os parâmetros mais subjetivos possíveis, tais como a altura, ou mesmo, até onde chega a ponta dos dedos do goleiro). Isso tudo, aliado à simplicidade das regras do jogo (a lei mais complicada de todas, a do impedimento, é solenemente ignorada nesse tipo de disputa). Dessa forma, o “peladeiro” simbolizaria o povo brasileiro, que precisa usar da sua habilidade para driblar os obstáculos que lhe são impostos pela vida afora, representados, no campo de jogo, pelos zagueiros adversários, árvores, buracos, animais, canos de irrigação e tudo aquilo que lhe aparecer pela frente[9]; ou, como bem definiu o pentacampeão do mundo, Ronaldinho Gaúcho, em entrevista publicada no jornal O GLOBO de 16 de fevereiro de 2003, “é numa pelada que a gente se sente livre, que a gente se sente brasileiro”. (p.45)

Voltando à história do Vasco da Gama, no dia 20 de julho de 1913, o Botafogo F.C. convidou um combinado português formado por jogadores do Benfica, Lisboa e Clube de Tiro & Sport[10] (MALHANO, 2002, p.78) que excursionava pelo nosso país[11]. A vitória da equipe visitante por 1 x 0 gerou um clima de euforia no seio da numerosa colônia portuguesa residente no Rio de Janeiro. Não tardou para que surgissem três clubes dedicados exclusivamente à prática futebolística: o Centro Esportivo Português, o Lusitano (que tiveram curta duração) e o Lusitânia F.C.. Exatamente o Lusitânia, recusado em 1915 pela Liga Metropolitana de Sports Athléticos (L.M.S.A), devido ao seu regulamento altamente restritivo (só permitia a presença de portugueses), uniu-se nesse mesmo ano ao Club de Regatas Vasco da Gama, que admitia a presença de brasileiros em seu quadro associativo, dando início ao departamento de futebol do clube. A fusão foi oficializada no dia 26 de novembro de 1915, apesar da oposição do grupo de remadores vascaínos. 

Como toda equipe iniciante, o Vasco teve que começar pela base da pirâmide futebolística. Da Terceira Divisão, para ser mais exato. A estréia, marcada para o dia 3 de maio de 1916 não poderia ter sido mais desastrosa: a derrota por 10 x 1 para o Paladino parecia mostrar que se tratava de apenas mais um clube de duração efêmera, um delírio da colônia lusitana[12].

A partir de 1917, teve início a grande virada. O nível da equipe começou a melhorar, graças à aceitação de jogadores pobres, notadamente negros e mulatos, escolhidos nas peladas do subúrbio e em clubes pequenos.

É preciso deixar bem claro que a aceitação desses atletas em nada se deveu a uma desinteressada expressão de benevolência por parte dos dirigentes vascaínos, nem, como afirma Rosenfeld (1993), representaria uma “postura tipicamente portuguesa da democracia racial” (p.97). Naquela época, tal prática era bastante difundida nos clubes suburbanos e equipes ligadas ao ambiente fabril. A grande diferença foi que, o Vasco da Gama, por ter o suporte financeiro de parte da colônia portuguesa, tinha condições de recrutar aqueles elementos que mais se destacavam nas peladas e equipes suburbanas, algo totalmente fora de cogitação entre as equipes de maior tradição, compostas por acadêmicos, filhos das “boas famílias” cariocas.

Entretanto, muito antes do Vasco da Gama passar a adotar negros, mestiços e operários em suas fileiras, tal atitude já era prática comum em outras agremiações, como foi o caso do Andaraí, no início da década de 1910, sendo que, o papel de pioneiro em relação à aceitação de membros das camadas menos favorecidas cabe ao Bangu Atlético Clube, que já em 1905 apresentava em seu time principal o operário negro Francisco Carregal (PEREIRA, 2000). Vejamos então qual o verdadeiro papel desempenhado pelo Vasco da Gama em relação ao processo de democratização pelo qual passou o futebol brasileiro a partir da década de 1920.

 

 

O TIME DE 1923: O FUTEBOL ASSUME NOVAS CORES

           

Apesar do exemplo pioneiro dado pelo Bangu ainda na primeira década do século passado, durante longo tempo, a discriminação racial no futebol foi algo institucionalizado, fazendo parte, inclusive, dos regulamentos de instituições esportivas como o Club Sportivo dos Liberais que, em 1906, deixava bem claro em seus estatutos que aceitava um “ilimitado número de sócios de qualquer nacionalidade, exceto pessoas de cor”[13] (PEREIRA, 2000, p.66).

Exemplo clássico de discriminação racial presente na história do futebol carioca foi o de Carlos Alberto, ex-jogador do Fluminense, time ligado à elite, que, ao ser chamado de “mulato pernóstico” durante partida válida pelo campeonato de 1914, passou a entrar em campo com o rosto coberto de pó-de-arroz para disfarçar o tom escuro de sua pele. No entanto, com o correr do tempo e o calor da disputa, sua maquiagem começou a derreter. Logo, um torcedor mais exaltado chamou-o de “pó-de-arroz”, tornando-o motivo de chacota por parte da assistência. Moral da história: Carlos Alberto foi expulso do Fluminense e, surpreendentemente, o pó-de-arroz foi apropriado pela sua torcida, transformando-se num dos símbolos que compõem a identidade tricolor, pois, como afirma Mattos (1997) “afinal, o pó-de-arroz era um produto fino, usado por reis e nobres de cortes européias. Que mal havia em ser reconhecido como o nobre que era na sociedade carioca?” (p. 52).

 Em 1923, o Vasco da Gama estreava na Primeira Divisão do futebol carioca. A princípio, a chegada de uma equipe recheada de jogadores negros, mulatos e brancos pobres foi minimizada pelos dirigentes das grandes equipes, pois esportistas com essas características não eram figuras raras de se encontrar, principalmente em equipes ligadas ao setor fabril, como Bangu, Vila Isabel e Andaraí. Somente quando a bola começou a rolar é que o Vasco passou verdadeiramente a incomodar à elite esportiva e social da capital federal. O triunfo daquele escrete totalmente fora dos padrões do futebol praticado na época representou um verdadeiro escândalo. Jamais um time com tais características, desafiara a hegemonia dos jovens bem nascidos, bem educados e bem nutridos de Fluminense, Botafogo, América e Flamengo.

A reação contrária ao sucesso do conjunto debutante foi imediata. Logo surgiram acusações de que os seus jogadores não passavam de profissionais disfarçados, o que era proibido na época[14]. Mesmo assim, nada foi comprovado a esse respeito, pois de acordo com o relato de Assaf (1997):

 

Como o profissionalismo ainda estava longe de ser admitido, os jogadores foram todos registrados como funcionários dos estabelecimentos comerciais dos portugueses. Dessa forma burlavam as leis estabelecidas pela Liga e pela comissão de sindicância da entidade. Quando seus principais membros, Reis Carneiro, do Fluminense, Armando de Paula Freiras, do América, e Diocésano Ferreira Gomes, do Flamengo e do Correio da Manhã chegavam às firmas lusitanas para constatar a veracidade das informações do Vasco, os gerentes alegavam que os empregados estavam realizando “serviços externos” (p. 113).

 

Ainda segundo Assaf, os atletas – poderíamos chamá-los assim –  vascaínos, na verdade, estavam treinando a parte física, algo inimaginável naquela época. Era comum vê-los correndo da Rua Morais e Silva – onde ficava o campo do clube – até a Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel. Após os treinamentos, os jogadores podiam almoçar de graça no restaurante Filhos do Céu, na Praça da Bandeira. Além disso, o clube ainda lhes fornecia alojamento. Também eram pagos prêmios por vitória, os populares “bichos”[15]. Não é de se estranhar que a maior parte dos triunfos da equipe acontecesse no segundo tempo das partidas, quando o melhor preparo físico dos “camisas pretas”[16] se sobressaía[17].

A verdade é que, muito antes do Vasco da Gama, outras equipes cariocas possuíam esquemas próprios para burlar o regulamento que proibia qualquer tipo de remuneração aos atletas. É o que bem nos mostra Pereira (2000):

 

(...) O processo era simples, tendo sido descrito ainda em seu princípio, em 1915, por um jornal carioca: atraindo para seus quadros um exímio jogador que “por achar-se desempregado, sem recurso e com dificuldade para colocar-se, ele, em troca dos seus esforços, exige que lhe dêem uma módica quantia que especifica”, os clubes lhe arranjavam “um emprego qualquer (...) que só serve para constar, pois o ordenado estipulado sai, mas é dos cofres do club”. (p.310).

 

Caso emblemático, que bem mostra a antipatia que o team cruzmaltino despertava em seus adversários, ocorreu, no dia 8 de julho de 1923, quando o Estádio das Laranjeiras abrigou o match entre as equipes do Vasco da Gama e Flamengo. Boa parte da platéia que lotou as dependências do ground tricolor era composta por torcedores do Fluminense, Botafogo e América, que se uniram para torcer pelo Flamengo, algo difícil de se imaginar nos dias atuais. Com a vitória do time da Rua Paissandú[18], contra o onze da Morais e Silva[19] por 3 a 2[20], ao término da partida, as torcidas adversárias promoveram um verdadeiro carnaval fora de época                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           pelas ruas da zona sul da cidade, festejando a vitória dos “filhos de boas famílias” sobre o time dos “caixeiros, negros e analfabetos”. Ainda como parte das comemorações, a estátua de Pedro Álvares Cabral amanheceu com “réstias de cebola e plantaram tamancos de 2m de altura na frente da sede do Vasco, na Rua Santa Luzia, no centro[21]” (PLACAR, s/d, p.28)[22].

De acordo com as nossas observações, ao contrário do que é amplamente divulgado por pesquisadores do futebol, a perseguição sofrida pelo Vasco da Gama a partir de 1923 teve um outro componente além da questão amplamente difundida relacionada à presença de negros e pobres na equipe. Mostraremos desta maneira que a esses dois fatores podemos somar mais um: o sentimento antilusitanista ainda bastante presente no Rio de Janeiro da década de 1920.

 

 

RACISMO E ANTILUSITANISMO

 

Como vimos anteriormente, o Vasco da Gama não foi o primeiro clube a aceitar jogadores negros e pobres em suas fileiras. Tais características daquela equipe são amplamente relacionadas como sendo as únicas responsáveis pela intensa campanha sofrida pelo clube no ano da conquista do seu primeiro título na Primeira Divisão. Entretanto, acontecimentos como o ataque a símbolos lusitanos – a estátua de Pedro Álvares Cabral e os tamancos colocados em frente à sede da instituição – mostram que a intensa comemoração dos torcedores adversários após a derrota vascaína para o Flamengo em 1923 tinha também como alvo a comunidade portuguesa. Tal atitude, longe de representar uma simples e ingênua brincadeira, serviu para mostrar uma outra face do preconceito enfrentado por aquela equipe: o sentimento antilusitanista, muito comum no Rio de Janeiro durante a República Velha (1889-1930). Procuraremos então, comprovar que a campanha empreendida contra o Vasco da Gama possuía um caráter muito mais amplo do que se costuma divulgar, sendo possuidora de um cunho racista, elitista e xenófobo, representado pela perseguição à “maldita” tríade preto – pobre – português.

A passagem do século XIX para o século XX caracterizou-se por um intenso fluxo de imigrantes europeus em direção ao Rio de Janeiro, que em 1890 representavam 30% da população da cidade, dois terços deles, vindos de Portugal (CHALHOUB, 2001, p.p. 43-44). De acordo com o censo de 1920, a população total da capital federal chegava a 1.157.873 habitantes, dos quais 172.338 portugueses, ou seja, 14,88% do total[23]. A chegada maciça de lusitanos, principalmente após a libertação dos escravos, acentuou ainda mais a disputa por empregos entre o elemento nacional e o português que “vai ocupando o mercado de trabalho que passa de africano a luso-africano e a totalmente português, nos anos imediatamente posteriores à Abolição” (RIBEIRO, 1990, p.p. 14-15). De acordo com Alves (1999), além de dominarem o comércio retalhista de secos e molhados e de exercerem o ofício de artesão, os portugueses passaram a ocupar serviços anteriormente reservados aos escravos (pedreiros, carpinteiros, cocheiros, estivadores), ou então novas funções, tais como ferroviários e motorneiros de bonde, decorrentes das obras de infra-estrutura pelas quais passaram as maiores cidades brasileiras, além de se empregarem na incipiente indústria da época (p. 60).

Não é de se estranhar que os conflitos entre brasileiros e portugueses se multiplicassem pela então capital federal, tanto que Ribeiro (1990) afirma que “seguindo uma tradição colonial, o grito de ‘mata galegos’ era continuamente reeditado ao alvorecer da vida republicana” (p. 10). Sobre o imigrante português, principalmente o comerciante, pairava entre as classes populares a imagem daquele sujeito bronco, analfabeto e adulterador do peso (ALVES, 1999, p.p. 39-40). Por outro lado, a classe dominante daquela época procurava difundir uma outra imagem do trabalhador português, identificando-o como um sujeito ordeiro, disciplinado, apolítico, ou seja, exatamente o contrário da idéia que se tinha do trabalhador brasileiro, especialmente o ex-escravo, visto como indolente, indisciplinado e pouco afeito ao trabalho. Esse jogo das identidades patrocinado pela elite tinha o intuito de acirrar ainda mais as tensões entre esses grupos. Paralelamente a isso, segundo Alves (1999), havia uma clara divisão da imprensa da época entre publicações de cunho lusófobo e lusófilo[24]. Chalhoub (2001), lembra que para a implantação de uma nova ordem burguesa na jovem república “o conceito de trabalho precisava se despir de seu caráter aviltante e degradador característico de uma sociedade escravista, assumindo uma roupagem nova que lhe desse um valor positivo” (p. 65). Tal caráter positivo seria representado pelo imigrante europeu, o que foi usado também como pretexto para a política branqueamento da população brasileira promovida durante a República Velha.

Ao mesmo tempo, havia um esforço por parte das classes dominantes de se eliminar todo e qualquer resquício que remetesse ao nosso passado colonial-escravista. Para tal, transformações radicais deveriam ser feitas para que o nosso país pudesse ser visto com outros olhos diante do dito “mundo civilizado”. A cidade do Rio de Janeiro por ser a capital federal deveria servir como a grande vitrine desse novo Brasil diante do resto do mundo. Para simbolizar a crescente integração da nossa economia ao contexto capitalista internacional daquele tempo, fazia-se necessário que tivéssemos uma capital à altura das grandes cidades européias ou até mesmo das vizinhas Buenos Aires e Montevidéu. Diversos esforços foram feitos para torná-la mais “civilizada”, ou seja, mais européia aos olhos de quem chegava de fora. Intervenções urbanísticas como a Reforma Passos (1902 – 1906) e a demolição do Morro do Castelo durante a Reforma Sampaio (1921 – 1923) foram feitas para eliminar os resquícios da cidade colonial, suja, de ruas estreitas, escuras, basicamente africana e portuguesa, transformando-a numa cidade européia (francesa) de largas avenidas, amplos boulevards e construções monumentais, com a finalidade de adequar a forma urbana às necessidades reais de criação, concentração e adequação do capital daquela época (ABREU, 1997, p. 59). Havia uma verdadeira obsessão em se transformar o Rio de Janeiro numa “Paris nos trópicos”. A própria difusão do futebol representava também o esforço de facilitar a inserção do nosso país no contexto capitalista da época, ensinando aos brasileiros a capacidade de reproduzir num campo de jogo, o espírito solidário, de equipe, muito parecido com o que se deveria ser seguido no ambiente de trabalho, especialmente nas fábricas.

Sendo assim, não havia espaço para as culturas portuguesa e afro-brasileira no novo modelo de país que surgia. A estes dois grupos cabia o papel de fornecedores de mão-de-obra para o comércio e a indústria, disputando um mercado de trabalho saturado, servindo também como exército de reserva. O futebol, pelas mãos do Vasco da Gama, serviu então para – mesmo que devido a um jogo de interesses – uní-los. Ao negro, cabia entrar com o “pé-de-obra” e ao português, o suporte financeiro. O sucesso dessa aliança foi alcançado em grande parte devido à capacidade do negro com a bola nos pés, já que em outras atividades como no comércio ele era claramente preterido pela comunidade lusitana, pois como nos mostra Chalhoub (2001), havia uma nítida preferência do comerciante português em empregar um patrício seu – geralmente um parente vindo de Portugal ainda menino – a ter como funcionário um brasileiro, visto como indolente, malandro e preguiçoso. No caso do futebol, ao português interessava a vitória no campo de jogo; aos jogadores, não apenas os negros, mas todos eles, incluindo mestiços, analfabetos, brancos pobres (inclusive lusitanos), a chance de ascensão social que lhes era negada por uma sociedade de caráter altamente excludente. Desse casamento de interesses preto – pobre – português nasceu a equipe que ajudaria a moldar uma nova face ao futebol brasileiro.

Voltando ao contexto da época, vale lembrar que em 1923 a cidade acabara de assistir ao desmonte de grande parte do Morro do Castelo durante a administração Carlos Sampaio (1920-1922), como parte dos preparativos com vistas à Exposição Internacional de 1922, ponto alto das comemorações do Centenário da Independência, que objetivava mostrar aos olhos do mundo, a partir da capital, uma imagem de Brasil moderno e civilizado. A demolição daquela elevação tida por alguns como “colina sagrada” e por outros como “dente cariado” da cidade representou para os antitradicionalistas a luta “pela invenção de uma outra tradição que evocasse idéias e valores afinados com a modernidade pretendida” (MOTTA, 1992, p. 65). Praticamente ao mesmo tempo em que se punha abaixo um dos maiores símbolos do passado colonial da cidade vista como atrasada, pobre, luso-africana para dar lugar à modernidade, surgia um time de futebol – esporte visto como mais um símbolo da modernidade – exatamente com a imagem que a nossa elite tentara sepultar a partir da ideologia classificada por Barros (2002) como “Abaixo Portugal, viva a França!” (p. 66).

O futebol, como não poderia deixar de ser, refletia a situação daquela época. Basta lembrar que em 1921 o então Presidente da República, Epitácio Pessoa encaminhara ofício a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) solicitando a não convocação de atletas negros com vistas à disputa do Campeonato Sul-Americano de futebol daquele mesmo ano a ser realizado na Argentina (SUSSEKIND, 1996, p.17). Tal proibição partira da presidência sob a alegação de que poderia haver um desgaste da imagem do Brasil, cujos jogadores foram, um ano antes, retratados numa charge publicada por um jornal de Buenos Aires como macaquitos, devido à presença de atletas negros na nossa Seleção (AGOSTINO, 2002, p.42; JORNAL DA TARDE, 5 de julho de 2002). Tal denominação, de cunho pejorativo, é até hoje utilizada por torcedores argentinos e uruguaios para identificar os brasileiros.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

Podemos então ter uma idéia do escândalo provocado por aquela equipe, já que, estavam representados num mesmo time todos os elementos dos quais a elite carioca procurava esconder (negros, pobres, portugueses, analfabetos). Daí a união promovida por todas as torcidas dos grandes clubes da época contra aquele time, tendo como palco o Estádio das Laranjeiras, ele mesmo construído ao estilo dos grounds ingleses para o Campeonato Sul-Americano de 1919, como símbolo de um Brasil moderno.

            Aproveitando uma expressão cunhada por Abreu (1997) ao escrever sobre as diferenças entre a Zona Norte e a Zona Sul carioca na virada do século XIX para o XX, o feito daquela equipe representou a vitória da associação trem – subúrbio – população de baixa renda sobre a associação bonde, zona sul, estilo de vida moderno.

O fato do Vasco da Gama não ter sido o primeiro clube a aceitar jogadores negros e operários, em nada apaga os méritos do clube. O que a instituição fez naquele longínquo ano de 1923 – mesmo que essa não tenha sido a sua intenção – foi mostrar a todos algo que já não havia mais como esconder: o fato de que o futebol há muito tempo rompera os limites étnicos e sociais impostos desde a sua chegada ao Brasil. O esporte deixara de ser algo branco, aristocrático, fleumático para se tornar mestiço, popular, vibrante. Apesar de toda a ligação inicial do clube com Portugal, o triunfo vascaíno, com um time recheado de negros, mulatos, brancos pobres e analfabetos[25], marcou o início de um futebol genuinamente brasileiro. Além do mais, abriu uma das poucas possibilidades de ascensão social para os componentes das classes menos favorecidas, que viam – e até hoje vêem –  no futebol uma chance de vencer as adversidades impostas por uma vida miserável e com pouquíssimas perspectivas de melhora. Desta forma, estava aberto o caminho para que o esporte deixasse de vez os salões da burguesia e passasse a se oficializar como uma manifestação de cunho popular, transformando-se num dos mais importantes agentes responsáveis pela construção de uma identidade eminentemente brasileira.

 

 

A CISÃO DE 1924: DISCRIMINAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL

 

A conquista do Vasco da Gama, em 1923, com um time totalmente fora dos padrões do circuito elitista do futebol daquela época, quebrou a hegemonia dos quatro grandes clubes cariocas – Fluminense, Botafogo, América e Flamengo – que prontamente se uniram visando à restauração da antiga ordem futebolística[26]. 

O ano de 1924 marcou uma cisão no futebol carioca. Insatisfeitos com os estatutos da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT)[27], que davam direito de voto às agremiações de menor porte, Flamengo, Fluminense, América, Botafogo e Bangu desligaram-se da LMDT para fundar a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA).

Apesar de não deixar explícita a recusa à inclusão de negros e pobres, o regulamento da nova liga incluía uma série de artigos que inibiam a presença desses grupos. As equipes deveriam ser formadas por estudantes ou trabalhadores que não exercessem profissões subalternas, exceção feita aos operários, afinal o time do Bangu jamais chegara a incomodar os grandes (MATTOS, 1997, p.87)[28]. Outro artigo do estatuto da AMEA vetava a participação de jogadores analfabetos. Mais uma vez, a diretoria do Vasco da Gama entrou em ação, contratando professores para que os seus atletas ao menos tivessem condições de assinar a súmula dos jogos.

O fato que culminou com a não aceitação do Vasco da Gama na AMEA foi a exigência por parte dessa associação de que o clube desligasse de seus quadros doze de seus jogadores, justamente os negros e operários. Como resposta a essa exigência, no dia 7 de abril de 1924, o presidente do clube, José Augusto Prestes enviou ao presidente da AMEA, Arnaldo Guinle a seguinte carta[29], que reproduzimos na íntegra:

 

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Ofício nr.261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle

M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.

Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes

Presidente[30]

 

Além das restrições impostas à participação do Vasco da Gama no campeonato promovido pela AMEA em 1924, havia também um artigo no regulamento da associação que somente permitia a filiação de clubes que apresentassem estádios em condições para a prática do futebol e o esburacado campo utilizado pelo Vasco na Rua Morais e Silva apresentava-se em precário estado. Deu-se início então ao processo que culminou na construção de uma nova praça de esportes – a maior da América do Sul até então – para abrigar a equipe dos “camisas pretas”. Fruto dos esforços de grande parte da colônia portuguesa, foi erguido o Estádio Vasco da Gama, popularmente conhecido como Estádio de São Januário, como veremos a seguir.

 

 

O ESTÁDIO DE SÃO JANUÁRIO: UM MONUMENTO NO SUBÚRBIO

 

A difícil aceitação do Vasco da Gama por parte dos clubes tradicionais fez com que influentes nomes da colônia portuguesa do Rio de Janeiro se unissem em torno de um ambicioso projeto. A construção do maior estádio da América do Sul, representou o seu ingresso no seleto grupo das grandes equipes do futebol carioca.

            Muito mais que um desafio, vale ressaltar a força que a construção de um equipamento de tamanha dimensão representa tanto ao nível do simbólico quanto do concreto, criando uma territorialidade própria, um exemplo daquilo que Brunet (1992) chamara de “hauts lieux” (lugares memoráveis), fonte tanto de identidade coletiva quanto de atividades econômicas (p.232), reforçando o sentimento de pertencimento, palco de cristalização das representações coletivas, dos símbolos que se encarnam nesses lugares memoráveis (p.436).

O dinheiro arrecadado numa coleta realizada entre a numerosa colônia lusitana, foi utilizado na compra de uma imensa área de 65.445m², em São Cristóvão, pertencente aos Srs. Carlos Kuenerz e Margarida Kuenerz, no ano de 1925 (MALHANO, 2002, p.p. 97-98)[31].

Na década de 1920, o bairro de São Cristóvão perdera definitivamente qualquer resquício do outrora bairro imperial, aristocrático, ou como afirma Strohaecker (1989), “bairro elegante”, já que as famílias mais abastadas há muito tinham se mudado para outros pontos da cidade, como Botafogo, Flamengo e Laranjeiras. São Cristóvão assumira o papel de bairro industrial e proletário, passando a ser ocupado por uma população predominantemente de origem operária, com as antigas propriedades anteriormente pertencentes aos nobres e aos cidadãos mais abastados, sendo gradativamente substituídas por indústrias e pela população com menos recursos. A combinação entre a disponibilidade de grandes terrenos a preços acessíveis, nos “fundos” do bairro, com a facilidade de acesso proporcionada pelo transporte feito por bondes[32], somado à sua grande infra-estrutura, ao nosso ver, parecem ter sido fatores determinantes para a escolha de São Cristóvão como sede para o imponente estádio do clube.

Poderíamos também apontar alguns fatores secundários responsáveis pela instalação do Estádio de São Januário em São Cristóvão, tais como: a relativa proximidade com o antigo campo da Rua Morais e Silva e com a zona portuária, parte da cidade onde o clube fora fundado; a existência de uma numerosa colônia portuguesa em São Cristóvão, composta tanto por moradores quanto por comerciantes e industriais; a identificação do bairro com Portugal, construída desde a chegada da Família Real, em 1º de janeiro de 1809 à Quinta da Boa Vista.

A compra do terreno foi apenas o primeiro passo, faltava agora iniciar as obras de construção do estádio. A pedra fundamental da obra foi lançada no dia 6 de junho de 1926, sendo contratada para tocar a obra a construtora Christiani & Nielsen, que pouco antes fora responsável pela construção do Jockey Club Brasileiro, na Gávea[33].

Surge então um novo problema que poderia ilustrar bem o sentimento antilusitanista ainda reinante na época: foi negado ao clube, por parte do presidente da República, Washington Luís, que se importasse cimento belga[34], mesmo sabendo que o país não dispunha de quantidade suficiente desse produto para uma obra de tamanha envergadura. A solução encontrada pela construtora foi a de misturar em cada pá de cimento, duas pás e meia de areia e três e meia de pedra britada. A quantidade de água utilizada foi reduzida ao mínimo necessário. A obra alcançou números impressionantes para a época: foram utilizados 6.600 barris de cimento e 252 toneladas de ferro (MALHANO, 2002, p.140).

Menos de onze meses depois, no dia 21 de abril de 1927, contando com a presença do presidente Washington Luis, o mesmo que dificultara a realização da obra, o Vasco da Gama inaugurava o Estádio Vasco da Gama, mais conhecido como Estádio de São Januário[35], com capacidade para 40.000 torcedores, com um amistoso entre a equipe da casa e o Santos Futebol Clube, com vitória dos visitantes pelo placar de 5 a 3[36]. Mais do que representar o seu ingresso no seleto grupo dos grandes clubes cariocas, a figura do estádio passou a constituir, a partir daí, a principal referência identitária e territorial do clube com os seus torcedores, pois, lembrando Claval, “os grupos só existem pelos territórios com os quais se identificam” (1999, p.11). Além disso, apesar de ser um espaço privado, passou a ter seu uso apropriado pelo poder público, palco de manifestações de cunho populista e nacionalista especialmente durante o governo Getúlio Vargas, sobre o qual trataremos na próxima seção.

 

 

A ERA VARGAS: CENTRALIDADE E POPULISMO

 

São Januário foi, desde a sua inauguração, em 1927, até 1942, quando ficou pronto o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, o maior estádio brasileiro, e, até 1950, com a conclusão das obras do Maracanã, por ocasião do IV Campeonato Mundial de Futebol, o maior estádio do Rio de Janeiro. Portanto, durante mais de vinte anos, o campo do Vasco da Gama constituiu-se no principal palco para as competições futebolísticas na capital federal, sediando inclusive, o Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949, vencido pelo escrete azul e branco[37].

O estádio, no entanto, não possuía função restrita somente à prática do futebol. Sua importância transcendia em muito à esfera esportiva, servindo como um dos grandes cenários da vida política e social do país. Suas dependências foram inúmeras vezes palco de manifestações cívicas. Não é de se espantar que tenha sido utilizado como palanque por diversos presidentes da República.

De todos eles, sem dúvida alguma, aquele que melhor soube aproveitar esse palanque foi Getúlio Vargas, especialmente durante o Estado Novo (1937-1945). A Tribuna de Honra do estádio testemunhou alguns de seus mais famosos discursos[38]. A apropriação política deste espaço em muito teve a ver com o programa populista promovido por Vargas de se elevar o carnaval, o samba e o futebol à condição de símbolos de identidade nacional (ORTIZ, 1994, p.23). Agostino (2002) destaca a exaltação por parte do poder central da presença de atletas negros na delegação brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1938, tratada como símbolo da democracia racial brasileira, algo inimaginável alguns anos antes. Para o autor, o futebol, de acordo com a propaganda estadonovista teria sido reinventado pelos nossos jogadores, tornando-se síntese da capacidade e originalidade brasileira (p.p. 142-143). O sucesso do escrete de 1938 fez com que Getúlio Vargas percebesse o poder que o esporte desempenhava como uma das formas mais eficientes de contato com as massas, sendo então elevado à categoria de “patrimônio nacional” (FRANZINI, 1998). Costa (2001) afirma que a base ideológica do Estado Novo apoiava-se à semelhança do fascismo, em “identificar a todo custo o povo com a nação e esta com o ditador” (p. 46). O uso e a apropriação de grandes espaços públicos com fins políticos a partir de grandes celebrações de exaltação do caráter cívico nacional foi outra característica do fascismo italiano copiada por Vargas. Sendo assim, fica fácil entender o porque da utilização do Estádio de São Januário por parte do governo em sua tentativa de construir a todo custo a imagem de um país moderno a partir da promoção da industrialização e de mudanças estruturais da sociedade.

Motta (2004) aponta as comemorações cívicas realizadas em São Januário como um dos três empreendimentos – os outros dois seriam a abertura da Avenida Presidente Vargas e a construção dos prédios dos Ministérios da Educação e Saúde, do Trabalho e da Fazenda – que objetivavam tornar a cidade do Rio de Janeiro o lugar de onde emanaria a centralização político-administrativa do Estado Novo, a partir do qual Vargas exerceria o seu poder pessoal. Segundo a autora, como forma de reafirmação da capitalidade do Rio de Janeiro, a cidade deveria “inscrever em seu tecido urbano a presença do Estado e os valores do nacionalismo conectado ao universal” (p. 39). Dessa forma, a capital do Estado Novo teria a função de representar o espaço no qual a população manifestaria o seu apoio ao governo em cerimônias de caráter cívico[39].

Não por acaso, as duas maiores manifestações de civismo da época, as festas de 1º de maio – em homenagem ao Dia do Trabalho –, e de 7 de setembro – Dia da Independência – tinham, desde 1939, São Januário como local utilizado para tais comemorações. Numa dessas celebrações, no ano de 1940, o presidente Getúlio Vargas instituiu o salário mínimo. Na comemoração de 1943, o mesmo Vargas assinou decreto promulgando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de grande valia para toda a classe trabalhadora brasileira (MALHANO, 2002, p.p. 204-218). Tais atos projetaram ainda mais a figura de Vargas como o grande protetor da classe trabalhadora, vindo mesmo a receber o apelido de “pai dos pobres”.

 

 

CONCLUSÃO

 

Tamanha foi a importância adquirida ao longo dos anos pelo Estádio de São Januário, equipamento esportivo de grande valor, verdadeiro monumento no subúrbio, que, ao seu redor, surgiu em 1998, o bairro Vasco da Gama, um dos mais novos bairros da cidade do Rio de Janeiro. Pela primeira vez um clube passou a dar nome a um bairro e não o inverso como geralmente acontece, marcando assim um processo único na metrópole fluminense – e talvez no Brasil – de construção territorial.[40]

O time de 1923, somado à construção do Estado de São Januário, contribuiu para que o Club de Regatas Vasco da Gama deixasse lentamente de ser um clube ligado exclusivamente à colônia portuguesa, passando por um processo de “abrasileiramento”, ganhando um caráter nacional, sendo possuidor de uma das maiores torcidas do país, apresentando significativos contingentes de torcedores em pontos tão díspares do nosso território como Santa Catarina, Tocantins e Amapá.[41]

Além de, pouco a pouco, ter deixado de ser uma instituição ligada somente à comunidade portuguesa e luso-descendente – a pesar de ainda manter um forte vínculo com esse grupo – ao longo do tempo, o clube modificou também a sua identidade esportiva inicial, antes vinculada ao remo e, agora, ao futebol. Paralelamente, ao longo dos anos foi construída uma identidade própria, vascaína, representada tanto pelo plano do concreto – uniforme, bandeira, estádio – quanto do simbólico, vivenciada pelo sentimento do torcedor do clube em relação à instituição, que confere aos times de futebol o caráter de micro-nações (SOUZA, 1996). Afinal, para torcer por um clube não é preciso estar próximo a ele. A maior parte dos torcedores do Vasco da Gama jamais pôs os pés em São Januário. Entretanto, o que une os aficionados espalhados por todo o país – e por diversas partes do planeta – é a paixão pelo clube e por seus símbolos, criando para si uma identidade e uma territorialidade próprias a ele.

 

 

 

FONTES DE CONSULTA

JORNAIS

Jornal da Tarde, 5 de julho de 2002.

O Globo, 16 de fevereiro de 2003.

 

REVISTAS

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ENDEREÇOS ELETRÔNICOS

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[1] O presente artigo está baseado na dissertação de mestrado intitulada – O bairro Vasco da Gama : um novo bairro, uma nova identidade ? – defendida e aprovada em 26/08/2004 no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense.

 

[2] Mestre em Geografia, professor do ensino superior, e-mail : bfgeo@uol.com.br .

[3] Segundo o site oficial do Vasco da Gama (www.crvascodagama.com) , a idéia da fundação do clube partiu de quatro jovens remadores (Henrique Ferreira Monteiro, Luís Antônio Rodrigues, José Alexandre d’Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Souza Júnior) pertencentes ao Grupo de Regatas Gragoatá, cansados de ter que se deslocar até Niterói para que pudessem se dedicar à prática do remo.

[4] De acordo com o site www.netvasco.com.br

[5] Para evitar futuras confusões, adotaremos daqui para frente a nomenclatura “Cruz de Malta” já que ela está presente nos estatutos do clube, sendo de uso corrente pelo grande público.

[6] O grupo de regatas Os Mareantes, fundado em 1851, em Niterói, foi a primeira instituição dedicada ao remo da qual se tem notícia no Brasil. Entretanto, a sua duração foi bastante curta, realizando apenas uma regata no dia 3 de dezembro daquele mesmo ano, vindo a se desfazer no ano seguinte (MELO, 2001, p.p. 51-56).

[7] A “paternidade” atribuída a Charles Miller em relação à introdução do futebol no Brasil é constantemente posta em questão. Entre outros exemplos, existem relatos, sem confirmação histórica, de partidas realizadas no Brasil antes de 1894. Duas delas tornaram-se lendárias, ambas no Rio de Janeiro: uma, em 1874, na praia onde hoje se localiza o Hotel Glória, e a outra, em 1878, quando tripulantes do navio Criméia enfrentaram-se diante da residência da Princesa Isabel (UNZELTE, 2002, p.p.20-21).

[8] Em 1906, travou-se a disputa do primeiro campeonato carioca de futebol, com a participação de seis clubes (Fluminense, Paysandu, Rio Cricket, Botafogo, Bangu e Football Athletic) tendo como vencedor o Fluminense Football Club, fundado quatro anos antes por Oscar Cox e mais 20 membros.

 

[9] A esse respeito, ver também Mascarenhas (2002).

[10] Há uma controvérsia acerca das equipes que compunham o combinado português que enfrentou a equipe do Botafogo F.C. em 1913. De acordo com a revista PLACAR (s/d) tal equipe era formada por atletas pertencentes ao Clube Internacional, ao Sporting Clube de Lisboa e ao Sport Clube Império (p.27).

[11] A primeira partida oficial do Estádio de General Severiano ocorreu no dia 13 de maio de 1913, contra o Flamengo, em partida válida pelo Campeonato Carioca daquele mesmo ano. A vitória foi do time da casa por 1x0, gol de Mimi Sodré. A partida contra o combinado português serviu para a inauguração das instalações da sede e dos vestiários do estádio (NAPOLEÃO, 2000, p.17).

[12] Segundo informações colhidas junto ao site oficial do clube (www.crvascodagama.com), o autor do primeiro gol vascaíno teria sido o português Adão Antônio Brandão. Já a primeira vitória da equipe somente seria conseguida no dia 29 de outubro de 1917, 2x1 sobre a Associação Athlética River São Bento (MALHANO, 2002, p.81).

[13] Em 1907, a Liga Metropolitana de Sports Atléticos enviava um ofício aos clubes associados, no qual comunicava que a sessão realizada pela diretoria da liga, por unanimidade, resolvera que não seriam por ela registrados como amadores, as “pessoas de cor”. Antes disso, no campeonato carioca de 1906, além de Francisco Carregal, o Bangu apresentara outros dois jogadores negros: Manoel Maia e Alfredo Guedes de Mello (ASSAF, 2001, p.79).

[14] O profissionalismo só foi oficialmente implantado no futebol carioca a partir de 1933, dez anos após o triunfo cruzmaltino.

[15] O Vasco da Gama ao adotar um sistema de treinamento com ênfase na preparação física dos jogadores de futebol, combinada ao pagamento de incentivos aos agora atletas, em contraste com a mentalidade amadora e romântica da época, não foi o primeiro clube no futebol mundial tampouco em âmbito nacional a se valer de tal estratégia. Mascarenhas (2001) aponta os exemplos do inglês Blackburn Olympic, na temporada 1882-83; da contratação dos irmãos uruguaios Bertoni por parte do Americano FC, de São Paulo, em 1912; e do SC Pelotas, do Rio Grande do Sul, em 1915.

[16] O termo “camisas pretas” foi o primeiro apelido pelo qual o clube ficou conhecido nas décadas de 1920 e 1930, devido ao seu uniforme, todo preto, com a “cruz de malta” na altura do peito. A faixa diagonal branca, que sempre fora usada pela equipe de remo, somente passou a ser utilizada no uniforme da equipe de futebol na década de 1940. Os “camisas pretas” ressurgiram a partir de 2001, quando o Vasco da Gama passou a utilizar a antiga indumentária como seu uniforme número três.

[17] Analisando a obra de Assaf (1997), descobrimos que, dos 32 gols marcados pelo time do Vasco da Gama durante a campanha de 1923, 25 foram assinalados no segundo tempo das partidas.

[18] Endereço do campo de futebol utilizado pelo Flamengo naquela época.

[19] Era na Rua Morais e Silva, próximo à Quinta da Boa Vista, que se localizava o primeiro campo de futebol utilizado pelo Vasco da Gama.

[20] Segundo relatos, o Vasco teria chegado ao empate em 3 a 3 graças a um tento assinalado pelo ponta Paschoal. Porém, esse gol foi anulado pelo juiz, Carlito Rocha, futuro presidente do Botafogo. Surge aí uma divergência histórica: Mattos (1997) afirma que, após o gol anulado, os torcedores vascaínos, até então intimidados pelas pás de remo trazidas pelos remadores flamenguistas para bater na claque lusitana, partiram para a briga causando um tumulto generalizado no Estádio das Laranjeiras (p.87). Por sua vez, Assaf (1997) afirma não ter encontrado registros dessa briga nos jornais do dia seguinte à partida, apenas a alegria com a derrota do Vasco (p.114). Rosenfeld (1993) afirma que os torcedores do Vasco da Gama, como resposta, besuntaram de peixe a sede flamenguista (p.98).

[21] Vale ressaltar que, as referências feitas ao time do Vasco da Gama como sendo composto por suburbanos, dizem respeito à localização do estádio de futebol do clube e, principalmente, à origem de grande parte dos seus atletas. A sede social da instituição tinha endereço na área central da cidade.

[22] Apesar de todos os festejos promovidos pelos adversários, os resultados das partidas seguintes, deram o título ao Vasco da Gama.

[23] Fonte: Brasil. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento de 1920.

[24] Alves aponta como principais veículos de apoio à colônia portuguesa as seguintes publicações: Portugal Moderno, Diário Portuguez, Alma Lusitana, Jornal do Commercio, O Paiz e A Noite. Por outro lado, não eram poucos as associações, jornais e panfletos que faziam intensa campanha anti-lusitanista, tais como: Ação Social Nacionalista, Propaganda Nativista, O Jacobino, A Bomba, O Nacional, Brazilea e Gil Blas (p.p. 13-14).

[25] Segundo Moreira Junior (1999), a equipe vascaína, campeã carioca de 1923 era composta pelo chofer de táxi Nelson da Conceição, o estivador Nicolino, o pintor de parede Ceci e o motorista de caminhão Bolão, todos negros, além de quatro brancos analfabetos (p.19).

[26] Antes de 1923, o único clube fora do círculo dos quatro grandes a se sagrar Campeão Carioca de futebol fora o Paysandu Cricket Club, em 1912, formado basicamente por membros da colônia britânica.

[27] Em 1917, a Liga Metropolitana de Sports Athléticos (LMSA) foi substituída pela pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT).

[28] O Bangu Atlético Clube era formado basicamente por operários da Companhia Progresso Industrial, mais conhecida como Fábrica Bangu, que, durante muitos anos deu suporte àquela agremiação.

[29] O texto desta carta foi retirado do sítio www.crvascodagama.com , Embora tal fonte possa ser considerada, a princípio, pouco confiável sob o ponto de vista da neutralidade, vale lembrar que trata-se de um documento oficial do clube.

[30] Dessa forma, o Vasco da Gama disputou o Campeonato Carioca de 1924 pela LMDT, junto a clubes de menor expressão, vindo a conquistá-lo com facilidade. Apenas para a competição do ano seguinte, o clube seria aceito na AMEA, com a condição de não poder mandar seus jogos no campo da rua Morais e Silva, vindo a disputá-los no campo do Andaraí, onde hoje se localiza o Shopping Iguatemi (ASSAF, 1997, p.129).

 

[31] É comum, encontrarmos citações referentes ao fato do terreno no qual foi erguido o Estádio de São Januário, ter sido uma chácara pertencente à Marquesa de Santos. Porém, não encontramos provas que confirmassem a essa informação. É o que diz Gerson (2000) quando afirma que “ao chegar ao Rio, a Marquesa de Santos morou em casa alugada no Engenho Velho, enquanto se construía ou se adaptava para ela um palacete condigno na Rua do Imperador, quase às portas da Quinta” (p.164). A mesma fonte assegura que no século XIX aquele local teria servido como chácara ao Conselheiro Martins Viana, médico famoso na época (p.p. 167-168).

[32] Estamos nos referindo ao bonde 53, mais conhecido como “bonde de São Januário”, imortalizado no samba “O Bonde de São Januário”, composto em 1941 por Wilson Batista e Ataulfo Alves.

[33] Segundo Malhano (2002), além do Estádio de São Januário e do Jockey Club Brasileiro, a Cristiani & Nielsen, atual Carioca Cristiani-Nielsen Engenharia, foi responsável por diversas outras obras de grande porte, como as do Elevador Lacerda (Salvador) e do Estádio do Maracanã (p.98).

[34] Tal privilégio fora concedido anteriormente à mesma construtora para a construção da sede do Jockey Club Brasileiro, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas.

[35] Esse era o nome da colina na qual, no seu ponto mais alto, localizava-se a propriedade pertencente a Carlos Kuenerz, antigo dono do terreno que deu origem ao estádio (MALHANO, 2002, p.96).

[36] No ano seguinte, foi inaugurado sistema de iluminação que transformou o estádio num dos primeiros do país a ser equipado para a realização de jogos noturnos.

[37] Essas eram as cores do uniforme da Seleção brasileira na época da realização do Sul-Americano de 1949. Após a derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, o antigo uniforme, todo branco e com detalhes azuis foi apresentado sendo substituído pelo atual, com camisas amarelas e calções azuis, escolhido em um concurso, vencido pelo gaúcho Aldyr Garcia Schlee (UNZELTE, 2002, p.137).

[38] O estádio também era sede do Congresso Anual da Semana da Educação, cujo ponto alto era a apresentação dos Espetáculos de Regência de Heitor Villa-Lobos. Em 1940, sob a sua batuta, o mesmo maestro regeu um coro de 40.000 vozes, composto por estudantes das escolas do Distrito Federal, numa demonstração de canto orfeônico. (MALHANO, 2002, p.p.202-204).

[39] A autora cita como uma das provas dessa estratégia do reforço da capitalidade da cidade do Rio de Janeiro como parte do projeto político do Estado Novo o fato da Constituição de 1937 ter retirado a menção à transferência da capital para o interior do país (p. 37).

[40] A esse respeito, ver Ferreira (2004).

[41] No estado de Tocantins, o Vasco da Gama é o time de maior torcida, com 23% da preferência local. Já em Santa Catarina e no Amapá detém a segunda colocação contando com a simpatia de, respectivamente, 14% e 26% dos torcedores daqueles estados (PLACAR/Datafolha, 2001).