Revista geo-paisagem (on line) Ano 11, nº 22, Julho/Dezembro de 2012 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi |
Trabalho de campo
Helio de Araujo Evangelista
(helioevangelista@hotmail.com)
Resumo:
Trabalho de campo. Tema pouco debatido nos encontros dos geógrafos em comparação à sua importância na formação do geógrafo e método de trabalho na pesquisa. O presente texto explora esta ambiguidade.
Palavras chave:
Trabalho de campo, ensino, pesquisa.
Abstract:
Fieldwork. This subject is less analysed in geographers meetings than used in pedagogical work and research. This article aims to understand this situation.
Keywords:
Fieldwork,
graduating, research.
Apresentação
A
maneira de se entender a geografia brasileira a partir da década de 80 , seu
passado recente, veio a ser fortemente
influenciada pelo texto – A geografia no Brasil (1934-1977) – de autoria de
Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro . Nela consta uma nítida valorização da
geografia que então surge na Universidade de São Paulo e uma clara depreciação
do que se fazia no Instituto Brasileiro de Geografia sob os auspícios do
Conselho Nacional de Geografia.
Uma
versão diferente já pudemos apresentar no que tange ao papel do Conselho
Nacional de Geografia (Evangelista, 2012), mas no momento pretendemos tratar de
um tema não abordado pelo referido autor com a devida atenção que versa sobre o
capítulo memorável que a questão do trabalho de campo ocupa em nossa formação.
É uma prática decisiva em nossa formação mas tão pouco lembrado nas discussões sobre
geografia. É como se o trabalho de campo fosse algo tão natural , dado, que ao
tempo da evolução da geografia crítica a prática será considerada como atinente a uma geografia tradicional
merecedora , portanto, de esquecimento. Para o geógrafo crítico, que muito nos
moldou o olhar a partir de 1980, o trabalho de campo é algo inadequado para
quem há de se esforçar em analisar as estruturas sociais, os movimentos gerais
do capitalismo, e quem busca lograr uma nova sociedade.
O
início do trabalho
A
ideia da realização deste trabalho
ocorreu tendo por base uma conversa de corredor universitário. Não raro, locus
onde se dão as grandes idéias (especialmente quando há um cafezinho de permeio).
Minha
formação em geografia pela UFRJ ocorreu há trinta e três anos atrás! Assim,
tendo em conta o tema e minha trajetória, o que aqui fica registrado é muito
mais um processo de memória do que uma
busca em acervo já cadastrado. É um trabalho que fica baseado na memória das
pessoas que raramente se registra.
Não
me falha memória, são raros qualquer
texto que verse sobre Trabalho de Campo tendo em conta ser uma prática muito disseminada na geografia..
É um tema curioso porque dificilmente a formação de um geógrafo , ao menos no Brasil (até por força
do tamanho do território que sempre nos convida a conhecê-lo em lócus) se
realiza sem ter em conta trabalho de campo; porém, contraditoriamente, é objeto
de pouca reflexão.
A
rigor, é tema que se ocupa alguns setores da geografia brasileira, por exemplo,
geografia física, geografia agrária .... Mas de certo modo a sua valorização
foi muito afetada com a ascensão da geografia crítica que se opunha
frontalmente à cultura do trabalho de campo tendo em conta que o fundamental
era a caracterização dos processos estruturais e não o de ficarmos afeitos a particularidades
locais.
Assim,
seria possível conceber uma discussão sobre escolas ou escola que orienta esta prática na
formação do geógrafo brasileiro ?
Minhas memórias
Minha graduação em geografia foi
iniciada em 1977 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Terminei a
graduação em bacharel no ano de 1980 e com mais dois anos, em 1982, obtive o
diploma de licenciado em geografia. Em 1983 dei início ao mestrado que só veio
a ser concluído em 1989. Enfim, 12 anos de vínculo institucional com a
universidade.
De meu período na graduação não
houve um único semestre que não
realizasse trabalho de campo. Os temas abordados foram vários.
A primeira professora a valorizar
esta dinâmica , logo no nosso primeiro
semestre de graduação em geografia pela UFRJ,
foi a professora Lysia Bernardes que então dava aula sobre teoria
em geografia .
Lysia Maria Cavalcanti Bernardes foi professora famosa ao seu tempo, tendo inclusive dado seu nome para uma pequena rua em Copacabana. Ela deu o curso teorias da geografia em função do acaso já que não voltaria mais a dar aula na UFRJ em função da elevada carga de trabalho que tinha na esfera governamental. É da chamada geração de ouro do IBGE, contemporânea de Orlando Valverde e Pedro Pinchas Geiger, por exemplo. Foi com ela, trinta anos depois de seu curso em 1977, ao reler as notações de suas aulas, que percebi quanta bobagem se falava e se fala da chamada geografia tradicional, assim como da geografia quantitativa. Foi um encontro muito útil porque naquele período de minha graduação (1977-1980) tomava forma a chamada geografia crítica. Assim, me foi possível perceber tanto a geografia tradicional quanto a geografia quantitativa sem os rigorosas críticas da geografia crítica. Esta descoberta, inclusive, tomou a forma de textos (confira - http://www.feth.ggf.br/geoquant.htm e http://www.feth.ggf.br/geotrad.htm ) .[1]
Lembro ainda, numa de suas aulas que ela atribuía que metade do que ela conhecia do Estado do Rio de Janeiro decorreu de suas constantes idas ao interior do estado do Rio de Janeiro.[2]
Outra
pessoa importante foi Maria do Carmo Correa Galvão, aqui apresentada não
segundo uma ordem hierárquica (do mais para o menos) mas segundo uma ordem
cronológica. Encontrava-me no meu terceiro ano de faculdade
O
encontro se deu na disciplina Geografia do Brasil oferecida já no meio do curso
de graduação (1979). Para ela não havia conflito entre geografia física e
humana; sempre assinalava as duas partes em suas aulas.
Mais
tarde, já participando de sua equipe, cheguei a ser seu monitor, presenciava
debates regulares envolvendo metodologia de trabalho e como o físico se integra
ao humano .
Com
esta monitoria, exercia a segunda experiência de estágio já que a primeira se
deu sob os auspícios da professora Lysia Bernardes quando então tive um período
de trabalho na Secretaria Estadual de Planejamento do Rio de Janeiro.
A
professora Maria do Carmo me ensinou a ler, ela tinha um sistema interessante
que era de numerar os textos e após a numeração ela fracionava os números.
Assim, cada número inteiro significava uma tese, ou ideia do autor, e o número
fracionado correspondia a um detalhamento do assunto.
Há
um texto (www.feth.ggf.br/geouni.htm) no qual realizo um levantamento sobre sua
produção. Das pessoas escolhidas para o texto foi a que mais dificuldade me
trouxe para ter material, não porque não houvesse mas porque tudo estava muito
disperso. Ela nunca escreveu um livro tentando reunir seu material. Mais tarde
a professora Gisela Pires (da Geografia / UFRJ ) e colega chegou a fazer isto (parcialmente). A
professora Maria do Carmo apresenta uma produção que remonta à década de 50 do século passado.
Por
fim, durante dez anos fui orientando da professora Bertha Koiffman Becker!
No
grupo da professora Maria do Carmo não me era possível vir a ter uma bolsa pelo
CNPq pois já havia pessoas na frente, assim, já ao final da minha graduação
passei a trabalhar com a professora Bertha. De início obtive bolsa de
aperfeiçoamento, modalidade que não existe mais, que veio a ser renovada no ano
seguinte; ao terceiro ano veio o mestrado e nova bolsa. Mas o mestrado iniciado
em 1983 só foi finalizado em 1989.
Diria
que o grande momento da orientação correu quando por duas vezes foi possível ir
à Amazônia. A primeira ocorreu em nome de uma pesquisa que a Organização das
Nações Unidas promovia em diferentes países sobre a situação agrária e a profesora
Bertha veio a ser indicada como coordenadora no caso do Brasil. Como havia
necessidade de trabalho de campo , nós o realizamos em agosto de 1981. À época
quem atuava como consultor era o antropólogo Luiz Eduardo Soares (este que
escreveu o livro em co-autoria - Tropa de Elite ).
Esta viagem de agosto coincidiu com um momento político brasileiro particularmente grave porque tinha ocorrido em maio o atentado do Rio Centro e em agosto o então Chefe da Casa Civil Gen. Golbery Couto e Silva tinha decidido pela saída do governo já que as investigações sobre o caso eram proteladas. Assim, tomamos o ônibus Belém-Brasil com a missão de encontrar um povoado de nome Aragominas ao norte de Goiás. [3]
Bom,
ao longo da viagem sempre que podíamos procurávamos ler algo, escutar algo, ver
algo na tv ... porém, já 500 km distante do Rio de Janeiro não existia mais
nada! Nem jornal, nem tv, nem rádio ... Um outro Brasil passava a conhecer.
Algo que artigos e livros ou aulas não me proporcionariam a inteireza da
experiência que foi este encontro com um Brasil imenso , um povo fantástico que
do nada faz milagre!
Lembro,
por exemplo, numa das duas viagens para Amazônia de uma cadeira de dentista
onde a peça de obturação que chegava à boca era alimentada pela pedalada que o
então prático dava para alimentar a rotação! A presença do exército, a febre do
ouro ... a sucuri, tudo gigante, imenso, largo!
Na
segunda viagem, já com a equipe da professora Bertha , acabou sobrando algum
dinheiro e foi cedido para membros da equipe. Então decidi pegar um avião do
sul do Pará em direção à cidade de Belém
para então pegar o ônibus de Belém para o Rio de Janeiro. Bom, o avião era do
tempo da Segunda Guerra e tinha sido cedido
pelo governo americano. Foi uma sensação ímpar ... o avião com grande
dificuldade levantou vôo. Partindo do
sul do Pará em direção a Belém com altitude menor que 1000 m. de altitude. Se
via tudo!
Enfim,
este choque com este país tão nu, cru, e tão imenso foi decisivo ao modo como
procuro conhecer este país. Não raro sobre ele se dá muito importância a
conceito mas não metem o pé na estrada ... aí não dá!
No mais, vários outros trabalhos de
campo foram realizados pela UFRJ , mas os trabalhos realizados não passavam de um dia para o outro, ou seja,
começava e terminava no mesmo dia.
Depois deste período mais acadêmico passei por quase três anos numa empresa de consultoria (1983-1986) desenvolvendo projeto de impacto de represa hidrelétrica. Nela houve a valorização do trabalho de campo. O projeto era para Furnas Centrais Elétricas, e passamos mais de vinte dias divididos em duas fases tratando do tema . Eram observações muito precisas, voltadas para uma questão muito concreta relacionada ao impacto de uma represa na comunidade humana e sistema fito-botânico. [4]
Ainda pela mesma empresa (Monasa
Consultoria , Projetos Ltda) , foi feito um trabalho para a concessionária de
energia , Eletronorte que então construía a Usina Hidrelétrica de Balbina! Lá
estivemos por quase uma semana , sendo dois dias na própria planta da usina.
O Departamento de geografia na
Universidade Federal Fluminense
Trabalho há vinte neste
departamento. Recém-ingresso, à época, não era comum a realização de trabalho de campo. Um
professor que muito valorizou este tema e re-aprendi com ele o valor desta dinâmica
foi o professor José Grabois que esteve durante um período no departamento.
Inclusive com ele, tendo em conta o que já tinha visto em entrevista com Orlando Valverde e nas aulas da
professora Lysia Bernardes na graduação, é que percebi a existência de uma espécie de
metodologia de trabalho de campo que retomava aos gloriosos tempos do IBGE,
muito provavelmente ao tempo de Leo Waibel .
Assim, em 1994 passei a realizar
trabalho de campo com meu grupo de estudos, tendo visitado três vezes o interior
fluminense até o início do doutorado na UFRJ em 1995.
Mais tarde, tendo concluído o doutorado
em março de 1998 retomei os trabalhos de
campo com turma. Chegando a conhecer a Refinaria Duque de Caxias, a fábrica de
automóveis em Porto Real (RJ) e o porto de Sepetiba. Porém, em 1999 passei por
um forte tratamento contra um câncer e praticamente nunca mais realizei trabalho de campo ( a
resistência do corpo nunca mais foi a mesma)
Mas justamente neste período que
toma forma uma cultura de trabalho de campo no Departamento muito positiva. E
na minha ótica isto se deve em muito ao procedimento, diria heróico, do prof. Carlos Alberto Franco da Silva em
passar cerca de duas semanas com uma turma repleta de alunos a cada ano em pleno Mato Grosso ! Isto virou uma
marca no departamento. Não se tratava mais de ir ali... o processo, o projeto, a ambição ficou maior!
Era sim conhecer o Brasil não via grupo de estudo mas como prática na própria
graduação. Foi uma revolução!
Hoje, 2012, isto virou um fator
corrente no departamento, vários outros professores colocam turmas e turmas
para trilhar o Brasil..
Destaco este aspecto porque
constitui uma cultura regular de pé na estrada com turma de graduação a cada ano. Para efeito de
referência, abaixo segue a programação dos tbs. de campo para o primeiro
semestre de 2012.
Disciplina |
Local |
Período |
Espaço e demografia |
Paraná |
uma semana em maio |
Geografia da população |
São Paulo |
três dias em maio |
Natureza e sua dinâmica no Brasil |
Curitiba-Morretes |
uma semana em abril |
Geografia urbana |
São Paulo |
três dias em junho |
Organização do espaço centro sul
brasileiro |
Cuiabá - MT |
oito dias em maio |
Pedologia – eng. recursos hidrícos |
Paty de Alferes (RJ) |
dois dias em maio |
Pedologia aplicada |
Paty de Alferes (RJ) |
dois dias em abril |
Geografia agrária |
Brasília |
uma semana em abril |
Geografia agrária |
Cuiabá – MT |
uma semana em maio |
Ecologia Geral |
Santo Aleixo |
um dia em junho |
Ecologia Geral (eng.) |
Santo Aleixo |
um dia em junho |
Climatologia |
Iguaba |
um dia em junho |
Geomorfologia geral |
Santa Maria Madalena , Farol São Tomé |
três dias em junho |
Pedologia |
Vassouras |
dois dias em março |
Edafologia – eng. agrícola |
Maricá, Saquarema |
uma dia em maio |
Tópicos especiais em geografia
regional |
Recife , Garanhuns |
oito dias em maio |
Haveria escola em trabalho de campo
?
O presente texto segui uma linha investigativa
sobre o tema. Assim, de início verificou-se que há poucos textos sobre o tema.
O recurso básico, portanto, foi o de
recorrer à própria trajetória pessoal que envolve uma experiência iniciada há
35 anos atrás.
Quando cursava a graduação em
geografia , lá pelo ano de 1977, durante aulas da professora Lysia Bernardes,
esta enfatizando a importância da observação para o geógrafo deu algumas dicas
como de realizá-lo, embora nunca tenhamos tido trabalho de campo com ela já que
na época ela era Superintendente da Secretaria Estadual de Planejamento do
Estado do Rio de Janeiro e tinha por isto uma agenda lotada.
A
dica consistia em reproduzir um mapa da área que visitaria e ao longo do curso
dos trabalhos plotaria diferentes cores representando diferentes atividades
(residencial, comercial, igreja, escola etc.) para então tentar ao final do dia
extrair uma espécie de caracterização maior do local visitado.
Mais tarde, com o ingresso do
professor José Grabois no departamento de geografia da Universidade Federal
Fluminense tive oportunidade de realizar trabalhos de campos com ele. Sua
metodologia lembrava a apresentada por Lysia Bernardes, novamente a tal das
cores reaparecem. Na realização deste texto dei-me conta de uma entrevista com
o professor Orlando Valverde (1994) na qual destacava existir uma escola de
geografia agrária no Brasil iniciada por Leo Waibel, uma escola da qual ele Orlando fazia parte e incluía
cerca de dez pessoas das quais encontrava-se José Grabois. Ou seja, Valverde muito aprendeu com Waibel a
realização de trabalho de campo e teria repassado tal conhecimento para outras
pessoas.
Ora,
mesmo que a Prof. Lysia não tenha participado deste grupo, até por diferenças
políticas entre Lysia e Orlando, é
possível imaginar que a passagem de Leo
Waibel no IBGE configurou uma certa
modalidade de trabalho de campo
no âmbito da instituição, ou seja, Leo Waibel via Conselho Nacional de
Geografia (vide www.feth.ggf.br/conselho.htm ) e deste para o corpo técnico
da instituição institucionalizou uma prática que até então não estava sedimentada.
Com José Grabois, por exemplo, havia
um metodologia rigorosa. Havia as entrevistas, as entrevistas tinham
classificações segundo temas diferentemente coloridos e havia a preocupação com
a plotagem da informação num mapa e desenho. Era algo estafante porque após a
realização do trabalho de campo e jantar, o que se seguia era uma reunião de
grupo para constituir um relatório, ou seja, ao término do trabalho de campo já
se tinha o relatório.
Sobre Waibel :
Com uma
metodologia diferenciada, a escola alemã representada por Léo Waibel apresenta
um esquema metodológico para a geografia rural divido em três grandes eixos:
estatístico, ecológico e fisionômico. Todavia, sua base técnica advém dos
trabalhos de campo, do método indutivo-empírico, aliada a inserção de dados
estatísticos para corroborar o trabalho de campo.(FERREIRA & ALVES , 2009,
p.4 )
Quando temos acesso ao texto “O que eu aprendi no Brasil”[5] Leo Waibel, por sua vez, temos alguns trechos que
valem a pena ser
reproduzidos.
“Agradeço
ainda aos meus assistentes e companheiros nas inúmeras viagens empreendida.
Cito entre eles Orlando Valverde, Nilo Bernardes e Walter Egler. Tanto estes
como outros contribuíram decisivamente para
o êxito do meu trabalho. Não devo deixar de agradecer aqui a Marcelino
Pereira dos Santos, motorista dedicado e infalível, que me conduziu na maior
parte das minhas excursões...”
.... A primeira coisa que tive de aprender foi adquirir uma noção clara do tamanho deste País. O fato de ter o Brasil oito milhões e meio de quilômetros quadrados pouco significa para aquele que estudou o país através de livros e mapas. Mas, quem sobrevoa dias a fio as imensas distâncias deste território, como eu o fiz, e somadas todas as excursões feitas de automóvel, perfazendo um total de mais de um ano de viagem, [6]
tem que admitir ter visto apenas uma
pequeníssima parcela do País, sente então respeito pelo continente Brasil
e a perspectiva real dos seus problemas.
O Brasil é de fato um continente ...Aqueles que esquecem ou desconhecem essas
diferenças diferenças regionais, e representam o Brasil como uma unidade
natural, cometem um grande erro contra o espírito da Geografia e poderão causar
grande prejuízo se estiverem ocupando posições de responsabilidade.
Além
disso, minhas excursões pelo Brasil me ensinaram como este grande País é pouco
conhecido ainda, e como ele é representado de maneira deficiente, superficial
e, muitas vezes, errada (Waibel, 1979)
Como
comentário podemos observar que na chamada fase áurea da geografia no IBGE (veja para isto www.feth.ggf.br/fibge.htm
) é nítido a promoção do trabalho de
campo como elemento norteador dos testes aos conceitos que se tem a partir do
gabinete.
Ao recorrermos alguns textos sobre o
tema do trabalho de campo temos consciência de estar diante de um processo incipiente. Assim, se segue um
ensaio discursivo sobre o tema.
Gobbi & Pessoa (2009, p.
485-507) começam sua dissertação de forma muito inapropriada, ou seja, entendem
que a pesquisa qualitativa (na qual inclui o trabalho de campo) tem suas raízes
nas práticas desenvolvidas pelo antropólogos ... ora , se recorremos ao
trabalho de Nelson Werneck Sodré – Introdução à geografia de 1979, veremos que
esta questão qualitativa está na origem da própria geografia, enfim, não
podemos ter na antropologia uma forma de medir o nosso próprio processo de
consideração do que seja um trabalho de
campo.
Já Souza Jr. (2009, p. 25-48) elabora uma interessante elaboração
no sentido de ter nas entrevistas a captura das intencionalidades dos agentes sociais em suas práticas sociais.
Este trabalho, como o anterior, nos chama a atenção que o trabalho de campo e a
prática que ele encerra envolve uma melhor capacitação dos seus realizadores já
que o corpo, o entrevistador, a sua capacidade de olhar, perceber o local, tudo
influi na consideração para compreensão de dado local, de dada temática a ele
relacionado.
Já Santos & Pessoa (2009,p. 123-138) chamam a atenção para o outro, ou seja, afora o cuidado e sofisticação que tenhamos no trato do tema (trabalho de campo) campo considerar que o outro, o entrevistado, o visitado, necessariamente desenvolve uma certa forma de defesa já que pouco conhecemos. [7]
Outro aspecto muito rico do tema é a questão do ensino. Não são poucas
as experiências de quem considera o trabalho de campo uma forma de melhor
conduzir a prática de ensino. Por
exemplo, Urquiza & Asari ( 2007) tratam do tema numa ótica interdisciplinar ou transdisciplinar;
de fato é uma experiência que supera a
visão da sala de aula enquanto ponto de excelência do ensino, o trabalho de
campo enseja uma interação que esta última não proporciona porque, afinal de
conta, é no contato com a natureza que se tem uma forma de interação entre as
pessoas e destas com a natureza de forma impar e decisiva. Noutro exemplo,
temos Favarão & Gratão (2007) que relatam
o quanto de útil é o aprendizado junto dos pequenos tendo em conta uma
certa metodologia, apresentada no trabalho ,
sobre o campo. Já Ribeiro e Moura
(2007) vão destacar de que forma o trabalho de campo fomenta a chamada
inteligência espacial. Enfim, não se trata apenas de obter ou gerar informação
mas de ter no trabalho de campo uma forma educativa de exercício mental.
A partir da
fase mais avançado dos alunos , já no âmbito universitário (vide Queiroz
Filho, 2009 ) a prática de campo configura uma elaboração que enseja trabalho
em laboratório assim como uma elaboração relacionada às escalas de estudo do trabalho, assunto sensível dos estudos,
pois envolve tanto a dimensão do estudo a ser implementado quanto à própria
representação dos dados obtidos. Marangoni (2009), por sua vez, destaca um tema deveras importante, a saber,
os questionários. É um tema deveras necessário de ser abordado porque não raro
a pesquisa envolve uma dimensão
estritamente subjetiva, já que o questionário envolve uma dimensão pessoal , um
talento pessoal, em saber perceber nos códigos comunicativos do entrevistado
sobre o que haveria a mais na respostas por parte do próprio entrevistado.
Por fim, Venturi (2009) aborda o
processo final do trabalho de campo quando então se escreve o relatório sobre o
mesmo. É uma contribuição valiosa, a de
Venturi, porque se atem às partes
componentes do relatório, cuidado com a coerência do que foi comunicado, a
questão da correção gramatical etc.
Um
contraponto necessário
Pelo que foi observado anteriormente
, há a sinalização de que o Trabalho de
Campo em muito deveria à dinâmica encontrada no IBGE. É fato, mas não
suficiente! Ou seja, a questão do trabalho de campo era algo cultural da
própria geografia ! A diferença introduzida pelo IBGE não está em ter
introduzido o tema, longe disso, mas
tê-lo sistematizado para revelar o Brasil .
Corroborando o observando cabe
resgatar um trabalho intitulado – Contribuição ao estudo da Geografia – de
autoria de Higard O’Reilly Sternberg
(1946) com prefácio em francês de Pierre Deffontaines. Pelo texto nós temos um explícito tratamento sobre a questão
do trabalho de campo.
Já na própria introdução do
texto, Hilgard observa :
“Acabando
de me desincumbir da missão para a qual fui comissionado pela Faculdade
Nacional de Filosofia (de acordo com a Portaria n. 4, de 26 de janeiro de
1943), a de fazer estudos de geografia, inclusive “os relacionados com a
técnica do trabalho de campo, estudando,
ao mesmo tempo, com vistas à aplicação
na Faculdade Nacional de Filosofia, a
organização de um laboratório de
geografia”, apresentei ao Diretor do
referido estabelecimento um relatório de minhas atividades nos Estados
Unidos. Essa exposição se dividiu em três partes. Na primeira parte, dei conta
dos meus estudos de geografia e ciências auxiliares. A segunda parte do
relatório apresentado compreende algumas observações sobre o trabalho do material didático de geografia.(1946, p. 11)”
Dada a introdução , mais adiante o
autor observa que a primeira parte do relatório não veio a ser publicado, mas o
foi o correspondente à segunda parte, justamente aquela voltada para trabalho
de campo.
Assim, sobre o tema Hilgard observa
–
“Embora
outras ciências possam contribuir com preciosas informações para a elaboração
de estudos geográficos, não se pode prescindir da pesquisa original do próprio
geógrafo. Ainda mesmo que uma região já houvesse sido estudada por todas as
ciências “periféricas” da geografia, os objetivos específicos desta ciência
exigiriam o contato direto do geógrafo com a região. Não somente ele faria a
verificação dos trabalhos anteriores, estudando, de maneira mais minuciosa
, certos pormenores de interesse
geográfico, tratados especificamente pelas outras ciências , como também
procuraria in loco, correlacionar os
fenômenos até então tomados isoladamente. Raramente, no entanto, se encontra em
nosso país (p. 14) uma região que tenha sido amplamente estudada pelas demais
ciências. Caberá eventualmente ao geógrafo assumir a responsabilidade integral
dos estudos necessários , quer sejam eles geológicos , pedológicos , climatológicos
, econômicos ou outros quaisquer.”
Em seguida, pelo texto, ele tece várias considerações sobre o
trabalho de campo do tipo, valor
didático do mesmo, as diferentes modalidades em sua execução, mas o que é
nítido e notório no texto é a visão de
que geografia tem por excelência o trabalho de campo. A singularidade da
geografia em relação aos demais campos do conhecimento é, como observado acima,
“in loco , correlacionar os fenômenos até então tomados isoladamente”.
Ora tal observação minora o papel
do IBGE enquanto elemento pioneiro na
configuração do trabalho de campo como norma nos estudos geográficos. Porém, há
algo que diferencia o que se deu no IBGE e no que se deu fora dele, a saber, o IBGE dispunha de recursos, de respaldo;
esta instituição veio ao longo dos anos substituir o Exército na
produção de cartas , não houve ao longo
do século XX instituição, ou universidade, que fizesse
paralelo ao que o IBGE fez em termos de produção de diagnósticos sobre o território
brasileiro.
Afora este aspecto mais histórico , há um mais atual.
Vale
a pena contar uma história , a saber, minha graduação começou em 1977 , quando
o trabalho de campo era aspecto necessário do conhecimento geográfico (vide www.feth.ggf.br/geotrad.htm
) , porém, ao terminar em 1980 o bacharelado a situação era bem diversa. Estava
em vigor a geografia crítica, uma corrente que em sua primeira hora
desconsiderou o trabalho de campo como elemento de força da produção do conhecimento.
Assim,
o texto de Hilgard acima parece ser um texto datado, porém, verifiquem o que
segue abaixo:
“Em
primeiro lugar, defendemos a ideia de que há uma especificidade disciplinar na
discussão aqui proposta , própria à
Geografia e à produção do conhecimento geográfico. Uma reflexão sobre a
importância do trabalho de campo nesta
disciplina requer a compreensão de sua especificidade frente às outras
disciplinas, sobre seus trunfos e seus handcaps frente às outras ciências
naturais e sociais. Afinal, o que há de epistemologicamente diferente na
produção do conhecimento geográfico ?
Em
segundo lugar, e , de certo modo, já respondendo, de maneira preliminar , às
questões enunciadas no parágrafo precedente, afirmamos a necessidade de
revelar, através do trabalho de campo em geografia, as diversas possibilidades
de recortar, analisar e conceituar o espaço, de acordo com as questões , metas
e objetivos definidos pelo sujeito que pesquisa. O trabalho de campo em
Geografia requer a definição de espaços de conceituação adequados aos fenômenos
que se deseja estudar. É necessário recortar adequadamente os espaços de
conceituação para que sejam revelados e tornados visíveis os fenômenos que se
deseja pesquisar e analisar a realidade.
Como
terceiro pressuposto, é necessário também reafirmar a necessidade de superação
das dicotomias e ambiguidades características da Geografia . O trabalho de campo é instrumento
chave para a superação dessas ambiguidades ...” (Serpa, 2006, p. 8)
Entre os textos de Hilgard e este último de Angelo Serpa publicado no Boletim Paulista de Geografia (revista que teve destacado papel no crescimento da Geografia Crítica ) [8]
Percebemos uma certa constância, o trabalho de campo está voltado .... e a Geografia
Crítica já não é mais a mesma!
Viva o trabalho de campo !
Conclusão
Por fim é corrente na realização de um grande encontro
entre geógrafos a realização de trabalho de campo. Porém, não é possível
verificar ser este um tema que mereça um reconhecimento para ser objeto de
reflexão específico sobre o tema nestes mesmos encontros.
Numa graduação em geografia, quando
se tem recursos, o trabalho de campo é algo corrente. Faz parte da formação de
uma geógrafo no Brasil pois tem a cultura do trabalho de campo; porém, não
ocorre que este processo, essa dinâmica, tão disseminada na formação dos jovens
não venha a ser objeto específico de reflexão.
O trabalho de campo enquanto prática
é algo corrente, trabalho de campo enquanto objeto de análise é algo fora da
agenda , por que ? Parece-me que isto tem uma relação com a ascensão da
geografia crítica mas que após seu descenso iniciado na década de 90 temos nos
últimos anos um incremento dos trabalhos de campos, até porque ao tempo do governo
Lula as universidades passaram a contar com muito mais recursos,
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WEIBEL,
Leo - Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: FIBGE, 1979
[1] Julgo que a geografia brasileira
muito perdeu ao não saber tratar, sem supor a destruição, abordagens distintas (geografia quantitativa
que crescia no IBGE praticamente inexistiu na universidade, por exemplo). O
contraste apura a inteligência.
[2] Por força do trabalho que desenvolvia à época, ela ocupava a Superintendência do Planejamento da Secretaria Estadual do Rio de Janeiro não chegou a realizar trabalho de campo com a turma. Mas como cheguei a realizar estagiário nesta Superintendência dado seu convite, por duas vezes participei de trabalhos de campos em dois diferentes municípios do Estado do Rio de Janeiro. Era algo que ela sempre valorizava em seu trabalho.
[3]
Pela primeira vez percorria a Belém-Brasília. Anos antes, antes de entrar na
universidade, já tinha realizado uma
grande viagem indo do Rio de Janeiro em direção ao Ceará pela Br-116. A
diferença desta para a anterior que para o Ceará ia enquanto turista, já para a
região norte brasileira adquiria um
outro olhar.
A noção de tamanho,
diversidade, tempos diferentes de desenvolvimento no Brasil foi algo revelador
.
Em termos de operação
do trabalho de campo com a professora Bertha Becker, esta privilegiava
entrevistas exaustivas. Ela era muito atenta ao detalhe . Usava muita
informação do IBGE, sistematizava constantemente os dados, esta seria a parte
digamos estrutural da informação; a conjuntural , aquela afeita a uma dimensão
mais intuitiva, esta ficava por conta do trabalho de campo.
Sempre muito curiosa,
sempre indagava o que tinha visto, achado, é como se fossemos sensores na
captura de informações que geralmente fogem ao largo dos números.
[4]
Cabe observar que neste primeiro trabalho, tendo Furnas Centrais Elétricas como
cliente, houve consultoria da geógrafa Lysia Maria Cavalcanti Bernardes que
desde a primeira hora incentivou o trabalho de campo. Inclusive, seu marido,
Nilo Bernardes, por sugestão dela, chegou a fazer um sobrevôo de helicóptero
justamente para analisar a organização regional da área em estudo, no caso,
norte da região serrana fluminense .
[5] Conferência lida na sede do IBGE em 17 de agosto de 1950 publicada na Revista Brasileira de Geografia 12 (3) , 1950 e incorporada na edição de sua obra – Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil (1979).
[6] Cabe lembrar, como ele faz ao início da conferência, que sua estadia no Brasil foi de quatro anos .... dos quais um em trabalho de campo.
[7] Isto me faz lembrar a discussão de um projeto de dissertação no âmbito do Programa de pós-graduação em ciência ambiental da Universidade Federal Fluminense para o qual dois jovens desenvolviam esforços para analisar a comunidade local situação em Oriximiná (PA) , campo de extensão da mesma universidade. O trabalho ocorria sem muito atropelo, mas também sem muita novidade, muito formal e pouco informativo, até que ao final da entrevista um dos entrevistados propôs uma cerveja no bar próximo .... pronto, pela conversa, pelo tom mais amistoso, e pelo número de garrafas que foram sendo colocadas de lado, que descoberta não se fez sobre o lugar !