Revista geo-paisagem ( on line )

Vol. 1, número 2, 2002

Julho/dezembro de 2002

ISSN Nº 1677 – 650 X

 

 

 

O Serviço Geográfico do Exército

 

Helio de Araujo Evangelista [1]

 

( www.feth.ggf.br )

 

Resumo

 

            O trabalho objetiva conhecer o Serviço Geográfico do Exército tendo por referência seus anuários.

 

Palavras chaves: Exército, Brasil, Serviço

 

Abstract

 

            This works aims to understand the Geographical Service of the Arms by its annuaries .

 

Keywords: Army , Brasil, Service

 

·        Apresentação

 

No artigo - Serviço geográfico no Brasil - do então Capitão Tasso Fragoso, encontrado no Anuário do Serviço Geográfico, nº 17,  1967, p. 303, consta uma primorosa avaliação do legado cartográfico proporcionado pelo Exército, que abaixo reproduzimos parcialmente:

 

p.304 Alistamo-nos nas fileiras do exército pouco antes de desaparecerem os derradeiros vestígios dessa útil instituição. Logramos, porém, apreciar um a um todos os mapas por ela gravados e ter idéia através dessa obra, por certo importante para o Brasil, da atividade das gerações militares anteriores a 1870. Nós que chegamos hoje, quanto tudo definha e do passado persistem apenas as saudosas reminiscências, não podemos sopitar a admiração provocada pelas cartas gravadas no antigo Arquivo Militar.

Remonta a 1865 ou 1866, segundo informações que nos foram bondosamente ministradas pelo Dr. Luiz Cruls, a primeira tentativa para o início de sérios trabalhos geográficos entre nós. Nessa data, o engenheiro Vlemincks, antes oficial de engenharia do exército belga, mediu uma base na praia de Jacarepaguá e foi incumbido de encomendar na Europa um basimetro, o mesmo aproveitado mais tarde na medição da base de Santa Cruz e ainda hoje existente no Observatório Astronômico...

p. 305 Em 1873 encontra-se uma nova tentativa, porventura a mais sistemática, para o levantamento da carta do Brasil, graças à criação da chamada Comissão da carta geral do Império. Esta comissão mediu uma base de 2.500 metros, mais ou menos, em capôs da fazenda de Santa Cruz  e iniciou trabalhos de triangulação no então Município Neutro. Extinta em 1878, deu-se o governo pressa em substituí-la pela Comissão da carta itinerária ( por iniciativa, ao que nos referiram, do Barão de Capanema ) e proveu-a de engenheiros austríacos. Pouco tempo duraram os trabalhos começados no Rio Grande do Sul, pois em menos de dois anos ficava a nova comissão também extinta.

...

Proclamada a República, raiaram novas esperanças para os que se preocupam com estes problemas. Pelo decreto nº 451-A, de 31 de maio de 1890 foi criado o Serviço Geográfico, anexo ao Observatório Astronômico, para execução dos trabalhos geodésicos e geográficos na República dos Estados-Unidos do Brasil.

p.306 Tão auspicioso tentame, para que colaborara Benjamim Constant, nunca passou de aspiração teórica; foi completamente impossível ao Diretor do Observatório pôr em execução as idéias nele consubstanciadas.

A adaptação ao Brasil, em 1896, da clássica organização dos Estados-Maiores europeus trouxe de novo a campo a questão do serviço geográfico.

Sabe-se que, em todas as nações já de posse daquela instituição, o Serviço Geográfico fica diretamente subordinado ao Grande Estado-Maior ( França, Alemanha, Áustria, Itália ).

p.307 Entre todas as nações da Europa que temos visitado, isto é, França, Itália, Áustria, Alemanha, Portugal, etc. o serviço da carta geral do Páis está desde muitos anos entregues ao corpo de Estado-Maior ou de engenheiros militares. Estes serviram-se do cadastro, já então existente, para estabelecer a medida de base e a triangulação geodésica; daí partiram os trabalhos de levantamento  que deram lugar à confecção das cartas modelos que possuem atualmente (p. 308 ) a França, a Alemanha e a Itália, como viu-se na exposição do Congresso Internacional de Geografia, reunido em Paris, em 1875.

p.308 Qualquer projeto tendente a fundar o serviço geográfico, deve assentar sobre esta verdade inconcussa: Não é possível a organização de uma carta de país inexplorado, como o nosso quando lhe não servem de fundamento operações geodésicas e topográficas.

 

            A história do Serviço Geográfico do Exército é, portanto, essencialmente, partícipe da história da cartografia brasileira ! E assim se caracteriza porque os militares visualizavam na questão do mapeamento do território um aspecto que lhe era muito caro, a saber: a soberania nacional. Soberania que exigia um adequado mapeamento do território brasileiro, para melhor conhecer sua geografia, e nela atuar.

            Neste sentido, o presente trabalho resgata a história da instituição que pouco é lembrada nos fóruns acadêmicos dedicados à geografia brasileira.

 


·        Origem

 

            Num dos poucos materiais disponíveis sobre a história da cartografia brasileira, o artigo de Djalma Polli Coelho - Geógrafos, cartógrafos e demarcadores - encontrado no Anuário 1951-1952, nº 4, edição de 1954, pp. 35-47 [2], destaca um levantamento dos diferentes expedientes realizados no sentido de traçar nossas delimitações territoriais. Em seguida, o autor revela o esforço, marcado por acidentes e incidentes, de se reconhecer o nosso território no sentido de melhor orientar os militares em suas tarefas precípuas de defesa.

            Assim, pelo acima destacado, a experiência adquirida no tempo do Império veio a ser retomada pelo Estado Maior do Exército.

 

Retomando o assunto das mãos da antiga Comissão da Carta Geral do Império ... o Tenente Coronel Feliciano Mendes de Morais, chefe da referida 3ª Seção, juntamente com o Capitão Alberto Cardoso de Aguiar e o Tenente Custodio de Sena Braga, adjuntos, assinaram em 9 de abril de 1900 o alentado e bem escrito trabalho “A Carta do Brasil - Projeto elaborado no Estado Maior do Exército” . ( Coelho, 1954, p. 44 ).

Infelizmente êsse magnífico projeto, condensando tôda a nossa experiência do passado e consignando as melhores idéias e orientação da época, não teve uma execução, e 1918 quando a primeira grande guerra deu lugar a que se inaugurasse no Brasil uma nova e decisiva fase de existência para a cartografia nacional. . ( Ibidem, 1954, p. 45 ).

Apoiado pelo saudoso General Bento Ribeiro, Prefeito da Capital Federal e depois Chefe do Estado Maior do Exército, bem como pelo General Vespasiano de Albuquerque, Ministro da Guerra, o Major Vidal foi se instalar no velho Forte da Conceição, onde até 1917 se alojavam os contingentes de voluntários vindos do Norte, com destino aos corpos das regiões militares do Sul do Brasil

Nessa ocasião o Major Vidal, animado com a experiência que já havido feita na Prefeitura do Distrito Federal, sob sua orientação, achou conveniente trazer para o Brasil um grupo de técnicos do Instituto Geográfico Militar de Viena. A derrocada da Áustria, no final da primeira grande guerra, tornou possível essa providência, com a qual inauguramos uma nova fase de nossas atividades cartográficas.

Foi então criado o Serviço Geográfico Militar, a título de experiência, no Morro da Conceição. Em 1921 êsse Serviço era um lugar de intensa e útil atividade. Preparavam-se ali muitos de nossos camaradas, jovens oficiais de tôdas as armas, para o levantamento da Carta do Distrito Federal. Essa carta foi de fato iniciada nesse ano e terminada em 1922.

 

Por ocasião da Exposição do Centenário da Independência em 1922, a carta do Distrito Federal figurou no mostruário da Diretoria do Serviço Geográfico, instituição desconhecida até então e que causou uma notável impressão em todos os visitantes. (. Ibidem, 1954, p. 47 ).

 

Pelo que foi até aqui exposto, o Serviço Geográfico do Exército esteve vinculado ao grande esforço, já encontrado no tempo do Império do Brasil, em gerar informações devidamente localizadas sobre o país. A Comissão da Carta Geral do Império [3], para o qual concorreram os esforços da família Niemeyer e Candido Mendes, entre outros, foi  retomado pelo novo regime político, o republicano, sob a forma de Comissão da Carta Geral do Brasil.

            Cabe aqui considerar que nesta fase do recém-implantado regime republicano, o campo próprio da cartografia não se encontrava definido, assim, ele ficava inserido dentro do escopo maior da geografia.[4] No entanto, quanto às forças armadas, e mais destacadamente o exército, estas iriam se aprimorar para chamar para si a dura tarefa de se mapear o país da melhor forma técnica possível, tendo então o surgimento da carreira de engenheiro geógrafo militar. Foi criada, inclusive, uma Escola de engenheiros geógrafos, pelo decreto nº 19.299 de 5-VI-1930. Sobre este aspecto, entre outros, cabe menção ao artigo do Cel. Moisés Castelo Branco Filho - A escola de engenheiros geógrafos militares e o Curso de geodésia e topografia da E.T.E [5].

 

            Inicialmente, a Comissão da Carta Geral do Brasil concentrar-se-ia na confecção de mapas sobre o Rio Grande do Sul, que entre as diversas áreas fronteiriças do país, a região sul era a que apresentava maior possibilidade de conflito bélico; porém, de 1910 até 1942, a produção foi irregular, mas, com o advento da Grande Guerra, e particularmente a utilização de algumas áreas brasileira como pontos de apoio para o lançamento de forças militares para o teatro operacional da Europa, nós tivemos medidas em favor do reconhecimento cartográfico do país. [6]

            A elaboração dos trabalhos, no entanto, era deveras lenta, até mesmo a capital do país, um espaço privilegiado pela segurança, só veio a apresentar um mapeamento completo, através do método geodésico ( que tinha por referência as triangulações ), em 1922 ( sic ), ultimado por Américo Rangel[7], no intuito de que o mapa participasse da comemoração do primeiro centenário da Independência brasileira.

 

 

            Segundo o então Ten. Cel. Moisés Castelo Branco, em outro artigo - Comissão da carta geral do Brasil -  Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército, nº 1, 1949. (1949), a 3ª Seção do Estado-Maior do Exército publicou, em 1901, um projeto de se criar um serviço voltado para a elaboração da carta, sendo então proposto a triangulação geodésica para o litoral e o cálculo das coordenadas geográficas dos pontos fundamentais para efeito de orientação. Dois anos depois, em 31 de março, pela ordem do dia nº 268 do Exército foi formalizada a Comissão de Carta Geral, e a 26 de junho o coronel Francisco de Abreu Lima era nomeado o seu primeiro chefe, com chefe na cidade de Porto Alegre ( RGS ). ( Castelo Branco, 1949, p. 59 )

            Segundo o ten. cel. Moisés Castelo Branco, ( 1949, pp. 62-64 ), a Comissão promoveu seus trabalhos até 1930, nesta época era promovido o Serviço Geográfico Militar  sob a orientação de técnicos austríacos, egressos do conceituadíssimo Instituto Geográfico Militar de Viena que utilizava os mais modernos métodos estereofotogramétricos combinados a uma boa aparelhagem para reprodução e impressão de cartas. [8]

            Após a revolução de 1930, com a tomada do governo federal pelo Sr. Getúlio Vargas; o Ministério da Guerra entendeu por bem reunir os dois órgãos, o localizado em Porto Alegre e o que surgiu depois no Rio de Janeiro. Assim, pelo decreto nº 21.883 de 29 de setembro de 1932, foi criado o Serviço Geográfico do Exército, após a fusão entre a Comissão da Carta Geral do Brasil e o antigo Serviço Geográfico Militar. (Coelho, Gen. Polli Anuário de 1949, p. 5-6; Castelo Branco, 1949, p. 64 )

 

            Assim, a criação do Serviço Geográfico do Exército se deu justamente numa época quando as forças militares voltavam a desempenhar um papel mais efetivo no rumo da política brasileira. Porém, foi a partir da Grande Guerra ( 1939-1945 ), que os recursos passaram a ser mais decididamente direcionados para a entidade.[9]

            É neste período que as normas orientadoras da produção das cartas foram sistematizadas. Em 1946 foi produzido - Normas Gerais Para Operações de Levantamento e Confecção das Cartas do Tipo Militar. ( Ibidem, Coelho Polli, Anuário de 1949, pp. 6-7 ) Neste mesmo ano, foi editado - Normas para uniformização da Cartografia brasileira -  que pode ser consultado pelo Anuário de 1949, pp. 255-257, de acordo com o decreto-lei nº 9.210, de 29/04/46.

            Pelo decreto-lei nº 9.210, de 29 de abril de 1946, consta:

O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o art. 180 da Constituição decreta:

Art. 1º Os trabalhos de levantamento que se realizarem no território nacional, no que se refere as operações geodésicas, topográficas e cartográficas, ficam sujeitos a nomras técnicas a serem estabelecidas de acôrdo com o presente Decreto-lei, objetivando a uniformização da Cartografia brasileira.

Art. 2º São órgãos autorizados do Govêrno da União para que se torne efetiva a uniformização cartográfica:

a ) O Conselho Nacional de Geografia, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

b ) O Serviço Geográfico do Exército, órgão do Departamento Técnico e de Produção do Exército.

Parágrafo único. Compete à Diretoria de Navegação da Marinha e a Diretoria de Rotas Aéreas  da Aeronàutica, à Divisão de Geologia e Mineralogia e ao Serviço de Meteorologia do Ministério da Agricultura, estabelecer as normas técnicas referentes ao preparo das cartas hidrográficas e aeronáuticas e fixação das normas técnicas relativas as cartas geológicas e climatológicas, respectivamente.

Art. 3º. Ao Conselho Nacional de Geografia cabe o encargo de estabelecer as normas técnicas relativas as cartas gerais de escala inferior a 1: 250.000.

Art. 4º O Serviço Geográfico do Exército estabelecerá as normas gerais para as operações de levantamento e confecção da carta tipo militar.

Parágrafo único. Consideram-se de tipo militar as cartas topográficas, em escala de 1:250.000, ou escalas maiores, que interessem mais preponderantemente à defesa nacional.

 

            É desta época, inclusive, que o Serviço passou a ocupar o antigo edifício que pertenceu ao Arcebispado do Rio de Janeiro, que fora adquirido em 1922 e após uma grande reforma veio a ser ocupado pelo Serviço Geográfico do Exército em 1948. Ano a partir do qual a entidade passou a noticiar sua produção na forma de anuários de modo a tornar mais explícito o papel desempenhado pelo Serviço.

 

            Sobre a antiga sede do Serviço Geográfico, já que a atual sede está localizada em Brasília, consta um esclarecedor artigo de Lasinha Luis Carlos que observa:

 

Encostado num morro, semi-oculto por uma cortinha quase impentrável de arranha-céus, a cidade do Rio de Janeiro guarda um tesouro que poucos conhecem e todos deviam visitar. É o antigo Palácio da Conceição, no morro do mesmo nome, outrora residência de Bispos e Arcebispos, e onde hoje funciona o Serviço Geográfico do Exército...

A história do encantador palácio, que pelas suas proporções, colorido e frescura, nos dá a impressão de estarmos em Sevilha -, vem de longe. Começa em 1634, com uma ermida e uma chácara doadas à Ordem do Carmo e destinadas à fundação de um convento. Os carmelitas em 1669 entregam o sítio aos Capuchichos Franceses, que constroem junto ao santuário pequeno hospício para residência. Mas em 1701 são esses religiosos expulsos da colônia portuguesa. Em 1702, desembarca no rio de Janeiro o Bispo D. Frei Francisco de S. Jerônimo, e ei-lo que descobre o lugar ideal para sua habitação. A residência episcopal ampliada, recebe o nome de Palácio da Conceição. Por detrás do belo edifício, inicia-se, em 1713, a construção de uma fortaleza que aliás, nunca foi grandemente útil à defesa da cidade: a fim de não incomodar com seus disparos os prelados vizinhos, e também porque, com a violência dos iros, estava danificando as paredes do Palácio, é por ordem real silenciada...( Anuário 1955, pp. 7-8 )

 

·        A guerra

 

Diante da eminência da eclosão da 2ª grande guerra, o Serviço Geográfico passou a ter a vital incumbência de mapear o Brasil o mais rápido possível. Deste esforço, já em 1942, surgiram as primeiras folhas do litoral de Pernambuco, Paraíba e ilha de Fernando de Noronha. Segundo o ten. cel. Moisés Castelo Branco, em seu artigo - “Mapa dos milhões”, “...Nos anos seguintes, as cartas do S.G.E. são lançadas em profusão, aos milhares, em todos os escalões de tropa, do teatro de operações, que sem elas não podiam mais passar, reclamavam sua falta quando se fazia sentir.” ( 1949, p. 243 )

            Pelo Anuário de 1951-52 ( nº 4 ), verifica-se uma profunda alteração da entidade, podendo-se constatar uma elaborada organização, atingindo diferentes partes do território brasileiro. E, em em 31 de janeiro de 1953, o Sr. Ministro da Guerra estipulou pela portaria nº 58 que o Serviço Geográfico do Exército passaria a ser conhecido como Diretoria do Serviço Geográfico. Assim deixaria de ser um órgão assessor, vinculado ao Exército, para estar regimentalmente inserido na estrutura hierárquica do Ministério da Guerra.

            Desta época, toma forma a idéia de planejamento da ação do governo, no intuito de otimizar esforços na área de produção de uma eficiente defesa do país.

 

            Pelo Anuário de 1960, nos chama a atenção do aparecimento de diferentes empresas envolvidas enquanto parceira no reconhecimento do território brasileiro, sendo que deste período destaca-se a empresa Cruzeiro Aerofoto, cuja contribuição ainda hoje é notada na leitura das cartas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

            Numa visão preliminar, poderíamos entender que na década de 50, o Serviço Geográfico adquiriu uma autonomia em sua produção, não mais dependendo de situações circunstanciais favoráveis, ou não, às produções dos mapas sobre o Brasil. Foi uma época em que sua atividade esteve articulada ao início do empreendimento planejador no Brasil.

            Já na década de 60, temos uma feição mais técnica, onde fica mais generalizada o uso da aerofotogrametria.

            Na década seguinte, a de setenta, nós temos a experiência do RADAM que procura operar um amplo reconhecimento da região amazônica brasileira através de imagem satélite, é deste período, portanto, que o instrumental proporcionado pelo sensoriamento remoto adquiriu maior importância. [10]

            É uma época que os anuários apresentam uma excelente apresentação, tendo um corpo de oficiais vinculados ao Serviço em cerca de mil pessoas.

            Uma situação que contrasta com a verificada na década de 80, onde os próprios anuários perdem sua antiga qualidade gráfica.

 

            A partir do exposto, segue-se uma análise da origem do Serviço Geográfico tendo em conta a biografias de pessoas a ele vinculadas. Tal expediente visa ressaltar aspectos ainda não destacados.

 

·        As personalidades dirigentes

 

            Um militar a ser destacado vem a ser o Gen. Djalma Polli Coelho ( 1892-1954 ), cujo currículo é apresentado pelo Gen. Lincoln de Carvalho Caldas no Anuário de 1953-54 ( pp. 302-304 ).

 

Gen. Polli Coelho

.

Pelo o que o Sr. Caldas pôde levantar, o Sr. Polli Coelho foi de tenente a general durante a sua permanência no Serviço Geográfico. Próximo à grande guerra, em 1939, teve a incumbência de dirigir o levantamento aéreo e terrestre do litoral entre os Estados do Ceará e Pernambuco.

Fora destacado o seu papel à frente do Serviço Geográfico, vindo a ser, também, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ). O que aliás assinala, à época, que tanto o Serviço, quanto o IBGE, estavam eminentemente voltados para o reconhecimento cartográfico do país, não havendo entre os dois órgãos diferenças quanto aos principais objetivos a serem alcançados. [11]

 

Aliás, quanto a formação dos quadros técnicos, muito contribuiu uma expedição de austríacos, sendo que alguns deles resolveram fixar residência. Por exemplo, o Sr. Rudolf Langer ( 1884-1952 ) foi um destes .

 

Rudolf Langer

 

Em 1920, quando apenas surgia o Serviço Geográfico Militar, o Governo Brasileiro contratou um grupo de técnicos de notável saber em assuntos cartográficos egressos do tradicional e conceituado Instituto de Viena, onde pontificaram grandes vultos da Geodésia, Astronomia, Fotogrametria, Topografia e Cartografia.

Entre eles veio, ainda moço, mas com grande soma de serviços prestados à sua pátria de origem, Rudolf Langer que, a partir de 18 de setembro de 1920, ingressou no Serviço, como Chefe de Cartografia. .[12]

            Além da inestimável contribuição que deu a toda produção cartográfica do Serviço Geográfico, desde que nele ingressou até a sua morte, coube, ainda, a Rudolf Langer, formar inúmeros desenhistas-cartógrafos e concorrer para a formação de várias turmas de oficiais engenheiros geógrafos militares enquanto professor do antigo Instituto Geográfico Militar e da Escola Técnica do Exército.

            Em artigo publicado no Anuário nº 17, 1967, p. 38 ss., intitulado - Um  Currículo Novo Para o Curso de Geodésia do IME e a Tradição do Exército no Mapeamento do País -do então Gen. R/1 Moysés Castello Branco Filho, engenheiro militar geógrafo, consta  que, em 1919, o Exército Brasileiro contratou a Missão Cartográfica Austríaca, integrada por notáveis engenheiros geógrafos militares, para o planejamento da carta do Estado da Guanabara ( antigo Distrito Federal ) e organização da Escola de Engenheiros Geógrafos Militares. A carta do Estado da Guanabara, planejada pela Missão Austríaca e levantada pelo recém-criado Serviço Geográfico Militar, foi premiada com medalha de ouro na Exposição Nacional comemorativa do 1º centenário da nossa independência política ( 1922 ).

 

            Conforme o texto ( p. 39 ):

 

Ainda em 1919, ano marco no calendário militar do Brasil, o Exército contratou também a Missão Militar Francesa, dirigida pelo General Gamelin, Chefe de renome na 1ª guerra mundial, com a finalidade mais alta de reestruturar a organização do Exército e o ensino militar no Brasil.

O plano de ensino da Missão Francesa compreendia as Escolas de Aperfeiçoamento de Oficiais, de Estado-Maior e a Escola Técnica do Exército ( Decreto 13.451, de 29 de janeiro de 1919 ). As duas escolas profissionais foram criadas, mas a Escola Técnica só o foi em 1928.

Em 1941, em virtude da ampliação da Escola Técnica ( atual Instituto Militar de Engenharia ) e de sua transferência para a sede da Praia Vermelha, a Escola de Engenheiros Geógrafos Militares foi a ela incorporada com a designação de “Curso de Geodésia e Topografia”.

A matrícula nos cursos da Escola Técnica procedia-se mediante concurso, facultado aos oficiais das armas. De 1941 a 1951, nenhum candidato se apresentou para o Curso de Geodésia.

O quadro de oficiais engenheiros do Serviço Geográfico esvaziava-se e os seus trabalhos ameaçavam paralização. A crise foi removida pela criação do Curso de Topografia, anexo à Escola Técnica, aberto aos oficiais das armas por indicação do Estado_maior do Exército. Aos oficiais diplomados nesse curso profissional, foi assegurada matrícula no Curso de Geodésia.

De 1952 a 1958, foram diplomadas seis turmas de oficiais topógrafos que prosseguiram os estudos no Curso de Geodésia, mediante pré-requisitos diferentes dos demais cursos da Escola Técnica. A solução foi mal recebida pela direção do ensino de engenharia na Escola Técnica.

Em 1959, a lei nº 3654 de 4 de novembro, dá nova estrutura aos cursos do Instituto Militar de Engenharia ( antiga Escola Técnica do Exército ), extingue o “Curso de Topografia” e dispõe sobre o recrutamento de oficiais para o Curso de Geodésia através de dois anos básicos de estudo de engenharia na AMAN, como os demais cursos do IME.

Aí se esboça a crise atual, com a falta de candidatos voluntários à matrícula no curso de Geodésia.

...

p.40 Em 1967 e 1968, ameaçado novamente de esvaziamento o Quadro de Engenheiros Geógrafos da DSG, foram feitas matrículas compulsórias no “Curso de Geodésia”.

...

p. 45 Disse o eminente professor Allyrio Hugueney de Mattos, em recente palestra, no IV Seminário de Ensino e Pesquisa Cartográficos, promovido pela Sociedade Brasileira de Cartografia, em novembro corrente: “Sòmente em 1954, foi criado na Escola Nacional de Engenharia o Curso de Engenheiros Geógrafos, com um currículo mais completo. Durante quatro anos, esse curso funcionou com um número reduzidíssimo de alunos, mas deixou de funcionar por absoluta falta de pretendentes, e até hoje continua parado”.

 

 

 

 

Cel. Armando Assis

 

            Ao acompanharmos o relato de sua vida, fica-nos mais claro a própria evolução da capacitação dos quadros do Serviço Geográfico do Exército. Por exemplo, o Sr. coronel Armando Assis, geógrafo[13], falecido em 1957, era tenente em Bagé ( RS ), matriculou-se na Escola de Estado-Maior cujo programa, tal como sucedia na Escola Militar, comportava algumas matérias eruditas, de pouca aplicação imediata nos Comandos ou na Tropa. Fez, então, farto conhecimento de Astronomia e Geodésia, conhecimentos esses que o tornaram particularmente apto a ingressar na Comissão da Carta Geral do Brasil, o que sucedeu durante a chefia do Capitão Chefe Interino Arthur do O’ de Almeida.

            Servir na Carta, na época, era a aspiração de muitos oficiais com vocação para a Engenharia e que, por motivos ocasionais ou imperiosos, destinavam-se às demais Armas. Dada a tarefa gigantesca atribuída à C. C. G. B., suscetível de se estender por decênios, os oficiais que nela ingressavam, dispunham-se a ficar por muito tempo.

            A falta de um Instituto Geográfico era suprida pela existência, na Carta, de uma Escola, como que “doméstica”, de engenheiros; e era, segundo Assis,  a mais grata e jamais desmentida impressão dos novatos: a Carta era uma família gigante, unida em plenitude de harmonia. Os Oficiais veteranos, sem prejuízo de suas própria missões, incumbiam-se de iniciar os estreantes nos mil e um segredos e subtilezas da técnica cartográfica.

            Segundo o relato do Gen. Div. Roberto Pedro Michelena ( 1956, p. 394 ) :

 

  “Armando Assis veio para ficar até o fim! Filho dos Pampas, habituado à vida campeira, encantou-o o calendário anual de trabalhos: primavera, verão e outono, na fronteira, para medir; inverno, na Sede, para calcular, desenhar e, no setor doméstico, estabelecer o justo convívio da família.

Ele evidenciou, logo, espontânea vocação de geógrafoa. Era mais do que vocação; verdadeira fascinação pela Cartografia. Dedicou-se-lhe de corpo e alma. Era a vida simples e primitiva do gaúcho a serviço da técnica, apoiada esta, de modo geral, nos ensinamentos franceses, salvo a Alta Geodésia, trazida por Tasso Fragoso no convívio dos livros e dos próprios autores alemães.

A “Turma do Capitão Assis” tornou-se um paradigma de trabalho. Armava-se barraca em último caso, pois o bom mesmo, no verão, era dormir debaixo da carreta, para maior rendimento do roteiro geodésico. Havia na Carta muito chefe de Turma madrugador a quem o cozinheiro acordava após fazer o fogo. Mas na Turma Assis era este quem acordava o cozinheiro e com ele chimarreava democraticamente, apreciando a policromia cambiante do nascer do sol, coroando o ondulado horizonte da coxilha.

 

            Continua o relato ( p. 395 ) :

 

Isso foi em 1940. Oito anos antes, a velha Carta desaparecera, transformada na atual 1ª DL [14] , subordinada ao Serviço Geográfico do Exército, centralizado no Rio. O Cel Assis tornou-se, então, o oráculo dos novos geodesistas, agora já diplomados pelo Instituto Geográfico Militar sediado no Morro da Conceição. Atrapalhado, às vezes, pelo infindável cigarro crioulo encardidor das pequenas mãos morenas, pois também ele era de pequeno porte, - desfazia-se em carinhosa e brejeira atenção para com os novos Engenheiros, rechiados de teorias flamantes e excessivas. E, enquanto os colegas – aprendizes quebravam a cabeça nas tábuas logarítmicas, ele fazia coordenadas conformes, com cujo valo, é evidente, conformavam-se alegremente os fregueses de caderno ... Sim, por ele tinha um invejável espírito prático. Para longe, fórmulas e gabaritos! Improvisava, em cima do joelho, fáceis tabelas, de enorme utilidade, muitas das quais, ainda em uso, constituem valioso legado técnico.

Nos últimos anos de plena validez, apaixonou-se pelo problema das projeções. E com razão, dada a felicíssima aplicação ao nosso imenso território pátrio, do sistema conforme de Gauss, baseado nos fusos de seis graus. Já na Reserva, visitava os camaradas, ora na sede da 1ª DL, ora nas residências, matando saudades e sugerindo soluções práticas aos novos problemas, concorrendo, assim, para estimular, em contagiante entusiasmo, as novas gerações de geógrafos.

 

            Para ultimarmos o trabalho, destacaremos, a seguir, episódios que marcam direta, ou indiretamente, o Serviço Geográfico do Exército. 

 

·        Cronologia [15]

 

1810- Academia Real Militar – 1ª escola de formação de Geógrafos Militares, criada por Carta Régia, de 04 Dez (curso de 8 anos)

 

1873 – Comissão da Carta do Império

- Levantamento de itinerários e de Posições Geográficas

 

1878 – Extinção da Comissão da Carta Geral do Império

 

1890 – Criação do Serviço Geográfico, pelo Decreto 451-A de 31 de maio, inicialmente anexo ao Observatório do Rio de Janeiro e depois transferido para o Ministério da Guerra.

 

1896- Elaboração da Carta Geral da República

 

1903 – A Carta Geral do Brasil – Encarregada da 3ª Seção do EME de executar o Projeto da Comissão da Carta Geral do Brasil. O Aviso nº 801, de 27 de março de 1903, aprova as instruções para o início dos trabalhos da Comissão da Carta Geral do Brasil, a qual foi instalada em Porto Alegre ( RS ), a 28 de junho de 1903.

 

1911 – O Maj Alfredo Vidal considerado fundador do Serviço Geográfico mantém correspondência com a Casa Zeiss, acompanhando o advento do estereoautógrafo PULFRICH-OREL nas operações topográficas.

 

1917- O Serviço Geográfico Militar é progressivamente organizado na Fortaleza da Conceição, a partir deste ano.

 

1920 – A Missão Austríaca chega ao Brasil no dia 14 de outubro, composta de vinte e um elementos altamente especializados.

 

1922- Levantamento de cartas topográficas do Distrito Federal ( município do Rio de Janeiro ), comemorativas do 1º Centenário da Independência do Brasil, impressos em sete cores e tendo curvas de nível.

-   A carta do Distrito Federal, de escala original 1:50.000, em certos trechos ( Vila Militar ), foi desdobrada nas escalas de 1:20.000, 1:10.000 e 1:2.000, e serviram de base à  Instrução de Tática da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, dirigida pela Missão Militar Francesa, e dos Corpos de Tropa da Vila Militar.

 

1923 – Foi adquirido, da Mitra, o Palácio da Conceição, que aumentou o acervo do Serviço Geográfico.

 

1927 – O SGE adquire equipamentos para restituição e tomada de fotos aéreas.

 

1930- Criação do Instituto Geográfico Militar ( Fortaleza da Conceição ), Rio de Janeiro.

 

1931 – Diplomada a 1ª turma de Engenheiros Geógrafos, constituída de 14 oficiais do Exército e 1 oficial da Marinha.

 

1932- O Serviço Geográfico Militar, passou, pelo Decreto 21.883, de 29 Set. de 1932, a designar-se Serviço Geográfico do Exército e a Comissão da Carta Geral deu origem à atual 1ª DL, com sede em Porto Alegre. Foi criada a 2ª Divisão de Levantamento (2ª DL) do Serviço Geográfico do Exército, com sede no Rio de Janeiro, pelo Dec. Nº 21.883, de 29 Set 32.

 

1938 – O Serviço Geográfico do Exército passou a chamar-se Serviço Geográfico e Histórico do Exército, por Dec. Lei nº 556, de 12 Jun 38.

 

1938 – Conselho Nacional de Geografia - Dec nº 237, de 02 Fev, atribuiu a 1ª emissão que foi a de elaborar a Carta do Brasil na escala de 1:1.000.000

-         Conselho Nacional de Geografia do IBGE criado pelo Dec. Lei nº 218, de 26 Jan 1938.

-          

1939- Foi extinta a 2ª Divisão de Levantamento, por aviso nº 29, de 31 Maio 39.

 

1940-Plano Geral da Cartografia apresentado pelo Serviço Geográfico do Exército ao Conselho Nacional de Geografia.

 

1940- O Instituto de Geografia Militar passou a chamar-se Escola de Geógrafos do Exército.

 

1941 – A Escola de Geógrafos do Exército foi incorporada à Escola Técnica do Exército com a designação de “Curso de Geodésia e Topografia” ( Praia Vermelha )

 

1944- Criação do Conselho Nacional de Geografia no IBGE, desdobrado nas Divisões de Geografia e Cartografia e de Geodésia e Topografia.

 

1945 – Criação do Quadro de Topógrafos do Serviço Geográfico do Exército pelo Decreto-Lei nº 8.445, de 26 de dezembro de 1945.

 

1946 – Regulamentadas as atividades da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército.

-         Criação da 2ª DL da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército, com sede em Ponta Grossa-PR, em 01 Out 46.

-         A Diretoria do Serviço Geográfico do Exército passou à subordinação do Departamento Técnico de Produção ( DTP ), por Dec. nº 21.738, de 30 Ago 46.

-         Normas sobre a Cartografia Brasileira – Dec. lei nº 9.210/46

 

1958- Sociedade Brasileira de Cartografia – fundada em 28 Out.

 

1961 – Grupo de Trabalho do Estado Maior das Forças Armadas para apresentar – “Bases e Diretrizes de uma Política de Coordenação e Planejamento do Levantamento Cartográfico Brasileiro propondo o CONCAR ( Conselho Nacional de Cartografia ).

 

1965-Divisão de Geodésia e Cartografia do IBGE inicia trabalhos de mapeamento topográfico.

 

1967- Dec. Lei nº 243, de 28 Fev 67, fixa as Diretrizes e Bases de Cartografia Brasileira e dá outras providências, inclusive a criação da COCAR, Comissão de Cartografia, incluída na organização da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

1972- A Diretoria do Serviço Geográfico é transferida para Brasília-DF, por Portaria Ministerial número 1098, de 25 Out 72 ( e instalada em 22/1/73 ).

 

1985 – Ao final do ano, 98,9% do território brasileiro encontrava-se mapeado, sendo que 61,2% veio a ser mapeado pelo Serviço Geográfico, 30,5% pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e 7,2% por terceiros.

 

 


·        Conclusões

 

Ao perscrutarmos a história do Serviço Geográfico do Exército deparamo-nos com uma história plural, pois nela se verifica uma multiplicidade de fatores que estão apenas superficialmente representados em rápidos episódios ao longo dos dados coletados sobre a entidade.

      A relação entre a entidade e a cartografia é muito clara, daí surgir dois aspectos de sobremaneira importante para a nossa investigação, ou seja, no Brasil, em dado momento, os destinos de ambos se cruzam, assim, na virada dos séculos XIX para o seguinte, a constituição de uma força armada capaz no país tinha de dispor de um elementar meio informativo detalhando os principais aspectos do território brasileiro através de uma boa cobertura cartográfica do país; a própria cartografia, enquanto campo disciplinar, viria a alcançar a sua própria valorização a partir deste projeto.

Levando em conta este aspecto, notamos que o Serviço Geográfico do Exército, enquanto instituição, após um lento processo de formação, encontrar-se-á definitivamente formado ao final da década de 40, já a disciplina cartografia, pelo contrário, adquirirá maior maturidade em termos de entidades que a representem, ao longo da década de 60.

      No cruzamento da evolução histórica das duas partes em pauta, nota-se, ainda, que, num certo período, as duas confundiam-se, pois, com o Serviço Geográfico do Exército incumbido de produzir mapas mais detalhados que os do IBGE, o Serviço foi levado a ter um notório acervo técnico e de quadros técnicos que até então não se via paralelo na sociedade civil. O mapeamento do Brasil, num dado momento de sua história, foi algo extremamente estratégico, particularmente nos períodos de 1930-1970, no qual o Exército desempenhou um notório serviço.

      Pelo lado da cartografia, por sua vez, tivemos uma notória evolução nos últimos anos, quando, paulatinamente, sai de uma imediata esfera eminentemente militar para galgar novas plataformas de ação que não mais se identificariam com a questão estratégica de se cobrir territorialmente o país com mapas, já que esta função veio a ser finalizada ao longo dos anos 80 do século passado. Este aspecto de autonomia disciplinar trás um efeito na sua relação com a geografia, pois, à época, a primeira estava subentendida na segunda de modo que uma caracterização geográfica configuraria, automaticamente, numa representação cartográfica, tendo sido este aspecto alterado com o tempo.

            Afora este aspecto cabe frisar outros.

            Um que chama a nossa atenção, paralelo à extrema precariedade dos meios utilizados para se realizar os primeiros mapeamentos do país, o que desembocava numa morosidade do processo, foi a busca incessante de alguns militares em estar a par do que ocorria nas nações mais desenvolvidas. De modo que, em termos gerais, podemos destacar a forte influência que o Serviço Geográfico trouxe da herança lusitana, particularmente do Real Archivo Militar, em seguida a influência da missão austríaca, e, mais tarde, a influência norte-americana, particularmente a partir dos esforços de guerra implementados durante a 2ª Guerra Mundial.

            Estas grandes marcas da influência estrangeira, combinadas com as visitas técnicas que faziam parte da formação dos oficiais, ensejavam a divulgação de técnicas que não deixavam o país, de todo, desatualizado das inovações ocorridas na área.

            Outro aspecto que nos chama a atenção vem a ser o cuidado, à época da formação do Serviço Geográfico com duas áreas sensíveis em termos de segurança, a saber: a então capital federal, localizada na cidade do Rio de Janeiro, e o estado do Rio Grande do Sul, onde de fato foram iniciadas os levantamentos geodésicos no país.     Este aspecto chama a atenção para o fato de que o Rio Grande do Sul, até a criação do Mercosul durante a década de 80, detinha a fronteira mais sensível do Brasil, estando nela concentrada a nossa maior capacidade bélica. Sendo esta a razão da primeira Divisão de Levantamento  ter sido sediada justamente neste estado, enquanto a segunda Divisão, inicialmente localizada no Rio de Janeiro, veio a ser transferida para Ponta Grossa ( Paraná ), e mais tarde para Brasília.

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Bilbiografia

 

ABREU, Ten. Cel. Luiz E. F.( 1954 ) - “O sistema UTM e a quadricula universal das cartas militares” In Anuário nº 4, de 1951-1952, pp. 135 ...

ABREU, ten. cel. Luiz E. F.( 1954 ) - VI Reunião panamericano de consulta sôbre cartografia - In Anuário de 1951-1952, pp. 209 ss.

CARLOS, Lasinha Luis ( 1955 ) – Onde dorme a história In Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico, 1953-1954, Rio de Janeiro: Ministério da Guerra.

CASTELO BRANCO FILHO, Gen. R/1 Moisés ( 1967 )  Um currículo novo para o curso de geodésia do IME e a tradição do exército no mapeamento do país- In Anuário do Serviço Geográfico  nº 17,pp. 38 ss.

CASTELO BRANCO FILHO, Cel. Moisés ( 1954 ) - A escola de engenheiros geógrafos militares e o Curso de geodésia e topografia da E.T.E - In Anuário do Serviço Geográfico de 1951-1952, nº 4, pp. 69-75.

CASTELO BRANCO, Ten.cel. Moisés ( 1949 ) - Comissão da carta geral do Brasil In Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército, nº 1, 1948, Ministério da Guerra, Serviço Geográfico, Rio de Janeiro, pp. 59 ss.

CASTELO BRANCO, Ten.cel. Moisés ( 1949 ) - “Mapa dos milhões” In Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército, nº 1, 1948, Ministério da Guerra, Serviço Geográfico, Rio de Janeiro, pp. 243.

COELHO, Cel. Djalma Polli ( 1954 ) - Geógrafos, cartógrafos e demarcadores - In Anuário do Serviço Geográfico de 1951-1952, nº 4, pp. 35-47.

COELHO, Gen. Djalma Polli ( 1949 )– Introdução geral – In anuário do Serviço Geográfico do Exército de 1948 , nº 1, pp. 5-6.

FRAGOSO, Capitão Tasso ( 1967 ) -  Serviço geográfico no Brasil – In Anuário do Serviço Geográfico, nº 17, pp. 303 ss.

MICHELENA, Gen. Div. Roberto Pedro ( 1957 )– Armando de Assis – In Anuário do Serviço Geográfico, de 1956, pp. 393-394.

RAISZ, Erwin ( 1969 ) - Cartografia geral. Trad. Neid M. Schneider et allii  Rio de Janeiro, Ed. Ciêntífica.

 

Anuários consultados

 

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército, nº 1, 1948. Ministério da Guerra, Rio de Janeiro, 1949.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Rio de Janeiro, nº 4, 1951-1952, editado em 1954.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, 1953-1954, de 1955.

ANUÁRIO do Serviço Geográfico, Rio de Janeiro, 1956, editado em 1957.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Rio de Janeiro, 1960.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Rio de Janeiro, nº 16, 1966.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Rio de Janeiro, nº 17, 1967.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Rio de Janeiro ( GB ), nº 20, 1971.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Brasília, nº 22, 1973/78.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Brasília, nº 23, 1979.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Brasília, nº 24, 1980.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Brasília, nº 25, 1981.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Brasília, nº 26, 1982.

ANUÁRIO da Diretoria do Serviço Geográfico, Ministério do Exército, Brasília, nº 29, 1985.

 

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[1] Prof. Adjunto do Departamento de Geografia da UFF. E. mail: helio@vm.uff.br

[2] Este artigo veio a ser reproduzido no livro Cartografia geral de Erwin Raisz ( 1969 ), enquanto apêndice.

[3] Na Bilioteca Nacional ( Rio de Janeiro, RJ ) é possível ter acesso ao Relatório Final da Comissão da Carta Geral do Império com o código de 0000299259 na seção de periódicos.

[4] De um certo modo a cartografia brasileira só viria a se constituir num campo autônomo em relação à geografia durante o século XX, vindo para isto, contar com o Instituto Panamericano de Geografia e História que, durante a Sexta Conferência Internacional dos Estados Americanos, em 1928, realizada em Havana, fomentou a cartografia ao estabelecer três comissões, a da geografia, a de história e da cartografia. De modo que o êmulo do campo da cartografia é dado pela geografia, porém, o endosso deste incentivo decorre de uma estratégia promovida pela Organização dos Estados Americanos !

Sobre este aspecto há um interessante artigo - VI Reunião panamericano de consulta sôbre cartografia - do ten. cel. Luiz E. F. Abreu e que pode ser encontrado no Anuário de 1951-1952 de 1954, pp. 209 ss.

[5] In Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico de nº 4, 1951-1952, edição em 1954, pp. 69-75.

[6] Cabe destacar, ainda, dois aspectos: 1º ) em 1938 foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2º ) ainda neste ano foi editado a lei 311 no mês de março que tornava obrigatória a confecção, por cada prefeitura do Brasil de seu mapa no intuito de dirimir dúvidas quanto as suas limitações. Ficou ao encargo do IBGE a edição conjunta dos mapas a ele entregue; tal edição aconteceu, em Curitiba, com uma grande exposição dos mapas municipais, em 1942.

Mas a diferença destes mapas para aqueles produzidos pelo exército encontrava-se na precisão das informações. No exército, usava-se tanto o método geodésico ( o da triangulação ) e/ou astronômico ( calculando-se a latitude e a longitude ) . Já  os mapas municipais, realizados pelas prefeituras, se pautavam nas ementas das divisas municipais que não raro trazia sobreposição de informações com ementas de outros muncípios.

 

Em nosso trabalho sobre a região de Cantagalo ( RJ ), por exemplo, em entrevista com o Sr. Guinâncio de Santa Maria Madalena em 1995, este relatou-nos, quando jovem, ter participado da confecção do mapa de seu município na época ( década de 30 ), usando para isto o podômetro, um aparelho que calcula a distância média a partir do número de passos dados pela pessoa que o manuseia. Deste modo, ele e mais dois funcionários ( um dos quais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ) delimitaram Santa Maria Madalena percorrendo a pé seus limites !

[7] In Polli, Anuário de 1949, p. 7.

[8] Segundo uma entrevista com o Prof. Orlando Valverde em maio de 1994, estes austríacos teriam vindo para o Brasil foragidos das conseqüências da 1ª Guerra Mundial, e estando no Rio de Janeiro, passaram a promover as primeiras fotografias aéreas da cidade.

[9] Nesta época a Escola de Engenheiros Geógrafos do Exército foi constituída, sendo que em 1940 o diretor desta era o então tenente coronel Djalma Polli Coelho. Tendo, inclusive, participado do IX Congresso Brasileiro de Geografia, em Florianópolis ( SC ). ( Abreu, Anuário de 1952, p. 137 )

[10] Pelo Anuário nº 22 ( 1973-1978 ) é noticiado que em 22 de janeiro de 1973, a sede do Serviço Geográfico foi transferida para Brasília.

[11] Em artigo publicado no Anuário nº 17, 1967,[11] p. 37 ss., intitulado - Um  Currículo Novo Para o Curso de Geodésia do IME e a Tradição do Exército no Mapeamento do País - do então Gen. R/1 Moysés Castello Branco Filho, engenheiro militar geógrafo, consta  que no Brasil, , a Diretoria do Serviço Geográfico do Exército é o órgão militar incumbido do mapeamento territorial do Brasil. O Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ) é a entidade estatal civil participante desse empreendimento nacional.

[12] . In Anuário de 1953-54 ( pp. 311-313 ) do ano de 1955.

[13] In Anuário de 1956 ( editado no ano de 1957, pp. 393-394 ), retratado pelo Gen. Div. Roberto Pedro Michelena

[14] 1ª Divisão de Levantamento , sendo que Armando Assis, já como coronel, veio a ser seu chefe, porém sem se dispor a usar o carro oficial que costumava acompanhar o ocupante do cargo.

[15] Informações obtidas no Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico, nº 29, 1985.