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Revista geo-paisagem (on line) Ano 12, nº 24, 2013 Julho/Dezembro de 2013 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi Revista classificada pela CAPES |
Transformações recentes no
espaço urbano do Centro de Niterói.
Felipe Fernandes
felipefernandes18@gmail.com
Resumo:
O
presente trabalho pretende expor algumas contradições inerentes à cidade de
Macaé, no Rio de Janeiro, que tem como principal atividade, ser a “Capital
Nacional do Petróleo” pois é responsável pela maior produção de petróleo e gás
natural do Brasil.
Em
uma época em que se discutem novas leis relativas à distribuição de royalties,
é também necessário discutir o destino que esses valores vêm ganhando ao longo
dos anos e o que a população das cidades contempladas pode esperar para o
futuro, quando se conclui que a riqueza em questão é finita.
Palavras
chave:produção, petróleo,riqueza, futuro.
Abstract:
The present study aims to expose
some contradictions inherent to the city of Macae in Rio de Janeiro, whose main
activity is the "National Oil Capital" because it is responsible for
the largest oil and natural gas production in Brazil.
On a time in which they discuss new laws concerning the distribution of royalties, is also necessary to discuss the destination that these values have gained over the years and what the population of cities contemplated can expect for the future, when it concludes that the richness in question is finite.
Keywords:production, oil, wealth, future.
Este artigo é fruto da construção da pesquisa realizada ao longo
do período de 2012-2013 de modo acadêmico e de maneira “informal” da vivência
do cotidiano do autor em habitar o bairro central de Niterói e perceber as suas
transformações urbanas. No campo teórico, as novas territorialidades e
percepções de uso do território se da pela contribuição de importantes autores
tais como: Becker (1990); Corrêa (1993 e 1996), Saquet & Sposito (2009)
Sposito (2006) dentre outras importantes contribuições. Neste presente
trabalho, buscará ampliar as ideias dos principais autores e suas influências
na construção do conceito de território pautado inicialmente pelos seguintes
autores: Moraes (1989) Raffestin (1993)
Sack (1996) Souza (1995) Santos (1996 a; 1996 b; 1998 e 2001); Haesbaert (2002
e 2004) e Lima (2008).
Após
a breve concepção de território, será lançado mão das formas de intervenção
urbana dos principais atores: A sociedade civil dando novas formas de uso a tal
espaço urbano, em especial ao reintroduzirem a função urbana ao bairro , como e
o porquê este grupo social de padrão socioeconômico “elevado” volta para o
Centro; O poder público tem feito as intervenções recentes, utilizando de
instrumentos do Estatuto da cidade e da Constituição como forma de promoção do
bairro e sob a nuança de um projeto/discurso político partidário que se
mobiliza em prol de um grupo econômico e social dito privilegiado
(Principalmente as parcerias públio-privada); Este grupo econômico, formado
pelas empresas de promoção imobiliária em especial são os principais atores na
transformação do espaço.
Por fim, o resultado de tal pesquisa ao longo dos será o mapa das intervenções que representam inicialmente as formas de territórialização de bairro sob o discursos de “revitalização” e o quadro síntese do perfil das transformações urbanas do bairro. Ao fim, levanta-se criticas a manutenção de políticas urbanas que duvidosamente busca de uma sociedade mais justa, democrática e menos desigual.
Base teórico-conceitual
A ideia de território para a ciência
geográfica pode se compreendida segundo Antonio R. Moraes (1989) ao enaltecer a
importância de Ratzel, que introduz o território enquanto a “área que alguém
possui, o espaço dominado por uma comunidade ou Estado”. Destaca ainda a teoria
social de Marx como qualificador do espaço e por assim gerador de um
território, na qual o uso qualifica o espaço.
Forma-se então a tríplice população-recurso-território para compreender
o estado capitalista.
Para Claude Raffestin (1993) em sua
importante obra “Por uma Geografia do Poder”, o território se forma a partir do
espaço na qual os “atores” se apropriam e assim territorializam o espaço. Assim
cabe destacar alguns aspectos que Avançam na conceituação. Primeiro apontam as
intencionalidades do território construído e a sua representatividade;
Posteriormente destaca a relação de poder que se estabelece no choque de
interesses dos atores sobre o espaço e por ai o ponto gerador de
conflitos/embates; A noção de “território-rede” como articulação de controle e
integração entre territórios, com hierarquia, destacando um sistema territorial
de produtos e meios de produção.
Raffestin apresenta o que seria para ele
a territorialidade o chamado “vivido territorial” na qual
“(...)
a territorialidade pode ser definida com um conjunto de relações que se
originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a
maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema” (p.160)
Em Sack (1986) A ideia de
territorialidade vincula-se a estratégia de controle de pessoas ou coisas numa
dada área enfatizando assim o poder social. Destaca o poder de influencia das
ações não só nos seres humanos para além deles. Cabendo assim a luta cotidiana
pela manutenção do controle sobre uma dada área geográfica.
Em “ O Território sobre espaço e poder,
autonomia e desenvolvimento” Marcelo Lopes de Souza é categórico ao compreender
o território como “um espaço definido e delimitado por e a partir das relações
de poder” (p.78). Num primeiro momento fica evidente que o território se dá sem
uma noção de escala definida como anteriormente era diretamente vinculada a
noção de Território Nacional (Estado Nacional).
Para o referido, a noção de território para a geografia política liga-se
a um espaço concreto em que se estabelece a dominação e exerce o poder.
Apresenta o território de forma
descontínua na qual se articula internamente territórios e territórios
contínuos onde se sobrepõem territórios e a dominação geográfica.Por fim cabe
destacar a territorialidade remetendo a ações de poder espacialmente
delimitadas operando num substrato referencial.
Avançando sobre a contribuição de Milton
Santos em dado momento pode perceber alguns aspectos a serem destacados: em “o retorno do território” e corroborado na
obra “A Natureza do Espaço” destaca o papel social no uso do território com
objetos e ações que funcionam sob as horizontalidades e verticalidades, através
do rearranjo territorial a partir das redes e das técnicas. Ao afirmar que o
“território é humano” destaca o controle das técnicas de produção e da
política, resultando conforme o exposto:
“O
resultado é a aceleração do processo de alienação dos espaços e dos homens, do
qual um componente é a enorme mobilidade atual das pessoas” (Santos; 1996 b; p.273)
Na qual pode ser interpretado que a
fluidez construído pelas redes articuladas podem transformar as relações no
território ao mesmo tempo sólido mas instável na produção do espaço. O
“Território usado” como dinâmica formada por um sistema de objetos e ações
vinculadas ao dinheiro que margeia este território.
Santos (
Em Santos & Silveira (2001) o mesmo
território é usado e apropriado de acordo com interesses de quem o domina.
Assume assim a visão de unidade e diversidade destacando a complexidade de seu
uso como nos sistemas de infraestrutura e no dinamismo econômico e social. A
noção de territorialidade como “aquilo que nos pertence” visto que o
desenvolvimento tecnocientífico favorece a importância do território enquanto
condicionante a localização das pessoas.
Para Haesbaert, o conceito de território
em uma das suas perspectivas decorre da apropriação material e política de
grupos dominantes que o fazem a partir de uma identidade definida. Em momentos
históricos diferentes, o conceito de território foi se tornando cada vez mais
influente na disciplina. Neste sentido, três dimensões que o território assume
ao longo da sua construção conceitual são percebidas: uma percepção do controle
político-natural; o controle operacional mais técnico e o território
socialmente produzido
Assim, o território pode ser
compreendido:
“(...)
o produto de uma relação desigual de forças envolvendo o domínio e o controle
político-econômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e
mutuamente reforçados ora desconectados e contraditoriamente articulados”
(Haesbaert; 2002; p. 121).
Ainda
em Haesbaert(2002), cabe destacar a influencia do conceito de Território tem
superado o campo de atuação da Geografia e conceituado por outras disciplinas
das ciências sociais.
Por fim cabe destacar em seu texto “Para
pensar o conceito de território”, Lima (2008) sintetiza os núcleos do conceito
de território conforme destacado: controle; autonomia; consciência; limite e
sujeito. Assim na Geografia, o território consolida-se como categoria de
análise, pois destaca a ação de controlar um dado espaço e se apropriar a
partir das relações existentes sobre um dado espaço geográfico.
Portanto, a concepção de território usualmente trabalhada destaca-se pelas relações de poder em múltiplas escalas na qual o território se dá por uma dada área na qual os atores disputam o poder e a sua influência sobre uma dada área. Assim, o território é utilizado a partir de quem (neste caso atores promotores do espaço urbano) domina e controla tal área independente da rigidez escalar proveniente podendo ser desde pequenos espaços a espaços de influência global. Assim o território é multiescalar, podendo ser dominado e controlado por diferentes grupos em diferentes momentos num mesmo assoalho geográfico.
Os Papeis dos atores na nova territorialidade do Centro de Niterói:
Um dos fenômenos urbanos a se destacar neste novo arranjo espacial do Centro de Niterói é a intensificação do processo de verticalização do bairro. O espaço socialmente produzido vem se modificando quanto a estrutura, processos, suas formas e a sua função. Mesmo tendo a principais vocações a prestação de serviços e o comércio, há de se destacar a valorização da função residencial do Centro de Niterói.
Uso social do território
O estímulo ao uso habitacional do Centro tem sido recente. Este movimento poderá ser melhor visualizado a longo prazo. Ao observar os dados estatísticos dos 5 últimos censos do IBGE, pode se perceber que o percentual de participação da população total do município vem diminuindo gradativamente com um leve crescimento no último Censo, a População teve a seguinte variação:
ano:
1970__ 22.729 residentes
ano
1980 __22.528 residentes
ano
1991__ 21.632 residentes
ano
2000__ 18.487 residentes
ano
2010__ 19.349 residentes
Ao analisarmos as estatísticas
populacionais nos últimos 40 anos (de
É importante salientar que os mesmo fatores que levaram a sua relativa perda populacional, hoje, pode ser considerada como colaborativos com a nova fase de crescimento demográfico da cidade. Antes degradado fisicamente, sem investimentos públicos de infraestrutura e sem o devido cuidado por parte do poder público, o Centro foi abandonado fato que foi “assumido” pelos governantes. Hoje, com as promessas de investimentos prometidos para a área, as ações já executadas, o reaquecimento do comércio, além da facilidade de locomoção, a acessibilidade a serviços/ comércios, sua proximidade com o Centro da capital do estado, surgem como fatores de externalidades que promovem a valorização locacional do bairro.
Poder Público
A
atuação do Poder público nas suas diversas esferas tem como principal função
criar ações e estratégias, além de intervir direta ou indiretamente na produção
do espaço urbano, e em alguns casos, para o bem social, pode agilizar/facilitar
a acumulação capitalista. Cabe a este ator, atuar instalando e fazendo a
manutenção da infraestrutura urbana que na lógica espacial capitalista leva a
produção e apropriação do lucro principalmente por outros atores e assim,
facilitar seu uso no circuito de monetário dos empreendimentos imobiliários. A
sua presença pode ser evidenciada através das políticas urbanas, nos projetos
de reforma urbana e em programas governamentais cujas transformações na
produção do espaço encaminham para a construção da base estrutural que vai
sustentar e beneficiar a atuação dos outros atores.
Na
segunda categoria, pode ser identificado a participação do poder público a
partir da concessão para empresas particulares (privadas) que vai ser
responsável pela prestação e instalação dos serviços de infraestrutura já
citadas. Neste caso o poder Público também pode lançar mão de intervenções para
a promoção fundiária como nos aponta Kleiman: “(..) a criação de uma base legal
para facilitar a transferência de terras; pela abertura de novas terras para a
promoção, via gastos em infraestrutura; pela manutenção dos valores da terra
através de controle do uso do solo (...) (Kleiman, 2004, p.10).
Seguindo
a análise deste ator, no estágio atual do capitalismo monopolista, o poder
Público encontrou sua forma de atuação na produção econômica e social do
espaço, assumindo suas responsabilidades frente à questão urbana. Tanto na
escala local, regional e nacional, cabe destacar as ações empreendedoras (o
empresariamento urbano) como forma de promover o lugar e assim obter seus
benefícios.
Tendo
como base as ações executadas nos programas de produção espacial no Centro de
Niterói, as instâncias de poder assumem diferentes funções com pesos
diferentes. Em alguns momentos é o poder público federal que estimula a
produção espacial, em outros momentos entra em cena o Governo do Estado do Rio
de Janeiro e também o poder municipal da cidade, e assim, atuando individual ou
em parcerias.
Neste
caso, analisaremos os discursos e ações da municipalidade. Foram elaborados
projetos, declarações e promessas políticas e algumas ações foram pensadas e
executadas com intuito de “melhorar” o centro de Niterói, e valorizar este
bairro, importante para a “história e o desenvolvimento da cidade”.
O empreendedorismo da governança
urbana reafirma os diferentes pesos que os atores possuem ao lidar com o poder
público. No plano do discurso, os governos locais enfatizam a participação de
empresas privadas e da (a) busca por novos investimentos na região como forma
de legitimar os investimentos públicos para o Centro.
Este
novo momento da política urbana niteroiense corrobora aquilo que destaca) Harvey (1996) na qual o: “O novo
empresariamento urbano se caracteriza, então, principalmente pela parceria
público privada tendo como objetivo político e econômico imediato (se bem que
de forma nenhuma exclusivo) muito mais o investimento e o desenvolvimento
econômico através de empreendimentos imobiliários pontuais e especulativos do
que as melhorias das condições em âmbito específico” (HARVEY; 1996 p.53 ) e por
conseguinte: “O empresariamento urbano (em oposição ao muito mais disfarçado
gerenciamento burocrático) lida aqui com a busca da identidade local e como
tal, abre uma gama de mecanismos para o controle social.” (HARVEY; 1996 p.60).
No contexto do governo local, desde
o governo João Sampaio (PDT) de
Neste sentido, cabe destacar o
programa “Viva Centro” criado no Governo Godofredo Pinto (PT) cujo governo
durou de
No
diagrama abaixo extraído do documento conhecido como “Diagnóstico de
Reabilitação do Centro- Viva Centro”, ficam
claros os objetivos desta transformação que o centro “necessitava
passar”, visto que é um fenômeno global. Neste programa abrangente, as
intervenções ocorreriam no campo da habitação, da economia local, das reformas
dos espaços públicos, dos espaços de promoção da cultura, das atividades de
lazer e turismo, do aumento das redes de infraestrutura no bairro como condição
necessária para o crescimento urbano, ampliação dos terminais de transportes
públicos e também a criação de mercados populares.
Na
prática o que se viu foram poucas as realizações propostas neste diagnóstico
para a vida cotidiana do centro. As mazelas e o estado de degradação, bem como
as reformas prometidas ficaram no papel mantendo a estrutura existente, alguns
prédios públicos como a biblioteca estadual e o Fórum municipal passaram por
reformas.
Seu sucessor no pleito de 2008, Jorge Roberto
Silveira, importante figura política da cidade, pois já tinha sido prefeito
anteriormente por 3 mandatos (sendo 1 incompleto), volta ao executivo municipal
prometendo ações efetivas para que o Centro voltasse a ser “orgulho do
niteroiense”, através da atração de novos moradores, do comércio e a presença da iniciativa privada.
Numa
declaração a impressa no início do seu último governo JRS afirmou: "Quero colocar gente pra morar
no Centro", afirmou o prefeito.
Neste
período foram realizadas algumas obras de reformas de espaços público como em
praças e jardins, aberturas de ruas para o transito e o início das obras do
Mergulhão, porém este condenadas pela equipe técnica alegando problemas quanto
a qualidade do solo. Essas ações evidenciam o preparo do Centro em receber um
novo público residente e que ganha forças por parte dos empreendedores privados
a fim de investirem nas áreas. Assim, apesar destas intervenções pontuais, o
último governo JRS trouxe para Niterói, a possibilidade de se estabelecer a
primeira “Parceria Público-Privada” de grande porte, levando como exemplo o
chamado “Porto Maravilha” que vem ocorrendo na Zona Portuária do Rio de Janeiro.
Nestas
ações evidencia-se uma relação harmônica e complementar do poder público com os
interesses dos atores econômicos como forma de expansão do circuito monetário,
na qual “todos acabam ganhando”. Assim, a municipalidade planejou uma operação
urbana conhecida como “Lei do Novo Centro Expandido” que foi planejada em 2011,
entretanto em dezembro do mesmo ano, numa audiência pública realizada pelo
Compur (...) o projeto não foi aprovado e acabou sendo engavetado.
Ao longo da pesquisa pode ser constatada a participação de alguns autores a destacar. Primeiramente a participação dos “empresários capitalistas” atuando na reestruturação do centro da cidade. Entre Incorporadores, construtoras, financiadores e imobiliárias permitiu identificar os envolvidos em 24 empreendimentos/ intervenções e daí algumas empresas a destacar. Além destes, neste processo de “revitalização” o poder público por meio de ações e estratégias políticas aparece com destaque na reestruturação espacial.
Construtoras e incorporadoras
Os
incorporadores imobiliários são, do ponto de vista econômico, um dos maiores
beneficiados das intervenções realizadas pelo poder público na obras de
infraestrutura de uma cidade, levando em conta
“a lógica de reprodução do capital” (Harvey, 1996). Estes grupos
utilizam algumas estratégias que permitem expandir suas margens de lucros e
também os chamados sobrelucros. Sua função é transformar o solo urbano num meio
de produção destes lucros e facilitada pela demanda de infraestrutura
proveniente da atuação direta ou indireta do Estado. Assim o espaço urbano é
produzido objetivando o maior uso, sua acessibilidade e habitabilidade.
Neste
quesito, decorre o processo de valorização do solo urbano gerando futuras
intervenções dos atores privados, dentre estes os incorporadores e
construtoras. Kleiman (2004) afirma que o objetivo é de extrair o máximo de
lucro tem seu ponto chave na escolha da localização dos empreendimentos
conforme as estratégias fundiárias que virão “engendrar com os proprietários do
solo urbano, até o perfil da distribuição de renda, níveis de emprego,
capacidade de financiamento do Estado” (Kleiman, 2004, p. 5).
Como
abordado no capítulo anterior, é possível compreender que as empresas
incorporadoras e construtoras dos empreendimentos imobiliários no Centro de
Niterói, qual são as suas dimensões espaciais através da articulação em redes;
em que contexto estas investe no mercado imobiliário da cidade e como se faz
presente no circuito
Essa
tendência da articulação global e local das empresas é reforçada através de
dados estatísticos feitas em pesquisas de mercado. Em Niterói, o aquecimento do
mercado imobiliário tem sido demonstrado pela valorização imobiliária em grande
parte da cidade. Segundo pesquisas realizadas pela ADEMI-Niterói[5],
a região do centro de Niterói teve uma valorização de 36% neste último ano
superando o “principal” bairro da cidade, Icaraí, que teve um crescimento de
29%. Ainda na reportagem, especialistas
do mercado imobiliário na cidade revelam que o crescimento deve continuar em
2013, mesmo que os índices não sejam tão elevados como foi em 2012
conforme diz a reportagem:“O
Centro de Niterói é uma área de grande valorização. Segundo Bruno Serpa Plínio,
da Brasil Brokers, obras de
revitalização e do Caminho Niemeyer vão deixar a região
Essa evolução é compreendida também no valor
do m2. Dados divulgados pelo Jornal o Fluminense de 24/02/2013
baseado em pesquisas da Secovi Rio, constata que no Centro de Niterói o preço
variou de R$ 4 mil em 2011 chegando em 2013 variando de R$ 7,5 mil a R$ 15 mil.
Esses
dados realçam a expectativa que se criou no bairro, frente a suas funções e
como o mercado vem atuando. Nas reportagens citadas, por meio das declarações
feitas pelos representantes das empresas, fica evidente o direcionamento das
ações das construtoras e o que eles esperam do poder público para manter o
Centro de Niterói se valorizando.
“O bairro precisa atrair a população e não apenas para fins comerciais. É importante ter também um lado residencial porque, com as pessoas morando no local, outros serviços como restaurantes, cinemas e lojas vão aparecer. O consumo vai estimular a criação de uma microrregião que vai ajudar ainda mais na revitalização e na manutenção do local” (O Fluminense.... 2013) relato feito Jean Blot, presidente da ADEMI- Niterói.
Financiadoras
No
processo de circulação do capital no setor imobiliário, as empresas
financiadoras têm um papel fundamental. O capital financeiro, tem a função importante de complementar e financiar,
fornecendo os recursos iniciais necessários para a realização de obras e
concedendo empréstimos aos demais agentes socioeconômicos. Neste sentido, a
margem de lucro sairá das taxas de juros e dos montantes envolvidos, o que de
fato servirá para atraírem estes a participarem dos investimentos na cidade. A
transformação e a sua comercialização faz o setor imobiliário ser mais
dinâmico, sendo este um grande impulso para as intervenções. Neste caso, seus
investimentos sugerem a expectativa de lucro a curto e em longo prazo.
Atualmente,
percebe-se a participação do sistema bancário que financia as aspirações dos
empresários capitalistas nos empreendimentos.
Assim, durante a execução das obras, é peculiar perceber a presença de
placas de publicidade dos bancos financiadores das obras ou abertas as linhas
de crédito para o financiamento do empreendimento. Neste sentido, a
participação do capital financeiro interliga dois atores importantes: concessão
de empréstimos e antecipando investimentos junto com os incorporadores e
liberando empréstimos para trabalhadores em longo prazo, viabilizando o maior
sucesso das vendas nos empreendimentos maximizando os lucros.
Foi perceptível durante as realizações de pesquisas de campo, a participação de 5 grandes instituições financeiras que se faz presente em todo território brasileiro e instituições atuantes em vários países, investindo recursos na promoção dos empreendimentos. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, bancos estatais que participam ativamente para este processo. Além destas instituições importantes no país e no exterior, atuam: O Bradesco (segundo maior banco privado atualmente no país), o Santander (banco espanhol, com atuação desde a década de 1990 no Brasil) e o HSBC (banco inglês e que atua no país desde 1997).
O que há de “novo” no Centro?
É
possível identificar algumas alterações físicas do espaço urbano das grandes e
médias cidades nos últimos anos, do mesmo modo evidências específicas nos
bairros centrais destas cidades: através do processo de verticalização, com
edifícios e arranha-céus, pelas ações de intervenções urbanísticas tais como a
renovação das marcas históricas ou através da modernidade arquitetônica.
A
degradação e o esvaziamento do Centro de Niterói, têm promovido ações e
discursos por parte do poder público e que por também é possível perceber
espacialmente as atuações do capital privado (entende-se proprietários,
incorporadores, construtoras, financiadores, e compradores). Por isso, tem
visto desde a década de 1980 em várias cidades do Brasil alguns processos de
revitalização, requalificação, reforma ou reabilitação urbana[6],
de centros de cidades, conforme as devidas particularidades.
Analisando
estas medidas que vem sendo implantadas pelos atores, Maricato aponta os
benefícios de tais ações que podem levar a dois caminhos e por si o êxito
destas políticas: “a) a revitalização dos velhos centros exigem a defesa do
pequeno negócio como estratégia para a manutenção de empregos e também das
características históricas do patrimônio construído” b) é altamente
interessante promover o uso residencial no centro. Além dos aspectos já apontados
de vencer a ociosidade e o abandono, nas 24 horas do dia, as experiências
provam que a melhor alavanca para a recuperação de áreas centrais são os
programas de moradias” (Maricato; 2008, p.140 e 141).
Para resgatar esses espaços importantes no
contexto histórico e político das cidades, tem sido dar uma “nova vida” no caso
específico de Niterói, foi promovido
ações políticas no campo da cultura e do lazer,como meio de reaproximar os
moradores da cidade principalmente nos horários não comerciais ao centro e
durante os finais de semana e além do investimentos na função residencial,
promovendo um novo crescimento no setor.
Desde a década de 1990, em Niterói,
estas ações de revitalização do Centro tem sido alvo de debates por
organizações civis e poder público, além de ser plataforma de proposta política
por parte dos postulantes ao executivo e ao legislativo municipal. Inúmeras
entrevistas e discursos enfáticos dos governantes falam da necessidade de se
ter um “novo rumo” para o bairro. Neste sentido, é perceptível que algumas
intervenções já foram realizadas no Centro nesta última década e que vem dando
prosseguimento nesta década vigente.
Conforme
a tabela em anexo, foi possível verificar até o momento das intervenções em
campo um total de 26 empreendimentos construídos ou em fase de construção,
seguindo a legislação vigente, pode se identificar 8 edificações para salas
comerciais, 6 edificações de uso exclusivo residencial , 2 agências bancárias[7],
2 edificações de órgãos do Judiciário, 2 museus, 1 Centro universitário, 1
hospital, a expansão do principal Shopping Center, 1 supermercado[8]
e 1 sala comercial com hotel.
As
5 grandes intervenções viárias remetem a abertura do tráfego de automóveis nas
Ruas Visconde do Uruguai , antes ocupada pelo comércio ambulante[9]
e importante via de uso dos transeuntes; Abertura de trecho da Rua Almirante
Teffé que teve por objetivo facilitar o acesso ao principal Shopping da cidade;
A polêmica construção do Mergulhão na Avenida Marques do Paraná[10]
que viria a facilitar o acesso de quem desce
da Ponte Rio Niterói com destino aos bairros de Icaraí, São Francisco e
para a Região Oceânica sem precisar passar pelo “miolo” do Centro; A duplicação
da Avenida Feliciano Sodré e por consequência a proibição da passagem de
automóveis particulares nesta via no sentido Zona Norte sendo exclusividade de
transportes públicos (ônibus, vans e taxis) fazendo com que se amplie o fluxo
em ruas de menor porte do Centro como a Rua Saldanha Marinho, rua que se tornou
a principal via de saída dos automóveis particulares que vão para a Zona Norte
ou para outros municípios.
Em relação a reforma dos espaços públicos pode se destacar a instalação do Parque Municipal Eduardo Travassos (conhecido como Parque das Águas), uma área de proteção permanente (APP’S) e a reforma do Jardim São João, a principal praça do Centro da Cidade, onde fica localizado a catedral católica de São João Batista. Nestes espaços, o uso cotidiano se dá pela presença de crianças e jovens utilizando os respectivos brinquedos / socializando entre si, na parte da manhã e a presença de vendedores ambulantes no entorno das grades instaladas. Ao fim do dia, esses espaços públicos são territorializados por prostitutas fazendo trottoir até o amanhecer.
Quanto a origem dos recursos financeiros também foi avaliada: dos 33 empreendimentos/ intervenções, 21 são realizadas pela iniciativa privada e 12 por recursos financeiros dos cofres públicos. Consideração a destacar é a participação do poder público ao atuar principalmente em obras de infraestrutura, proporcionando a valorização do espaço público mediante pressões externas ou devido à necessidade de expansão física da cidade, tentando dar conta da demanda existente.
Conclusão:
O
que se compreende então pela chamada “Revitalização do Centro de Niterói” é um
conjunto de intervenções com ações não tão bem definidas, mas com a articulação
dos atores bem definidas. Um espaço degradado e com um longo período de
estagnação e desvalorização, mas devido a presença de alguns atrativos na qual
proporcionou ao bairro receber novamente tanto pelo poder público quanto pelos
empresários capitalistas novos investimentos.
Ao
longo da produção deste trabalho, foi perceptível que as ações do poder público
concomitante com novos investimentos na região principalmente em edificações
comerciais e residenciais promoveram a valorização do espaço físico do bairro.
Além disso, já é possível identificar um movimento de variação nas funções
exercidas pelo Centro, voltando a ser visto como um bairro residencial atraindo
novos moradores.
Tais mudanças serão refletidas no
cotidiano do Centro nos próximos anos, sobretudo quando novas edificações
passarem a ser efetivamente utilizadas. Além disso, cabe salientar se as
promessas feitas pelo poder público serão realmente postas em práticas nos
próximos anos e quais efeitos estas terão para os atores que utilizam deste
espaço.
Uma das tendências do bairro com a
revitalização é se tornar um símbolo da cidade e dos seus moradores,
beneficiando as classes mais elevadas de renda. A cooperação entre o poder
público e o privado vão para além da produção e do consumo em busca do lucro e
dos sobrelucros, mais também na produção social do espaço, trazido por si como
uma necessidade de se resgatar o “orgulho de ser niteroiense”. Como salienta
Harvey (1996):
“A produção orquestrada de uma imagem urbana
pode, se bem sucedida, ajudar também a criar um sentido de solidariedade
social, orgulho cívico e lealdade ao lugar e mesmo permitir que a imagem urbana
forneça um refúgio mental em um mundo no qual o capital alija cada vez mais o
sentido de lugar” (Harvey; 1996; p. 60)
E que este lugar que vem sofrendo inúmeras
transformações recentes não seja somente alvo de política e interesses de um
seleto grupo que viria a se beneficiar da sua recuperação e seu
“desenvolvimento”. Mesmo necessário, a produção dos espaços por meio de
estratégias e ações deve ser constituído de maneira democrática e justa. Por
isso, a recuperação de um bairro não deve-se levar em conta os interesses e
privilégios dos grupos econômicos pensando e produzindo o espaço para uso
seletivo.
Neste
trabalho foi necessário compreender a evolução dos processos em cena e acima de
tudo enquanto morador e um dos atores do processo, compreender que deve existir
“A contenção do processo de valorização que gera especulação, num tal
empreendimento, é tarefa difícil e necessária se, se deseja agir na direção da
justiça social na cidade” (MARICATO; 2008; p.144)
Portanto, este breve trabalho pode apresentar o contexto do bairro para a cidade, pesquisar sobre as ações e atuações dos diversos atores na produção do espaço. E assim, contribuir para que as questões levantadas possa no futuro ser amplamente avaliadas e pensadas, no âmbito da produção justa e acessível do espaço para todos os cidadãos.
Referencias Bibliográficas:
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são retirados para abertura de rua do Centro. Jornal o Fluminense, Niterói, 05
jun 2012. Disponível em: http://www.ofluminense.com.br/editorias/cidades/camelos-sao-retirados-para-reabertura-de-rua-no-centro.
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CORRÊA,
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[1] Reportagem de O Globo 09/12/2012 em visita a Barcelona na Espanha o prefeito diz que o modelo de revitalização ocorrido lá na década de 1980 é o ideal para o Centro de Niterói.
[2] Declaração feita ao jornal a Tribuna de Niterói em 26/12/2012 na reportagem intitulada “O Centro é prioridade.
[3] O prefeito enfatiza tal objetivo no encarte dominical do Jornal O Fluminense a chamada “revista O Fluminense” de 22/11/2012 edição comemorativa de aniversário da cidade de Niterói cujo o título é “Antes e Depois”, numa referencia ao Centro antigo e um novo bairro com serviços melhorados surgindo.
Os prédios da Cedae,
Emop, Detran e Ceasa, perto da Favela do Sabão, e o do Iaserj, avaliados em R$
150 milhões, vão garantir o fundo de investimento que a prefeitura precisa
criar para a parceria público privada com que pretende executar um projeto de
revitalização do Centro. Os imóveis estão sendo cedidos a Niterói pelo
governador Sérgio Cabral, e o prefeito Rodrigo Neves afirma que com esses
recursos e mais a participação das construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e
OAS vai promover a requalificação urbana da área mais degradada da cidade.
“Nosso objetivo é fazer ali voltar a ser um local de moradia, e não a vergonha
que é hoje”, disse ele.
O projeto que vai ser
tocado à semelhança do Porto Maravilha, no Rio, prevê uma nova hidroviária;
novo terminal de ônibus e de metrô. A Estação Araribóia vai dar lugar a uma
marina. Mergulhões na Marechal Deodoro e nos acessos à ponte vão melhorar o
trânsito. As ruas ganharão um novo visual sem fios pendurados
[6] São conceitos diferentes, na qual esta monografia não apresentará a diferenciação entre eles. Maricato (2008) e Ferreira (2011) trazem em seus trabalhos detalhes sobre estes conceitos.
[7]
Cabe destacar a construção de uma agência bancária junto a um prédio
comercial totalizando 26 empreendimentos no total.
[9] Em reportagem no Jornal o Fluminense de 05/06/2012 sob o título “Camelôs são retirados para abertura de rua do Centro”, apresenta um importante impacto para a dinâmica espacial cotidiano do Centro, e que representa um “problema” para o poder público, para o comércio “formal” e para os investidores. Neste caso, foi prometido aos ambulantes um espaço próprio para suas atividades, mas por diversos motivos eles foram realocados junto a outros camelôs em ruas próximas. Até a presente data não existe nenhuma ação concreta feita pela municipalidade com o intuito de resignificar o espaço ocupado pelos camelôs no Centro de Niterói.