Revista geo-paisagem (on line) Ano 8, nº 16, 2009 Julho/Dezembro de 2009 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi Revista classificada pela CAPES |
Território e oração. A geografia da Igreja católica
brasileira. Um olhar para a cidade do Rio de Janeiro
Helio de Araujo
Evangelista[1]
RESUMO
O artigo destaca a importância da Igreja
Católica na geografia do Brasil. Um tema que já tem merecido atenção e que se
deve considerar o presente texto como uma contribuição nesta produção. No atual
texto, afora a questão propriamente cultural, a igreja tem uma forte dimensão
territorial afetando crucialmente os limites internos que passaram a marcar a
paisagem brasileira.
Palavras-chaves: vida religiosa, identidade brasileira, limites territoriais.
ABSTRACT
The aim of this article is to search how
important Catholic Church is for the identity of Brazil. The subject can be met
in some studies so our goals is show our
contribution. The article deals the
Catholic Church as a cultural agent, but, furthermore, it’s hard to understand
how limits could be drawn without paying attention in Catholic Church.
Key-words: religious life, brazilian identity, territorial limits.
Introdução
No filme “Central do Brasil”, a história
de seus personagens gira em torno do que seria a centralidade do Brasil. Ao
fim, e ao cabo, o filme acaba destacando a grande religiosidade da população
brasileira, mais especificamente a Igreja católica. [2]
O trabalho atual é sobre Igreja
católica, igreja e geografia.
O pressuposto é de que a igreja
empreende geografia no território brasileiro.
Para Marx (1991, p. 17) permaneceu “...esquecido,
ou bastante desconsiderado, o fato de que, entre nós, até um século atrás, a
Igreja esteve ligada ao Estado. Em conseqüência, os reflexos dessa realidade
institucional não têm sido devidamente relacionados com a organização social,
com a expansão ao longo de mais de quatrocentos anos e com a consolidação da
nossa rede de cidades. E, no entanto, não só o Estado, em diferentes épocas,
tomou a iniciativa de estabelecer novos assentamentos, como também não o fez à
revelia de uma atenção devia e propugnada para com a Igreja. Também a população
estabeleceu e procurou oficializar novos povoados, não só acatando instrumentos
normativos eclesiásticos, como os utilizando para garantir e ampliar seu lugar
ao sol.”
Segundo este mesmo autor, foi
através da “...Igreja, de suas instâncias de base, umbilicalmente ligadas ás do
próprio Estado, a tal ponto que se confundiam – e, sem dúvida, hoje confundem
os estudiosos- com a religiosidade da população mormente aquela mais humilde ou
mais distante dos centros de cultura. A institucionalização da vida dessas
tantas e tão dispersas comunidades sedava pela oficialização de sua ermida, de
sua capelinha visitada por um cura, pela
sua elevação um dia a matriz, elevação que significava a ascensão de toda uma
região inóspita, ou de ocupação mais antiga e em expansão, ao novo status de
paróquia ou freguesia....”
Marx observa que não “... era
somente o acesso garantido então à desejada e necessária assistência religiosa
que se obtinha, mas também o reconhecimento da comunidade de fato e de direito
perante a Igreja oficial, portanto perante o próprio Estado. Não era apenas ao
acesso ao batismo mais próximo, ao casamento mais fácil, ao amparo aos
enfermos, aos sacramentos na morte, mas também a garantia do registro de
nascimento, de matrimônio, de óbito, registro oficial, com todas as implicações
jurídicas e sociais. Não era somente o acesso ao rito litúrgico que propiciasse
no quotidiano, nos faustos e infaustos, o conforto espiritual; era também o
usufruto da formalidade civil com todo o direito e a segurança que pudesse
propiciar....”
“....Uma ermida, uma pequena capela,
era e o fora por tanto tempo, uma aspiração de um pequeno arraial. A
assistência desejada, a confraternização acostumada e os aspectos
institucionais que apontamos, ou parte deles, eram justificativa bastante para
tal aspiração. Não bastava, contudo, erguer a ermida; não bastava construir,
por melhor que fosse, uma capelinha; era necessário oficializá-las. Não era
suficiente dotar o povoado de um abrigo para o exercício religioso em comum;
era necessário sagrá-lo. A sacralização iria tornar esse abrigo uma ermida também
para a Igreja, uma capela reconhecida como tal, uma capela curada, ou seja,
visitada regularmente por um padre...”
(ibidem, p. 18-20).
A igreja
pelo olhar de Gilberto Freyre
Um autor insuspeito de nutrir pela
Igreja Católica profunda reverência destaca em páginas de sua obra aspectos que
cabe ser lembrados.
Em sua obra Casa-Grande, (2000a, p.389
nota 159), Freyre chama a atenção quanto à complexidade do papel dos religiosos
em relação aos índios. Não podendo ter uma visão simplificada a ponto de
entender que os mesmos desintegraram a cultura indígena.
Ele assinala na mesma obra (2000a, p.
295, nota 85) que a dimensão religiosa favoreceria a comunicação entre
diferentes partes do território brasileiro, inclusive cita o historiador
Varnhagem que destaca, sobretudo, o vigor missionário da Companhia de Jesus
viabilizando a circulação de notícias. Cabe sobre o tema considerarmos a
passagem abaixo.
... Antes de haver no Brasil uma “guarda
negra”, de defesa à monarquia paternalista ou maternalista dos Braganças e
composta de africanos e descendentes de africanos – capoeiras, capadócios,
capangas – que grandemente dificultaram a ação antimonárquica de bacharéis
brancos como Silva Jardim ou a de propagandistas da República mestiços como
Saldanha Marinho e Glicério, houve caboclos e descendentes de caboclos,
mestiços e cafuzos que, em grupos numerosos, se puseram ao lado das
instituições mais antigas para aqui transplantadas da Europa – mesmo as mais
duramente hierárquicas, como a monarquia absoluta ou a forma mais severamente
patriarcal de família – e contra as inovações, mesmo as igualitárias:
igualitarismo que, praticado, tenderia a beneficiá-los. É que, como raças
subjugadas, se sentiam necessitados menos de liberdades abstratas que da
proteção efetiva que reis e papas pareciam ser os mais aptos a lhes conceder
contra senhores brancos e padres católicos desabusados no exercício, ou na
perversão, do domínio econômico, político ou religioso sobre as gentes de cor.
Dos reis e dos papas, na verdade, é que mais de uma vez tiveram os nativos do
Brasil e mesmo os negros vindos da África, proteção efetiva contra abusos de
particulares e até de religiosos; e essa proteção é natural que tenha criado
nos ameríndios e nos seus descendentes e nos negros e descendentes de negros
sentimentos de classe capazes de superar os de raça: vermelhos, pretos ou
pardos eram tão filhos de Deus e de Maria Santíssima como qualquer branco;
vermelhos ou pardos eram tão súditos Del – rei como qualquer português. Nem a
colonização portuguesa do Brasil – já o acentuamos noutras páginas – se fez
sobre outra base: a do status político e não a do de cor. ( 2000b, p. 1116)
Além da divulgação há o elemento da
incorporação dos signos lingüísticos sem preocupação de impor a sua língua, tal
como temos na passagem abaixo.
No Brasil o
padre serviu-se principalmente do curumim, para recolher de sua boca o material
com que formou a língua tupi-guarani – instrumento mais poderoso de
intercomunicação entre as duas culturas: a do invasor e a da raça conquistada.
Não somente de intercomunicação moral como comercial e material. Língua que
seria, com toda a sua artificialidade, uma das bases mais sólidas da unidade do
Brasil. Desde logo, e pela pressão do formidável imperialismo religioso do
missionário jesuíta, pela sua tendência para uniformizar e estandardizar
valores morais e materiais, o tupi-guarani aproximou entre si tribos e povos
indígenas, diversos e distantes em cultura, e até inimigos de guerra, para, em
seguida, aproximá-los todos do colonizador europeu. Foi a língua, essa que se
formou da colaboração do curumim com o padre, das primeiras relações sociais e
de comércio entre as duas raças, podendo-se afirmar do povo invasor que adotou
para o gasto ou o uso corrente a fala do povo conquistado, reservando a sua
para uso restrito e oficial. Quando mais tarde o idioma português – sempre o
oficial – predominou sobre o tupi, tornando-se, ao lado deste, língua popular,
já o colonizador estava impregnado de agreste influência indígena; já o seu
português perdera o ranço ou a dureza do reinol; amolecera-se num português
perdera o ranço ou a dureza do reinol; amolecera-se num português sem rr nem ss
; infantilizara-se quase, em fala de menino, sob a influência do ensino jesuítico
de colaboração com os curumins. ( 2000a, p. 362 )
Quanto ao papel das irmandades ele
também chama a atenção do tema e chega a destacar:
O estudo
minucioso da composição social e, quando possível, étnica, das nossas
irmandades, é dos que mais contribuem para o esclarecimento das condições de
raça, classe e região que, tomadas em conjunto – nunca isolada uma das outras –
caracterizam a formação brasileira. Sem o exame em conjunto de condições que
quase sempre se interpenetraram entre nós, como as referidas, de raça, de
classe e de região, arrisca-se o estudioso da formação brasileira a
generalizações falsas sobre o indivíduo ou grupo que considere representativo;
pois, no Brasil, generalizações firmadas em critérios de interpretações puras,
válidas para países de maior pureza ou maior nitidez hierárquica na sua
composição social ou étnica, perdem a validez ou o vigor. Assim não se pode
afirmar da nossa formação que tenha sido substancialmente aristocrática no
sentido de uma raça, de uma classe ou de uma região única. O que a nossa
formação tem tido é forma aristocrática dentro da qual vêm variando substâncias
ou conteúdos de raça, de classe e de região, ora exaltando-se como nobre o
branco (e dando-se aos indígenas o direito de adotarem velhos nomes portugueses
de pessoa ou família), ora o caboclo (cujos nomes passaram em certa época a
substituir os europeus); ora glorificando-se o senhor dos engenhos, isto é, da
região da cana, ora o fidalgo do sobrado, isto é, da região ou área urbana
(donde a tendência contemporizadora para o senhor rural mais rico ter tido
sempre sobrado na cidade mais próxima de suas terras e, vice-versa, o senhor
mais rico de sobrado ter tido sempre engenho, fazenda ou quinta socialmente
decorativa do seu poder econômico de burguês); ora fazendo-se do homem do
litoral o herói da formação nacional, ora considerando-se o verdadeiro herói dessa formação o paulista,
o sertanejo ou o montanhês; ora fazendo-se do açúcar o artigo-rei da economia
nacional, ora transferindo-se essa majestade para o café. (2000b, p. 1127) [3]
Este aspecto abrangente da igreja no
Brasil é que realça uma dimensão da identidade do povo brasileiro que é a sua
crença no sobrenatural “...O povo brasileiro é por excelência o povo da crença
no sobrenatural.” (2000a, p. 356)
Para Gilberto Freyre, a Igreja
católica só perdeu para o poder da terra. Ela chegava a ser mais poderosa que o
rei, mas menos que o senhor de terras ( 2000 a,
p. 402)
A igreja na dimensão do fomento à vivência social
Como observado anteriormente, a
Igreja católica nunca se resumia à sua atividade estritamente religiosa, ela
tinha uma dimensão societária muito profunda.
No sentido de realçar o que aqui afirmamos destacamos alguns trechos de
uma carta do então Imperador D. Pedro II que cria a Irmandade Nossa Senhora de
Duas Barras, no atual município do estado do Rio de Janeiro, em 1854.[4]
Dom Pedro, por Graça de Deus e Unanima Aclamação dos Povos, Imperador
Constitucional e defensor Perpetuo do Brasil. Faço saber aos que esta carta virem,
que por parte dos Irmãos da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição das duas
Barras do Rio Negro do Termo de Cantagallo da Provincia, e Bispado do Rio de
Janeiro, elle foi requerida a confirmação do Compromisso da mesma Irmandade,
organisado para o bom regimem d’ella; e sendo visto o seu requerimento; a
approvação do Reverendo Bispo Conde Capellão – Mor na parte religiosa, em
conformidade do parágrafo undecimo do artigo segundo da Carta de Lei de
vintedous de Setembro de mil oitocentos vinte eoito; eo que respondeu o Conselheiro Procurador da
Coróa, Soberamã e Fazenda Nacional. Hei por bem confirmar, como por esta
Confirmo, o referido Compromisso, escripta em quinze folhas, contendo dezoito
capitulos e seus paragrafos, as quais vão numeradas, e rubricadas pelo
Conselheiro Josino do Nascimento Silva, official Maior da Secretaria de Estado
dos Negocios da Justiça, com a clausula porem de ficarem sujeitas a approvação
do Governo Imperial quaesquer interpretações, ou reformas, que se accordarem
sob este compromisso. E mando, que as Autoridades, áquem o conhecimento désta Carta pertencer, a
cumprão, e guardem, e fação inteiramente cumprir e guardar, como nella se
contem. Pagou dez mil dos direitos de chancellaria, como se via de respectivo
conhecimento em fórma. Dada no Palacio do Rio de Janeiro aos nove de Maio de
miloitocentos cincoenta sete, trigesimo – sexto da Independencia e do Império.
Pelo
documento é possível notar uma série de cuidados com as viúvas, educação dos
órfãos, apoio no falecimento (incluindo ajuda
monetária com o enterro). Há uma dimensão festiva, ou seja, as
quermesses detonavam um vivo vínculo entre as pessoas, de tal forma que as
famílias estreitavam seus laços, novos casais se formavam, e batismos eram
combinados. À sombra da igreja, se
constituía um ethos comunitário de
modo a regular os grandes momentos da vida, nascer, viver e morrer.
A igreja na dimensão dos limites
Uma dos primeiros sinais da
abrangência da igreja na geografia brasileira, aqui tratada não enquanto
disciplina mas enquanto terra, foi nos estudos sobre limites territoriais.
Segue abaixo um extrato um estudo sobre o Rio de Janeiro que foca exatamente a
influência da igreja no tema. [5]
Ao
compararmos o Alvará de 1814 que criou o município de São Pedro de Cantagalo
com a lei 1045 de 1943 que criou Cordeiro, por exemplo, percebe-se que há uma
mudança política quanto aos representantes do poder a homologar a divisão territorial,
assim como uma mudança na precisão da divisão, o que acusa um avanço técnico na
arte da delimitação.
Na
instalação do município de São Pedro de Cantagalo, por exemplo, em 7 de outubro
de 1815, é configurado um termo de Declaração e Demarcação firmado pelo Ouvidor
e Corregedor Manoel Pedro Gomes que abaixo transcrevemos: [6]
“.. o território que
compreende desde o Rio Paraíba (...), onde nele faz Barra o Rio Piabanha,
subindo pela sua margem Direita até a foz do Rio denominado Preto, e subindo pela
margem Direita do mesmo Rio Preto até a foz do Rio Paquequer e subindo pela
margem Direita deste (...) procurando a sua nascente, que promana da serra dos
Órgãos, de onde, na forma do referido Alvará, correrá o termo pelo alto da
serra dos Órgãos a partirem suas vertentes com os termos das Villas de Magé,
Macacu, Macaé e Campos dos Goitacazes até o lugar em que a referida serra dos
Órgãos e Cordilheira de morros fecham no mesmo Paraíba, o qual serve de divisa
em toda a extenção dele entre o termo desta Vila e a Provincia de Minas Gerais,
ficando compreendida dentro do termo desta Vila todo o território do alto da
Serra a dentro e pertencente a esta Comarca do Rio de Janeiro, em conseqüência,
também a Aldeia da Pedra, que até agora pertencia ao termo da Vila de São
Salvador dos Campos”. ( Apud Clélio
Erthal, 1992, p. 106 ) [7]
Porém,
quando nos atemos ao decreto de 1055 que criou o município de Cordeiro temos:
“Art. 5º - Fica criado o município de Cordeiro, constituído pelos
territórios dos distritos de Cordeiro e Macuco, desmembrados do município de
Cantagalo.
Parágrafo único - A sede do novo município será Cordeiro, cuja
categoria atual é elevada à de cidade.
Art. 6º - Os limites do município de Cordeiro ficam assim constituídos:
Com o município de Cantagalo:
Começa no ponto onde termina
a divisa com o município de Duas Barras, fronteiro ao contraforte da serra, da
Batalha que divide as águas dos rios Negro e Macuco; sobe o dito contraforte,
ganha o alto da serra da Batalha e acompanha a sua linha de cumiada até o ponto
em que verte para a fazenda das Lavrinhas; daí, em linha reta, corta as
estradas de rodagem e de ferro, abaixo da Chave das Lavrinhas e vai ter à
nascente principal do córrego das Lavrinhas; deste último ponto, em outra linha
reta, vai alcançar a confluência do córrego São Martinho, acompanhando a
Estrada de Ferro Leopoldina, desce até a segunda travessia desta estrada sobre
o córrego Val de Palmas, pouco além da Parada do Andrade. Desta segunda travessia
desce o dito córrego até a sua confluência no rio Macuco, descendo em seguida,
por este, até a confluência do córrego do Oliveira.
Com o município de São
Sebastião do Alto.
Começa na confluência do córrego do Oliveira no rio Macuco e sobe por
aquele córrego até a sua nascente principal; daí, vai em reta, à nascente
principal do córrego do Sobrado e por este desce até a sua confluência no rio
Grande.
Com o município de Trajano de
Morais:
Começa na confluência do
córrego do Sobrado no rio Grande e sobe por este até um ponto no local
denominado Santa Rosa, entre o ribeirão São Lourenço e o córrego do Socorro,
ponto fronteiro ao divisor das águas do córrego do Socorro e de um outro
córrego sem nome que passa pela fazenda de São Lourenço.
Com o município de Vergel:
Começa no ponto acima
referido, onde termina a divisa com o município de Trajano de Morais; sobe o
divisor das águas dos córregos do Socorro e de um outro córrego sem nome que
passa pela fazenda São Lourenço; continua pela linha de vertente até atingir o
Alto da Pena.
Com o município de Duas
Barras:
Começa no Alto da Pena, e vai
em linha reta até a confluência no rio Macuco do ribeirãoque passa por Monerá,
conhecido como rio Macuquinho e, daí, em outra linha reta e à direita da pedra
do Chevrand, até o ponto fronteiro ao contraforte da serra do Batalha que
divide as águas dos rios Negro e Macuco.”
( Decretos...e Decretos-Leis... de Outubro a Dezembro de 1943,
Rio de Janeiro, Serv. Publicidade D. O., 1943: 537-41. Coletânea de leis
organizada por Nélia Leão Santos e equipe do IBGE/CDDI/DEDOC )
Pelas
duas ementas temos, no primeiro caso, a subscrição da decisão assinada pelo
próprio príncipe regente, D. João, e ratificada pelo Ouvidor. Já no caso de
Cordeiro, verifica-se a presença de um aparelho de Estado regido por normas e
com um apuro na delimitação das divisas; em Cordeiro, há uma instância
decisória que medeia a ação do governo federal no local, ao contrário do que se
verificou na criação de Cantagalo.
Estes
dois aspectos, o da mudança política quanto aos representantes de poder e o do
apuro técnico na demarcação das divisas ensejam a observação de que ocorreu uma
remodelação na forma de gerir as delimitações municipais e na forma de
demarcá-las.
Se
na primeira alteração territorial verificada com a criação do município de Nova
Friburgo percebe-se ainda a atuação direta do representante maior do poder, na
pessoa de D. João; a segunda modificação em diante, com exceção de Cordeiro
(1943), verifica-se uma forte presença da Igreja, ou seja, é a partir do
fomento da vida eclesial organizada em freguesia que se tem as vilas [8]. Por exemplo, Santa Maria
Madalena, pela lei que o cria, decreto 1.208 de 24 de outubro de 1861, foi
estabelecido:
“Art. 1º Fica elevada á categoria de villa, com a mesma denominação, a
freguezia de Santa Maria Madalena, do termo de Cantagallo; e farão também parte
do novo município as freguezias de S. Sebastião do Alto e S. Francisco de
Paula, desmembrada do mesmo termo.” ( In Collecção das Leis do Estado do Rio
de Janeiro, 1861, v. 256.02.09:16. Coletânea de leis organizada por Nélia
Leão Santos e equipe do IBGE/CDDI/DEDOC )
A
presença da Igreja no local fortalecia os laços sociais, principalmente através
das irmandades, que tinham um papel, além de religioso, previdenciário, ou
seja; as irmandades procuravam prover aos membros meios de sobrevivência diante
de possíveis infortúnios. [9]
Para
o município de Carmo, por exemplo, temos o decreto nº 2577 de 13 de outubro de
1881 que estabelece:
“Art. 1º Fica desmembrada do municipio de Cantagallo a freguezia de
Nossa Senhora do Monte do Carmo, e elevada á categoria de villa com a
denominação de villa do Carmo, pertencente á comarca de Cantagallo.
Art. 2º A freguezia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer (
Sumidouro) fica desmembrada do municipio de Nova Friburgo, e incorporada ao
municipio do Carmo, que terá por limites os que estão marcados ás duas
freguezias, que o ficam compondo.” ( In Collecção de Leis da Província de 1881, 1882: 54-6. Coletânea de
leis organizada por Nélia Leão Santos e equipe do IBGE/CDDI/DEDOC )
O mesmo pode ser verificado para o
município de Duas Barras, criado em 8 de maio de 1891 pelo decreto nº 233 que
estabelece :
Art. 2º “Fica creado o - Municipio das Duas Barras -, que será
constituido pelo territorio da freguezia de - Nossa Senhora da Conceição das
Duas Barras -, desmembrado do município de Cantagallo, tendo por séde a
povoação da - Tapera - com a denominação de “Villa das Duas Barras”. ( In Legislação
sobre municípios, comarcas e distritos; abrangendo o período de 6 de março
de 1835 a 31 de dezembro de 1925. Org. por Desidério Luiz de Oliveira Júnior.
Rio de Janeiro, Typ. do Jornal do Commercio, 1926, p. 116, 546 p. )
No entanto, com a queda do Império,
a influência da Igreja na organização político-administrativa do país sofreu um
lento refluxo.[10]
Em vez das freguesias, os distritos de paz ( adstrito ao registro de casamento,
nascimento e óbito ) e de polícia ( voltado para a questão da vigilância e
punição ) , tornaram-se as verdadeiras células
da estrutura burocrática territorial em substituição a estrutura
territorial do padroado sob a forma de irmandades e freguesias.
A Igreja do Rio de Janeiro sob o olhar
de José de Souza Azevedo Pizarro e Araujo
José de Souza Azevedo Pizarro e Araujo era filho do coronel Luiz
Manuel Carneiro da Cunha e de dona Maria Josepha de Souza Pizarro. Nasceu na
cidade do Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1753. Fez os primeiros estudos na
cidade natal e terminou-os na Universidade de Coimbra onde se bacharelou em
cânones. De volta ao Rio, recebeu o presbiterato em 1780. Em 1801 embarcou para
Portugal onde, em recompensa pelos serviços militares prestados pelo pai,
recebeu do Príncipe Regente D. João, a mercê do hábito da Ordem de Christo em
que professou e a conezia de Santa Igreja Patriarcal. Voltou ao Brasil com a
corte portuguesa, e daqui nunca mais saiu. No Rio, exerceu as mais altas
funções civis e eclesiásticas, tais como, conselheiro de D. João VI, tesoureiro
e arcipreste da Real Capela, deputado da mesa de consciência e ordens,
conselheiro honorário do Tribunal da Justiça, procurador geral das três ordens
militares etc. etc. Depois da Independência, foi deputado à primeira
Legislatura e presidiu a Assembléia por algum tempo.
Velho e cansado, obteve demissão dos serviços da Capela Real,
conservando porém todas as vantagens do cargo. Pôde então cuidar da impressão
das suas Memórias Históricas. Em 14 de maio de 1830, quando dava um passeio no
jardim da Lagoa Rodrigo de Freitas, o atual Jardim Botânico, faleceu de
apoplexia, com 77 anos de idade.
...
Foi em 1781 que Pizarro começou a coligir documentos e dados para
escrever uma história do bispado do Rio de Janeiro.
...
Levou perto de quarenta anos rebuscando todos os arquivos, todos os
manuscritos que pôde. Nessa labuta constante foi encontrando muito documento
importante que nada tinha que ver com a história do bispado do Rio de Janeiro
propriamente dita.
Não teve coragem de pô-los de parte, de selecioná-los, de maneira a só
aproveitar o que interessava o trabalho que tinha em mente. O resultado foi que,
em vez de escrever uma história eclesiástica do bispado do Rio de Janeiro, como
pretendia a princípio, produziu dez tomos maçudos, repletos das informações
mais heterogêneas sobre o Rio, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Mato
Grosso, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande, Colônia do Sacramento e outros
lugares. ( Trechos encontrados no Prefácio escrito por Rubens Borba de Moraes
para edição promovida pela Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1945, vol. 1)
No
segundo volume da mesma obra, encontra-se registrado
Da fundação da Igreja Fluminense, sujeita ao Bispado da Bahia, por
cujos diocesanos foi regida até o ano de 1580: das Igrejas Matrizes eretas
pelos mesmos diocesanos: e dos Governadores, que nesse período existiram.
Abrangendo o Bispado de S. Salvador, único no vasto continente do
Brasil, toda terra descoberta, e a que em diante se descobrisse desde o Norte
da Província, até o Sul dela, em conformidade da Bula da sua criação – Super
specula Militantis Ecclesiae - , expedida pelo Papa Julio III e sendo, em tais
circunstâncias, sujeitos à sua jurisdição os territórios desde o Pará até a
Capitania de S. Vicente, ficou-lhe também pertencendo o do distrito do Rio de
Janeiro, situado entre as Capitanias de Pernambuco, Pôrto Seguro e do Espírito
Santo ao Norte e a última ao sul. ( In Capítulo 1, p. 8 )
A igreja na cidade do Rio de Janeiro [11]
“Fundada a Cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro no ano de 1565, seu território continuou sujeito à jurisdição
espiritual do Bispo da Bahia, até que, pelo Breve “In superemminenti militantis
Ecclesiae”, do Papa Gregório III, de 19 de julho de 1575, foi criada a Prelazia
de São Sebastião. Desmembrada do Bispado da Bahia, o território da nova
Prelazia estendia-se desde a Capitania de Porto Seguro, até o Rio da
Prata.”(1986, p. 14)
“Em 16 de novembro de 1676, a Bula
do Papa Inocêncio XI “Romani Pontificies pastoralis sollicitudo”, elevou a
antiga Prelazia de São Sebastião à categoria de Bispado, como sufragânea da Sé
Metropolitana de São Salvador da Bahia, criada na mesma data. A esta ficou
também subordinado o Bispado de São Salvador de Olinda. Do Bispado do Rio de
Janeiro foram posteriormente desmembradas 131 Arquidioceses, Dioceses e
Prelazias.” (1986, p. 15)
“Pela Bula “Ad Universas orbis
Ecclesias” do Papa Leão XII, de 27 de abril de 1892, foi reorganizada a
hierarquia eclesiástica no Brasil, que até então constava de um só Arcebispado,
em São Salvador da Bahia e de onze Bispados sufragâneos. Foram criadas duas
Províncias Eclesiásticas, a saber: uma no Norte, com sede em São Salvador da
Bahia e a outra no Sul, sendo o Bispado do Rio de Janeiro elevado à categoria
de Sé Metropolitana.” (1986, p. 16) [12]
A obra do Sr. Orlindo José de Carvalho [13]
É fruto de um trabalho exaustivo, dividido
em oito capítulos, sendo o primeiro voltado para a Arquidiocese de São
Sebastião do Rio de Janeiro, e os demais para cada um dos sete Vicariatos
Episcopais. É um trabalho minucioso enumerando e caracterizando todas as
igrejas, capelas, oratórios e locais de culto ligados às diversas igrejas
matrizes de cada vicariato,
Conclusão
O território brasileiro está
impregnado pela oração.
O território brasileiro está
impregnado por uma história lenta.
O estudo da Igreja no Brasil é o
estudo da história lenta. Explico-me, é impressionante como numa cidade como o
Rio de Janeiro palco de tantas decisões, processos, situações, dramas, tiros,
revoltas, etc. etc. etc. tenha tido uma estrutura hierárquica institucional que
passasse por todo este período de forma incólume. Em nenhum momento de nossa
história a Igreja assistiu a movimentos dramáticos tais como verificados
recentemente em Cuba na revolução comunista em 1959, [14]
durante a guerra civil espanhola, na própria revolução francesa em 1789, etc. Não
foram poucos os movimentos da história humana que embora tenha tido uma origem
aparentemente alheia à questão religiosa, acabasse, no seu curso, elegendo a
mesma como item de primeira ordem. [15]
Uma
expressão desta história lenta está relacionada ao fato do Rio de Janeiro só se
constituir arcebispado em 1892! Até então a diocese do Rio de Janeiro submissa
ao arcebispado da Bahia, que não era mais sede do governo desde 1763. Ainda
hoje, o cardeal primaz no Brasil encontra-se na Bahia.
Além, em 116 anos de arcebispado no
Rio de Janeiro, o Rio de Janeiro só conheceu sete arcebispos.
Outro aspecto, além da história
lenta, é a história única, ou seja, há toda uma estrutura de poder eclesiástico
concentrada numa única cidade, Rio de Janeiro, uma cidade que chegou a ter uma
abrangência eclesiástica que a levava a atender a Colônia do Sacramento, no que
seria localizado hoje no Uruguai, a ficar atualmente restrita a mil quilômetros
quadrados.[16]
Acompanhar a igreja na
territorialidade brasileira significa acompanhar a capilaridade da vida social.
A igreja poucas vezes se destacou em ser pioneira na história brasileira, mas,
em igual proporção, nunca ficou afeita às estruturas passadas tendo em conta
novas situações. Esta sobrevivência tem muito um quê para compreender este
país. É um país não dos grandes eventos. O Brasil não é um país de grandes
heróis, não tem em sua história situações dramáticas como se deu nos Estados
Unidos onde no auge da guerra civil em 1776 morreram 100.000 pessoas em três
dias de batalha!
O que é o Brasil? O que é a
geografia brasileira?
A geografia brasileira foi forjada
diante do sacrário através da ação de milhares e milhares de pessoas ao longo
dos séculos orando e fazendo, rezando e trabalhando. O Brasil é o país do
miúdo, é o país dos processos densos, fortes, tensos, mas lentos, vagarosos,
não há brusquidão, não há desacertos.
O Brasil está na igreja.
Igreja x religiosidade
Não poucas vezes procura-se criar
uma distinção entre religiosidade e igreja. A primeira seria a expressão do que
há de mais autêntico na população brasileira, ou seja, seus hábitos, costumes,
folclores, festas e canções e estas expressões culturais estão nitidamente
embebidas por uma dimensão sobrenatural da vida. A igreja, por sua vez, é
aquela coisa pesada, indesejada, castradora, mistificadora, reacionária, e tudo
aquilo que possamos imaginar de ruim!
Não parece ser adequada esta forma
canhestra de tratarmos a relação entre as partes. Uma não vive sem a outra.
O que há de fantástico neste país,
tendo em conta o observado acima, é que há duas grandes cunhas que formam a
identidade brasileira, e por tabela a própria geografia, a saber, o brasileiro
tem cara de índio, e sua geografia também[17],
e este país indígena tem nos religiosos (particularmente os jesuítas), aqui se
segue a segunda cunha, muito mais um aliado que adversário. Esta simbiose,
jesuíta, de um lado, com tudo o que isto representa em termos de rigor
espiritual, carga cultural exigida, disciplina, dedicação, competência, e, por
outro lado, o índio brasileiro, um índio que culturalmente nunca saiu da
chamada pedra polida, que não gerou pirâmides, ou uma astronomia, ou ainda uma
escrita, este cruzamento de forças espirituais, tendo em conta o fato de ambos
serem forças humanas ajuda a compreender nossa constituição enquanto nação.
Uma expressão desta simbiose está na
oralidade do brasileiro, brasileiro é um povo que se expressa, que se interage,
que intercambia, que não vê o oposto como um natural inimigo. Mas esta
espontaneidade está marcada por uma competência comunicativa, há o uso do
verbo, do logos, do raciocínio. Uma expressão cultural deste encontro índio e
jesuíta é a música. A música brasileira é muito mais forte que nossa
literatura. A música não exige alfabetização, a letra sim. [18]
Fontes de dados
·
Entrevistas
utilizadas
-
Senhora Ceres Sant’Ana de Cordeiro em janeiro de 1996
-
Sr. Diogo Lordello de Mello em setembro de 1996 no Instituto Brasileiro de
Administração Municipal.
-
José Ponte Guinâncio, ex-funcionário da Prefeitura e historiador do município
de Santa Maria Madalena, em 11 e 12 de novembro de 1996
·
Documento
primários
-
Carta de criação da Irmandade Nossa
Senhora da Conceição das Duas Barras
-
Coletânea de leis organizada por Nélia Leão Santos e equipe do IBGE/CDDI/DEDOC
·
Obras de
referência
-
Anuário Eclesiástico da Arquidiocese de São Sebastião localizada na cidade do
Rio de Janeiro (RJ). Edição de 1986
-
Anuário Eclesiástico da Arquidiocese de São Sebastião localizada na cidade do
Rio de Janeiro (RJ). Edição de 2007
-
CARVALHO, Orlindo José - Templos Católicos do Rio de Janeiro – Mural . Ed. Do
autor , 2009.
-INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS,
vol. xxii, Mun. de Cantagalo. Rio de Janeiro,
pp. 233-237, 1959.
- Legislação sobre municípios, comarcas e
distritos; abrangendo o período de 6 de março de 1835 a 31 de dezembro de 1925.
Org. por Desidério Luiz de Oliveira Júnior. Rio de Janeiro, Typ. do Jornal do
Commercio, 1926, 546 p.
-
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·
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[1] Prof. Dr. Departamento de Geografia da UFF e do Programa de Pós-graduação em ciência ambiental da mesma universidade, helioevangelista@hotmail.com
[2] De certo modo este filme dirigido por Walter Moreira
Salles, premiado com a Palma de Prata em Berlim, tendo a atriz Fernanda
Montenegro como personagem principal trás uma reflexão sobre a centralidade da
igreja católica neste país, ainda hoje.
O filme começa numa estação
ferroviária de grande fluxo no Rio de Janeiro, a Central do Brasil, lugar do
entroncamento e mergulha nos rincões destes sertões brasileiros na tentativa de
recuperar laços familiares e afetivos perdidos, tendo como ambiência toda uma vivência
religiosa dada pelas procissões, santos, etc.
[3] Numa nota em sua obra Sobrados e Mucambos, nota 41
que se estende da página 1155 a 1161 é possível verificar a ação de várias
irmandades, confrarias e ordens terceiras com várias atribuições e conformando
o quadro societário brasileiro.
[4] Procurei ser fiel à grafia da época. O documento,
acompanhado por uma carta do então Imperador D. Pedro II, tivemos a oportunidade de ler no Arquivo do
Estado do Rio de Janeiro ( em agosto de 1996 ). Pelo documento, sobressai que a
organização da irmandade estava norteada pelo objetivo de prover aos
integrantes toda sorte de apoio, tanto de ordem material, quanto espiritual.
Este documento será por nós destacado a seguir.
[5] In Cantagalo: a história de seus limites territoriais
(1814-1943). Evangelista, Helio de Araujo et alli. Niterói: Departamento de
Geografia, 1997, p. 38-43. ISBN
85900765.
[6] A instalação pressupõe a delimitação do município e
indicação dos que ocuparão os cargos da Câmara Municipal.
[7] No alvará de criação do município em 9/3/1814
foi indicada uma delimitação, sem a precisão do que foi demarcado em 1815, a
saber:
“.. terá por limites todo o
território que se comprehende desde o Rio Parahyba, no sitio que o Ministro
encarregado do levantamento da Villa lhe assignar, correndo pelo alto da Serra
dos Orgãos a partir com Termos das Villas de Magé, Macacú, Macahé e Campos dos
Goitacazes até fechar no mesmo Rio Parahyba, o qual lhe servirá de divisa em
toda a extensão da parte da Provincia de Minas Gerais. Ficará comprehendida
nestes limites a Aldeia da Pedra, que até agora pertencia ao Termo da Villa de
S. Salvador dos Campos, da qual sou servido desmembral-a com todo o territorio
do alto da Serra a dentro, para ficar pertencendo à Villa de S. Pedro de
Cantagallo e à Comarca do Rio de Janeiro.”( In Collecção das Leis do Brasil,
Rio de Janeiro, 1814, p. 6-8 . Coletânea de leis organizada por Nélia Leão
Santos e equipe do IBGE/CDDI/DEDOC )
[8] Embora em Nova Friburgo a criação da vila tenha sido acompanhada
pelo estabelecimento de uma freguesia, esta não antecedeu a ocupação dos
migrantes, que na maior parte não era católica, mas vem correlato. Sobre este
item cabe a consulta do Alvará de 3 de janeiro de 1810 que estabelece:
“A referida villa, que ficarà desmembrada da de Cantagallo, terá por
termo o districto da freguezia de S. João Baptista da mesma Colonia, que alli
mando crear.”(In Collecção das Leis do Brasil, Rio de Janeiro, 1820, p.
1-2 . Coletânea de leis organizada por Nélia Leão Santos e equipe do
IBGE/CDDI/DEDOC)
[9] Quem nos chamou a atenção para este aspecto da
irmandade foi o Sr. Diogo Lordello de Mello, em entrevista realizada no
Instituto Brasileiro de Administração Municipal no mês de agosto de 1996.
Em recente
obra, Mônica de Souza N. Martins em Entre a cruz e o capital – as corporações
de ofícios no Rio de Janeiro após a chegada da Família Real 1808-1824 (Rio de
Janeiro: Ed. Garamond, 2008) destaca vários aspectos desta relação entre as
irmandades e as funções sociais, particularmente as atividades profissionais,
no Rio de Janeiro. Inclusive, Gilberto Freyre décadas antes é pródigo em sua
obra Sobrados e Mucambos em destacar aspectos desta natureza (2000b).
[10] Embora, em termos religiosos, tenha representado um novo alento já que em não poucas situações, como o Mosteiro de São Bento, à época da proclamação da República tinha poucos membros porque ficava pendente da autorização do então imperador em aceitar novos ocupantes no mesmo. O que representaria novas linhas de gasto ... com a República, a separação da Igreja em relação ao Estado significou uma separação entre os proventos monetários de um em relação ao outro, assim, o dízimo, quando arrecadado pela Igreja ficava na própria igreja, ao contrário da época do padroado, quando se tinha uma tributação em nome do dízimo mas não era repassado em igual proporção à igreja. Este aspecto foi esclarecidos pelo abade do mosteiro em palestra promovida pelo Museu Nacional de Belas Artes em 1997.
[11] As informações que se seguem foram retiradas do
Anuário Eclesiástico da Arquidiocese de São Sebastião localizada na cidade do
Rio de Janeiro (RJ). Edição de 1986
[12] Desde então, estamos atualmente com o nosso sétimo
Arcebispo, a relação vem a ser: D. João Esberard, de 12/09/1893 a 22/01/1897;
D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, de 31/08/1897 a 18/04/1930. Foi
Criado Cardeal em 11 de dezembro de 1905; D. Sebastião Leme da Silveira Cintra,
de 18/04/1943 a 18/02/1971. Foi criado Cardeal em 18 de fevereiro de 1946; D.
Eugenio de Araujo Sales, desde 27/03/1971. (1986, p. 16) Pelo Anuário
Eclesiástico da Arquidiocese de São Sebastião localizada na cidade do Rio de
Janeiro (RJ). Edição de 2007, consta à pág. 23 que D. Eugenio teria deixado o
governo em 25/07/2001; assumindo D. Eusébio Oscar Scheid em 22/09/2001.
Este, por sua vez, deixou o
governo em abril de 2009 assumindo em seu lugar D. Urani Tempesta.
É impressionante a expressão
da história lenta nesta arquidiocese. De 1893 até 2001 quando D. Eugênio saiu
do governo, em 108 anos tivemos apenas cinco pessoas a frente da Arquidiocese.
Cerca de 20 anos cada governo em média. Quem mais tempo ficou foi D. Eugenio,
seguido por D. Jaime; da posse deste, em 1943, e a saída do sucessor, D.
Eugenio, em 2001, tivemos duas pessoas durante o governo da Arquidiocese por 58
anos!
[13] Obra de um médico reformado que demorou oito anos de
pesquisa (1997-2004) e mais cinco para finalização da edição. È o mais recente estudo
sobre as igrejas no Rio de Janeiro. Edição própria, conta com 637 páginas de
texto com diversas fotografias e mapas das paróquias cariocas. Pedido do livro
Templos Católicos do Rio de Janeiro – Mural ao autor pelo telefone (0xx21)
2285-5048 ou orlindojocar@oi.com.br .
[14] Em 1993 estive em Cuba e tive a oportunidade de
entrevistar um padre cubano, o relato é estarrecedor. A perseguição, a
intimidação, as dificuldades financeiras e, mesmo tempo, à época, era a única
instituição não vinculada ao governo comunista com voz em Cuba! Mais detalhes
da viagem veja www.feth.ggf.br/Cuba.htm .
[15] De certo modo, muito do insucesso da revolução na
Espanha no século XX, ou da própria Revolução Francesa do século XVIII (abrindo
espaço para a ascensão de Napoleão Bonaparte) decorreu do caráter beligerante à
igreja o que acabou afastando uma importante base popular ao movimento.
No caso da Guerra Civil
Espanhola, por exemplo, cerca de 7.000 eclesiásticos foram assassinados,
proporcionalmente igual número ao verificado na Revolução Russa. Nas primeiras
72 horas da guerra civil espanhola, entre os dias 18 e 21 de julho de 1936, na
cidade de Madrid, foram saqueadas 46 igrejas. Entre os dias 19 e 20
queimaram-se 34 edifícios religiosos; ao término da Guerra, das 210 igrejas que
havia na capital espanhola, estavam totalmente destruídas 45; 56 com destruição
parcial, 84 com danos leves, 14 sem danos e 11 intactas. As que foram
destruídas parcialmente bem como as que sofreram danos leves ou não foram danificadas,
foram todas saqueadas. In Gonzalo Redondo. História de la Iglesia en España.
1931-1939. Tomo II. La Guerra Civil (1936-1939), Madrid, 1993, pág. 20 e nota
6; cfr. Raymond Carr, La tragédia española. La Guerra Civil em perspectiva,
Madrid, 1977, pp. 111 e segs. Fontes indiretas obtidas em Prada, 2004, tomo II,
p. 9-20.
No caso da Revolução Russa,
por exemplo, cabe a lembrança que a cidade de São Petersburgo, com a revolução,
passou a ser denominada Leningrado, depois Stalingrado, e dado o término da
União Soviética no Natal de 1991, após 74 anos, a cidade voltou a ser chamada
pelo nome original, uma homenagem ao primeiro Papa da Igreja Católica. Embora a
igreja russa seja ortodoxa a mesma tem com a igreja católica mil anos de
história em comum! Além de certas denominações de igrejas ortodoxas ainda hoje
comungarem a fidelidade ao Papa, o que não é o caso da igreja russa.
[16] À época, pelo anuário de 1987, a Província da
Arquidiocese, não a Arquidiocese em si, abrangia as dioceses de Nova Iguaçu,
Barra do Pirai, Volta Redonda, Duque de Caxias, Valença, Itaguaí e Abadia
Nullius de Nossa Senhora do Monserrate.
[17] Já tivemos a oportunidade de abordar isto em www.feth.ggf.br/Indio.htm
[18] Cabe aqui uma referência quando da inauguração da
biblioteca central da Universidade Veiga de Almeida no Rio de Janeiro, a
escritora Nélida Piñon, então presidenta da Academia Brasileira de Letras,
observava que a intenção de Machado de Assis e outros escritores ao criarem a
entidade foi o de padronizar a língua falada no país, já que a maioria da
população brasileira ainda era fortemente marcada pelo tupi guarani.