Revista geo-paisagem (on line) Ano 6, nº 12, 2007 Julho/Dezembro de 2007 ISSN Nº 1677-650 X |
Geografia teorética, um registro
Geografia quantitativa no Brasil, uma curta revolução, porém, uma revolução, não só quantitativa, mas acima de tudo epistemológica.
Helio de Araujo Evangelista
(Prof. Dr. do Departamento de Geografia da UFF- helio@vm.uff.br)
Resumo
Um texto que registra um momento da geografia brasileiro que veio a ser tratado de forma bem pejorativa mas que merece ser melhor compreendida - a geografia quantitativa. O texto versa sobre a geografia quantitativa a partir de um resumo de um curso promovido pela professora Maria Cavalcanti Bernardes há trinta anos atrás. O curso ocorreu em 1977 na UFRJ, um ano antes do aparecimento do que veio a se chamar geografia crítica. Assim, é realizada uma leitura sobre a geografia quantitativa sem a marca da paixão que veio a ocorrer posteriormente.
Palavras-chaves: Geografia, história da disciplina, Brasil
Abstract
This paper aims to contribute to the reflection of quantitativ geography in Brazil. The article is about quantitativ geography, its major contribution is an abstract of course - Geography's theory - taught by Lysia Maria Cavalcanti Bernardes trirty years ago. The course happened in 1977 at UFRJ, so one year before the beginning of mouvement knowed as critical geography. It is a lecture of teoretic geography without the passion of the debate that happende afterwards.
Keywords: Geography, discipline's history, Brazil
(Em memória da professora Lysia Maria Cavalcanti Bernardes, uma geógrafa que poderia pender para a geografia teorética, mas não para sua quantificação)
Introdução
Antes que estranhe o título, a idéia que percorre o texto é a de que tanto a evolução da geografia crítica no Brasil, quanto a da geografia cultural posteriormente, tiveram um decisivo avanço a partir do que a geografia quantitativa quebrou em termos de produção geográfica dominante. No caso brasileiro, o significado da geografia quantitativa é muito mais profundo do que nos parece indicar os historiadores da geografia crítica brasileira.
A geografia quantitativa significou uma alteração do próprio sentido de conceber a geografia, assim como, uma mudança axiológica quanto a forma de se entender o valor dela mesma. Muito do que se deu de transformação na chamada geografia brasileira nos últimos anos, os pressupostos pela busca por novas concepções teóricas e horizontes metodológicos foram semeados pela geografia quantitativa! Assim, em vez de acentuarmos as disparidades ao compararmos a geografia quantitativa, crítica e cultural, enfatizamos interfaces entre elas muito mais amistosas do que podemos imaginar. [1] Muito do que a geografia crítica veio a ser no Brasil, e mais tarde a própria geografia cultural, decorreu do que a própria geografia quantitativa ajudou a dinamitar em seu respectivo tempo. [2]
Foi com grande satisfação que realizei este texto, pois ele serviu para enterrar uma visão preconceituosa que aspirei na minha graduação realizada na segunda metade da década de setenta na Universidade Federal do Rio de Janeiro, segundo a qual tudo que haveria de ruim se chamava geografia quantitativa! Seja porque ela representaria a encarnação de uma geografia afeita a otimizar a expansão capitalista,[3] seja porque, convém não deixarmos de considerar este aspecto, a matemática assustava as pessoas. Assim, sem desconhecer estes dois aspectos, cabe reabilitarmos a geografia quantitativa não pelo que lhe foi acusada realizar, mas também, por ter realizado mudanças que vão além do aspecto estritamente pragmático, para tanto, foi particularmente providencial encontrar as anotações realizadas em sala de aula durante o curso – Teoria da Geografia - promovido pela professora Lysia Maria Cavalcanti Bernardes no primeiro semestre de 1977 na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Passei boa parte do tempo gasto na produção deste texto resgatando estas notações. Naquela oportunidade, ela tratou da geografia quantitativa naquilo que lhe mais chamava a atenção, a profunda mudança na forma de conceber o que seria uma pesquisa geográfica. É interessante este resgate pois as observações foram colhidas antes do aparecimento da geografia crítica brasileira, assim, fica uma leitura menos propensa a atacar a geografia quantitativa mas sim de compreender o que se passava.
Por último, cabe destacar que este artigo não é sobre uma memória, de algo ultrapassado, a chamada geografia quantitativa continua, há toda uma forma atual através do Sistema de Informação Geográfica – SIG. O sensoriamento remoto, o GPS, etc. são formas de análise da superfície terrestre que estão a exigir conhecimentos técnicos e matemáticos. Mas esta fase mais atual não trato, faço sim uma análise que corrobora numa visão menos preconceituosa da geografia quantitativa.
Primeiras impressões
É impressionante o volume de informações sobre geografia quantitativa no Brasil, embora seu período de vigência hegemônica tenha sido muito pequeno. Uma situação bem diferente da encontrada ao analisarmos a geografia cultural no Brasil.
No caso da geografia quantitativa, arrisco a dizer que houve um projeto de Estado, ou, um projeto que surgiu sob os auspícios do Estado brasileiro, já que os promotores da corrente encontravam-se nele. Destaco especificamente o papel do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no episódio, senão a instituição, ao menos destacados geógrafos da mesma. O ponto de partida da geografia quantitativa brasileira foi dado pelo IBGE. [4]
Mas o domínio deste movimento teve pouca duração, logrou sucessores, a sua capilarização foi, inicialmente, impactante, porém, de pouca duração. Arrisco a observar que a geografia quantitativa teve seu período maior entre o final da década de 60 e o final da década seguinte. [5]
O baixo desdobramento da geografia quantitativa no Brasil é por mim interpretada como decorrente de dois processos, um interno, e outro externo. O externo, que vem a ser mais facilmente objeto de consenso é a projeção da geografia crítica que aparece no cenário brasileiro atacando sistematicamente a quantificação na geografia. Porém, há um outro decisivo que afeta a própria geografia no IBGE, ou seja, pelo que foi possível notar tanto no artigo de nossa autoria em www.feth.ggf.br/FIBGE.htm e no de Miguel Alves de Lima em www.feth.ggf.br/Geografia.htm a geografia enquanto campo de conhecimento sofreu uma sensível alteração na própria entidade. A FIBGE passou a ser um órgão gerador de dados e não tanto interpretador, fortaleceu-se muito mais a dimensão da coleta e sistematização do que propriamente formuladores de políticas, estas destinadas ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada . Enfim, aquela fase de ouro, como destaca Miguel Alves, de formar um retrato do país, cedeu espaço para uma tabela, de dados.
O fim do prestígio do Conselho Nacional de Geografia coincide com o aparecimento da Geografia Quantitativa. [6] A tese que defendo é que esta entidade do IBGE teve seu fim precipitado pela ascensão da geografia quantitativa. O então conhecido CNG corporificava no IBGE a matriz européia (particularmente francesa) da geografia que veio a sofrer um forte abalo com a quantificação da disciplina, desde então ocorreu uma mudança de tonalidade na produção ibgeana de geografia. A produção tornou-se impessoal. Não entrava mais o papel do mestre, do mentor, mas sim o do método, da análise fatorial etc. Não importava mais o catedrático, mas sim a equipe que passou a ter um outro mestre, o computador. Não importava a formação de quadros pensantes, mas de técnicos. Perdeu-se a dimensão da pessoalidade no ato de conhecer e pesquisar, o que lidera os passos, de quem fosse idoso, maduro ou jovem, é o número encontrado nas tabelas ou nas equações.
Quando nos atemos aos impactos da geografia quantitativa na geografia enquanto disciplina é impressionante o seu efeito. Se temos uma avaliação da mesma a partir de uma perspectiva marxista, chegaremos a observar que a geografia quantitativa significou mais do mesmo, porém, sou levado a considerar que a geografia quantitativa significou uma forte mudança cognitiva, ( conforme Thomas Khun (1978)). É a partir dela, que as demais evoluções , da crítica e da cultural se assentam definitivamente.
Thomas Khun em A Estrutura das Revoluções Científicas [7]
Como recurso para trabalharmos as indagações acima, recorreremos à contribuição de Thomas Khun em A Estrutura das Revoluções Científicas, através dele não intentamos traçar um fichário sobre o seu pensamento, mas sim a partir de suas observações construir um cenário de como a ciência é conceituada como tal.
O trabalho de Thomas Khun está centralizado em alguns ramos da ciência como o da astronomia, ( comparando geocentrismo e heliocentrismo ), química ( ao tratar da concepção do flogisto e a descoberta do oxigênio ), física ( a composição da luz, a teoria eletromagnética, a teoria mecânica, a teoria da relatividade e a teoria atômica ) e sobre alguns cientistas ( Ptolomeu, Copérnico, Lavoisier, Dalton, Maxwell, Isaac Newton e Albert Einstein, entre outros ) para pensar a constituição e mudanças de paradigmas na ciência, no entanto, ele não chega a ter nas Ciências Humanas material de apoio para pensar as revoluções científicas.
Sobre as ciências humanas ele detecta uma séria dificuldade para se achar um consenso quanto aos paradigmas que orientem os trabalhos, ele, na verdade, não afirma ser possível encontrar nestas ciências paradigma, ele deixa a questão em aberto ( pp. 13, 35 ).
Além deste aspecto, embora considere relevante o papel do avanço tecnológico e das condições sócio-econômicas como emulo da ciência, como fatores externo, ele dá pequena importância aos mesmos na justificativa de que ...“ o papel desempenhado pelos fatores externos é de menor importância apenas em relação aos problemas discutidos neste ensaio “ ( p. 15 e vide nota 4 na mesma pág.).
Thomas Khun procura compreender as rupturas que ocorrem nas ciências, não correspondendo a visão usual de que o conhecimento tem um caráter cumulativo, ele percebe que as transformações no campo científico ocorrem através de rupturas que trazem mudanças radicais nos paradigmas então adotados.
O caráter cumulativo do conhecimento ocorre no curso normal das investigações onde há uma hegemonia de um paradigma, é a ciência normal - uma atividade que consiste... “em solucionar quebra-cabeças, é um empreendimento altamente cumulativo extremamente bem sucedido no que toca ao seu objetivo, a ampliação contínua do alcance e da precisão do conhecimento científico” ( p. 77 ) , porém quando ocorre um acúmulo de dívidas e fatos novos que o mesmo não explica, surgem concepções rivais propondo-se a responder as novas dúvidas.
A ciência é vista como um campo onde seu desenvolvimento tem nos estágios preliminares o conflito entre diferentes concepções de natureza. A resolução destes conflitos não ocorre exclusivamente devido à competência intrínseca dos argumentos apresentados, há outros aspectos que se destacam, ele chama atenção , neste sentido, para o papel da equipe, da coesão dos cientistas, da sua capacidade em articular-se e persuadir os demais de que a sua concepção é a mais eficiente ( p. 128 ).
As revoluções científica surgem como episódio de desenvolvimento, cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior ( p. 125 )
O paradigma informa ao cientista que aspectos da natureza a considerar, assim como a maneira como estes se comportam. É como se fosse um mapa de pesquisa, sem o qual a observação estaria mergulhada num mundo complexo e sem expectativa de vir a gerar um conhecimento passível de ser acumulado. O paradigma compreende teoria, métodos e padrões científicos. Desse modo, quando o paradigma é rompido, há uma mudança na legitimidade quanto aos problemas e as soluções consideradas ( 143-144 )
O paradigma não tem apenas função normativa, mas também cognitiva e a mudança de paradigma significa a mudança de uma concepção de mundo.
Em períodos de revolução científica, a percepção do cientista sobre o seu objeto de estudo passa por uma reeducação, há uma alteração da forma ( Gestalt ) de se perceber o objeto ...” embora o mundo não mude com uma mudança de paradigma, depois dele o cientista trabalha em um mundo diferente”. ( p. 157 ).
É uma perspectiva epistemológica segundo a qual a ciência não deixa de ser uma interpretação humana de determinados fatores...“A ciência não se ocupa com toda as manifestações possíveis no laboratório. Ao invés disso, seleciona aqueles que são relevantes para a justaposição de um paradigma com a experiência imediata, a qual, por sua vez, foi parcialmente determinado por esse mesmo paradigma” (p. 162)
O discurso científico prima por uma certa unidade pois o seu enunciado está permeado por procedimento metodológico e teórico que orienta a seleção, avaliação e crítica das experiências realizadas. A ausência de parâmetros necessariamente leva a uma série de divergências que pouco facultam a compreensão mútua e o caráter cumulativo do conhecimento.
Mas, se o paradigma atua como o grande norte da pesquisa, o que advém de seu uso é uma construção sobre o real factível de ser remodelado por um novo paradigma. O que abre a indagação da ciência ser algo que chegue de fato à verdade, será que as mudanças dos paradigmas significam uma tendência evolutiva para a compreensão da realidade?
Ele percebe que as mudanças de paradigma não têm uma aproximação acumulativa de chegar a verdade; ocorre sim na sucessão dos diferentes paradigmas, de um determinado campo de análise, uma não sucessão coerente de desenvolvimento, em termos de ajuste, entre a ontologia de uma teoria e sua contrapartida “real” na natureza ; há sim, no processo de evolução dos paradigmas, alguns aspectos da realidade destacados e outros que perdem significado ( mas que podem vir a ser valorizado pelo paradigma seguinte, como foi o exemplo da Teoria da Relatividade de Einstein estar mais próxima da Teoria de Aristóteles ). ( pp. 213, 235 ).
Assim, a ciência é permeada por um paradigma que a conduz, indica os aspectos da natureza a considerar, assim como os mesmos se comportam. O paradigma compreende teoria, métodos e padrões de procedimento na pesquisa. Ele, enfim, dá legitimidade aos problemas e soluções encontradas durante os trabalhos. Pelo paradigma há, portanto, uma determinada concepção de fazer ciência.
Pelo paradigma há a formatação de uma certa coesão nos discursos, achados e formas de comunicação das descobertas . No entanto, o paradigma não pode ser confundido como sendo a própria realidade, ele é um norte da pesquisa diante de sem número de fenômenos diante dos quais há de ter uma seleção para construir o conhecimento humano.
Teoria da Geografia, segundo a professora Lysia Maria Cavalcanti Bernardes [8]
Realizo aqui uma sistematização conceitual da geografia quantitativa segundo anotações de sala de aula obtidas junto à professora Lysia Bernardes quando esta ministrou a disciplina Teoria da Geografia no primeiro semestre de 1977. [9]
Da entrada do século XX, até a 5ª década ocorreu uma alteração no conceito de geografia. Até o final daquele período destacou-se Hartshorne: americano que valorizava a descrição cognitiva, que afirmava que a geografia apurava racionadamente, ordenamente, descritivamente, as características da terra. [10]
Cholley: francês, dizia ser a geografia uma visão racional da terra. Nesse pequeno período de 5 décadas, a distribuição do homem foi um das maiores preocupações dos geógrafos. Também, nesse período, a restrição com que se fazia a pesquisa era notória; faziam a partir de uma visão limitada, procurando analisar as áreas.
Até a década de 50, a explanação da geografia se ocupava com uma ordem genérica, onde vigorava a descrição. A partir dos anos 50, o computador aumentou a sua infiltração nos meios informativos, dando maior número de informações mais objetivas e exatas.
A partir da década de 50 a geografia clássica foi questionada sob vários aspectos.
Emmanuel De Martonne observava, por exemplo, que a geografia deveria repartir os fenômenos biológicos, físicos da terra e seu relacionamento. Já na década de 50, ocorreu uma renovação conceitual, quantitativa. Quantitativa devido as comparações feitas entre os números de cada cidade, por exemplo, aumentando assim a acuidade dos fatos.
Nasceu no seio da geografia a preocupação de se racionalizar os fatos, de se buscar teorias, daí ser a geografia a partir da década de 50 uma geografia teórica. [11] A medida que cresce a preocupação na explicação diminui o fator descritivo do fato.
Na era do computador, há duas correntes, as do quantitativos e as do não quantitativos. Os quantitativos caem no erro de confiarem demais no computador, perdendo a importância que é dada à origem da informação. Os não quantitativos se apóiam no fato de ser necessário um conhecimento pessoal do lugar que vai pesquisar para evitar de receber informações de computadores sem um olhar crítico e de forma arbitrária. Os não quantitativos dizem que a geografia é o estudo da dinâmica do espaço humanizado ( vê-se nessa teoria duas coisas: 1 ) o não aspecto descritivo; 2 ) a necessidade de dados que não são obtidos por computador.
Entre os maiores não quantitativos está Brian Berry que referia-se a três pontos fundamentais, três pontos básicos de seu pensamento, a saber, processo, ecossistema mundial, homem dominante. Assim, ele estudava os processos da realidade atual. “A geografia estuda a inter-relação do homem no espaço”, outra idéia dos não quantitativos.
Dentro da renovação da Geografia a professora veio a chamar a atenção para o conceito de sistema que, preliminarmente, poderia ser considerado como um dos assuntos dos mais importantes do curso que ela oferecia; este pode ser visto como resultante de partes interdependentes que impunham sobre as outras suas influências. Pela perspectiva do sistema, se tem o método de pesquisa utilizado na geografia e na própria história. É necessário, assim, melhor compreender a Teoria Geral do Sistema – TGS.
O sistema é um conjunto de elementos estruturados dinamicamente.
Para Ullman, o que importava destacar no sistema eram as interações espaciais. Ele afirmava que o sistema era um conjunto de objetos reunidos e entre os seus objetos e seus atributos havia uma relação entre eles. . O conjunto, por sua vez, era visto como uma junção de elementos organizados que tem relações recíprocas e são solidários através de atributos intrínsecos à cada elemento. A partir desta noção de interação, destacava-se a noção de estado, aqui entendido como um conjunto de propriedades significativas num determinado momento.
Os sistemas podem ser abertos, pois recebem influências externas, ou fechados, pois apresentam limites rígidos. Os sistemas apresentam gradações, um sistema engloba outro, há portanto uma hierarquia porque um sistema abriga um outro sistema subdividido ( uma espécie de subsistema). Os sistemas se ligam por elos através de feed-back, ou seja, através de processos que alimentam o sistema para ocorrer outra coisa. Há assim, o in put, insumo, o out put, produto, e o processo de reversão, o feed-back. [12]
No momento, há o método quantitativo e o sistemático, sendo este ditado por áreas ( geografia urbana, agrícola, etc. ). O quantitativo, por sua vez, se oporia ao qualitativo, o quantitativo corresponde a um relacionamento ordenado, já o qualitativo, o relacionamento focado é coordenado. [13]
Esta aula sobre Ullman, ocorrida em 17 de março de 1977 me trouxe um desafio de melhor compreender tanto o conceito de sistema, como o de estrutura, também relacionado ao primeiro.
Passei um final de semana refletindo sobre o tema e cheguei a seguinte conclusão:
Sistema é um conjunto no qual seus integrantes com características próprias e de funções próprias se relacionam interpondo-se, interligando-se, coordenando-se reciprocamente de maneira racional ou instintiva ou ocasional ou ambas, ou só duas. Notando no conjunto que seus integrantes visam se processar através das trocas. Surgindo dessa coordenação entre os integrantes uma estrutura organizada.[14]
Na aula de 21 de março, o tema foi Brian Berry, embora afinado com a renovação existente na Geografia, ele não se identificava com a quantificação da Geografia. Este aspecto é interessante frisar porque destaca a inadequação de entendermos o que ocorreu na geografia em geral, e na própria geografia brasileira, sob o título de geografia quantitativa. A rigor, mais do que uma mudança na roupagem do modo de olhar o espaço, ocorreu uma reconstituição do próprio olhar, ou seja, a geografia quantitativa não foi só quantitativa, ela foi mais que isto, ela significou uma alteração epistemológica. Um exemplo desta afirmação é o pensamento de Brian Berry.
Brian Berry discorda de Richard Hartshorne que destacava a singularidade da geografia, ele assinala que a geografia estuda os fenômenos componentes da crosta através de enfoque espacial sendo orientada sob uma visão sistemática. Ele entendia a geografia como uma ciência social, uma ciência social, porém, que não esquecia o aspecto físico e biológico. Para ele, não há porque pensar a geografia de forma dicotômica, como se fazia, ou seja, geografia geral ou geografia sistemática versus geografia regional, ou ainda, geografia humana versus geografia física. Ele entendia que tudo influenciava o homem e, portanto, nada poderia ser relegado a segundo plano.
O pensamento de Brian Berry não foi particularmente expresso por uma obra, mas sim por um modelo [15] que visava sistematizar a pesquisa com enfoque espacial. O modelo atuava como paradigma que se definia como o regente de uma ciência; ela serviu para entender uma dada ciência durante um “certo tempo”.
O modelo de Brian Berry vigorou de 1950 até 1970, em termos gerais, ele constitui-se em :
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Lugares |
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Características |
1 |
2 |
3 |
4 |
Populacional ( por ex. migração ) |
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Econômica ( por ex. renda ) |
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Relevo ( por ex. topografia ) |
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Agrária ( por ex. produção ) |
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Assim, se o geógrafo privilegia as colunas, ele realiza uma análise regional, se considera as linhas horizontais, ele tem uma análise sistemática. Assim, para Brian Berry, o foco deveria considerar as características e lugares, o que pressupunha um aspecto descritivo; ele, Brian, introduziu uma perspectiva transversal o que presumia a dinâmica da coisa considerada. Para ele, a dinâmica compreenderia uma transformação ocorrida no lugar através do tempo. Assim, teríamos várias fichas sendo apresentadas a cada tempo, formando uma noção prospectiva ( o estudo não só reconheceria uma dada realidade, com antes e depois, mas também avalizaria cenários possíveis para o futuro )[16] , noção, aliás, muito cara e necessária para quem visava planejar áreas.[17]
Na aula de 28 de março, Lysia Bernardes destacou uma característica do que ocorria na geografia após a Segunda Grande Guerra, a saber, antes do conflito, a geografia se ocupava com definições, com princípios; após a guerra, a ênfase passou a ser a busca por um paradigma, ou seja, algo que indica os pressupostos organizacionais de uma área e com isto seja factível uma intervenção.
Segue abaixo um quadro comparativo montado por Ullman, que para a professora foi quem bem sintetizou a mudança verificada na geografia em termos recentes.
1 |
Geografia clássica |
Geografia atual |
2 |
Ênfase na geografia regional |
Ênfase na geografia sistemática ou geografia tópica |
3 |
Monografia |
Análise regional |
4 |
Preocupação com a gênese/origem |
Processo, interação |
5 |
Interpretação histórica |
Interpretação funcional |
6 |
Qualitativo / subjetivo |
Interpretação quantitativa |
7 |
Singular /peculiar |
Geral e teórica |
8 |
Entende o presente |
Visão prospectiva |
Para a professora Lysia M. C. Bernaredes, sobre os itens 1 e 2, a divisão ainda ocorria no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ) nas décadas de 40 e 50, porque havia departamento que destacava a geografia regional e outro a geografia sistemática.
Ela entendia, sobre o item 3, que a monografia não era válida porque tem não tem preocupação geral e sim restrita. Ela não mostra a interdependência de um lugar para o outro. Ela frisa fatores peculiares da região e características. Na análise regional, em contraponto à monografia, usa dados tanto da geografia regional quanto da geografia sistemática. Enquanto a monografia tentava conhecer a área, o loca, a análise regional pesquisava com um objetivo tópico, enfim, a análise regional assumia de ante mão um limite, já a monografia ambicionava “esgotar” o que pudesse ser dito sobre uma determinada área.
Sobre o item 4, na chamada geografia clássica, a questão da gênese assumiu um aspecto que foi profundamente alterado posteriormente. A ênfase na gênese reforçava numa noção ambientalista, como se a razão última de um local pudesse ser encontrado no próprio local; assim, o privilegiamento da noção de processo e interatividade desdobrou-se uma noção de que a razão de ser de um local pode não encontrar-se nele próprio. O estudo do processo do presente apoiado pelas razões existentes no passado procurou antever o processo do futuro. Hoje, o passado é usado para entender melhor as interações atuais, assim, estuda-se o ambiente para entender melhor suas interações.
Sobre os itens 5 a 7, a interpretação funcional se preocupava com o aspecto da conseqüência do fato estudado no presente, a interpretação histórica se ocupava com o aparecer do aspecto. A quantitatividade era menos objetiva, apesar dos cálculos serem objetivos, isto não implica afirmar que as afirmações fornecidas ao computador o eram, que tivesse de fato mais importância que outros fatores. Atualmente a informação quantitativa é base da informação. A interpretação qualitativa pesquisava de maneira despreocupada com a quantidade e sim pela importância que uma coisa poderia ter. Mas isso tornava a pesquisa subjetiva porque cada um tinha uma concepção de importância. Ratzel tinha uma orientação teórica que ao pesquisar levava para dentro de sua teoria, sendo um determinista ambientalista. Ratzel provocou o aparecimento, devido as suas idéias, do possibilismo, este destacava os fatos singulares dizendo que o homem faz ou não dependendo da natureza ou não. Para William Morris Davis para se explicar um fato se usava uma idéia de conjunto, mas foi uma exceção na geografia clássica).
Sobre o item 8, a geografia não era feita para ser útil. Estudava a geografia para o geógrafo. Tinha o pensamento de que se sofria desvirtuamento quando se procura ver a geografia na prática. A geografia atual se preocupa com a previsão e aplicabilidade.
Na aula de 31/3/1977, a professora retomou alguns pontos observados e os sintetizou. A geografia clássica não enfatizava a teoria, se pautava na descrição dos fenômenos, estava atenta a diversidade e singularidade, e não generalizava suas conclusões. A geografia atual, se ocupa com a teoria, está atenta a regras, visa obter conclusões gerais, advinda dos estudos das interações dos fatos. Valorizava as leis, os modelos explicativos, e destaca dados quantitativos.
A teoria, para a professora Lysia, [18] nasce pelo conhecimento das disposições dos elementos. A teoria serve de lastro para conceber um modelo. O modelo facilita a praticabilidade da teoria. A preocupação atual é entender o lugar tal como ele é sobre uma visão geral[19]. O modelo atua como um instrumento que dá maior objetividade, ele organiza as informações relevantes de caráter genérico, para que se conheça os padrões gerais. Esse procedimento leva o pesquisador a se afastar do sentido de único.[20] Assim, com o modelo se tem uma idealização estruturada do real simplificado de modo a mostrar aspectos que refletem o geral da coisa idealizada. [21]
Em resumo, o modelo se constitui dos seguintes aspectos.
Características |
Funções |
Tipos |
Seletivo |
Visualizar o todo, ressaltando os fenômenos significativos. |
Descritivo |
Estruturado devido ao relato do relacionamento e interconexão das características selecionadas . Relata um padrão regular dessa interconexão para explicar aquela realidade . |
Ser uma fonte de novos conhecimentos |
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Analogia ao real |
Organizar as suas informações na lógica daquilo que procura a ponto de chegar a uma explicação |
Normativo ( grau de probabilidade elevada ) |
Reaplicação em outros lugares . Se não conseguir essa reaplicação significa que este foi bastante factual |
Normativo, será norma para entender o mesmo fenômeno em outros lugares ou entender outros fenômenos. A reaplicação do modelo decorre de sua função normativa. |
|
Sistemático, facilita o entendimento da interligação entre os fatores |
Preditivo |
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Construção de teoria, prevê a realidade que irá acontecer |
Sobre teoria, segundo aula de 14/4/1977, a professora Lysia observou que ao início do século XIX a geografia encontrava-se dividia em várias ciências, tais como, astronomia, botânica, zoologia, ecologia, sociologia, economia, geologia, etc. A pesquisa era regional, um estudo segundo áreas, um estudo que não proporcionava ao geógrafo completo entendimento da realidade.
A partir da segunda metade do século XIX cresceu a chamada geografia sistemática ou tópica; por esta linha priorizava-se um assunto, embora isto não fosse a marca da geografia francesa que ainda destacava os estudos regionais. Com o crescimento da assim considerada geografia sistemática, cresceu a especialização, saindo, então, dois grupos, o da área física (enveredando para a biogeografia, hidrografia, mas, particularmente, geomorfologia e climatologia ) , e o da área humana ( se direcionando para os estudos da relação homem meio, estando aí destacada a ecologia, na época, a geografia humana era encarada como estudo das relações ecológicas ). [22]
Já no século XX, terceira década, surgiu a visão econômica nos Estados Unidos. [23] Assim, atualmente, segundo Lysia Bernardes, [24] não mais haveria a ciência geográfica dada a existência de vários campos, no geral, a geografia há de ser vista como o estudo das interações sobre enfoque espacial.
De certa forma, aula de 25/4/1977, desde os primórdios da disciplina , ela teve a sua praticabilidade e um fomento no campo cultural. Mas, se houve sempre estas duas funções, por que na década de 50 foi disseminada a idéia de que a geografia evitava os fatos? A professora destaca as repercussões da utilização da geografia pelos nazistas na Segunda Grande Guerra. A utilização alemã, via geopolítica, visava desenvolver a idéia de que a unidade alemã passava pela consideração de uma devassagem entre o que a Alemanha era e o que de fato deveria ser. Assim, os geógrafos, passaram a reagir com um enfoque que evitasse considerações mais práticas. [25]
Mas, hoje em dia, a geografia aplicada não é de uma geografia, mas sim uma maneira de orientar um trabalho. Assim, haveria uma geografia acadêmica ( passível de utilização), uma geografia aplicada (passível de ter valor acadêmico), e a geografia encomendada; nesta última pode vir a ter uma especialização de técnicas que resolvam problemas mas tendo o risco de não se ter consciência das conseqüências do que está sendo promovido ( além da pessoa ficar muito voltada ao lado prático do processo, sem valorizar o aspecto teórico ).
A realização de uma pesquisa tradicional, por exemplo,[26] implicava em ter na observação o ponto de partida de um trabalho. Depois havia a leitura de mapas e busca de informações bibliográfica sobre o tema analisado, era ainda factível a utilização de estatísticas, embora fosse pouco utilizada. Depois disto viria o levantamento de dados.
Assim, teríamos, observação ( numa forma de inquérito), leitura ( que incluía entrevistas ) e levantamento de dados. Posteriormente, análise de dados, em seguida, produção de mapas, descrição cognitiva e interpretação.
Na pesquisa atual, segundo a professora, a teoria seria o ponto de partida para uma pesquisa, ela atuaria enquanto lastro no trabalho. Para então se ocupar com um conhecimento empírico sobre o local ( com leitura, observação, etc. ) Por este encaminhamento, a junção da teoria com o conhecimento empírico causaria a hipótese.
A coleta de dados que se seguiria após a formulação da hipótese envolveria uma etapa mais rebuscada, envolvendo o maior número possível de dados, análise estatística ( uso corrente nos trabalhos ), interpretação, e, finalmente, avaliação da hipótese formulada. [27]
Para a professora [28] o conhecimento empírico participa do ponto de partida de uma pesquisa com a teoria.[29] O conhecimento empírico oferece ao pesquisador espírito crítico ao resultado encontrado na pesquisa. [30]
Hoje em dia, além do conhecimento empírico, cabe o geógrafo utilizar problema, teoria, hipótese, conhecimento empírico, observação descritiva, explanação, modelo e classificação. Assim, cada um dos itens compõe um momento que cabe o geógrafo interagir com os demais durante a pesquisa. [31] A explanação seria o desfecho do trabalho, mas que resultaria de todo um quadro interativo prévio, muito embora a professora Lysia reconheça que a observação foi um item que ficou desprestigiado, basicamente a partir de 1950 quando então o próprio termo foi sendo esvaziado.
Na aula de 30/5/1977, a professora chama a atenção para o problema da hipótese, este é o início do trabalho e tem atenção a uma demanda internacional , ou seja, está afeito a uma gama de assuntos que outras pessoas em outras partes do planeta estão também a verificar. [32] A hipótese que inspira o trabalho tem três fases de desdobramento, antes, durante e após a pesquisa, ou seja, a hipótese é constantemente incorporada por novos elementos a medida que há uma evolução do conhecimento. Assim, nada impede de uma hipótese em busca de sua veracidade, se chegar a outra.
A explanação está imediatamente relacionada à hipótese, embora a classificação não o seja (sic), assim como a descrição não o seja relacionada à hipótese (sic). A rigor, tanto a classificação, quanto a descrição pode vir a fazer parte da explanação. [33]
Para a professora Lysia, aulas de 6, 16 e 20 de junho, a teoria tem de vir acompanhada por um conhecimento empírico, isto é que possibilita a formulação de hipótese. Na consideração tanto de um conhecimento empírico, quanto da teoria, temos a constituição de uma questão de trabalho que leva a consecução de uma hipótese. A hipótese indica o levantamento de dados ( compreendendo seleção e coleta de dados, assim como técnicas correspondentes ), em seguida vem a análise de dados, para então termos uma explanação com crítica e avaliação do grau de explanação alcançado. O grau de explanação, por sua vez, capacita o pesquisador a inferir a importância da teoria adotada. Se o grau de explanação alcançado é deverás alto, isto indica que o estudo realizado pode ser altamente considerado na avaliação da teoria adotada.
Cabe considerar que esta formatação de procedimento está relacionada a uma função prática da pesquisa, algo que não era tão enfatizado em período anterior da geografia. Segundo a professora, de meado do século XIX até 1950 a utilização era considerada como subproduto da geografia.
Aqui terminam as notas da disciplina Teorias da Geografia, ministrada pela professora Lysia Maria Cavalcanti Bernardes no primeiro semestre de 1977. Por último, cabe destacar que a professora foi muito respeitada na área de planejamento, tendo inclusive sido indicada para ocupar a Superintendência Especial da Região Sudeste ( SERSE ) pelo então ministro da Casa Civil, Sr. Ronaldo Costa Couto, que então trabalhava no Governo do Sr. José Sarney ( 1985-1989 ). Faleceu em 1992 junto com o marido Nilo Bernardes num de seus afazeres que mais apreciava, a saber, viajar pelo interior do estado do Rio de Janeiro, assim, faleceram num acidente de carro. Lysia Maria Cavalcanti Bernardes foi homenageada pela Prefeitura do Rio de Janeiro ao ter seu nome registrado numa pequena rua do bairro de Copacabana da cidade do Rio de Janeiro.
Conclusão
Qual a conclusão possível a um trabalho que teve por objetivo inicial fazer um amplo levantamento da geografia quantitativa brasileira, e a bibliografia demonstra o caminho percorrido, mas que se deteve a um testemunho de uma professora tida como afeita à geografia tradicional, particularmente, à geografia francesa. Parece-me que o presente artigo seguindo este caminho apresenta uma singularidade, o que realça o seu valor, a saber, ele recolhe notas teóricas que a professora Lysia, em que pese a sua vasta experiência, nunca logrou a sistematizar. Assim, o presente artigo capta um momento da professora que nos leva a ver a geografia teorética, popularmente tida como a geografia teorética, de forma menos preconceituosa. A professora Lysia, na época, 1977, tinha em conta a novidade da geografia quantitativa mas não poderia vislumbrar o que ocorreria no ano seguinte, 1978, em Fortaleza (CE ) quando o encontro nacional promovido pela Associação de Geógrafos Brasileiros demarcaria a aurora de uma outra geografia brasileira, a geografia crítica.
Referência para quem queira aprofundar no tema
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ULLMAN, Edward . Auto imagem da “Nova Geografia” s/d .
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Outras informações
Decreto lei 243 de 28/2/1967(fixa as Diretrizes e bases da cartografia brasileira )
ENTREVISTAS úteis sobre o tema
Prof. Pedro Pinchas Geiger publicada na revista GEO-SUL, Revista do Departamento de Geociências da UFSC, nº 17, ano IX, pp. 124-150, segundo semestre de 1992.
Profs: Roberto Lobato Corrêa, Armen Mamigonia, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Manuel Correia de Andrade, Milton Santos e Orlando Valverde publicadas na revista GEO-SUL, Revista do Departamento de Geociências da UFSC, nº 12/13, ano VI, vs. págs., 2º semestre de 1991 e 1º semestre de 1992.
Prof. Spiridião Faissol publicada na revista GEO UERJ, Revista do Departamento de Geografia da UERJ, Rio de Janeiro, nº 1, pp. 79-94, 1997.
Notas
[1] Agora, isto observo no plano do fluxo de uma ruptura ( geografia quantitativa ) que leva a outra (geografia crítica); porém, em termos pessoais, o conflito entre as duas correntes no Brasil foi aberto. Divergências estas muito mais calcadas em buscas de hegemonias em postos universitários, e na própria Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, controle da Associação de Geógrafos Brasileiros, configuração de um novo modelo de livro didático em Geografia, etc. Enfim, por motivos muito mais prosaicos, comezinhos mesmos, configurou-se um verdadeiro abismo entre a geografia quantitativa e a crítica no Brasil , embora com parentesco comum naquilo que souberam fazer bem, a saber, a arte da implosão.
Curiosamente, este grau de animosidade não se deu, no Brasil, entre a geografia crítica e a geografia cultural. Talvez porque os eventos que atingiram a queda do bloco socialista foram simplesmente terríveis, muitos se desiludiram com a força que o marxismo poderia vir a ter nas mudanças históricas, assim, o caráter combativo do geógrafo marxista foi bem amenizado, seja, também, porque a geografia cultural no Brasil, pelo menos até o momento, não configurou um projeto de poder adentrando na AGB, nos livros didáticos, etc. tal como ocorreu naqueles finais de ano de 70 em diante pelos geógrafos críticos.
[2] Sobre a geografia crítica e cultural no Brasil, veja, respectivamente, www.feth.ggf.br/GeografiaCrítica.htm e www.feth.ggf.br/Geocrítica.htm , assim como www.feth.ggf.br/Cultgeo.htm
[3] Para alguns geógrafos planejadores, não estava em questão preservar ou lutar contra o capitalismo, mas sim de tentar dar soluções a problemas que se fossem esperar a dissolução do sistema, muito pouco haveria de ser feito em favor de pessoas que sofriam precariedades. Isto se deu tanto na reconstrução da Europa no pós-segunda grande guerra, mas, particularmente, antes da guerra, durante as reformas promovidas pelo presidente americano Roosevelt e seu plano conhecido New Deal que trouxe uma versão diretamente geográfica ao promover uma ampla reforma do Vale do Tennessee que abrangeu trinta obras, visando a regularização dos rios, navegação, produção de eletricidade, desenvolvimento agrícola, industrial e turístico. Pelo Tennessee Valley Authority foi consagrado o desenvolvimento regional com direta ação de geógrafos, destacadamente Edward E. Ackerman que produziu uma série de artigos de ordem prática sobre geografia e planejamento. ( Labasse, 1973, pp. 616-617 ).
[4] Na Revista Brasileira de Geografia há preciosos registros do que feito de geografia pelo IBGE, por exemplo, temos um editorial publicado no Ano 32, nº 1, de 1970, com os seguintes dizeres: “O Instituto Brasileiro de Geografia da Fundação IBGE vem, desde cerca de dois anos, voltando as suas atenções para a utilização de técnicas quantitativas nas análises espaciais das diversas regiões brasileiras e nos numerosos tópicos da geografia sistemática... Os contactos com geógrafos estrangeiros, pioneiros na adoção de posições semelhantes, deram aos geógrafos do Departamento de Geografia a possibilidade de iniciar o processo no Brasil e neste sentido constituiram-se como extremamente proveitosas as visitas dos geógrafos Prof. Brian J. L. Berry da Universidade de Chicago, Prof. Howard Gauthier da Universidade de Ohio e Prof. John P. Cole da Universidade de Nottingham, o último dos quais, tendo permanecido no Brasil por quatro meses consecutivos, deu um grande impulso aos trabalhos quantitativos do Departamento de Geografia.
Desta instituição, chama a atenção para o fato de que praticamente todos os geógrafos da instituição participaram do processo, para minha surpresa, isto inclui a atuação de Pedro Pinchas Geiger que pouco é lembrado no desenvolvimento da geografia quantitativa no Brasil. Cabe aqui frisar que Pedro Pinchas Geiger, um senhor octagenário atualmente identificado com uma abordagem marxista da sociedade, procurou bem desempenhar uma função enquanto geógrafo do IBGE no intuito de melhor municiar a equipe de trabalho e prover os meios necessários para pesquisa, neste sentido há obras suas encontradas na Revista Brasileira de Geografia, na qual constam resenhas ( tais como: Comentário bibliográfico: factorial ecology of Metropolitan Toronto de Robert A. Murdie ), artigos ( tais como: Cidades do Nordeste. Aplicação de “factor analysis” no estudo de cidades nordestinas ; ) e comentários ( tais como: Renovação na Geografia ) que divulgam a geografia quantitativa. Naturalmente que sua produção não chega a fazer sombra a de Spiridião Faissol, principal promotor desta linha de geografia na instituição enquanto geógrafo.
[5] Na expansão da geografia quantitativa brasileira temos o curso de Geografia em Rio Claro no estado de São Paulo que contou com geógrafos do IBGE, a saber, Maria Cecília França, Drª Elza Coelho de Souza Keller,e Dr. Linton Ferreira de Barros que afastaram-se dos cargos que ocupavam para assumir, em regime de tempo integral, as cadeiras de Geografia do Brasil, Geografia Física, Geografia Humana e Cartografia e Topografia, respectivamente.
Mas, comparado ao IBGE, o curso de Geografia em Rio Claro teve um caráter mais militante com direito a ter curso de pós-graduação relacionado a esta escola, inclusive fundou uma associação, a Associação de Geografia Teorética (AGETEO), fato ocorrido em março de 1971. Embora sediada em Rio Claro, a AGETEO possui vários associados brasileiros e estrangeiros, e publica dois periódicos com periodicidade semestral, a saber: o Boletim de Geografia Teorética e a Revista de Geografia.
Em janeiro de 1976, foi criada a Universidade Estadual Paulista (UNESP), que passou a congregar vários institutos isolados de ensino superior, o que incluiu a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, onde o Departamento e o Curso de Geografia ficaram abrigados no Instituto de Geociências e Ciências Exatas, conjuntamente com os cursos (e respectivos Departamentos) Matemática e Física.
As informações acima foram obtidas em 21/05/2007 no endereço virtual : www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/historico.html
[6] Alô juventude, este tema vale uma dissertação! Sobre o tema, ver, ALMEIDA, Roberto Schmidt - A geografia e os geógrafos do IBGE no período 1938-1998 . 2 vols. Tese de Doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2000. Orientação de Lia Osório Machado; Jayci de Mattos Madeira Gonçalves – IBGE: Um retrato histórico. Rio de Janeiro: FIBGE, 1995 . Há ainda: Eli Alves Penha – A criação do IBGE no contexto da centralização política do Estado Novo. Rio de Janeiro: FIBGE, 1993.
[7] A parte que se segue faz parte de um trabalho intitulado “Geografia Humana: uma ciência ? ( Uma proposta )” entregue a professora Bertha Koiffman Becker em função de uma cadeira promovida pela professora no Curso de Doutorado em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1995.
[8] Ao longo do curso, como poderá ser constatado, a professora diminuiu a regularidade em suas aulas dado a compromissos na Secretaria de Planejamento do Estado do Rio de Janeiro. Este resumo deve ser visto como uma homenagem póstuma a uma professora que encantou uma turma que acabara de entrar na universidade (a UFRJ ) e viu na mesma novos horizontes de como ver a geografia.
[9] Embora não fosse professora efetiva da UFRJ, a professora Lysia proporcionou um curso que se mostrou decisivo para quem ainda encontrava-se aturdido com a escolha profissional adotada já que a geografia que se tinha na época era aquela encontrada no segundo grau. Assim, o curso da professora, esposa do Nilo Bernardes ( geógrafos da FIBGE ), serviu para ampliar o leque das indagações que um campo de conhecimento como a geografia pode vir a alcançar.
[10] A geografia ao início do século XX apresentava uma descrição da crosta; com as divisões, botânica, metereologia, astronomia. Quem veio a se destacar nesta fase foi justamente Richard Hartshorne que buscou sua inspiração em Kant, o que contradiz a idéia de que a geografia pouco dava importância à teoria. Acredito, o autor deste texto, que falta, sobretudo, uma melhor compreensão de como a mesma se apresenta neste campo disciplinar aparentemente tão factualista.
Voltando a Hartshorne na interpretação da professora. No campo das definições, há três idéias, a saber, a ciência cronológica, a ciência corológica e a regional. A cronológica estudaria os diferentes campos através do tempo; a corológica, estudaria aquilo que ocorre em termos espaciais, achava que tudo o que ocorre na crosta é geografia. Estuda um fato único e vê nele suas relações. Há ainda o regional, ou seja, estudava as diferenciações do espaço. Hartshorne não se preocupava apenas com as descrições das mudanças, dos fenômenos, mas também com o entendimento do fato de “ocorrer mudança”. No tempo de Hartshorne vigorava duas diretrizes, a sistemática e a regional.
Após a Segunda Guerra Mundial, a preocupação com a definição do estudo do fenômeno especificando-o se diluiu devido a conscientização de haver fatores que se interdependem não podendo o estudioso estudar apenas um só fato. Com essa conscientização começou a quebrar o receio que havia de não se verificar os fatos circundantes, se resumindo a conhecer o lugar .
Com o surgimento da mudança conceitual da década de 50, Hartshorne foi muito atacado e procurou se defender na obra “Questões sobre a natureza da geografia”; chegando a afirmar que a geografia não era matéria que procuraria uma racionalização dos fatos, mas sim as peculiaridades do lugar que seriam comparadas com outras de outros lugares. No entanto, Hartshorne perdeu credibilidade, seja porque entedia que a geografia não era ciência, seja pelo destaque que ele dava para as peculiaridades do lugar.
A partir da década de 50, em diante, toda definição da geografia decorreu da idéia do “enfoque espacial”.
[11] A professora Lysia em sua explanação observa que no século XIX vigorava uma descrição enumerada, repartida; já no século XX, antes da década de 50, predominou uma descrição explicativa cognitiva; já o período posterior aos anos 50 temos a teoria.
[12] Para quem tivesse interesse no tema a professora Lysia Bernardes indicou W. Buckley e a obra – A sociologia e a moderna teoria de sistemas.
[13] Ela chegou a indicar o texto de Paul Claval – “O que é geografia” – sobre a história da geografia através das definições e que pode ser encontrado no Boletim Geográfico nº 228.
[14] Ao realizar este trabalho de Geografia Quantitativa no Brasil, afora a surpresa do caderno com as anotações da Professora Lysia Bernardes, tive a grata surpresa de reencontrar esta definição de sistema, algo que me fez pensar durante dois dias, e considero meu primeiro trabalho na universidade. Após escrito, na semana seguinte, apresentei a definição à professora Lysia Bernardes, ela gostou e ficou de reproduzi-la e distribuir para a turma, não o fez, mas algumas semanas depois ela me chamou para fazer um estágio na Secretaria Estadual de Planejamento do Estado do Rio de Janeiro; na época, ela tinha um papel de destaque enquanto superintendente se reportando diretamente ao Secretário, Sr. Ronaldo Costa Couto, do então primeiro governo do novo estado do Rio de Janeiro ( pós-fusão ) Sr. Faria Lima . Fiz o estágio com meu colega de turma Paulo Motta, atual jornalista de O Globo, responsável pela edição de notícias sobre o Rio de Janeiro. Foi importante o convite porque detestei a experiência e desde então passei a pensar numa opção profissional mais vinculada a academia.
A experiência foi tão ruim que poucos anos depois, quando estava para terminar a faculdade, me foi facultado um novo estágio, desta vez, na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fruto de um acordo entre a instituição e a UFRJ que garantia aos dois primeiros colocados de cada turma em fase de conclusão, a chance de desenvolver um estágio; declinei do convite, encontrava-me em primeiro lugar, preferi continuar estudando e desenvolver pesquisa o que veio maior tarde a acontecer quando obtive uma bolsa para quem já tinha se formado, conhecida como bolsa de Aperfeiçoamento, oferecida pelo Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq , voltado para quem já tinha se formado mas ainda não tinha ingressado no mestrado. Depois, no mestrado, vim novamente a ter bolsa pelo CNPq.
[15] Naquele fim de semana mencionado, também tratei de definir modelo, a saber: “Modelo tenta ser uma cópia fiel daquilo que se pede através da demonstração de aspectos que facilitem a compreensão do que foi investigado”
[16] Algo muito caro e necessário para quem visava planejar áreas.
[17] Sobre este aspecto a professora Lysia Bernardes indicou o texto de Ullman intitulado – Predição e teoria geográfica, avaliação dos benefícios de recreação na bacia do Meramea”.
[18] Aulas de 4/4/1977 e 11/4/1977
[19] Embora a professora Lysia considere ser possível através do particular se chegar a uma generalidade. Inclusive, numa de suas aulas, ela destacou o desejo, creio que nunca realizado, de se defender uma tese pela qual poderia-se inferir o tipo de ocupação numa praia a partir do seu tamanho, assim pelo tamanho, poder-se-ia diagnosticar tendências de uso, por exemplo, quanto menor, a tendência é de uso exclusivo, privado, voltado para moradias ricas ou hotéis de luzo, etc.
[20] Este último aspecto é um dos sinais da grande ruptura representada pela assim chamada geografia quantitativa.
[21] A simplificação é devido a ênfase do significativo.
[22] A abordagem gerava uma análise determinista da realidade, sendo o meio explicação dos fatos. Em contra-resposta a esta tendência veio o pensamento de se entender as coisas não pelo local que têm mas pelo que as próprias coisas são, esta linha passou a ser conhecida como possibilismo.
[23] Muito impulsionada pelas reformas promovidas pelo presidente americano Roosevelt e particularmente o planejamento do Vale do Tennessee que contou com geógrafos, destacadamente Edward E. Ackerman (Ibidem, Labasse, 1973 ) (Nota do autor )
[24] Neste caso, o atualmente significada década de 70 do século XX, quando ocorreu o curso promovido pela professora.
[25] Diria política. O que nos leva a lembrar a ácida crítica de Lacoste ( 1988 ) sobre este tema.
[26] Aula da professora Lysia Bernardes de 16/5/1977.
[27] É um momento importante, porque para a professora, é a hipótese consistente que constituirá teoria.
[28] Aula de 19/5/1977.
[29] Para a professora, a geografia antes da 2ª Grande Guerra era só conhecimento empírico.
[30] Para a professora “Todo tipo de teoria é formulada num espaço ideal”.
[31] Este quadro de itens, segundo a professora, foi composta por Abler Adams Gould.
[32] Nesta passagem das aulas nota-se claramente uma ambigüidade, ou seja, a professora Lysia sempre frisa o conhecimento empírio. Inclusive em determinado momento de sua explanação ela destacou que metade de sua projeção profissional, que não era pequena, foi obtida observando os lugares.
[33] Não deixa de ocorrer aqui uma confusão, do tipo, a explanação decorre de uma teoria que alicerça uma hipótese, porém, esta explanação pode vir a utilizar tanto uma classificação quanto uma observação que não tem relação com hipótese ? Tanto a classificação, quanto a observação foram conduzidas por qual fator ? Embora sempre apresentasse perguntas nas aulas, estas duas não cheguei a apresentar. E elas nunca serão respondidas, a crueldade da passagem do tempo não nos permite a volta dos mortos.