Revista geo-paisagem (on line)

Ano 11, nº 21,

Janeiro/Junho de 2012

ISSN Nº 1677-650 X

Revista indexada ao Latindex

Revista classificada pelo Dursi

 

 

 

Conselho  Nacional de Geografia

Embora não seja do meu feitio nesta revista , dedico este trabalho a quem decida fazer deste tema uma dissertação de mestrado ou doutorado!

 

Helio de Araujo Evangelista

helioevangelista@hotmail.com

 

Resumo

 

O Conselho Nacional de Geografia foi criado enquanto expressão do caráter estratégico da geografia ao tempo do Estado Novo. Situação esta que perdurou por trinta anos configurando um marco na produção geográfica brasileira.

Palavras-chave : geografia , Brasil, conselho, IBGE

 

Abstract

 

The Geographical National Council was  created as expression of geography`s importance to new government called New State. This expression was along for almost thirty years and stimulated an special kind of brazilian geographical production.

 

Key-words : geography, Brazil, council , IBGE

 

Começando !

O Brasil tem uma tradição de conselho. É um país ao qual não faltam conselhos.  Atualmente, um dos mais poderosos conselhos  é o Conselho Monetário Nacional que tem em sua área de consideração a atuação do Banco Central assim como interferência na política econômica.

Pois bem,  houve um  tempo que existia um conselho para a geografia, e esta é a história que nos dispomos a contar. Um conselho que decidia .

Leo Weibel em seu discurso de despedida do Brasil em 17 de agosto de 1950 assim se expressava –

 

“Nos quatro anos de minha permanência neste País, encontrei tanta boa vontade, ajuda  e apoio por parte de todos,  que quero expressar aqui, publicamente, os meus sinceros agradecimentos.

Agradeço  inicialmente ao  Conselho Nacional de Geografia e ao  seu secretário-geral Dr. Cristóvão Leite de Castro, a quem devo o convite para a minha vinda a este Pais, bem como o grande interesse que sempre demonstrou pelo meu trabalho, apoiando-me amplamente.

Agradeço também ao Dr. Fábio de Macedo Soares Guimarães, diretor da Divisão de Geografia do Conselho Nacional de Geografia, que apoiou de todas as  formas o meu trabalho científico, e com o qual passei muitas horas animadas, discutindo os problemas da Geografia do Brasil, tanto  no campo quanto aqui no Rio.

Agradeço ainda aos meus assistentes e companheiros nas inúmeras viagens empreendidas. Cito entre eles Orlando  Valverde, Nilo Bernardes e Walter Egler. Tantos estes como  outros contribuíram decisivamente para o êxito do meu trabalho. Não devo deixar de agradecer aqui a Marcelino Pereira dos Santos, motorista dedicado e infalível, que me conduziu na maior parte das minhas excursões.”...

Versando sobre o que ele teria aprendido no Brasil, ao final  de sua palestra ele observava,

Felizmente o Brasil possui no Conselho Nacional de Geografia uma instituição,  única no mundo, com possibilidade e técnicos para colocar a ciência geográfica a serviço da solução dos grandes problemas da nação. Terminando, formulo o meu desejo de que o Conselho Nacional de Geografia sob a dinâmica direção do Dr. Cristóvão Leite de Castro, prossiga com êxito a grande obra iniciada  há doze anos e leve a efeito grandes realizações para o futuro do Brasil.

O Conselho  Nacional de Geografia : Vivat, Crescat, Floreat ! [1]

 

            A passagem  lembra o depoimento de Miguel Alves de Lima que nós tivemos oportunidade de colher e que se  encontra em http://www.feth.ggf.br/geografia.htm . Na oportunidade ele chama a atenção para uma fase de ouro da geografia brasileira, assim se expressando :

 

Fundado o Conselho Nacional de Geografia, que com o Conselho Nacional de Estatística e o Serviço Nacional de Recenseamento, constituíam então o IBGE foi seu primeiro dirigente e o engenheiro Christóvam Leite de Castro que havia recebido em seu curso muitos prêmios na antiga Escola Polytécnica do Rio de Janeiro, homem de extraordinário visão que começou o recrutamento de seus quadros iniciais com inteligência e perspicácia.

 

Chamou para orientar o trabalho da especialidade o também brilhante engenheiro Fábio de Macedo Soares Guimarães e o professor Orlando Valverde, este já diplomado na especialidade.

  

Vale aqui apontar o papel dos engenheiros no desenvolvimento da Geografia no Brasil. Talvez por suas vinculações com o conhecimento geológico eles se interessam inicialmente pela Geografia Física, notadamente, a Geomorfologia, mas logo, também às geografias Humana e Econômica. Destacaram-se nelas o grande Alberto Ribeiro Lamego ( “Ciclo Evolutivo das Lagunas Fluminenses”, “O Homem e a Restinga”), e o notável Fernando Marques d’Almeida, ( “A Morfogênese da Serra do Cubatão” ).

 

Assim, logo se constituiu a Seção de Estudos Geográficos, núcleo de formação das primeiras gerações de geógrafos formandos dentro do IBGE.

 

As faculdades formavam os professores de Geografia. O IBGE treinava e formava os geógrafos especializados. [2]

 

Ele mesmo, Fábio de Macedo Soares Guimarães, juntamente com Christóvam Leite de Castro, começaram a estudar Geografia na antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Leite de Castro, por suas intensas outras atividades, não pode continuar esses estudos, concentrando-se no planejamento e execução dos trabalhos que iriam consagrar aquele Conselho.

 

A essas ações, seguiu-se a de procurar o aperfeiçoamento desses quadros, mandando para diferentes universidades dos Estados Unidos e da Europa, inicialmente, os geógrafos que iniciaram suas atividades no IBGE.

 

Foram logo selecionadas as universidade de Wisconsin, Chicago e Syracuse, nos Estados Unidos da América do Norte, para onde se seguiram o próprio Fábio Guimarães, Orlando Valverde, José Veríssimo da Costa Pereira, Speridião Faissol, Ney Strauch, Lúcio de Castro, Lindalvo Bezerra dos Santos e outros orientados pelos professores Vernon Finch e Glenn Trewrtho da Unidade de Wisconsin; Clarence Jones da North Western; Preston James de Syracuse.

 

Na França, no “Institut de Géographie de Faculte de Lettres” da Sorbonne, e Strasbourg, Lyon, Grenoble e Montpelier, tiveram orientação dos professores De Martonne, André Cholley, Jean Tricart, Jean Dresh, Raoul Blanchard, respectivamente, eu mesmo, Héldio X. L. César, Pedro P. Geiger, Elza Keller, Eloísa de Carvalho, Alfred Domingues, Marília Galvão. Em seguida, Antônio Guerra, Carlos Augusto F. Monteiro, e muitos outros técnicos do IBGE foram beneficiados com essa importante formação.

 

Ainda dentro dos quadros do IBGE destacaram os professores Dora do Amarante Romariz, Lysia Maria Bernardes, Nilo Bernardes entre outros.

 

Bastam os nomes dos cientistas e professores citados para que se tenha uma idéia do que foram esses contatos e treinamento de nossos geógrafos com o que houve de melhor na Geografia Mundial.      

 

            Cabe observar que o depoimento de Miguel Alves de Lima, quando proferido, este tinha 88 anos, ou seja , ele nasceu em 1915, geógrafo, entrou no IBGE em 1939; teve a oportunidade de participar do processo de promoção da geografia brasileira capitaneada pelo IBGE que estava intimamente articulado a um projeto de estado. Estudou na França com Francis Ruellan e Jean Tricart. Ficou no IBGE até 1982; esteve em vários países e ocupou vários cargos naquela instituição.

            Já precipitando o término do trabalho, desta  vez considerando outro texto da mesma revista on  line utilizada , encontrado em http://www.feth.ggf.br/fibge.htm . Neste texto já se registra a decadência da geografia, mas antes de irmos ao texto cabe notar que atualmente há um resgate da geografia  dentro do próprio FIBGE ...

 

Em termos formais, a criação do IBGE foi antecedida pela formação do Instituto Nacional de Estatística em 1934, e respectiva instalação definitiva em maio de 1936 com o nome Conselho Nacional de Estatística no intuito de organizar os dados disponíveis em bases censitárias, assim como coordenar as futuras atividades voltadas para a captação de dados no Brasil.[3][2] Outro órgão importante na formação do IBGE foi a criação, em 1937, do Conselho Nacional de Geografia que junto ao conselho anterior geraram aquele instituto. Nesta época, o IBGE encontrava-se diretamente subordinado à presidência da República.

Após o término dos trabalhos da Convenção ( Nacional de Estatística ), foram encaminhadas ao então Ministro das Relações Exteriores e Presidente do IBGE, Macedo Soares, as resoluções da Convenção Nacional de Estatística, onde constava a necessidade de melhor articulação entre os trabalhos de natureza estatística e geográfica. Juntamente com as resoluções, foi entregue ao Ministro carta do Prof. Pierre Deffontaines na qual apelava para a efetivação da adesão do Brasil à UGI .

Nos entendimentos que surgiram, o Ministro convocou, com a aprovação do Presidente Vargas, uma comissão das figuras mais representativas da cultura geográfica brasileira, no Palácio do Itamaraty, com o estímulo de apresentarem sugestões para a constituição de um organismo nacional de Geografia, destinado a promover a coordenação das atividades geográficas brasileiras.

Nestas reuniões, realizadas em fins de outubro e início de novembro de 1936, surgiu a proposta de criação do Conselho Brasileiro de Geografia. Esta proposta foi encaminhada ao Presidnete da República que, aceitando-a, baixou o Decreto nº 1.527, de 24/03/1937, criando o referido Conselho como parte estrutural do então Instituto Nacional de Estatística.

A exposição de motivos constantes do decreto considerava a necessidade da adesão do Brasil à UGI, em função de sua projeção mundial, reunindo a colaboração da maioria dos países. Mas considerava, sobretudo, as vantagens de caráter nacional da atividade de um Conselho Brasileiro de Geografia articulado com a administração federal, imbuído da missão de coordenação da Geografia do Brasil.

Em 1º de julho de 1937, instalou-se formalmente o Conselho Brasileiro de Geografia no Salão de Conferência do Palácio do Itamaraty, inaugurando no mesmo dia os trabalhos da sua Assembléia-Geral, constituída de delegados dos Governos da União, dos estados, do Distrito Federal e do Território do Acre. ( Penha, 1993, p. 78 )

Na interpretação de Eli Alves Penha ( 1993 ) o IBGE é fruto de um processo político em favor da centralização, burocratização e racionalização do estado em prol da urbanização e industrialização verificadas, sobretudo, a partir de 1930. Porém, curiosamente, como Penha observa, o IBGE decorreu de um convênio que envolvia municípios, estados e o governo federal, havendo para tanto assembléias com os representantes de cada um destes componentes, ou seja, há simultaneamente na origem da instituição um processo centralizado e outro capilarizado procurando adentrar na rede municipal. 

 

   Porém, em 13 de fevereiro de 1967, o IBGE seria transformado em Fundação no intuito de obter maior autonomia para suas atividade

 

            Ainda pelo mesmo texto –

 

   No trabalho - IBGE: um retrato histórico - de Jayci de Mattos Madeira Gonçalves ( 1995, p. 39 ) , consta a seguinte passagem que reproduzimos abaixo:

A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( Fundação IBGE ), instituída pelo Decreto-lei nº 161, de 13.02.1967 , em substituição à autarquia IBGE, introduziu profundas modificações nas atividades do sistema estatístico nacional e nas  de natureza geográfica e cartográfica, vez que passou a coordená-las na condição de órgão central.

...

A expansão do planejamento econômco-social, tanto na área governamental, como no setor privado, assim como a crescente demanda de informações estatístico-geográficas, exigiam melhor qualidade e presteza dos levantamentos tradicionais e implantação de novas pesquisas, o que de longa data vinha sendo dificultado por uma série de fatores, alguns deles decorrentes da estrutura organizacional, sem flexibilidade capaz de assegurar o indispensável dinamismo, faltando, ainda, participação mais efetiva dos usuários na elaboração dos programas de trabalho, para melhor adequá-los aos seus interesses.

   O que chama a atenção nesta passagem é a existência de uma cobrança por eficiência que se esbarrava com a forma de fazer ciência então vigente.

   Numa elucidativa passagem da obra - Novos estudos de geografia humana brasileira - de Pierre Monbeig é assinalada  a existência de um conflito na época, a saber:

Se o mapa, a planta, a topografia e a gravura são os auxiliares indispensáveis desta descrição da vida urbana, isto não quer dizer que, sob o pretexto cômodo de fazer ciência, o estilo deva tomar uma aparência de relatório oficial, administrativo e impessoal. Pois não é conhecer a alma da cidade , depois da de seus bairros, o que se deseja ? Na comunicação já citada, Gilberto Freire insistiu muito, e com razão, sobre a “qualidade sinfônica” da paisagem cultural, rural ou urbana. Escreve ele que o “o fato deve ser destacado no Brasil, onde um cientificismo exagerado iniste em levantar-se contra aqueles trabalhos de história e geografia ou de sociologia aplicada em que os autores se aventuram em tentativas de interpretação comprensiva ... Afinal o rigor do particularimso objetivista - tão necessário como disciplina e método de análise - pode, pelo excesso, nos levar à inteira desumanização daquelas ciências voltadas para o estudo dos grupos humanos considerados nas suas relações, ou inter-relações, de tempo ou de espaço”. O perigo é exatamente o de “desumanizar”, pois ninguém acreditará ter mostrado o homem, quando o apresenta como um rebanho de gado. É tempo de fazer uma injeção de Elysée Reclus na geografia dos sinclinais e das estatísticas, assim como na sociologia que acredita expremir o real, enquandrando-o em equações. Antes de escrever, o geógrafo deveria por-se em contato com a literatura, no sentido estrito da palavra, que existe sobre a cidade estudada: os arquivos, as estatísticas, os planos dos urbanistas, não ensinam mais que o passeio das moças no domingo à tarde na praça pública da cidade pequena, ou que as cores, os sons, os odores da grande avenida principal da Capital, a multidão dos operários em alvoroço à saída da fábrica e a luz de um belo dia de sol sobre as areias vermelhas e os arranha-céus.Mas que não se despreze, também, “o rigor do particularismo objetivista, tão necessário como disciplina e método de análise”. ( Monbeig, 1957, pág. 53 )

 

A origem

 

            O primeiro número do órgão oficial do Conselho Nacional de Geografia , a saber, a Revista Brasileira de Geografia à pág. 9 esclarece vários aspectos sobre a origem do conselho.

            Ao contrário de tudo aquilo que vimos até aqui na  revista Geo-paisagem, quando instituições como o IHGB, Colégio Pedro II ou Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro foram fundadas , no caso  do referido Conselho há uma gerência externa direta. Ou  seja, se as demais entidades citadas havia uma inspiração estrangeira, no caso do Conselho há um ingerência direta do externo. Refiro-me a ação da União  Geográfica Internacional no episódio.

            Este aspecto é interessante porque não raro muito se acentua a eminência da geografia paulista, via USP, no entanto, ao contrário desta  interpretação há uma clara sintonia este os professores estrangeiros que vieram para o Brasil e a União Geográfica Internacional com o beneplácito do governo federal. Ou seja, não é crível que a entrada dos estrangeiros na Universidade de São Paulo fosse tão somente uma conseqüência de um projeto hegemônico paulista de formação de quadros; no caso da geografia, é fundamental a compreensão  da evolução dos fatos a luz da relação entre a União geográfica internacional, então presidida por um francês (Albert Demageon, genro de Vidal de La Blache) e sua ascendência sobre os jovens professores franceses  de geografia que passam a atuar no Brasil à época (particularmente Pierre Deffontaine  e Pierre Monbeig) . Há como que uma espécie de sintonia entre a ação dos que vieram para o Brasil , indo para São Paulo ou para o Rio de Janeiro, e a parceria entre a UGI e o governo brasileiro.  

            Pela revista (primeiro número a partir da  pág. 9) fica claro este aspecto.

Já nas primeiras linhas do  primeiro número da  Revista Brasileira de Geografia, o  então presidente do  IBGE da época, assim asseverava  -

A revista é fruto  de uma determinação do CNG, que pela resolução 18 de 12 de julho de 1938 considerou apropriado a criação  de uma revista que divulgasse a produção que ora ocorria naquela instituição, fundamentalmente uma veiculação  de informações sobre o Brasil. [4]

O CNG ,  por sua vez, assim  agiu tendo em conta o decreto 1527 de 24 de março de 1937 que entre outras incumbências também tinha a função de representar o Brasil na União  Geográfica Internacional.

Cabe assinalar que nestes primórdios o referido Conselho tem nitidamente um papel de governo no âmbito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,  ao  menos no que se  refere ao  aspecto propriamente técnico de sua  atuação. 

            Esta espécie de triangulação entre CNG, UGI e o governo brasileiro perdura até década de 60 quando então há uma radical mudança no IBGE, ou seja, na seqüência dos números da Revista Brasileira de Geografia  o Conselho simplesmente deixa de ser mencionado. À época, o IBGE  sai de  uma relação privilegiada dentro do organograma da estrutura  do poder brasileira e passa, dada a ação do então ministro do planejamento João Paulo  Reis Velloso , o IBGE (transformado em FIBGE) passa  a ser um espécie de veículo de fornecedor de dados para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada , cabendo a esta instituição a análise das informações.

            Parece-me que está aí o grande segredo da geografia crítica no Brasil que ascende na década de 70 se assenhorando dos corações e mentes dos universitários, e muito particularmente dos programas de pós-graduação ao longo dos anos que se seguiriam dada a perda de valor estratégico da geografia no computo , nos cálculos da gestão  do poder nacional.

            Afinal, a mudança no IBGE e a configuração de um papel subalterno , perdendo o seu papel passado de propositor de políticas regionais (um exemplo foi a divisão regional, outro foi a discussão da transferência da capital) fez com que a geografia brasileira adotasse novos rumos, e foi o que se  deu poucos anos depois, quando então deixamos de ter uma geografia do planejamento (via IBGE) em favor de uma geografia universitária (www.feth.ggf.br/geouni.htm )

            Esta mudança ocorre justamente na ascensão da geografia crítica que aborta as incipientes tentativas de se configurar uma geografia quantitativa na universidade. (www.feth.ggf.br/geografiacritica.htm )

            Enfim, concluímos que a ascensão da geografia crítica no Brasil se deu , correlato a formação de um coletivo capitaneado pelo prof. Milton Santos , muito por força da perda de densidade da geografia no âmbito da estruturação  dos campos de conhecimentos a orientar o governo.  O  papel  central que o IPEA passa tomar para si, que perdura até hoje,  sinaliza a ascensão do economista!

            Em tese de doutorado defendida no programa de pós-graduação da USP há uma interessante entrevista  do então Ministério do Planejamento, João Paulo dos Reis Veloso, que assevera :

“Nós fizemos uma reestruturação do IBGE que estava, isso foi na altura de 64/65. (sic) Criei um grupo de trabalho, que eu coordenava,  eu era presidente do IPEA e fizemos então, a reestruturação do IBGE que foi transformado em fundação, como  é hoje, porque em 65, o IBGE não havia apurado a censo de 1960. Então,  para dar ao IBGE condições de funcionar bem  porque é um  papel fundamental, houve a transformação em fundação. Passou de autarquia à fundação; e no  caso do IPEA que era um simples escritório, tanto que era EPEA: Escritório de Pesquisas Econômicas Aplicadas, com a reforma administrativa de 1967, ele foi transformado em fundação pública que é até hoje, já com uma outra função. A função do IBGE é tomar os dados do IBGE e pensar o país no médio e longo  prazo elaborar os estudos necessários para que possa haver realmente o planejamento...” (AMENDOLA, 2011, p. 239)

 

            Assim, mais poderosa que a geografia crítica foi a decisão governamental de transferir a área de abrangência do IBGE submetida aos ditames do IPEA. Isto se deu justamente na época da ditadura militar onde aqueles que se viam na responsabilidade de dar continuidade à escola reinante se encontravam acuados pelo sistema, particularmente  os geógrafos Orlando Valverde e Pedro Pinchas Geiger. Ainda, Lysia Maria Cavalcanti Bernardes mesmo não sendo hostilizada pelo sistema mas ficando cada vez mais dedicada às tratativas administrativas, chegando a trabalhar no IPEA (depois Superintendente na gestão do Secretário estadual do Rio de Janeiro na área de planejamento era Ronaldo Costa Couto (1975-1979), vindo depois a ocupar cargo de direção do SERSE ), significou também uma subtração de quadro da geografia.

            Enfim, a geografia crítica cresceu não tanto por virtude própria mas porque quando ocorreu já havia  um vácuo. O meio universitário na década de 70 com a expansão dos programas de pós-graduação proporcionou uma expansão da produção geográfica

 

CONCLUSÃO

 

            Ao contrário do que volta  e meia chegamos a ler sobre a excelência da geografia paulista promovida pelos franceses na USP a partir dos anos 30, nós temos,  antes disto, uma excelência da geografia brasileira desenvolvida enquanto um projeto de poder tendo na relação da União Geográfica Internacional e o Conselho Nacional de Geografia a execução de uma nova geografia via o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeto este que  perdurou até  final da década de 60. 

            A partir de então uma nova geografia surge no cenário.

            Uma  geografia universitária, uma geografia da pós-graduação (veja www.feth.ggf.br/geouni.htm )

            Uma geografia que pouca chance dará para o florescimento da geografia quantitativa.

            Aliás, a geografia quantitativa no Brasil  foi uma das correntes que menos vicejou. Quando surgiu no cenário e alcança alguns adeptos no IBGE já estamos na década de 60, justamente quando a geografia do IBGE conhece declínio. Ela deixa de gerar diagnóstico. (veja www.feth.ggf.br/fibge.htm )

            Ela, por sua vez, a geografia quantitativa , quando alcança a universidade, já na década 70, ela logo é atropelada pela geografia crítica (veja www.feth.ggf.br/geografiacrítica.htm )

 

 

 

 

 

 

 

Fonte de consulta

Consulta das Revista Brasileira de Geografia pelo link

http://biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_publicacoes_multiplo.php?link=RBG&titulo=Revista%20Brasileira%20de%20Geografia%20-%20RBG

Principais artigos nos primeiros anos da da Revista Brasileira de Geografia relacionados ao tema do presente trabalho destacando a nominata dos artigos encontrados na revista

Do primeiro número em 1939 -

Histórico da criação do Conselho Nacional de Geografia – secretaria do CNG

Atividades do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – relatório do presidente lida a 1 de julho de  1937 aos se instalarem os trabalhos das Assembleias Gerais do Conselho Nacional

Primeira Assembleia Geral do Conselho Brasileiro (sic) de Geografia

 

Do segundo número em 1939 (abril a junho)

 

Segunda Sessão da Assembleia Geral do Conselho Nacional de Geografia

 

Do terceiro número em 1939 (julho a setembro)

 

Resoluções da segunda sessão da Assembleia Geral do Conselho Nacional de Geografia

 

Do quarto número em 1939 (outubro a dezembro)

 

Atividades do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Conselho Nacional de Geografia

 

Dos números em 1940 (o de janeiro, primeiro, e o outubro, terceiro)

 

Relatório do Diretório Central do Conselho Nacional de Geografia

 

Do número em 1941 – primeiro (janeiro a março )

 

Representação do Ministério da Guerra no Diretório Central do Conselho Nacional de Geografia

Boletins de Associações integradas no CNG

 

Do número em 1941 – terceiro  (julho a setembro)

 

Quarta sessão ordinária das  assembléias gerais dos Conselhos Nacionais de Geografia e Estatística .

 

Do número em 1941 – quarto (outubro a dezembro)

 

Resoluções do Diretório Central do Conselho Nacional de Geografia

 

Do número em 1942 – primeiro  (janeiro a março)

 

Resoluções do Diretório Central do Conselho Nacional de Geografia

Do número em 1942 – terceiro (julho a setembro)

 

Quinta sessão ordinária da Assembleia Geral dos Conselhos Nacionais de Geografia e Estatística

 

Base legislativa

http://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-237-2-fevereiro-1938-350962-publicacaooriginal-1-pe.html

Decreto-Lei nº 237, de 2 de Fevereiro de 1938 – regula o início dos trabalhos do recenseamento geral da República em 1940 e dá outras providências. Consulta em 10 de março de 2012.

 

Bibliografia

 

AMENDOLA, Monica “Uma avaliação do ordenamento territorial no processo de planejamento governamental: estudo do Rio de Janeiro. Tese de doutorado orientada por Ana Maria Marques Camargo Marangoni no programa de pós-graduação em geografia da Universidade de São Paulo, 2011.

EVANGELISTA, Helio de Araujo - A geografia crítica no Brasil . Trabalho publicado na Revista da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias ( RJ ), setembro de 2000, ano II, nº 2

EVANGELISTA, Helio de Araujo - A geografia na universidade brasileira . Revista geo-paisagem (on line ) , ano 3, n. 6, 2004.

EVANGELISTA, Helio de Araujo - Onde está a geografia na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ? . Revista geo-paisagem (on line ) , ano 4, n. 7, 2005.

LIMA, Miguel Alves de - Os anos dourados da Geografia Brasileira : antecedentes, realizações e conseqüências dos anos 50 e 60. Revista geo-paisagem (on line ) , ano 2, n. 3, 2003.

WEIBEL, Leo - Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro:  FIBGE, 1979 .



[1] In Capítulos de Geografia  tropical e do Brasil, FIBGE : Rio de Janeiro, 1979, segunda edição revista e aumentada, p. 313, 326.

[2] Já diferentemente desta situação , tendo o autor destas linhas iniciado sua graduação em geografia pela UFRJ em 1977, portanto, depois de instalado o programa de pós-graduação em geografia nesta instituição (veja para maiores detalhes www.feth.ggf.br/geouni.htm )colheu junto à professora Maria  do Carmo Correa Galvão  a impressão que junto ao IBGE ocorria uma pesquisa de caráter pragmático enquanto naquela universidade, sendo ela uma representação, uma pesquisa mais voltada para a produção do conhecimento.

Mas, de qualquer forma ainda havia uma articulação  entre o  IBGE e a antiga Universidade do Brasil, a saber, já ao término desta graduação me foi oferecido um estágio de seis meses no IBGE por ser um dos dois primeiros alunos do curso de graduação. Não aceitei porque logo no início  de minha graduação já tinha  passado por um estágio na Secretaria estadual de Planejamento sob os auspícios da minha professora de Teoria em Geografia, Sra. Lysia Bernardes, e a experiência não foi das mais estimulantes (trabalho puramente braçal) como também pesou o fato de em aceitando o estágio ter de parar os cursos de língua, francês e inglês que então realizava. 

[3][2] Segundo Eli Alves Penha ( 1993, pág. 19 ) a data oficial da criação do IBGE é 29 de maio de 1936 em que foram regulamentadas as atividades do Instituto Nacional de Estatística; com a extinção deste instituto o IBGE foi instituído em 26/01/1938.

[4] Neste  mesmo número consta uma reprodução , a partir da  p. 7 , da  referida resolução.  O que chama a  atenção na sua leitura é a necessidade de se  editar já no primeiro número o número mínimo de 5 mil exemplares! 5  mil exemplares  voltados para toda a  sorte de esferas de governo, a começar pela presidência, ministério, tribunais  de justiça, entidades profissionais, enfim, é a configuração de  uma consciência geográfica a nível de estado e de uma elite de governo que extrapolava  a estrita esfera governamental pois também visava lideranças culturais e empresariais; além de exemplares em favor da União Geográfica Internacional e União  Panamericana de Geografia.