Revista geo-paisagem (on line) Ano 9, nº 18, 2010 Julho/Dezembro de 2010 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi Revista classificada pela CAPES |
A TRAJETÓRIA DO BAIRRO JARDIM PRIMAVERA: DO SONHO ELITISTA À
REALIDADE POPULAR.
SANTANA, Thiago Coutinho
Graduado em Geografia pela UFF
E-mail:
tcs1986@gmail.com
RESUMO
A análise da temática urbana de modo geral nos remete a uma variedade de escalas, todavia os eventos que interferem na dinâmica espacial se refletem no “lugar”, independente, da escala adotada. A área instituída que mais se aproxima desse conceito é a que corresponde aos limites de um bairro. O Jardim Primavera - bairro situado no distrito de Campos Elíseos em Duque de Caxias - nos apresenta uma história riquíssima, ratificadora das considerações iniciais, constituída em alguns momentos por ciclos definidos de uso do solo. No transcorrer dessas etapas, emerge um personagem central, na figura do músico paulista Nelson da Silveira Cintra, provedor de toda infraestrutura inicial do bairro, que o projeta como um enclave, uma área nobre, aos pés da serra de Petrópolis, para ser uma espécie de refúgio das elites. Cintra faz desse projeto um objetivo de vida e busca viabilizar sua execução de todas as formas possíveis. No entanto, algumas ações e condições espaciais e socioeconômicas gerais, para além da escala local, apresentaram-se contrárias à execução plena do mesmo, acarretando em conflitos e contradições que conferem uma “pluralidade singular” ao ordenamento territorial do bairro no decorrer de sua história, tornando-se um convite a uma estimulante pesquisa que resultou no presente artigo.
PALAVRAS-CHAVES:
Escalas, Bairro, Jardim Primavera, Ordenamento Territorial.
ABSTRACT
The analysis of the urban generally brings
to mind a variety of scales, but the events that affect the
spatial dynamics are reflected in the "place"regardless of the scale adopted.
The area established
that most closely matches this concept is that which corresponds to the limits of a
neighborhood. The Jardim
Primavera, a neighborhood located in the
district of Campos Elíseos
in Duque de Caxias,
presents us with a rich history, ratified the opening remarks, made at
times defined by cycles of land use.
In the course of
these steps, a central character
emerges in the figure of Nelson da Silveira
Cintra, all the infrastructure provider's home district, which projected
as an enclave, a prime area at the
foot of the mountains of Petropolis, to be a
kind of refuge for the elite. Cintra makes
this project a
life goal and seeks
to enable their implementation in every way possible.
However some actions and general socioeconomic
conditions and space,
beyond the local scale,
are presented in breach of full implementation of the same, resulting in
conflicts and contradictions
that give a
"singular plurality"
land planning in the
neighborhood during its history, making it is an
invitation to an
exciting research that resulted in this
article.
KEY WORDS: Scale,
Neighborhood, Jardim Primavera, Territorial
Planning.
1 – INTRODUÇÃO
1.1 - JARDIM PRIMAVERA: DO SONHO ELITISTA À REALIDADE POPULAR.
O bairro de
Jardim Primavera, no município de Duque de Caxias, reflete em parte o processo
histórico brasileiro. A emancipação do referido município é historicamente
recente, datando de 31 de dezembro de 1943, e a área hoje ocupada pela cidade
integrava o antigo município de Meriti, do qual Caxias era uma espécie
de distrito.
Seu povoamento
provém do século XVI, época das sesmarias doadas à Capitania do Rio de Janeiro.
Em 1568, Cristóvão Monteiro, um dos grandes provedores de fazendas da região,
recebeu algumas terras às margens do Rio Iguaçu. Parte delas daria origem a
Duque de Caxias.
De início, a
agricultura foi a principal atividade econômica do lugar. Concentrando-se,
principalmente, no cultivo da cana-de-açúcar, seguindo os padrões da formação
espacial brasileira naquele século, embora ainda contasse com a produção
auxiliar voltada para a subsistência - baseada em culturas como milho, arroz e feijão. Durante o ciclo da mineração, Duque
de Caxias foi um importante ponto de passagem daqueles que se dirigiam às minas
ou dos que de lá retornavam. Assim, as atividades relativas à hospedagem, como
os pequenos dormitórios, pousadas, bem como o comércio de beira de estrada,
desenvolveram-se na região, aquecendo a economia local ao longo do século
XVIII. A possibilidade de ligação hidroviária direta com a Baia de Guanabara
tornou Caxias uma espécie de elo entre o Rio de Janeiro e os caminhos da serra
rumo ao interior, tendo sido o antigo Porto de Estrela (hoje sub-bairro do
município) o grande marco desta função e desta época. A proximidade em relação
à cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, bem como a expansão da mesma,
que desde aquela época trazia a futura região metropolitana a reboque, só fez
reforçar o papel de Duque de Caxias como área de entroncamento. Nessa fase de transição, o aspecto mais
relevante é a chegada da estrada de ferro a Meriti, trazendo novas perspectivas
para a política e a economia locais e fortalecendo o jogo de interesses que
sempre foi marcante no lugar. Quanto à estrada de ferro, devemos observar que
ela reordena territorialmente o Estado do Rio de Janeiro, gerando uma nova
formação hierárquica na economia regional. Esse fenômeno se observa da seguinte
maneira: nos locais onde a estrada passará, o
desenvolvimento far-se-á de maneira mais intensa, sempre no entorno das
estações; nas localidades antes fortes economicamente por causa de seus portos
- como Estrela, Vila de Iguaçu e Porto das Caixas, em Itaboraí, todos na
Baixada Fluminense - o esvaziamento ocorre de maneira rápida, o que as leva, em
seguida, ao ocaso econômico.
Essa extensão do
eixo econômico induzida pelas ferrovias, novamente reproduz o cenário nacional
e promove uma espécie de deslocamento de progresso - se é que podemos assim
chamá-lo. O certo é que ao redor das estações ferroviárias começam a se formar
grandes povoados, por diversos fatores, dando origem - no caso específico da
Baixada Fluminense - a algumas cidades, dentre elas Duque de Caxias. Ainda como
Meriti, esta passará a sofrer por sua proximidade com a metrópole as consequências
do progresso e o inchaço populacional ocorridos no Rio de Janeiro.
O atual bairro
de Jardim Primavera, em seus primórdios, era parte integrante de uma grande
fazenda, a Luis Ferreira, que seguia os moldes das culturas da época, passando
por canaviais, laranjais e uma pequena parte de plantação de subsistência,
demonstrando, assim, a função rural da região na época.
Em um segundo
momento essa fazenda passa por um grande loteamento, e é dividida em diversas
partes, dando origem a alguns bairros do 2º distrito de Caxias (Campos Elíseos),
como Saracuruna, Campos Elíseos, além do próprio Jardim Primavera, entre
outros.
O loteamento que
deu origem ao bairro foi adquirido pelo Sr. Nelson da Silveira Cintra, em 27 de
dezembro de 1945, época na qual Duque de Caxias já havia se emancipado, mas
ainda não possuía um aparelho de Estado com prefeito e vereadores. A área do
Jardim Primavera compreendia
577.288.39 m, divididos segundo as distintas “funções espaciais”, conforme podemos observar no quadro a
seguir:
QUADRO I
Área a ser
loteada: 452.029.19 m
Área reservada as
estradas e espaço livre: 110.078.66m
Área doada a
futura prefeitura: 11.545.77 m
Área de proteção
a manancial: 3.643.77 m |
Distribuição das funções por área em Jardim Primavera
Pela
distribuição explicitada no quadro, fica clara a prioridade de cunho financeiro
no ato da realização do negócio, haja vista a extensão destinada aos lotes e à
especulação que se sucederia. Ficou determinado, posteriormente, que fossem criados
451 lotes com cerca de
2 – DESENVOLVIMENTO
2.1 - O SONHO DE
CINTRA: UM CONDOMÍNIO DE LUXO NO 2° DISTRITO, O JARDIM PRIMAVERA.
O
Jardim Primavera vivenciou a maior parte das fases e/ou ciclos econômicos
brasileiros supracitados, entretanto, carrega consigo uma série de
particularidades que o tornam um interessantíssimo objeto de estudo, principalmente
para o ramo da
geografia nas suas diversas modalidades como a Geografia Agrária, Política, da
População, Urbana e, principalmente, daquela que remete a análise dos espaços
periféricos.
O bairro fica no
centro geográfico do município, característica que será extremamente relevante
no cenário contemporâneo em razão de questões políticas que levaram a sede da prefeitura a
deixar o Centro de Caxias para ocupar o Jardim Primavera - conforme se observa
em Santana (2010) - desencadeando uma série de transformações no mesmo. Localizado às margens da Rodovia Washington
Luis, nota-se com facilidade sua posição estratégica como parte do caminho da
mineração citado anteriormente.
No que tange ao
papel desempenhado por Nelson Cintra na região, sabe-se que o mesmo desenvolvia
diversas atividades, dentre elas, estão a de músico do Theatro Municipal,
professor de música em Campinas e corretor de imóveis que destinava as
arrecadações de suas vendas à compra de outros imóveis em novas áreas de
desenvolvimento promissor, atuando desde então como grande agente no ramo
imobiliário, sendo essa aparentemente sua principal atividade, condizente com
os rumos que pretendia dar ao Jardim Primavera.
Independente de
sua principal formação
ou ramo profissional, o que se sabe ao certo é que Nelson Cintra é o personagem
mais importante dos atores sociais que passaram por Jardim Primavera, iniciando
todo e qualquer desenvolvimento na localidade, sendo possível encontrar suas
marcas até hoje na região, embora a maioria da população local não preserve sua
memória.
No que concerne
à cultura agrária desenvolvida no bairro no período pré-loteamento, o abacaxi
era o principal produto, sendo toda a extensão da Primavera uma enorme fazenda
produtora da fruta. Cintra compra os lotes no intuito de tornar o lugar um
bairro de elite, diferenciado, que primasse pela qualidade de vida. Baseou-se
na geografia da região para desenvolver esse raciocínio, um bairro aos pés da
serra de Petrópolis, de clima agradabilíssimo, cercado de muito verde e que
certamente atrairia uma população de maior poder aquisitivo.
Nesse sentido, o
provedor do bairro passa a instalar equipamentos urbanos no local e a iniciar
um longo ciclo de inaugurações que fizesse parecer valer a pena pagar o alto
preço pedido por ele nos terrenos da região e acentuasse as possíveis vantagens
de se viver ali. Cintra parte, então, para as obras estruturais: abre inúmeras
ruas, constrói uma escola, um posto de atendimento
médico, instala água encanada e funda o Clube Primavera, principal local de
lazer e entretenimento da região durante muitos anos. Ainda no âmbito das
realizações, ele promove a construção da primeira farmácia do local, onde anos
depois instalar-se-ía a primeira igreja, em uma transformação do prédio da
farmácia no templo de São Judas Tadeu.
Com todas essas obras,
Cintra eleva os
custos dos lotes e exige de seus compradores a construção de imóveis bonitos e
imponentes, que façam jus a um bairro elitista. Essa atitude faz com que a
procura por lotes seja pequena e a ocupação se dê no entorno da estrada, transformando-se
a posteriori em uma espécie de centro
do bairro, que manterá traços dessa ocupação até os dias de hoje.
Os compradores
desses primeiros lotes são em sua maioria imigrantes europeus, principalmente
poloneses, alemães, russos, austríacos e italianos. Isso é impensável contemporaneamente,
tendo em vista que Duque de Caxias, ou mesmo a Baixada Fluminense, está estigmatizada como símbolo da miscigenação - conceito
introduzido desde a década de 40 de forma marcante naquele município, e reproduzindo
também o cenário encontrado na maior parte do Brasil.
Tais imigrantes
se encaixavam no perfil proposto por Cintra de bom poder aquisitivo, e traziam
consigo a possibilidade de “branqueamento” da população do local, já que na
antiga fazenda Luis Ferreira os habitantes eram quase exclusivamente escravos
negros.
Dessa forma, aos
poucos parecia que Cintra conseguiria realizar seu sonho elitista para o Jardim
Primavera, ao qual ele nomeou assim por achar que belos nomes atrairiam bons
fluidos para o lugar, além é claro, de o bairro ter sido fundado na estação das
flores.
No prosseguimento de suas realizações,
Nelson Cintra também foi o responsável pela construção da estação ferroviária
do bairro, alvo de muita polêmica, já que o mesmo a fez “por conta própria”,
haja vista que a Estrada de Ferro Leopoldina (empresa do governo que coordenava
o transporte ferroviário na época) não tinha planos para o local, por
considerar suficientes para suprir à demanda as estações de Saracuruna e Campos
Elíseos, bairros próximos ao Jardim Primavera.
Com esse tipo de
atitude, em beneficio da população local e visando seu próprio futuro, Cintra
pode ser considerado um dos precursores do clientelismo na região, apesar de
muitos defenderem seu senso comunitário. Pois em seguida se lança na vida
política, chegando a concorrer por duas vezes à prefeitura de Caxias, e desde
então formando o seu “curral eleitoral”, prática comum na região.
A estrada de
ferro construída por ele foi doada à rede federal - e entregue num evento
pomposo - pelo então prefeito Duque de Caxias, Sr. Gastão Reis
[1],
que ofereceria, junto à recém instalada Câmara Municipal, o título de cidadão
Duquecaxiense a Cintra, condecorando-o com a medalha do mérito do município no
ano de 1961.
Tendo Gastão
como aliado, Cintra ainda inaugura a iluminação
pública do bairro, promove a visita de João Goulart ao lugar e, ao ceder o
terreno para construção do Colégio Primavera, pioneiro na região, ganha o apoio
de Heitor Combat, professor influente na política Caxiense, de família
respeitadíssima na educação do município. Ainda assim, não consegue se eleger
prefeito da cidade, por motivos escusos na apuração das eleições, que
reproduziam a política oligárquica/coronelista vigentes no país, apresentando
denúncias de compra de votos, e falta de critério na composição do eleitorado,
com a presença de loucos votando, e a consideração de votos de inúmeros
cidadãos mortos a favor dos candidatos mais influentes, dentre outros
empecilhos que o impediram de assumir o poder em Caxias. No entanto, outros
fatores também contribuíram para inviabilizar os sonhos de Cintra.
2.2 O JARDIM PRIVAVERA NA CONTRAMÃO DA EXPANSÃO DA CIDADE
DO RIO DE JANEIRO
O
crescimento desenfreado da cidade do Rio de Janeiro e o consequente
encarecimento do solo urbano, aliado à ocupação intensa dos espaços no primeiro
distrito do município, principalmente no entorno da estação ferroviária, como
visto anteriormente, “empurra” uma grande massa de população em direção aos
demais distritos da cidade e a outros municípios da Baixada Fluminense. No
“caminho” dessa expansão, o Jardim Primavera de Cintra não consegue “escapar”
da fuga das populações de menor poder aquisitivo que precisavam fazer uma
moradia qualquer, por mais improvisada que fosse para fugir dos aluguéis
abusivos. Assim, o bairro “Primaveril” termina por perder suas características
originais abrindo espaços para uma ocupação desordenada e desesperada de
proletários que se refugiavam por lá. Com a diminuição da área de cada lote e
incremento do tamanho das comunidades houve um princípio de favelização no
bairro.
Ainda assim,
devido a sua considerável extensão, por um longo período o mesmo apresentará
alguns vazios urbanos que desaparecerão no decorrer do processo evolutivo que
se dará até o cenário atual.
Cabe ressaltar,
nesse curto ensaio a respeito dos primórdios do bairro, que a abertura da
Rodovia Presidente Washington Luis ocasionará a decadência do transporte
ferroviário da região, e mais uma vez retratando fielmente a política adotada
no Brasil, o Jardim Primavera abandonará, ou será abandonado pela “estrada de
ferro”, passando a sua população a depender exclusivamente das empresas de
ônibus que viriam a cobrar valores abusivos nas passagens. Esse abandono é
decorrente do sucateamento da “estrada de ferro”, que deixa de usar trens de
bitola estreita, e com isso não passará mais pelo Jardim Primavera.
Ainda assim, na
década de 70, Cintra disponibiliza dois ônibus para a população, fazendo a
linha “Jardim Primavera x Caxias x Castelo”, em um horário pela manhã e outro à
noite, para levar e buscar a população de seus respectivos trabalhos no Rio, já
deixando clara a função de dormitório assumida por Caxias desde antes de sua
emancipação. Portanto, em que pese os esforços de Cintra no sentido de construir
um enclave para a elite da região, esse é o panorama do bairro e do município
até meados da década de 70.
CONCLUSÕES
Embora a região do Jardim Primavera tenha seguido os modelos de ocupação
característicos da Baixada (monoculturas, ciclos econômicos...), o projeto de
Cintra buscou reverter essa tendência iniciando um processo de urbanização
elitista, com a chegada de imigrantes estrangeiros de considerável poder
aquisitivo.
Na proposta do
provedor local, visualizamos uma tentativa incipiente de formação de
condomínios fechados, como os que proliferam atualmente em áreas consideradas
nobres de grandes cidades, cuja base seria uma infra-estrutura sólida e a
construção de casas imponentes e bem acabadas, antecipando a proposta
contemporânea de homogeneização de classes sociais em um mesmo espaço,
representada por enclaves fortificados segundo Lavinas e Nabuco (1994) que, por
vezes, formam cidades de muros, afastadas dos Centros, em prol da referida
homogeneização.
Raffestin (1993) afirma que do poder público ao indivíduo, passando por organizações grandes e pequenas, há atores sintagmáticos que produzem o território. Nessa análise, depreendemos a importância do papel de Cintra, enquanto ator individual, e reafirmamos ser deveras ambicioso seu projeto, quando observamos suas tentativas de participar do poder público, aumentando sua esfera de atuação. Para o mesmo autor, o território é um espaço onde há o exercício do controle. No caso de Jardim Primavera, tal controle centrava-se na figura de um só homem - quando da criação do bairro - formando uma territorialidade particular, em um primeiro momento, e a posteriori buscando a formação de um espaço adequado às suas aspirações e preferências. Ao tentar homogeneizar classe social e etnia em um mesmo local, promoveu, através de sua atividade de corretor, a formação de uma área de segregação socioespacial evidente, baseada no processo especulativo que elevou os preços dos lotes a patamares inacessíveis para a população “indesejada” pelas classes mais abastadas.
O
Jardim Primavera desejado por Cintra se caracteriza como o lugar do viver, nos
escritos de Harvey (1982). Todavia, esse lugar projetado como espaço de
homogeneidade social, torna-se palco de uma heterogeneidade conflituosa, haja
vista que o insucesso de Cintra na tentativa de
formar um bairro totalmente elitista ocasiona o surgimento de “dois bairros em
um”, com áreas ricas e pobres estabelecidas e a manutenção de uma variedade na
composição social que denota uma territorialidade associada ao conceito
defendido por Santos e Silveira (2001), que fornecem uma perspectiva de
território onde o mesmo é conceituado como uma unidade com diversidade.
Reforçando a hipótese de segregação
socioespacial, decorrente da “invasão” promovida pela população de baixa renda
oriunda da cidade do Rio de Janeiro e dos migrantes que chegavam de toda parte
do país, inaugurando um processo de favelização no que seria o condomínio de
Cintra. Adentramos, assim, no que seria o terceiro ciclo, o da suburbanizacão,
no qual vislumbramos uma luta de classes, com territorialidades distintas
habitando o mesmo espaço, marcado pela segregação até os dias atuais.
Tal segregação,
iniciada ainda nos tempos de Cintra, foi fortalecida na década de 90 com a
transferência da sede da prefeitura para a área nobre de Jardim Primavera,
refletindo a importância de seu papel enquanto agente transformador do espaço e
um dos responsáveis, ou mesmo o principal deles, pelos (re)ordenamentos
territoriais promovidos na região.
Portanto, no
cenário atual, configura-se um novo ciclo, o da revitalização, acompanhada pela
segregação, que ratificam o resultado do projeto de Cintra e conferem ao Jardim
Primavera uma identidade plural, mas predominantemente popular, distante do
sonho inicial, mas que deixou traços que perduram no bairro até hoje.
BIBLIOGRAFIA