Revista geo-paisagem (on line) Ano 10, nº 20, Julho/Dezembro de 2011 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi Revista classificada pela CAPES |
Delgado
de Carvalho e a geografia brasileira
Helio
de Araujo Evangelista
(helioevangelista@hotmail.com)
Abstract
This article is about the trajetory of Delgado de
Carvalho in Brazilian geography. Its importance can be noticed nowdays by
analyzing different pappers. His production aims to involve different aspects
of geography, for example, educational problems related to geography, political
geography just to help the graduating of future diplomats and so on. Anyway,
Delgado de Carvalho was limited by his time,
he didn’t give a deep
contribution to Brazilian university if we compare him and french
geographers like Pierre Monbeig, Jean Tricart etc.
Keywords – Brazilian
geography, Delgado de Carvalho , contribution
Resumo
Este
artigo é sobre a trajetória de Delgado de Carvalho na geografia brasileira. Sua
importância pode ser aferida pelos inúmeros textos que ele nos deixou enfocando
diferentes temas, tais como, aspectos educacionais, a partir da geografia, geografia
política para futuros diplomatas etc. De qualquer forma Delgado de Carvalho foi
limitado pelo seu tempo, ou seja, tem uma importância datada já que na projeção
da universidade o que vai sobressair é justamente os pares estrangeiros que
vieram para o Brasil durante um período, tais como Pierre Monbeig, Jean Tricart
etc.
Palavras-chaves : geografia
brasileira, Delgado de Carvalho, contribuição
Introdução
Tendo encontrado alguma resposta na
pesquisa sobre a origem da geografia brasileira. Passamos a explorar novas
perspectivas tendo por objeto a geografia brasileira.
No momento passamos a explorar uma
trajetória, por demais importante para a
geografia, empreendida pelo então geógrafo Delgado de Carvalho!
Delgado de Carvalho é o nosso
Friedrich Ratzel, em que pese o não reconhecimento! É o nosso Vidal de La
Blache, embora não seja reconhecido como tal! Se assim fosse ao menos seria
recomendado nas universidades!
E Aires de Casal ?
Em artigo de Lima (1999) se afirma
segundo Caio Prado Jr. no seu livro Evolução
política do Brasil que Aires de Casal teria sido o pai da geografia
brasileira através de Corografia
Brasilica, tendo sido anteriormente o mesmo afirmado por Auguste Saint-Hilaire
no século XIX.
Neste mesmo trabalho, a autora
enumera diferentes considerações de Caio Prado sobre o referido autor, a saber:
I)
Aires de Casal realiza uma coleção e
registro de fatos.
II)
Foi a única publicação, durante vários
anos, que reunia informações sobre todo território brasileiro sem qualquer
contribuição original do autor, ou seja, não há registro de suas observações
sobre o Brasil, ele se ocupa, mais uma vez, juntar o que os outros fizeram.
III)
O mérito do trabalho de Aires de Casal
foi o de ter sido o primeiro a unir e sistematizar as informações sobre o país.
Divergências a parte, parece que
estamos diante de uma pré-história da geografia brasileira! A obra foi impressa
em 1817. Considerou produções realizadas antes do Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro. Ela chega a considerar texto de 1571, o de Jeronimo
Osório, que analisou os índios de então. Seria isto geografia ?
Delgado
de Carvalho
Sua
vida
Carlos Miguel Delgado de
Carvalho nasceu em Paris
em 4
de Novembro de 1884 e faleceu no Rio de Janeiro em 1980
(e não em 1990 como o Wikipédia indica) foi geógrafo e professor radicado no Brasil.
[1]
“Filho de pai brasileiro, estudou
Direito na Universidade de Lausanne e
Ciências Políticas em Paris. Em seguida
realizou estudos em Diplomacia, com
uma passagem pela London School of Economics. Chegou
ao Brasil na primeira década do século XX, visando
escrever a sua tese de graduação à Escola de Ciências Políticas de
Paris. Atuou no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e na Sociedade Geográfica do Rio de
Janeiro (1920). No
Magistério, lecionou nas Escolas de Intendência e Estado Maior do Exército (1921), no Colégio Pedro II (Geografia, Sociologia e Inglês) e na Escola Normal, vindo
a organizar o Curso Livre Superior de Geografia (1926) destinado à atualização dos
professores do Ensino Fundamental.” [2]
Em Geografia, os seus primeiros
trabalhos foram "O Brasil Meridional" (1910),
"Geografia do Brasil" (1913), e
"Meteorologia do Brasil" (1916).
Posteriormente publicou "Geographia do Brasil" (1923) e
"Introdução à Geografia Política" (1929). No
campo da História foi autor de "História Geral" (4 vol.) e do
conceituado "História Diplomática do Brasil" (1959), fruto
das atividades desempenhadas junto ao Instituto Rio Branco em meados da década de 1950. Aos setenta anos de idade, publicou o "Manual
de Organização Social e Política Brasileira" (OSPB), livro didático
oficial do MEC/Inep.
Delgado de
Carvalho[3] publicou
49 livros e elaborou inúmeros trabalhos nas áreas de ciência política,
sociologia, história, educação, relações internacionais e geografia.
Desenvolveu estudos fundamentais para a organização do território brasileiro, o
aprimoramento do ensino da geografia no país e para a discussão de temas
relacionados à geopolítica e diplomacia. No IBGE, Delgado trabalhou ao lado da
geógrafa, historiadora e professora Therezinha
de Castro, parceria que resultou na publicação de inúmeros artigos para
a Revista Brasileira de Geografia e para o Boletim Geográfico, além da edição
do Atlas de Relações Internacionais (1960). Artigos de Therezinha foram
fundamentais para o governo brasileiro reivindicar sua parcela do território na
Antártida. Ela também desenvolveu trabalhos focando a geopolítica do Atlântico
Sul, especialmente sobre o papel estratégico que o Brasil deveria desempenhar
nesta área.
Barros (2008) observa que as
atividades desempenhadas por Carvalho
assemelham-se em muito às desempenhadas por Carl Ritter (1779-1859) no
contexto germânico. Ainda, segundo este mesmo autor, “...Delgado de Carvalho
participou nas atividades de magistério das Escolas de Intendência e Estado
Maior do Exército, em 1921. Ministrou aulas no Colégio Pedro II – as
disciplinas Geografia, Sociologia e Inglês (Machado, 2004) – e na Escola
Normal, vindo depois a organizar o Curso Livre Superior de Geo-grafia (1926)
destinado à atualização dos professores do Ensino Fundamental (primário)
(Zusman & Pereira, 2000, p.54; Machado, 2004). As suas atividades ligadas
às instituições do Ensino Médio, Superior e Militar, e seu empenho em divulgar
uma geografia modernizada para esses fins lembram as situações em que operou Carl
Ritter, como antes indicado, no mundo germânico de antes da institucionalização
universitária procedida no último quartel do século XIX e conduzida por F.
Ratzel (1844-1904) e F. von Richtoffen (1833-1905).”
O professor
Pelo texto de Genylton Odilon Rego
da Rocha – Delgado de Carvalho e a orientação moderna no ensino da geografia
escolar brasileira - [4]
consta o papel decisivo de Delgado na mudança do ensino da geografia que à
época estava muito apoiada no exercício de memória. A partir da reforma de Luiz
Alves – Rocha Vaz , decreto n. 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925, há uma
mudança na incorporação de novos temas, assim como a adoção de uma nova
abordagem na apresentação do tema. Para tanto colaborarão dois professores do
colégio D. Pedro II, a saber, Fernando Raja Gabaglia e Honório Silvestre. Data
deste período a obra de Delgado de Carvalho que veio a ser analisado por
Genylton Rocha e que trata especificamente da questão do ensino em geografia, a
saber: Methodologia do Ensino
Geographico - introdução aos estudos de Geographia Moderna (1925).[5]
Pelo estudo de Pires (2006) consta toda
uma digressão sobre o grau de representação do Brasil em seu trabalho a nível
de diagnóstico para fins didático, assim como, o modo como ele passou a
representar o país na constituição de um novo sentido de como analisá-lo. No
entanto, ele de forma alguma ficou restrito à sala, novamente, sua verve na
dinâmica administrativa se fez presente quando participou de processo de
reforma na educação tendo claro influência sobre a geografia, como bem destaca
Pires (2006). [6]
Produção
A produção de Delgado é eclética e,
ao mesmo tempo , profunda. Eclética porque versa sobre uma variedade ampla relacionada
à geografia; profunda porque ele trouxe contributo importante na conformação de
uma literatura versada sobre a geografia brasileira, mormente, com tema
relacionado às relações internacionais.
Mas, simultâneo a isto, ele se
ocupou com livro didático, com aquilo que chegava à sala de aula. Assim, ele
escreve História diplomática do Brasil (1998), para o corpo de diplomatas,
sendo um manual considerado na formação dos mesmos, assim como Organização
social e política brasileira (1975) voltado para a sala de aula de alunos de
primeiro e segundo graus.
Sua linha de pensamento
A linha
de pensamento de Delgado de Carvalho apresenta uma ambiguidade, a saber, ela é
nitida (remontando à escola francesa)[7]
mas ao mesmo tempo é plural, ou seja, o que sobresai em Delgado de Carvalho é
alguém que escreveu livro didiático, livro-texto para diplomata[8], e
proferiu cursos de metodologia, é a dimensão de ser um intelectual de estado,
no desempenho de uma função pública!
Delgado
de Carvalho foi um servidor! Ele propriamente não constituiu uma escola, embora
tenha seguido uma, sua produção diversa está a indicar que esteve refém não só de
um projeto pessoal mas de uma circunstância de Estado! Ou seja, ele desempenhou
funções, ele pensou tendo em conta o que foi solicitado.
Longevidade
O segredo da produção de Carlos
Manuel Delgado de Carvalho está apoiado na sua longevidade! Viveu quase 100
anos. E produziu até seus oitenta anos! Fez de tudo, melhor, escreveu de tudo,
desde que relacionado ao Brasil e interesses correlatos. Mexeu com história e
geografia, à brasileira.
Ainda
Delgado era homem de estado, ou
seja, cumpria atribuições que o estado brasileiro lhe conferia! Num estado com
poucos quadros, ele, Carvalho, ocupou muitos espaços dada inexistência de
outros. [9]
O
ocaso de Delgado de Carvalho
É um certo despropósito tratar de
ocaso relacionado à Delgado de Carvalho simplesmente porque se manteve ativo
para além dos oitenta anos!
Mas o que se quer aqui destacar é o
seguinte: quando consideramos o texto de Nilo Bernardes sobre a geografia
tradicional (1982) e o de Carlos Augusto Monteiro (1980) temos neste último o
grande significado de Delgado de Carvalho para a geografia brasileiro, a saber,
ele foi o que foi até 1934. A partir de 1934 temos uma seqüência de eventos,
tipo criação da Universidade de São Paulo , a universidade no Rio de Janeiro, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e respectivo Conselho Nacional
de Geografia, que tornam a geografia brasileira com uma nova dinâmica. Assim,
Delgado de Carvalho, na caracterização do próprio Carlos Augusto Monteiro,
pertenceu à fase heróica e pioneira (ibidem, p. 140).
Concluindo
Há um consenso quanto à centralidade
de Delgado de Carvalho, que junto com Everardo Backheuser segundo Machado
(1995), configuraram uma forma mais moderna de condução dos trabalhos
geográficos já a partir da década de 20 do século XX, chegando a trabalhar
juntos . Ainda, com base em Machado convém destacar o papel do colégio D. Pedro
II onde ambos trabalharam como um elemento a aglutinar talentos na discussão do
pensar uma outra forma a geografia.
Quando consideramos o trabalho de
Monica Machado (2009) nos deparamos que em que pese a importância de Delgado de
Carvalho, assim como de Everardo Backheuser, não são eles que configuram a
universidade brasileira no campo da geografia, esta, quando começa a dar
decisivos passos na década de 50 já encontra os dois em idade avançada! Ou
seja, a ação de Delgado tem relação com a geografia em gênero mas não enquanto
na constituição de uma escala que adentrou a estrutura universitária tal como
ocorreu com Vidal de La Blache já ao início do século XX na França.
Delgado de Carvalho e Everardo
Backheuser são expoentes de uma fase escolar da geografia brasileira. Escolar,
mas não universitária.
Fonte
de consulta
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http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142008000100021&script=sci_arttext
http://www.revistas.ufg.br/index.php/sv/article/view/9845/6725 texto
sobre História geral de Delgado de
Carvalho : uma coleção entre críticas e discordâncias. Visto em 20 de maio de
2011
http://www.ibge.gov.br/eventos/seminario_geografia_geopolitica/index.php visto
em 20 de maio de 2011
http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2010/relatorios/ccs/his/HIS-Maria%20Beatriz%20da%20Costa%20Baptista%20de%20Leao.pdf em 20
de maio de 2011 sobre texto de maria beatriz puc rj Historiografia e ensino de
história : a cidade do Rio de Janeiro de Maria Beatriz da Costa Baptista de
Leão, orient. Luis Reznik Visto em 20 de maio de 2011
http://www.educacao.ufrj.br/ppge/dissertacoes/dissertacao_jefferson_da_costa_soares.pdf texto
sobre ensino de sociologia no colégio Pedro II através de dissertação em educação da UFRJ por Jefferson
da Costa Soares que destaca o período de 1925 à 1941) Visto em 20 de maio de
2011
[1]
Apoiado em http://pt.wikipedia.org/wiki/Delgado_de_Carvalho em 20 de maio de 2011.
[2] Ibidem.
[4] In Revista Terra Brasilis n. 1, jan./jun. 2000, p. 83 – 109.
[5] Fazia parte de sua preocupação didático-pedagógica publicar manuais sobre temas, um deles chegou até nós e versa a História da Cidade do Rio de Janeiro (1994).
[6] Em que pese o seu valor apena simbólico, mas por ele se mostra o quanto Delgado Carvalho tem relação com a educação, consta na rua Senador Ruy Carneiro n. 5, Recreio dos Bandeirantes , a existência da Escola Municipal Carlos Delgado de Carvalho.
[7] Sobre o tópico indico o texto de Perla Brígida Zusman & Sergio Nunes Pereira – Entre a ciência e a política: um olhar sobre a geografia de Delgado de Carvalho – (2000).
[8] Chama a atenção sua produção na
chamada geografia política, tendo em nome desta linha de geografia uma produção
que tanto atendia às exigências da época do período militar (1964-1984) quando
fez publicar Organização social e política brasileira (1975); o que me leva a
leva a lembrar quando ingresso na graduação em geografia da UFRJ em 1977 ter
cursado a disciplina obrigatória EPB, ou seja, Estudos de Problemas
Brasileiros; assim como um longa parceria de Delgado de Carvalho com a
Professora Therezinha de Castro, professora do Colégio D. Pedro II até seu
falecimento em 1992. Ainda, na década de
70, com mais de oitenta anos de idade, ele e Therezinha divulgavam via Revista
Brasileira de Geografia encartes de Relações Internacionais sobre as relações
do Brasil com diferentes nações.
[9] Um outro aspecto oportuno
observado por Barros (2008) diz respeito à expansão da industria cultural e
gráfica situada na capital federal, onde ele vivia, se caracterizava, então,
por uma enorme ansiedade para gerar produtos!