Revista geo-paisagem (on line) Ano 11, nº 21, Janeiro/Junho de 2012 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada ao Latindex Revista classificada pelo Dursi |
ÁFRICA
DO SUL
Bernardo Perrota
Isabella Vechio
Sandro Teixeira Lemos
sandro.teixeiralemos@facebook.com
Elisa de Simoni
Resumo
O
presente trabalho busca compreender a situação da África do Sul numa
perspectiva geopolítica. A África caminha para um novo cenário e a África do
Sul é o motor principal deste processo.
Palavras-chaves: África, África do
Sul, recuperação
Abstract
The present work seeks to
understand South Africa'situation in a geopolitical
view. We believe African continent go straight to a new period of its history
and South Africa is its leadership.
Key words: African, South African,
rebuilding
1-Apresentação
Muito se tem falado sobre a África do Sul ao decorrer das décadas,
um país cada vez
mais reconhecido no cenário internacional. Tendo vivido por mais de 40 anos o apartheid (regime de segregação
racial), esse país africano foi
praticamente isolado pela comunidade internacional na segunda metade do século
passado, marcando a história da nação sul-africana.
Entre tantos
conflitos civis vivenciados por países africanos vizinhos, assim como toda
exploração enfrentada na época de colônia inglesa, a África do Sul hoje integra
uma importante posição no contexto mundial, ao lado de China, Brasil, Índia e
Rússia, os BRICS. Esse grupo de países emergentes, mesmo não constituindo um
bloco econômico como a União Européia, por exemplo, tem ganhado cada vez mais
força e importância dentro da economia mundial.
Somado a
isso, em
O presente
trabalho irá abordar as modificações ocorridas na África do Sul nas últimas
décadas, bem como sua relação com os demais países no âmbito regional e
mundial. O que a África do Sul representa para as grandes potências da
atualidade? Qual a importância da nação sul-africana para o resto de seu
continente? Todas essas questões serão discutidas a seguir.
2-África
Colonial
Portugal
em sua expansão marítima nos séculos XV e XVI atinge o litoral africano
começando a demonstrar o valor que a exploração do local possuía. O continente
africano começa sua relação com a Europa pelos portugueses, que fazem um
reconhecimento da área, colocando a África no panorama do sistema comercial
mundial da época. Já no início do século XVII, a Companhia Holandesa das índias
Orientais toma o poder político de Portugal no oceano Indico; entre 1637 e 1642
a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais apoderou-se das atividades
importantes na costa ocidental. Inicialmente, o interesse na região era apenas
de bases de abastecimento para a rota dos navios que destinavam à Ásia.
Quando
os holandeses chegaram à África do Sul, o povo khoikhois, formado
essencialmente por pastores de gado, e o povo sans, de caçadores e coletores,
habitava a terra que hoje constitui o país. Outros povos agricultores, como os
xhosas, zulus suazis e ndebeles, tswanas e basothos, habitavam o interior do
território. Assim, quando os holandeses passaram a se estabelecer na Cidade de
Cabo tornando-se novos colonos (juntamente de alguns outros europeus),
ocorreram numerosas guerras contra os povos ali presentes para permitir uma
expansão colonial. Os khoikhois, por exemplo, foram dizimados pela varíola,
mortos pelos colonos ou escravizados. Em 1978 a Colônia do Cabo tinha 26 mil
escravos. Mesmo quando não escravizados, o que ocorre no século XIX, os povos
tradicionais da área ocupavam posições muito inferiores na sociedade.
O
panorama da Europa mostrava que o poder da Inglaterra no século XIX se
fortalecia imensamente. Foi neste período o auge do Império Colonial britânico.
Com a perda das Treze Colônias, pela Guerra da Independência dos Estados Unidos
da América (entre outros motivos), a Inglaterra se voltou para África, Ásia e
Pacífico. Assim, o império colonial holandês no Cabo perde sua força dando
lugar à dominação britânica. A administração britânica era mais liberal, com
decreto de direitos iguais e abolição da escravidão; o que era, para os
africânderes (descendentes dos holandeses, alemães e franceses), uma
abominação. As medidas mais liberais britânicas aliadas à escassez de terras
culminaram na migração da população africânder a migrar para o interior,
fundando duas repúblicas independentes, o Transvaal e o Estado Livre de Orange,
aonde os não brancos eram considerados estrangeiros e apenas aceitos como força
de trabalho subordinada. A sociedade da África do Sul, então, foi criada e
desenvolvida sobre a visão da separação, da superioridade racial e da
intolerância.
Assim,
os africâner (incluído aí os bôeres) desenvolveram seu próprio nacionalismo.
Percebendo a multiplicidade de unidades políticas, o poderio britânico iniciou
guerras sangrentas contra a resistência zulu (originais da África) e contra as
repúblicas bôeres (descendentes dos colonizadores antecedentes aos
ingleses). Ao final do século XIX, a
Inglaterra anexa os territórios de Orange e Transvaal; pela Segunda Guerra
Anglo-Bôer. A partir daí, os Ingleses manipulam a situação em que ficam os
fazendeiros derrotados, prometendo vantagens trabalhistas desde que estes
ajudassem na exploração da mão de obra negra.
Em
1910 é criada a União Sul Africana, que era constituída pela Província do cabo,
Natal, Estado Livre de Orange e Transvaal. A partir daí, a população negra é
privada de voto e propriedade de terra; e bombardeada de leis segregacionistas
uma após a outra; como, por exemplo, o Native
Labour Act (1913), que dividia a África do Sul em duas partes, sendo 7%
apenas deixadas aos negros, que a utilizaram para agricultura de subsistência.
Os outros 93% foram entregues aos brancos que correspondiam a apenas 10% da
população, e a utilizaram para exploração intensiva da terra, à custa da mão de
obra do primeiro grupo. Outras leis foram o Native
Urban Act e o Native Affairs Act.
A primeira limitava a possibilidade dos negros de se instalarem em cidades
consideradas “redutos dos brancos”; e a segunda referia-se a regulação do
sistema de exploração do trabalho negro.
Até
a Primeira Guerra Mundial os interesses econômicos eram baseados na mineração e
na agricultura intensiva. No pós-guerra, com a recessão, a lucratividade
baixou, causando a contratação pelas grandes companhias de trabalhadores
assalariados negros, começando um embate entre assalariados. Assim, os
assalariados brancos pobres descendentes dos boers se viram prejudicados no
acesso a nascente estrutura industrial do país e tornaram-se alvo fácil de propaganda
nacional de extrema-direita; os quais venceram as eleições de 1924.
Isso
propiciou o surgimento de um capitalismo de Estado, uma vez que houve o
rompimento com a política liberal existente, na tentativa de neutralizar a
evasão dos lucros das companhias mineiras sediadas no exterior e utilizar os
recursos da agricultura branca para iniciar um processo de industrialização
interna. Desta maneira, o país cresceu rapidamente, com a criação de
siderurgias, estradas de ferro e centrais elétricas.
Ao
final da segunda década do século XX, anunciou-se a queda preço do ouro no
mercado internacional. Para sobreviver à nova crise, a direita nacionalista
abandona o Partido Trabalhista e apoia-se no capital estrangeiro. Assim, os
afrikanders continuaram no poder assim como o sistema de segregação racial.
3-Apartheid
Em 1934 foi estabelecida uma fusão entre o Partido Nacional e o Partido Sul-Africano (apoiado pela população de origem inglesa e por poucos afrikaners), mas esta fusão chega ao fim com a institucionalização do apartheid. O novo período se caracterizou pela dissociação entre o poder político e econômico, sendo o primeiro dos afrikaners e o segundo da população de origem inglesa.
O slogan “Apartheid” venceu, então. Esse novo governo visava crescer em relação a sua política externa, uma vez que sua posição geográfica era estratégica (confluência de rotas marítimas e riquezas minerais), no contexto na Guerra Fria, gostaria de se identificar como “pais europeu localizado na África”; lembrando que a elite branca se relacionava tradicionalmente com a Europa Ocidental. O Estado aumentou sua participação na economia, o que propiciou a expansão da indústria de substituição de importações na siderurgia, química, minerais processados, energéticos e, depois, armamentos.
A política de segregação racial do apartheid foi oficializada em 1948 quando chega ao poder o Partido nacional, que dominou a política por mais de 40 anos. O apartheid, uma vez consolidado como política, se consolidou como ideologia. Não só baseada na ideia da desigualdade, uma vez transformada em projeto político o era visto como desenvolvimento separado. Os bantustoes (reservas tribais) passaram a chamar-se homelands e tornaram símbolo da separação racial.······.
O
acesso dos negros à propriedade de terra e à participação política foi
impedido, além de obrigá-los a viver em zonas residenciais segregadas. Algumas
leis foram criadas, como: Lei da
proibição de casamentos mistos (1949); Lei da imoralidade (1950), que proibia e criminalizava a relação
sexual entre brancos e pessoas de outras raças; Lei de registro populacional
(1950), que obrigava a população a cadastrar-se em um registro
nacional, separando-a por raças; Lei de agrupamentos urbanos (1950), que
forçava a separação física entre as raças ao criar áreas residenciais
separadas permitiu a remoção forçada de negros de suas áreas de origem; Lei
dos nativos (1952), que obrigava os negros a carregar uma caderneta de
identificação; Lei de reserva de benefícios sociais separados (1953), que garantia segregação em todos os
locais e equipamentos públicos, para eliminar o contato entre brancos e outras
raças e a Lei de Educação Bantu (1953), que criava medidas para reduzir o nível de educação recebida
pela população negra.
Algumas contradições ocorriam, dividindo a ideia do Apartheid em duas: primeiro havia os que defendiam a separação total entre brancos e negros, utilizando-se de aumento de mecanização e maior utilização da mão de obra branca, a fim de inutilizar totalmente o trabalho da população negra. Porem, muitos, como os fazendeiros do Transvaal, não tinham interesse em arriscar seus negócios para garantir a total separação. Foi Hendrik Frensch, que, como Primeiro-Ministro (1958-1966) criou mecanismos que garantissem que a permissão ao acesso ao trabalho pelos negros só fosse dada uma vez que todos os brancos ali residentes estivessem empregados. Esse segundo grupo pedia mao de obra negra disponível e disciplinada.
Em 1971, a ONU condenou esse sistema, acusado de “dividir os africanos, confrontando uma tribo com outra, enfraquecer a frente africana na sua luta pelos justos e inalienáveis direitos e consolidar e perpetuar o domínio por parte da minoria branca” (PEREIRA, 1986, p. 36).
4-Crise econômica e queda do Apartheid
A segunda grande crise econômica afetou a credibilidade do governo da África do Sul. Entre 1984 e 1988, o governo procurou aparentar diminuição de sua opressão racial, porem a elite Afrikaner resgatava uma política tradicional, continuando a acreditar em medidas de exceção, retomando a violência interna como meta principal.
Apesar disso, surgiram frentes de oposição, como a United Democratic Front (UDF), a Azanian People`s Organization (Azapo) e o Congresso South Afrucan Trade Union. A partir disso, muitas leis segregacionistas foram revogadas. Em julho de 1986, as leis de passaporte foram revogadas, criando-se um mesmo documento de identidade para todos os cidadãos sul-africanos. Essas mudanças não visavam acabar com o regime, mas alterar sua forma a fim de continuar o monopólio branco e poder. Porem sua estratégia falhou. Segundo Paul Singer, na década de 1960 os africanos já constituíam 23% dos profissionais e técnicos, 9%dos gerentes e administradores e 6% dos empregados de escritório. Em 1980, já eram 31%, 4% e 25%, respectivamente. Isso refletia na distribuição de renda e no pensamento dos setores negros em ascensão. Assim, decretou-se que os distritos negros deveriam se autogovernar mediante eleição de conselhos. Porem isso não foi aceito e poucos eleitores compareceram, abrindo espaço para esquema de corrupção. Assim, no meio da década de oitenta, as novas municipalidades eram focos de tensão. A expansão e duração dos enfrentamentos entre manifestantes e policia só crescia o que se mostrou politicamente importante diante da crise do Apartheid.
A crise econômica e as tensões sociais agregaram-se às pressões internacionais, uma vez que a África do Sul tinha posição estratégica para potencias capitalistas. As criticas morais se intensificaram e houve um boicote global a África do Sul. Além disso, o Partido Nacional sofria cisões uma vez que concessões aos grupos nao-brancos foram rejeitadas pelas alas mais radicais do partido, que acabaram por formar o Partido Conservador.
Alem disso,
questões militares também se encontravam em situações difíceis, uma vez que o
Protocolo de Genebra estabelecia cessar-fogo entre as tropas sul-africanas e
angolanos, bem como a retirada das tropas sul-africanas de Angola. No entanto, foi em dezembro de 1988,
após uma série de negociações, que África do Sul, Angola e
Cuba definiram sobre os prazos para a retirada das tropas cubanas de Angola e
da maioria das tropas sul-africanas da Namíbia, através do Acordo de Nova York. Alguns anos antes, esse era um
cenário impensável para os sul-africanos. Diante do enfraquecimento militar, a
África do Sul retirou suas tropas de Angola, deixando aos cubanos a impressão
de participarem do processo de derrota do regime do Apartheid no pais.
Desta forma, as
condições econômicas, políticas e militares não eram suficientes para manter o
regime. O presidente Botha se encontrava doente e
seus ministros podiam sua renúncia, e assim o fez, em 1989. Nas próximas
eleições, ainda havia temor de perder votos conservadores, e o partido Nacional
manteve uma campanha sem indicar possibilidades de mudança. Em 2 de fevereiro
de 1990, o presidente que tomou posse, De Klerk, anunciou porem a legalização
de todos os partidos antes banidos (CNA Umkhonto we Sizwe, PAC, UDF e o Partido
Comunista Sul-Africano) e a liberação de presos políticos, entre eles
Mandela. De Klerk começou um processo de
libertação, revogando medidas repressivas. Com uma nova estratégia cooperativa,
a administração De Klerk obteve a recuperação da credibilidade internacional e
iniciou uma recomposição das relações externas da África do Sul.
A comunidade internacional começa a
se flexibilizar quanto à situação sul africana, à medida que ocorreram as
resoluções de conflitos, soltura do líder (Nelson Mandela) e o fim do banimento
de movimentos libertários. Porém a legitimação do país na comunidade
internacional somente se faz concreta no momento em que o parlamento sul
africano aprova a lei de transição (Transitional Executive Council Bill)
em 1993. A ascensão de Mandela como líder político instituído no
poder, muda os paradigmas da sociedade em questão, bem como a visão da
comunidade extra África do Sul sobre este país.
Concomitante a queda do Apartheid,
um novo cenário global se desenvolve, o colapso da União Soviética e o
final da guerra fria, definem contornos políticos e econômicos ditados pelos
"vencedores". Tendo em vista isto, as transformações socioeconômicas
relativas à África do Sul (balança comercial, etc.) também começam a sofrer
influência direta, agora, das novas tendências mundiais. A ideia de democratização
- a moldes norte-americanos e europeus - começa a ser intensificada ao redor do
globo, bem como o desenvolvimento de uma economia de mercado. O fim de uma era
de bipolarização mundial traduz também numa diminuição do poder de barganha dos
países em desenvolvimento frente a organizações internacionais.
Houve uma divergência conquanto aos
rumos econômicos e aos padrões desenvolvimentistas a serem adotados pelo país.
De um lado se encontrava o CNA, que defendia ações não hegemônicas perante o
continente, visando assim um desenvolvimento regional equilibrado. Do outro
estava o Partido Nacional, apoiado por organizações internacionais, além de
empresas privadas e multinacionais que visavam à iniciativa privada e a
privatização de setores. Essa divergência se tornaria mais intensa no quadro
das sanções. Ainda sobre os partidos, o primeiro visava uma maior
segurança (socioeconômica) no processo de transição, através de diálogos e
negociações, já o Partido Nacional pretendia a reinserção imediata à comunidade
internacional. Os impasses resultaram no mantimento das sanções pela ONU.
O fim da bipolarização, fez com que
o CNA traçasse novas políticas de alinhamento, buscando aliados dentro do
próprio continente. As divergências entre o Partido Nacional e o CNA se
tornavam cada vez mais visíveis e atuantes, à medida que De Klerk buscava seus
objetivos de abertura econômica e Mandela, pelo lado do CNA, tentando manter os
arrochos das sanções para ganhar tempo necessário para uma integração econômica
mais igualitária.
Essa relação dual gerou tanto na
comunidade internacional quanto no próprio regimento da sociedade uma
certa instabilidade quanto às expectativas para o país e para o
continente. A instabilidade gerou uma desconfiança dos setores internos quanto
à credibilidade política do país, e no âmbito internacional gerou uma falta de
investimentos, forçando o país a fazer uma série de concessões econômicas. Tais
concessões se sobrepuseram ao regime democrático recém instaurado, ampliando o
abismo entre as classes dominantes e as dominadas reafirmando as
diferenças geradas no regime racial. O que resulta em crises no governo, e
perda de apoio deste da sua base inicial. A insatisfação era gritante, e
começam a surgir crises em setores públicos como da saúde e da segurança. A
corrupção se tornava gritante aos olhos do povo, que se via sendo criminalizado
e culpado pelos governantes. A antipatia pelo líder em vigor foi disseminada
pelas classes baixas da sociedade sul africana, refletindo no resultando
expressivo das eleições seguintes, que puseram Zuma no poder frente à Mbeki
(que governava meio a acusações e turbulências).
6-Política econômica mundial pós
Apartheid
Com
a queda do regime do Apartheid e a entrada do partido do Congresso Nacional
Africano (CNA), a África do Sul entra em processo de
reestruturação em sua base afim de atender
aproximadamente 80% da população negra sul africana atingida por esse
regime. Esse projeto do governo incluía o direito a habitação e excluía as
nacionalizações que afetaria a minoria branca detentora da maior parte do
capital do país, continuando assim retentora da maior parte das suas riquezas.
Com a constituição de caráter liberal propôs-se a divisão entre os três poderes,
com sedes em capitais distintas: o poder legislativo se encontra na Cidade o
Cabo, executivo em Pretória e o judiciário em Bloemfontein. Outra política
vitoriosa do governo foi abafar as guerras civis e os conflitos étnicos, diminuindo
assim a violência política pela qual o país passavam, gerando certa
estabilidade para inserção de capital estrangeiro.
A
fim de superar este regime foi realizada paralelamente à reforma política uma
comissão de verdade e justiça com a intenção de trazer as claras os crimes
gerados pelo Apartheid, anistiando aqueles que aceitassem testemunhar e permitir
que as vitimas divulgassem suas histórias afim de obter de alguma forma um
alivio dos sofrimentos e a confissão dos torturadores. Mas para obter certa
estabilidade para África do Sul, Mandela teve de negligenciar e anistiar alguns
responsáveis por matanças para obter a paz da direita branca sul africana,
garantindo a incorporação da polícia e do exército ao novo Estado e evitando
uma instabilidade dos aparelhos repressivos.
Após
os cinco anos de governo ficaram muitas pendências em relação ao plano inicial,
principalmente em relação à habitação e à alta taxa de desemprego, apesar dos
investimentos internacionais, o crescimento sul africano chegava a cerca de
2,5% ao ano. Devido a essa realidade o CNA deixa o seu plano inicial de lado abrindo
o Estado ao neoliberalismo e passando a apoiar o capital privado, privatizando
o setor público sul africano e se rendendo a política de empréstimos do FMI. Enquanto
a África do Sul se abria ao capital estrangeiro uma nova burguesia negra surgia,
disputando ares que antes faziam parte de uma elite branca como exemplo o conglomerado Anglo American (que sozinho
detém mais de 50% das minas e da indústria) agora dirigido por Cyril Rahmaphosa
antigo secretario geral do CNA.
A áfrica do Sul vem se tornando cada vez mais presente
no cenário político internacional, sendo atualmente o país referencia da África
perante a ONU, FMI entre outros órgãos internacionais e fazendo parte do Brics
e impondo na política internacional.
7-Política externa da
África do Sul
A África do sul é considerada um país
emergente, que vem ganhando cada vez mais espaço no cenário político-econômico
tanto regional quanto mundial, essa ascensão sul africana se deu após a mudança
de sua ideologia política que como vimos anteriormente até meados da década de
noventa era marcada pela discriminação racial do Apartheid, a adoção da
democracia multi-racial do Governo Mandela, se
refletiu também na política externa da África do Sul, que após abandonar o Apartheid
e outras políticas agressivas que a isolavam, passou a voltar gradualmente a
comunidade internacional, recuperando sua posição nas organizações
internacionais inclusive na ONU. Essa reinserção se deu através de medidas que
colocavam em primeiro plano os direitos humanos, o desenvolvimento e a paz,
apoiando o multilateralismo e a defesa do direito internacional.
No plano regional a África do Sul busca
se relacionar de forma pacífica com seus vizinhos através da cooperação
política, econômica, financeira e social no interior da SACU - União Aduaneira
da África Austral(África do Sul, Botswana, Lesoto, Suazilandia
e Namíbia) e Comunidade da África Austral para o desenvolvimento, que promovem
o comercio intra e extrabloco. Já no âmbito continental a África do Sul exerce
influência através de instituições multilaterais, sua capacidade de poder é
limitada e apoiada em decisões unilaterais, devido a existência de outras
potências regionais no continente, como é o caso de Líbia, Egito e Nigéria, o
que gera conflito de interesses no continente e cria impasses nas decisões e na
reforma do Conselho de Segurança da União Africana.
Internacionalmente a África do Sul se
faz valer da imagem moral que construiu ao por fim a um regime político
racista, dando início e consolidando um regime democrático, multi-racial
e defendendo o desarmamentismo de forma firme, dando
como exemplo o próprio país que destruiu seu arsenal nuclear na década de 90,
estes fatos dão prestigio ao país, que busca uma maior participação política
nas decisões internacionais, visando a obtenção de um assento permanente no
Conselho de Segurança da ONU, através de contribuições á paz. Além de maior
participação política, outro objetivo sul africano é se inserir cada vez mais
no mercado internacional, atualmente as transações externas representam cerca
de 60% do seu PIB. O país defende o
fortalecimento da SACU, para que este amplie as negociações e acordos com
outros países e blocos. A África do Sul possui acordos bilaterais com diversos
países africanos, europeus e inclusive com o Brasil.
Apesar de ser uma potência emergente a
África do sul não possui uma série de características comuns aos países de
mesmo status, como território extenso, grande população e poder militar, há
ainda a necessidade de eliminar uma série de problemas históricos e recentes,
que poderão garantir maior influência global e uma maior estabilidade do país,
mas não necessariamente do continente.
Economia:
Como dito
anteriormente, a reintegração da África do Sul foi importante para o seu
comércio exterior, contudo o país sofreu com um déficit na sua balança comercial
pois as importações crescem a maior velocidade do que as exportações. “As
importações consistem, sobretudo, em máquinas e equipamentos,
peças para carros, óleo cru, vestuário e demais produtos têxteis
” (Gomes,2010)
e as exportações são principalmente de produtos agrícolas como milho, açúcar e
frutas, uma vez que a agricultura representa cerca de 5% do PIB do país, além
da mineração que corresponde a 9% do PIB e a 40% das exportações, sendo o ouro
o principal minério exportado.
Outro fator que vem se tornando cada vez mais
importante nos estudos sobre a economia dos países africanos, são os
investimentos externos. “A crise econômica mundial tem acentuado a disposição
de replanejamento no mercado de investimentos internacionais, especialmente nos
países em desenvolvimento” (da Luz e
Garczarek, 2010). Os investimentos são direcionados especialmente as
commodities, se destacando também as áreas da tecnologia da informação e de
infraestrutura, essas mudanças se tornaram possíveis a partir de políticas
africanas de suporte as empresas estrangeiras. Na África do Sul não é
diferente, o país, principal produtor mundial de ouro, exportador de diamantes,
tem em seu território o convívio contrastante de agricultura de subsistência
com atividades industrial e mineral modernas, que proporcionam o maior Produto
Interno Bruto do continente.
O principal investidor é a Ásia, sobretudo Índia e China que realizaram
aportes significativos no continente africano, a primeira com o objetivo de
obter fontes suplementares de energia para sua economia em crescimento, fornece
em troca tecnologia a baixo custo para a produção de medicamentos, enquanto a
segunda realiza investimentos diretos e tratados comerciais para dar
continuidade ao seu desenvolvimento. Outros países responsáveis também por
grandes investimentos no continente africano, principalmente na África do Sul
são a Russia e o Brasil. Contudo, como dito no
anteriormente, estes investimentos são fruto de um replanejamento de mercado
ocasionado pela crise mundial e mascaram para alguns autores, como José Luís
Fiori (2008), a chamada terceira corrida imperialista, havendo um
redirecionamento da ação das grandes potencias em sua continua e conflitante
competição, que terá como alvo África, Ásia Central e possivelmente
América Latina.
9-Copa do Mundo na
África do Sul
As estatísticas
apontam que 300 milhões de pessoas ainda passam fome no continente africano,
sendo 237 milhões desnutridos. A África do Sul, maior economia regional, com
grande notoriedade no atual cenário político e econômico do planeta, tem quase
metade de sua população vivendo na linha da pobreza.
Com esses fatos, teve início o discurso de como a Copa do Mundo de 2010
traria benefícios para a economia sul-africana, e consequentemente, para a
população. A Copa do Mundo na África do Sul teve um valor muito
maior do que uma simples competição de futebol, pois para muitos, seria um
evento que melhoraria as condições de vida local.
Os gastos com o evento foram
inicialmente estimados em R$ 2,15 bilhões, no entanto, as obras saíram por R$
4,15 bilhões. Entre as causas para esse aumento estão desastres naturais e a
desvalorização do Rand, moeda local.
Além disso, os estádios construídos
para a Copa, que custaram tantos bilhões, hoje mal são usados, representando,
assim, gastos enormes que hoje não refletem positivamente na economia
sul-africana.
10-BRICS
Os BRICS são um grupo
de países que possuem desenvolvimento econômico emergente num estágio similar.
No início eram formados apenas por Brasil, Rússia, Índia e China (na época
apenas BRIC), tendo a África do Sul como integrante apenas a partir de dezembro
de 2010.
A importância da África
do Sul deve-se em grande parte por esse país ser considerado como um representante
da África em geral, uma vez que é o país africano mais desenvolvido
economicamente.
A inclusão da África do Sul está bem mais direcionada
para uma jogada política, visto que o PIB sul-africano é bem menor do que o dos
outros integrantes, ocupando uma posição bem mais baixa no ranking mundial. A
questão é que sendo a África do Sul um dos BRICS, este grupo passa a ter
influência em mais um continente.
Considerações Finais:
O
fim do Apartheid reinseriu a África do Sul no cenário político-econômico
mundial, o país se tornou um porta-voz do continente, contudo, como visto
anteriormente, há um replanejamento de mercado por parte das potências
tradicionais, EUA e alguns países da Europa, e das novas potências, China e India, que investem na África do Sul e em todo
o continente africano, tais investimentos, apesar de trazerem benefícios
econômicos, têm como objetivo principal o crescimento e o desenvolvimento das
potências e não a recuperação dos países africanos, agravando antigos problemas
como guerras civis e pobreza.
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